sábado, 28 de dezembro de 2024

TRIBUTO A NEGO DE VENANÇA


  No dia 25, no Guiga´s Bar, Luiz Fernando Araújo apresentou o documentário O LEGADO DE NEGO DE VENANÇA – HARMONIA ETERNA E SUA HERANÇA CULTURAL, um trabalho artístico elaborado com muito esmero. Foram apresentadas diversas entrevistas focando a vida e o trabalho de Nego de Venança, todas abordando  aspectos de sua trajetória no universo cultural do município.  

Nego de Venança foi um importante artesão da nossa cidade, teve sua oficina monitorada pelo IPHAN, Rio de Janeiro. O seu trabalho foi publicado pelo Museu do Folclore, do Ministério da Cultura e retratado no livro Tocadores – Homem, terra, música e cordas, de Lia Marchi Juliana Saenger e Roberto Corrêa. Outro registro de sua relevância cultural está no livro Folclore de São Francisco, de João Naves de Melo.  Nego de Venança foi contemporâneo de Minervino Guimarães, Joaquim  Goiabeira e Adão Barbeiro, folia artesões e foliões que projetaram o nome de São Francisco além fronteira, tendo registros dos trabalhos deles em vídeos, documentário televisivo, livros e jornais.

O documentário de Luiz Fernando não foi tão somente o resgate da história de seu avô, o que por si só tem grande significado, mas uma contribuição incomensurável à preservação e divulgação da cultura de São Francisco através de um dos seus ícones: Nego de Venança.

A Secretaria Municipal de Cultura precisa levar este documentário às escolas para que seja inculcado no coração de nossas crianças e jovens a importância de nossa cultura (NOSSA), valorizando o sentimento e a alma barranqueira, que tem tanta riqueza guardada.  O que se fez da madeira e com muita sensibilidade, obras de arte, um patrimônio que retrata a cultura de um povo.

MEIO AMBIENTE: LIMIAR DE NOVOS TEMPOS

 


Na segunda-feira, 23, foi lançado o projeto de barragens subterrâneas, desenvolvido pelo Instituto de Ciências Agrárias da UFMG na comunidade de Buritizinho, distrito de Vila do Morro. Presentes no lançamento o ex-procurador-geral do Estado de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, o secretário municipal de Agricultura e Meio Ambiente, Conceir Damião Vieira, o presidente do Codema e Preservar, Geovane Renê Costa, o representante da Loja Maçônica Acácia Sanfranciscana, João Naves de Melo, Isac, extensionista da Emater, servidores da Secretaria Municipal de Agricultura e moradores da região. 

O professor Flávio Pimenta, coordenador do projeto fez uma sucinta exposição sobre a origem, a importância e o processo da construção de uma barragem subterrânea. Informou sobre o sucesso da implantação do projeto em uma vereda no Peruaçu, Januária, destruída por um incêndio, que foi plenamente recuperada. Foi o projeto pioneiro, que demonstrou a sua eficácia na recuperação de veredas degradadas, que são muitas no Norte de Minas. Em vista do sucesso do empreendimento, o professor Flávio Pimenta propôs ao conselho de veneráveis do Norte de Minas entidade, que coordena a Maçonaria  no Norte de Minas, uma articulação para expandir esta tecnologia para outras veredas degradadas e, daí, um projeto foi  encaminhado ao MPMG, solicitando R$ 5 milhões para construção de 100 barragens subterrâneas através da Plataforma Semente. Inicialmente foram liberados R$ 1.080 milhão para construção de 22 barragens,  com base em laudo elaborado pela UFMG,  com a concordância do IEF e IGAM, e o apoio do dr. Jarbas Soares Júnior. A barragem do Buritizinho é a primeira a ser construída. O projeto se estende aos municípios de Januária e São Romão.

O professor Flávio Pimenta salienta a relevância deste projeto, pois recentemente foi mostrado o drama de várias veredas em processo avançado de degradação no Norte de Minas. Ele lembra que estas veredas foram destacadas na obra imortal de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas, salientando que se não ocorrer uma rápida reação essas veredas correm o risco de extinção. É fato que o sinal já foi dado, basta fazer um passeio pelo distrito de Santa Izabel de Minas para constatar o processo de extinção de dezenas de formosas veredas, entre elas as da Prata e dos Caldeirões. Explicou o professor Flávio que a tecnologia de barragem subterrânea  consiste em elevar o lençol freático das veredas regenerando-as. O mais interessante é o baixo custo desta tecnologia, que é em parceria com a Prefeitura Municipal e moderadores das áreas atendidas.

Com a chegadas de maiores precipitações pluviométricas, reabastecendo o lençol freático, o nível da barragem será monitorado com o que será comprovada a sua eficácia.

Ao tempo em que se comemora a implantação de tão valioso projeto, recuperando veredas e, consequentemente, muitos cursos d´água que alimentam o rio São Francisco, é preciso refletir sobre o papel do poder público e da sociedade no total descuido quanto aos recursos hídricos no município. Que esta retomada, vinda de fora, sirva de estímulo para que, num movimento comum, olhe-se com maior atenção para o meio ambiente no município.





sábado, 21 de dezembro de 2024

NATAL! A GRAÇA DE DEUS

 



O Natal não é apenas uma festa singular, de afáveis comemorações. Tem maior significado, pois trata-se de uma manifestação divina, mais uma dádiva do Criador para os homens. O anúncio da vinda do Divino Menino retrai-se nos tempos, na voz do profeta Isaías, uma mensagem de esperança: “Nasceu para nós um menino. Ele será chamado Príncipe da Paz; desde agora a minha alma glorifica ao Senhor, meu espírito; exulta de alegria em Deus, meu Salvador”. Séculos decorridos, numa vila escolhida, uma donzela recebe de um anjo do Senhor, a notícia que mudaria a história da humanidade: geraria, por obra do Espírito Santo, o filho unigênito de Deus: Jesus. O mais sublime hino ela entoou: “A minha alma glorifica ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador. Porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: Santo é o seu nome”. Maria, de humilde serva, transformou-se na mãe da humanidade e dela nos veio o Salvador em uma humilde manjedoura, mas esplêndido na sua essência divina, adorado por pastores aos olhos de animais. Nasceu como menor dos homens, um exemplo de humildade para se transformar como o maior de todos os príncipes e reis da Terra, o que nos trouxe a maior riqueza para a vida: o amor!.

Natal é pois, a expressão maior do amor de Deus para com a humanidade através de seu filho o amado Jesus. 




O MISTÉRIO DO SINO

 


Na Roda de Conversa sobre o Patrimônio Histórico foi feita uma pergunta, insistente, pela historiadora Gesilda Paraízo: cadê o sino da igreja São Félix? Sabe-se que a pequena imagem do santo está segura, tendo como guardiã a professor Rita Nunes. Ainda bem, considerando que ela e o Cruzeirinho do atrio da Igreja Matriz são os únicos bens históricos tombados pelo IEPHA no município (incrível tão minguado acervo tombado, considerando a existência de inúmeros bens históricos nele). E o sino? Cadê o sino? Uma pergunta sem resposta e alvo de muitas indagações. Narrativas foram feitas a respeito do sumiço, tema para uma novela policial e pelo enorme descuido no cuidado de tão preciosa peça. Um depoimento feito na Roda de Conversa, deu um rumo no fato narrando que o sino fora furtado por um jovem. Fato dado como quase inacreditável, pelo tamanho e peso da peça removida da torre por apenas uma pessoa. O gatuno, numa incrível peripécia, desceu o sino da torre  amarrado em uma corda. Conta-se que ao arrastá-lo  pela rua, na saída da igreja, badaladas chamaram a atenção dos moradores próximos, que imediatamente foram denunciar o fato ao padre Vicente que, equivocadamente, deslocou-se para a Matriz onde constatou que o sino não fora removido. Foi alertado, contudo, que o sino furtado fora o da igrejinha. O caso foi parar na Delegacia de Polícia. O gatuno foi apreendido e o sino devolvido à igrejinha, sendo depositado em um cômodo com altas paredes, anexo à igreja, à espera de providência para retorná-lo ao seu lugar que, segundo a narrativa, era serviço para quatro homens, o que surpreendeu a arte do gatuno, muito jovem e sozinho ter dado conta do desempenho da proeza. Sino recuperado e guardado. Certo dia, necessitando de fazer reparos no telhado da igrejinha, buscou-se a escada que não foi encontrada no lugar de costume. Procura-se daqui e dali, e nada. Então deliberou-se ir ao cômodo onde estava guardado o sino. Lá encontraram a escada, sobrevindo um susto: cadê o sino – a escada teve outra finalidade. Outra vez a novela. Daí, nunca mais se teve notícia mais plausível do sino. Surgiram certas histórias desencontradas envolvendo colecionadores, mas nada foi provado. Tomara que tão precioso sino da lusa terra não tenha se transformado em tacho, posto ser ele fabricado com bronze – fundindo o cobre (75%) e  estanho (25%). E os tachos são de cobre. Tomara que não esteja em alguma rebaixa fervendo garapa para produção de rapaduras. 

CONSCIÊNCIA CÍVICA

 


Na quinta-feira 19, a igrejinha de São Félix, em reforma, foi palco de uma Roda de Conversa sobre Patrimônio Histórico – Construir e Preservar. A pequena nave da histórica igreja ganhou vida nova com a presença de muitas pessoas para participar dela tendo como tema o processo da sua reforma da igreja. Como se sabe, ela está sendo reformada graças à iniciativa da família Nunes Caetano que, em um encontro, suscitou a importância histórica desta igreja lamentando o seu estado de abandono. Foi o primeiro passo chegando-se, depois, à ação da reforma da igreja, que é do conhecimento da comunidade.

Na abertura do encontro, Anna Paola Nunes Corrêa de Freitas, reportou-se aos fatos que levaram à iniciativa de reformar a igreja em vista de sua importância religiosa e sentimental.  Após a exposição ela passou a palavra à Julyene Alkimim, arquiteta responsável pelo projeto da reforma. Em sua exposição ela destacou vários aspecto do processo de Preservação e Restauro da Igreja São Félix. Recorreu à antropóloga e cientista política Eunice Ribeiro Burham para lembrar que o homem é um animal que construiu, através de sistema simbólicos um ambiente artificial no qual vive e o qual está continuamente transformando. Situou a igrejinha no contexto  de patrimônio – bem de família, herança, legado que recebemos de nossos antepassados. Acentuou o que dispõe o IEPHA sobre o patrimônio histórico: “O bem cultural protegido encontra-se sob  um regime especial de tutela pelo Estado, uma vez que a ele pode ser atribuído um valor social”. Ressaltou que igual proteção é dada pelo IPHAN – “Qualquer ação em benefício do bem cultural na área de identificação, proteção, conservação e promoção”. Fez considerações a respeito da restauração e da reforma e por fim estabeleceu uma linha do tempo da existência da igrejinha.

A historiadora e chefe do departamento do patrimônio histórico da Secretaria municipal de Cultura, Gesilda Paraizo, mediadora da Roda, discorreu sobre o processo que deflagrou a reforma da igreja ressaltando a importância da iniciativa. Fez um retrospecto da situação da igreja no tempo, sobre as pequenas reformas feitas por particulares e pelo padre Vicente, chegando-se ao abandono total, e, por fim, teceu comentários sobre o movimento da reforma, que acompanhou passo a passo.

Foi franqueada a palavra aos presentes visando resgatar a história da igreja para estabelecer a sua identificação, posto que muito dela foi perdido dificultando o levantamento de dados para ensejar o processo de restauração. 

Usaram da palavra: Cosmo Fernando Lima, neto de Floriano Lima, dos primeiros zeladores da igreja, legado de João José Loredo que a construiu. Outros depoimentos: Jefferson Felizardo, José Geraldo,  dr. Max Lisboa, Janete – todos levantando fatos ligados à história da Igreja. João Naves frisou a importância da recuperação daquele precioso bem histórico como ponto de partida para outras iniciativas da sociedade na defesa do patrimônio histórico cultural do município. Por fim falou o engenheiro Daniel Fraga Carvalho, construtor responsável pela obra que, para a alegria de todos, garantiu a conclusão da reforma bem antes do prazo, possivelmente em julho de 2025.

SÃO FRANCISCO: MAIS UM AVANÇO



 A 102ª sub-seção da OAB de São Francisco vislumbrou a possibilidade de se construir um novo fórum para sediar o poder judiciário desta Comarca, tendo em vista o projeto anunciado de reforma do atual fórum notoriamente inadequado quanto à acessibilidade do público com deficiência física e com outros problemas funcionais. A iniciativa da OAB encontrou eco junto às autoridades dos poderes Executivo e Legislativo do município cientes da repercussão que pode gerar o fato a favor de São Francisco. 

Assim, na terça-feira 17 a diretoria da subseção de São Francisco, representada pelo presidente Révio Humberto Figueiredo Ribeiro e pela vice-presidente Stefane Veloso  Gangana,  participou de uma importante reunião com o presidente do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, desembargador Luiz Carlos Corrêa Júnior, contando com a presença do prefeito Miguel Paulo, dos vereadores Júnior Marruaz e Jonnhy Ruas e do procurador jurídico da Câmara Municipal, André Saraiva de Queiroz, representando o presidente, Daniel Rocha. Presente, ainda, o juiz diretor do fórum da Comarca de São Francisco, Thomás Carneiro Franco de Carvalho. A pauta da reunião foi para tratar da construção de um novo prédio para o fórum da comarca,  contando ela com o apoio incondicional da desembargadora Kárin Liliane de Lima Emmerich e Mendonça, que viabilizou o encontro, com o respaldo dos desembargadores Luiz Carlos Gomes da Mata e Leopoldo Mameluque, demonstrando total apoio à iniciativa.

Na oportunidade foi protocolado, junto à presidência do TJMG, um requerimento/ofício da OAB solicitando a alteração de reforma (que era o planejado) para construção de um novo fórum, acompanhado de um documento assinado pelos vereadores indicando ao poder executivo a doação de um imóvel urbano para viabilizar a construção pretendida. Na oportunidade o prefeito Miguel Paulo oficializou o compromisso de doar  um terreno de 6.887m2, localizado em área nobre da cidade para a construção do novo fórum, ao lado da recém construída sede da OAB e futuras instalações da Polícia Civil, reforçando, assim, a busca de melhores estruturas para o judiciário local.

A respeito, declarou o presidente Révio Humberto: “Esta parceria  entre a OAB e os poderes judiciário e público municipal reforça o compromisso de todos com o progresso de São Francisco. É com trabalho de união e determinação na construção de um futuro melhor para a nosso município”


sábado, 14 de dezembro de 2024

A PONTE AGORA SAI?

 


Chegou a São Francisco, na tarde da sexta-feira 13, uma alvissareira notícia transmitida pelo vice-prefeito Raul Pereira: a assinatura de ordem para dar início à retomada da construção da ponte sobre o rio São Francisco, aqui na cidade. O prefeito Miguel Paulo e o vice-prefeito Raul participaram de cerimônia no Parque de Exposições de Montes Claros quando o vice-governador do Estado, professor Mateus Simões (foto) anunciou a tão esperada notícia: a autorização para retomar a construção da ponte tão logo passe o período das chuvas.

O são-franciscano é ressabiado quanto às promessas feitas por autoridades estaduais dando como certa a construção da ponte. Agora, contudo, parece ser diferente, pois há recurso, vencida nova concorrência e dada a ordem de início (documento abaixo). É possível que a desconfiança herdada de São Tomé possa voar para as calendas.



PORQUE PLANTAR


 Anos idos, não tantos passados observa-se que em tempos hodiernos sucumbiram-se ações de civismo, de amor à natureza e regras de condutas nas escolas onde eram moldados os cidadãos para a convívio social e formação do caráter. Diariamente, antes do início das aulas, no pátio delas, assistia-se ao hasteamento da Bandeira Nacional e a execução do Hino Nacional. Comemorava-se o Dia de Tiradentes, realçando o patriotismo e o anseio de liberdade, o fanal de todos. Outra comemoração tão especial dava-se no Dia da Árvore. Todo ano eram plantadas árvores no pátio da escola e, mais do que isso, os alunos cedo desenvolviam o amor e respeito à natureza. A árvore era olhada com carinho, até mesmo como uma amiga, pois por comum, muitas delas, quando plantadas, recebiam nomes especiais e carinhosos.

O tempo foi passando... passando e estes valores cívicos foram para os escaninhos dos acontecidos substituídos por outros valores (?) duvidosos, que não servem à formação de um bom cidadão, caldeando o seu caráter, mas um ser desvinculado e desprovido de valores cívicos e morais.

Felizmente, aqui e ali, ainda sinaliza-se o respeito e o amor à natureza e veneração à Pátria. No caso da árvore, um fato especial serve como registro, para demonstrar o que pode oferecer a natureza quando tratada com respeito e carinho. A mocinha Sara Romão Rodrigues, filha de Ricardo Rodrigues Pereira e Márcia Souza Romão, estudante da EM Paulo Freire, quando criança, plantou uma árvore em um jardim. Tinha no rosto um sorriso feliz, prazeroso. O tempo passou... passou. Hoje, mocinha, ela reencontrou-se com a árvore que além da sombra dadivosa orna o jardim com suas flores coloridas – flamboyant.

Outro fato: a participação dos alunos da Escola Cívico Militar José D´Ávila Pinto no desfile de Sete de Setembro com tanta altivez e garbo levou o público mais antigo aos grandes desfiles da cidade quando despertavam fulgor cívico os alunos da Escola Caio Martins e do Ginásio (tempo ido) e, recentemente, na abertura da Audiência Pública do Trânsito, quando da execução do Hino Nacional com a participação de um grupo de alunos  desta escola. Há muitos anos, muitos mesmo, não se ouvia tanto fervor cívico e tanta alegria no cantar... emocionante.

Uma volta ao passado de ações que, para o bem de São Francisco e do país, deveriam ser revividas nas escolas. Não custa nada!




PARA NOVA SÃO FRANCISCO

 

O encontro dos diretores da ONG Preservar com o prefeito Miguel Paulo, nesta semana, foi um passo muito importante para do município de São Francisco podendo significar, quem sabe, um ponto de chamada de outras entidades para se agregarem com o mesmo propósito, num movimento catalisador da sociedade civil no afã de trabalhar em prol do município. É preciso refletir sobre o assunto, pois o governo, tanto o Executivo quanto o Legislativo, numa democracia, representa o maior detentor do poder: o Povo. Como princípio é isto mesmo, na realidade, no entanto, parece uma utupoia, ou seja tem o poder, mas não o exerce. O Povo não cria as leis, nem as executa, mas detem o poder que delega ao Legislativo e Executivo no exercício da cidadania, o que implica em co-responsabilidade em ambos os casos. Cabe, pois, ao Povo fiscalizar as ações do Legislativo na criação de leis e o Executivo na sua aplicação. Infelizmente a realidade é bem outra. O que se tem é o  negligenciamento da sociedade  que, nesta questão, fica-se no laissez-faire, ou apenas nas críticas. A cidadania não foi uma conquista barata. Arrastaram-se séculos, com muitas lutas, sacrifícios, queda de reinos, de feudos e muito sangue derramado para que o cidadão pudesse ter voz. Contudo, apenas ter voz, poder votar e ir-e-vir não resolve, é preciso participar do sistema. Lamentavelmente, não é o que se vê. O que se tem é o governo de lá e o povo de cá, e passam-se os anos. O tempo urge para que seja deflagrado um intenso e efetivo trabalho participativo: sociedade-governo.  No caso, a ONG Preservar deu importante passo, que pode representar um chamado de outras instituições do município para participarem do processo de desenvolvimento considerando o que representam: GDESF, ACIASF, CDL, ADM-DESENVOLVE SÃO FRANCISCO, CMDRS, Sindicatos (dos trabalhadores e dos produtores); grupos religiosos católicos e evangélicos e as faculdades UNIMONTES E FADENORTE, berços de desenvolvimento intelectual. Some-se, ainda, com a participação da OAB, da Maçonaria e ABAHSF já enfronhadas no processo em prol do desenvolvimento. E por que não contar com a participação de todas as escolas com a possibilidade de semear o civismo meio àqueles que vêm? 

O prefeito Miguel Paulo refletindo a sua reeleição manifestou estar motivado com a perspectiva de contar com  o apoio da sociedade para alavancar o desenvolvimento do  município de São Francisco. Potencial é que não falta, apenas depende de vontade e de ação.

PREFEITO E O PRESERVAR


 Na segunda-feira 9 a diretoria da ONG Preservar reuniu-se com o prefeito Miguel Paulo em seu gabinete na Prefeitura Municipal. O objetivo do encontro, em primeiro lugar, foi o de apresentar ao prefeito a nova diretoria da ONG, ocasião em que o novo presidente, Diovane Renê Costa fez sucinto comentário sobre os objetivos da ONG, manifestando, ainda, que é propósito da nova diretoria emprestar todo apoio à administração municipal no desenvolvimento de ações culturais, ambientais e do patrimônio histórico. Na oportunidade a ONG levou ao prefeito Miguel Paulo a necessidade da criação da Casa da Cultura em São Francisco, a exemplo do que se vê em outros municípios da região, como uma forma de preservar e divulgar patrimônio histórico e a cultura são-franciscana. A respeito, os diretores João Naves, Francis D´Ávila Souza Soares, Petrônio Braz de Carvalho e Adalgisa Gonçalves de Mendonça apresentaram detalhadas exposições sobre vários aspectos da cultura são-franciscana que não têm merecido a valorização condizente com a sua importância – tanto na cidade quanto no meio rural, onde muitas manifestações estão sendo perdidas. Destacou-se a necessidade de dar maior apoio aos artesãos do município nos diversos campos  – madeira (violas, rabecas, caixas de foliões, carrancas, miniaturas, aves e outros), tecido, bordado, peças ornamentais, entre tantos com a criação de um espaço comum para exposição de seus trabalhos em estandes. Tratou-se, por fim, de um, polêmico assunto: O Centro Histórico Urbano enfatizando-se a necessidade da aplicação da lei que o criou. Quanto à Casa da Cultura foi sugerido a sua instalação no antigo prédio da cadeia pública, onde funcionava o Instituto Técnico Cel. José Ortiga, um prédio muito apropriado e bem localizado quanto ao aspecto das visitações.

O prefeito Miguel Paulo agradeceu a presença dos diretores manifestando a satisfação de poder contar com eles no trabalho em prol do município. Mostrou-se muito receptivo quanto a proposta da criação da Casa da Cultura, citando a existência dela em outros municípios e a sua importância na preservação e divulgação da riqueza cultural de São Francisco. Na oportunidade encaminhou a proposta ao secretário de Obras, Conceir Damião Vieira, presente à reunião, para que fossem tomadas as primeiras providências para a implantação da Casa da Cultura.

sábado, 7 de dezembro de 2024

AINDA SOBRE FESTIVAL CULTURAL DE SÃO FRANCISCO

 


No segundo dia, 30, do  Festival Cultural de São Francisco promovido pela  Secretaria Municipal de Cultura teve a apresentação de quatro grupos de quadrilhas  – Arraiá Sagrada Família, Arraiá dos Amigos da Rua A, Arraiá da Alegria; dança de roda do grupo Flores e Cravo de Buriti do Meio, capoeira do Grupo Tok Tok e dança de  São Gonçalo.

Uma atração muito especial foi o Festival de Música de Raiz com cantores da terra.  A classificação e premiação, pela ordem: Domingos Corrêa, José da Silva, José Alberto, Joélio Pereira, Edna Maria, Altamir Alves e José Luiz dos Santos.

No final teve a apresentações de cantores da  terra: Bruna Fulô, Igor Cardoso, Zé Moreno, Muletas da Viola. Encerramento:  Banda Cheiro de Pimenta.

As equipes da Secretaria de Cultura esmeram-se na realização do Festival indo da bela ornamentação do ambiente, às diversas barraquinhas com exibição do artesanato do município e alimentação típica.

A mensagem que ficou: quem venham outros festivais para divulgar e festejar a cultura são-franciscana.

Equipe de coordenação da Secretária de Cultura que se entregou ao festival com muita dedicação e competência: Paulinha, Dany, Clevane, Dany Spina e Gesilda Paraizo.




PRESERVAR

 


Às duras penas a ONG Preservar vai sobrevivendo, apesar de ter passado por um período muito crítico com suas portas praticamente fechadas por falta de uma pessoa para manter um expediente mínimo de atendimento. 

Recentemente, a história foi mudando. Primeiro foi a atenção dada pelo prefeito Miguel Paulo, que colocou  uma funcionária a serviço da ONG permitindo, com isso, o atendimento ao público – estudantes e pesquisadores em geral. A servidora designada, Ivaci Ivo Lima mostrou-se, de pronto, identificada com os propósitos e trabalhos da ONG, posto ser formada em História, o que permitiu um melhor atendimento ao público e o acesso ao arquivo da ONG.

Outro fato muito importante foi a filiação de novos sócios, pessoas com uma bagagem cultural muito rica que, certamente, poderá contribuir muito com os propósito da ONG e, consequentemente, servir à comunidade.  Chegaram Diovane Renê, presidente do Codema e muito ligado às ações comunitárias; o engenheiro Francis D´Ávila de Souza Soares (Nino), que tem demonstrado uma vontade muito expressiva em trabalhar pelo engrandecimento de São Francisco, em diversas áreas, sobretudo na promoção do homem. 

A ONG levou ao prefeito Miguel Paulo uma proposta excepcional: a criação do Museu Histórico de São francisco, propondo a disponibilização do prédio da antiga Cadeia para sua instalação. No mesmo espaço, que é enorme, a proposta leva à montagem de diversos estandes para locação do artesanato do município. Um ideia interessante, pois o local é muito acessível, com grande visibilidade ao público. No mais seria um ganho especial para os artesãos do município, que são muitos mas não têm um meio de mostrar e vender a sua arte.

Nesta semana realizou-se uma reunião extraordinária da ONG quando foram debatidos diversos assuntos do interesse da comunidade o que levou à necessidade de reformular o estatuto da ONG transformando-a em OCIP possibilitando-lhe o desenvolvimento de projetos de interesse do município na área ambiental.

IGREJA DE SÃO FÉLIX EM REFORMA


 Enfim, a igrejinha de São Félix está sendo reformada, pode não despertar muito interesse na comunidade, contudo tem um significado muito importante, tanto religioso quanto histórico, pois ela é contemporânea da cidade de São Francisco, é parte de sua história. 

Segundo consta dos arquivos da ONG Preservar, ela foi construída em 1877 (data da criação da cidade de São Francisco) pelo cidadão José  Loredo, vereador suplente do novo município. Encontrando-se enfermo, à beira da morte, ele buscou o auxílio do santo de sua devoção, São Félix, dizendo que em retribuição à sua saúde construiria e uma igreja para ele. Recuperada a saúde, livrando-se da morte, cumpriu a promessa, construindo a a igreja. Enquanto vivo ele foi zelador dela, missão que passou, depois, para outro devoto: Floriano da Cunha Lima. Com a morte deste a igreja ficou abandonada e já entrava em ruínas quando uma comissão de senhoras de nossa sociedade levou a efeito sua reforma, entre elas dona Alice Mendonça, dona Casilda Dulce dos Santos e Palmira Cunha Ortiga. Mais tarde a Igreja passou aos cuidados dos vicentino e, por fim, foi novamente abandonada sendo ocasionalmente aberta para  velórios de figuras ilustres. Pe. Vicente fez a última reforma. Depois disso, a igreja foi fechada, sem qualquer atividades e ruindo-se com o tempo.


A REFORMA


A família de dona Maria Eunícia tem uma ligação muito antiga com a igrejinha, sentimento que remonta aos seus avoegos. Assim, diante do estado em que ela se encontrava, quase às ruínas, a família se reuniu, coisas de dois anos atrás, idealizando um meio de reformá-la. Enfim, a professora Rita Nunes reuniu-se com as professora Adalgisa Gonçalves de Mendonça e a historiadora Gesilda Paraizo para  a elaboração de um projeto visando captação de recursos para empreender a reforma da igrejinha.  Apresentou o projeto elaborado à Associação Impact Hub de Minas Gerais, que tem larga experiência na restauração de prédios históricos. A presidente desta associação,  Virgínia Nunes Alfenas Giffoni, encaminhou-o  à Plataforma  Semente do Ministério do Público de Minas Gerais, que liberou a verba de R$ 613.700,00 para execução do projeto que está a cargo da empresa Croma Engenharia, com término da reforma previsto para o dia 17 de março de 2026.

Um detalhe importante: a liberação dos recursos pela Plataforma Semente para  o pagamento da empresa construtora, através da Associação, será feita mediante a comprovação de etapa concluída. Não haverá liberação imediata da verba concedida.

AINDA SOBRE FESTIVAL CULTURAL DE SÃO FRANCISCO


O prefeito Miguel Paulo tomou uma decisão muito importante, possivelmente das maiores de seu governo, enfrentar a questão do trânsito no município. Uma ação que volta no tempo, iniciada e paralizada, no ano de 1997/2000 no governo de Kato, cuja lembrança são os semáforos em alguns pontos da cidade. Não será fácil, pois o trânsito na cidade é um verdadeiro caos. Até então, nenhuma providência fora tomada, enquanto  o fluxo de veículos pelas ruas da cidade aumentou de maneira fantástica, impressionante: automóveis, caminhões, carretas, motos, bicicletas, carroças e pedestres. O prefeito reconheceu esta situação, o que manifestou na sua fala na Audiência Pública do Trânsito, dizendo que nas suas caminhadas pela cidade, em campanha buscando sua reeleição para o cargo de prefeito, o que mais ouviu da população era o pedido para cuidar do trânsito. Ouviu e decidiu, mesmo antes de tomar posse para o segundo mandato: determinou a elaboração do projeto de lei visando a implantação do Departamento de Trânsito no Município.

Não quis, o prefeito, que fosse uma decisão unilateral, quis ouvir a população. Por isso, decidiu-se pela realização de uma audiência pública para tratar do assunto com a comunidade. E foi o que aconteceu nesta sexta-feira, 6, no Centro Cultural Católico. A população esteve representada por lideranças de diversas setores, por expressivo comparecimento de jovens estudantes e autoridades do município. Presentes se fizeram e manifestaram, após a abertura e exposição feita pelo procurador jurídico do município, Ilídio Antônio: Daniel Rocha, presidente da Câmara Municipal; Ten-cel. Wilson, comandante da 13ª Cia da PMMG, Renato Rocha, Sgt do Corpo de Bombeiro, Révio Umberto Ribeiro, presidente da subseção da OAB, Roberto Ramos, coordenador do Campus da Unimontes de São Francisco. Todos destacaram a importância da iniciativa apresentando sugestões e enumerando preocupações. O Ten-PM  Pacheco fez ampla  exposição, e didática a respeito da implantação do departamento de trânsito no município. Representantes de  Departamentos das Secretarias de Recursos Hídricos e Obras fizeram exposições das ações até então desenvolvidas em prol da melhoria do trânsito da cidade. A palavra foi passada ao público, os inscritos. Foram diversas e muito pertinentes as observações: Marciene, Roberto Ramos, sargento Passos (que rememorou a criação da Lei de Mobilidade Urbana, discutida com a comunidade, que foi engavetada pelo Executivo), vereador Eric Master, Francis (Nino),  vice-prefeito Raul, radialista Altamir, Eudo, Leandro Amaral, José Reinaldo Almeida, Petrônio Braz Neto, Leo GEDESF. Por fim, o prefeito agradeceu a presença e colaboração de todos afiançando que o projeto seria enviado à Câmara que com a sua aprovação partirá para a execução.


DESTAQUE: Há muito não se ouvia a execução do Hino Nacional com tanta vibração e fervor, justificada sem dúvida pela presença de um grupo de alunos da Escola Cívico Militar José D’Ávila Pinto.




sábado, 30 de novembro de 2024

MARINA ESCRITORA

 Pele, sensorial físico, que por sensações diversas, leva-se ao 

espírito e a viagens no carrossel das memórias. 

É a viagem que Marina Naves nos leva no capítulo final do seu maravilhoso trabalho. 


PELE


Gostava de ir ver o sol se pôr às margens do rio e era de costume que o fizesse quase todos os dias. A vida era simples e fácil quando a rememora dessa forma. Sua pele me falou que era comum que ela queimasse as coxas desnudas n'alguma pedra que se sentava às margens das águas. O calor ainda se acumulava nelas mesmo quando o sol se recolhia e era engolido pela noite. 

Ao tornar-se mais velha a sensação de sentar suas coxas desnudas num assento de lotação numa tarde quente da capital a fazia lembrar desse tempo de fim-da-infância em que via o crepúsculo e queria tornar-se gente grande e zarpar para o mundo. O mundo então pareceu cada vez menor e pior, pior e menor, e nunca mais houve lugar nele que parecesse ter espaço para ela. 


pobre ser que rasteja o mundo!

seu reflexo é o meu no espelho;

ri em seu porvir, mariposa,

pois para mim não há lugar.


Seus sentimentos se tornaram complexos com o tempo, e eram sentidos em sua pele — eram rasgados em sua pele. Essa casca-derme se tornou um cofre sem chave, blindado em si mesmo para proteger as loucuras de um coração jovem e inconstante. O tato sentiu a si mesmo e o susto de encontrar-se no espelho e enfrentar a própria existência fez acordar o terror da vida adulta quando foi crescendo a menininha em seu tear de infância pequenina, enquanto eu crescia no meu tear de nódulo hepático. 

As memórias da pele são as mais duras como cicatrizes, as mais molengas como espinhas, as mais dolorosas como cortes cirúrgicos, as mais protuberantes como queloides. Tive dificuldade para entendê-las, mas as sei todas, de cor e salteado, e não tem calundu que lágrima tenha gerado, e que na pele tenha escorrido que eu tenha conhecimento. E eu sei disso porque a sua pele me contou quando nela, minha hospedeira, comecei a crescer sorrateiro e intruso.


~~~~


Aparelho estranho pelas mãos de um estranho. Minha hospedeira, num exame de rotina, me leva em seu corpo hermético aos confins de uma clínica para submeter-me a ondas ultrassônicas... gelado é o gel que passam sobre a pele e a carne que encobrem o órgão que me abriga. Movimentos fortes, muita pressão, apertados. Eu, intruso, sou visto por outro intrometido como se veem os bebês nas barrigas das mães. Mas não se alegraram em me ver.

Pedidos de ressonância magnética, ó máquina barulhenta! Minha anfitriã a achou senão como uma grande festa de música eletrônica, mas no pior dos maus sentidos. Por muito tempo fui um pesadelo em sua vida, roubei-lhe as noites com a preocupação de algo maior e mais ameaçador. Exames e mais exames, sangue colhido e sangue avaliado. E não tem beijo de pessoa amada, ou abraço de parente que tenha aliviado o sofrimento que ela estava sentindo.

Confesso ter me sentido mal de ter causado tanto transtorno. Só queria um lugar para ser um mero caroço-intruso. Tudo sei sobre ela, e deveria ter me atentado de que seria, sim, um transtorno. Ela borbulha em ansiedade e coça por todo corpo intensamente. Talvez um gole de arnica a ajudasse a afogar essa coceira, esse desespero, esse nervoso insaciável. 

Afinal, no frigir dos ovos, eu nunca fui nada além de um simples caroço. Mas precisou que ela ouvisse da doutora que ela não precisava se preocupar tanto, somente fazer alguns exames com alguma frequência. Conviver comigo como conviver com um vizinho. Talvez devêssemos encarar-nos como novos-velhos conhecidos como se ao espelho estivéssemos olhando pela primeira vez. Ter nossas intimidades reviradas ao avesso, pois se eu sabia tudo antes sobre ela, caroço-intruso, agora sabe tudo ela sobre mim.

FESTIVAL CULTURAL DE SÃO FRANCISCO

 



Um evento de significativa importância está sendo promovido pela  Secretaria Municipal de Cultura: o Festival Cultural de São Francisco com diversas e muito ricas demonstrações da cultura são-franciscana. O festival iniciou-se ontem, 29 e termina hoje, 30, na Praça de Esportes. No primeiro dia, da abertura, houve a participação de dez ternos de folias do município, um espetáculo de rara beleza e significado, especialmente pela proximidade do Natal, quando aparecem as figuras dos Três Reis Magos para adorar o Menino Jesus em seu berço. E mais grupos participaram: Boi de Reis, Capoeira, Reis dos Temerosos. Completa programação o festival de música raiz e shows com cantores da terra.

A equipe da Secretaria de Cultura realizou um excelente e muito dedicado trabalho. Lá estavam o secretário Lincoln, e em plena ação as coordenadoras: Paulinha, Dany, Clevane, Dany Spina e Gesilda Paraizo; o presidente do Conselho Municipal de Cultura, Raposo e o conselheiro José dos Passos. Participação, também, do presidente da ONG Preservar, Diovane. Presente o vice-prefeito Raul, os secretários João Herbber (Desenvolvimento Social) Conceir Damião (Agricultura) e Fracine (Educação).

Sem dúvida, esse evento tem uma importância muito grande na divulgação da cultura de São Francisco tão rica e expressiva. É de suma importância que ela seja prestigiada e divulgada pelo governo municipal e, especialmente, pela comunidade, começando pelas escolas. É de se lembrar, como sempre, a lição de Alceu Maynard: “Mais ama um povo quem ama suas tradições!” 

O CERRADO – VIII

 MEIO AMBIENTE: AUDIÊNCIA PÚBLICA NA CÂMARA MUNICIPAL




Encerramos a série sobre o Cerrado com uma notícia alvissareira proporcionada pela Câmara Municipal de São Francisco: audiência pública requerida pelo vereador Rodrigo Teles tendo como pauta a revitalização das veredas da barra dos Caldeirões, uma iniciativa que deve ser considerada como retomada das ações em prol do cerrado e do meio ambiente no município. Poder-se-ia dizer trata-se de um ato de mea culpa de governos do município pela pouca ou quase nenhuma atenção dada  às questões ambientais do município. A audiência, ocorrida na terça-feira 26, contou com a presença de representantes de diversas entidades civis e públicas, e de outros segmentos da sociedade, em especial de moradores da região das veredas Caldeirões.

O presidente da audiência, vereador Rodrigo Teles, inicialmente,  falou sobre o propósito da audiência, expondo a crítica situação hídrica observada na região das veredas Caldeirões e adjacências, comprovada pela exibição de vídeo. Abriu a fala aos participantes do evento, pela ordem: João Naves de Melo (ambientalista), Roberto Mendes (Unimontes), Geraldo Magela (Emater), Petrônio Braz Neto (representante da paróquia São José), Alda Maria (CBH), Márcio Passos (secretaria municipal do Meio Ambiente), Wanderson (IEF), Hélio (Copasa). Passada a palavra à assembleia, manifestaram: José Botelho Neto (Sindicato dos Produtores Rurais) Nílva Vieira (Escola Família Agrícola), Genelicio (Cáritas), Maria Mendes (Preservar) e cinco representantes das comunidades das veredas Caldeirões. Os depoimentos revelaram a drástica situação das veredas Caldeirões e de todo  complexo hídrico do distrito de Santa Izabel de Minas, anotando-se a extinção de diversas veredas, interrupção de quase todos cursos d´água e secamento de lagoas. Foram apontadas como causas: a falta de atenção do poder público (municipal e estadual), a falta de agentes fiscalizadores, a desestrutura dos órgãos municipais dedicados à recuperação e preservação de recursos hídricos (veredas, barraginhas, terraços e estradas vicinais). Várias sugestões foram apresentadas, entre elas, a de reaparelhamento da secretaria municipal de Meio ambiente/Codema, para a retomada das ações de recuperação e preservação das fontes hídricas do município, apontando a extrema necessidade de agir tendo em vista a situação do rio São Francisco: sem afluentes em pouco tempo ele terá a vazão totalmente comprometida.  

Conclusão: a audiência serviu como uma radiografia muito real da situação do meio ambiente no distrito de Santa Izabel de Minas, apontando-se as medidas que se fazem urgentes, num chamamento ao Poder Executivo e à comunidade no sentido de se tomar urgentes medidas para evitar um desastre maior e irreversível.


AUDIÊNCIA PÚBLICA: A SITUAÇÃO ATUAL

A Patrulha Mecanizada Ambiental do Município, formada às duras penas com apoio do Ministério Público e providência do governo municipal (Luiz Rocha Neto), por um longo período executou diversos projetos de recuperação e cercamento de nascentes, construção de terraços e de barraginhas. Realizou diversos programas educativos para estudantes e comunidades rurais. No governo do prefeito Veim foi desestruturado o Codema e dado fim à Patrulha Mecanizada Ambiental. O projeto Plantando Água do Codema e Projeto João Botelho Neto voltou à estaca zero. São, atualmente, 8 anos de retrocesso, pois o atual governo ainda não incrementou essas atividades. Contudo, há uma luz no horizonte com a promessa de reestruturação da secretaria do Meio Ambiente.

Como fio de esperança, ainda que incipiente, veio o programa de construção de barragens subterrâenas tendo à frente o pároco da Paróquia de São José, padre Nery, com a participação de um grupo de voluntários,  com apoio financeiro de um fundo especial do Ministério Público Estadual. Além da construção das barraginhas o projeto está provocando o envolvimento de comunidades do meio rural no programa de recuperação de veredas e cursos d´água. Um bom sinal, que depende muito do apoio do governo municipal, pois a paróquia não dispõe de equipamentos para facilitar a construção das barragens – um produtor rural prestou depoimento noticiando que construiu uma pequena barragem com seu próprio esforço, sem nenhum recurso público. Pelo tamanho do estrago, em dezenas de veredas e cursos d´água, é um quase nada, mas serve como um edificante exemplo, ou seja, que as comunidade se unam com o poder público na solução de tão grave problema ambiental, uma área em que o município de São francisco, em passado recente, serviu como modelo.

sábado, 23 de novembro de 2024

CINE CANOAS: REFORMA



 Quem viveu a história do Cine Canoas regozija-se com a iniciativa de sua recuperação em curso. Ele foi parte da vida de homens, mulheres e crianças por um bom período da história de São Francisco até ser fechado sem nenhuma destinação para ele, então da extinta Associação dos Amigos de São Francisco. Com a extinção dessa associação, o prédio foi retornado ao patrimônio do município depois de uma batalha judicial... e abandonado, deteriorando-se com o passar dos anos, entrando e saindo prefeitos. Eis que graças a uma iniciativa particular muda-se o cenário. Foi ela da empresa Cine Canoas Ltda., que tem à frente o produtor de eventos Elivelton Ferreira Tomaz. Atento ao que disponibilizava a Lei Paulo Gustavo – segmento Salas de Cinema, Cinemas de Rua e Itinerantes – ele, como muita determinação, agenciou meios para viabilizar o projeto de recuperação do prédio do Cine Canoas: elaboração do projeto, contatos com a Prefeitura Municipal e outros órgãos, ultrapassando todas as barreiras até obter a aprovação dele com o recurso de R$ 300.000,00.  Foi intenso o trabalho de Elivelton Tomaz. Ele contou com a assessoria de Keila Moraes do Coletivo Grupo Cine Canoas de jovens sonhadores, do qual fazia parte o Elivelton, que divulgava a arte (cinema) na cidade e no meio rural. Na elaboração do projeto, Keila foi uma peça muito importante.

O projeto teve respaldo do prefeito Paulo Miguel editando o Decreto nº 42 de 10 de maio de 2024, que autorizou a intervenção no prédio sob monitorização da Secretaria Municipal de obras e Gestão de Convênios. Segundo Keila foi muito importante e decisivo o apoio do prefeito Miguel Paulo ressaltando que, em todo o Estado de Minas Gerais, com 5 vagas, o município de São Francisco foi o único que se inscreveu, ou seja, que teve o interesse do poder público.

Ressalte-se, enfim, o quanto é importante a participação da sociedade, a iniciativa privada, no desenvolvimento de ações que promovam o desenvolvimento do município, a preservação de seus bens históricos e culturais. Trata-se, acima do comprometimento cívico, uma demonstração de amor, como bem o disse Alceu Maynard: “mais ama um povo que ama suas tradições” Dez para o Coletivo Cine Canoas e loas especiais para o Elivelton revestindo de vida o nosso Cine Canoas, ornamentando a Praça Centenário.

Quiçá ocorram outras iniciativas do setor privado concorrendo com o setor público em prol do desenvolvimento de São Francisco em todos os segmentos de sua estrutura comunitária. 

O CERRADO – VII

 

Sete capítulos foram dedicados a análises superficiais, mas com observações percucientes a respeito da situação do cerrado – sua importância e situação no  Noroeste de Minas. É evidente que há muito mais para se comentar, principalmente quando se vê o trabalho de construção de barragens subterrâneas no município graças ao apoio do Ministério Público. Ora, quem diria, vejam onde chegou-se, construir barragens subterrâneas em veredas que, se sabe antes verdadeiros mananciais. Há uma preocupação, pelo menos visando de cuidar e preservar o que resta do cerrado.  

Em décadas passadas acompanhou-se em São Francisco a derrubada de extensas áreas do cerrado para a produção de carvão com fim de alimentar as usinas de produção de ferro. As marcas ficaram, sem remédio.

Agora, com toda força, chegam as usinas fotovoltaicas na região. Em Arinos a  meta prevista é atingir uma área de 80 mil hectares com o “plantio” dessas placas de energia sendo metade com o desmatamento de Cerrado e a outra metade em áreas predominantemente de pastagens – no caso de captação de águas pluviais para o lençol freático considere-se o total, pois antes, com as pastagens, embora menos eficiente que a cobertura arbórea, ocorria-se a captação. 

O projeto é interessante: compromisso de ampliar a geração de energia limpa e renovável por uma empresa gigante do país visando a produção de aço. Antes o ferro, agora o aço. É o progresso, faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo federal. Trata-se de um projeto fantástico, de grande dimensão, ocupando vastas áreas. Certamente não será o único. Em breve virão outros e mais outros valendo-se de uma grande riqueza que tem a região: muito sol no correr de todo o ano.

Energia renovável. E o cerrado, a natureza, os cursos d´águas, como serão tratados? O governo ataca o agro que produz alimentos, mas por um lado é partícipe na alteração do nosso bioma de maneira irremediável e sem compensações anunciadas.

Precisa-se de energia? É evidente e, em especial a limpa que tem influência no clima. É possível, assim, que não muito distante, seja dispensada a geração de energia hidráulica destinando-se os rios à navegação e irrigação, como ocorrem em países como a China. Fica a pergunta:  a água para manter o sistema terá cuidados de preservação com o mesmo interesse? 

MARINA ESCRITORA

 Marina Naves avança na digressão de sua viagem em rotas sensoriais e 

espirituais revivendo fatos de sua tão jovem vida, mas tão repleta de encantos 

e buscas. E assim chegamos a mais capítulo de sua viagem.





OUVIDOS 


O ouvido é o caminho do coração. ...


Nas noites de sua infância em que faltava luz, reuniam-se todos da família —pai, mãe, irmã, avó e avô — para ouvir as lendas e causos da cidade banhada pelo Opará, o São Francisco. Seus ouvidos me contaram dos que ela tinha mais medo, e que mais lhe grudaram na memória: surubim de cabelo e o caboclo d'água, criaturas das águas profundas — mas talvez o medo residisse esse tempo todo no medo do rio não mais ter todo esse apelo de ser cheio. 

Seu avô era épico em seu contar de estórias, e tudo parecia real para seus tímpanos e sua imaginação de menina pequena. O surubim, cabeludo como um roqueiro metaleiro, viria no fim-dos-tempos, saindo da sua toca nas pedras dos barrancos do rio, para partir a igreja — que fica à beira das águas — ao meio e trazer o apocalipse. O próprio diabo encarnado, o bicho feio. E isso muito lhe incutia medo, pois muito tinha ela medo do fim-do-mundo, do inferno, pois tinha um pavor incorrigível de ser uma pecadora inconfessável. 

O caboclo d'água, mais famoso noutras bandas do país, pegaria qualquer canoeiro que fosse que enfrentasse as águas do Opará na Hora Morta, meia-noite, e transformaria em mulher, destino pior, muito pior que a morte. Então, como virar mulher é um destino muito, muito pior que a morte, os canoeiros construíram carrancas, monstros esculpidos em madeira mais assustadores do que o caboclo d'água para afugentar o maldito. Como ela não tinha medo de virar mulher, ela tinha mais medo das carrancas muitas que via por aí. 

No entanto, há um frio na barriga em atravessar o rio tarde da noite, ou até mesmo observá-lo, quando tudo é escuro e silencioso. É como olhar para o abismo, para o vazio, e encarar sua própria alma-abismo, alma vazia. As luzes da cidade não são muitas, são como velas nas noites em que a luz falta porque houve tempestade: incapazes de conter a escuridão do sertão. Há somente um véu fino entre o eu pequeno e a imensidão do céu enfeitado de estrelas.

— Talvez seja esse o grande perigo do caboclo d'água. Ela pensou.

E eu sei disso porque os seus ouvidos me contaram quando nela, minha hospedeira, comecei a crescer sorrateiro e intruso.

sábado, 16 de novembro de 2024

O CERRADO – VI


 Cerrado —“Uma floresta de cabeça para baixo”, segundo Felix Rawistcher. Antes, o cerrado era considerado como “terra madrasta”, por sua pobreza hídrica, baixa fertilidade. De repente, devastadas as florestas, o progresso avançou nas fronteiras do cerrado com voracidade para alimentar o poder econômico. Milhares e milhares de árvores, entre elas, frutíferas tão importantes do sistema e da cadeia alimentícia da fauna e do homem, foram transformadas em carvão, abertos campos para o plantio de eucalipto e formação de pastagens. Sistemas hídricos foram comprometidos, assoreadas veredas, fontes de água para alimentar pequenos córregos e rios e, através deles, o rio São Francisco. 

Ricardo Abramovay escreveu: “A continuidade da agropecuária nos cerrados encontra-se seriamente ameaçada pelo esgotamento dos recursos naturais em que se apoiam as práticas até aqui mais difundidas. Se é verdade que nem sempre isso se traduz em queda do rendimento das culturas, o fato é que a dependência crescente de insumos químicos e de irrigação constitui uma ameaça não só ao ecossistema como um todo, mas a própria continuidade das explorações agropecuárias”. Aqui, observe-se o fator água.

A troca de sistema – retira-se a vegetação que consome pouca água, por culturas de maior exigência, que dependem de irrigação e por outra cujo consumo não é elevado, mas que não retém as águas pluviais no solo (eucalipto). Dessa forma o cerrado que, por natureza, representa um grande reservatório de água não terá água para alimentar seus veios e por eles o São Francisco – isso é um fato observado no município de São Francisco cujo cerrado foi devastado para alimentar siderúrgicas. E teve mais na jornada do Norte para o Sul: campos abertos para implantar pastagens e plantio de roças em terras mais férteis que margeiam o rio. Prática que deixou desprotegidas as barrancas e, consequentemente contribuindo com o assoreamento do rio. Um dado importante foi levantado por Waldemar de Almeida Barbosa: “A decadência da mineração levou à criação de diversas fazendas na região de Paraopeba, Pitangui e Bambuí”. Ele atribuiu o fato à necessidade dos antes senhores da mineração de abrir campos de cultivo de alimentação para sustentar o grande número de escravos de que eram possuidores e que já enfrentavam período de fome: “O mineiro já se desesperando passa a lavrador ou criador de gado ou erige um engenho de águas ardentes, açúcar...”

Argumento usado para a fabricação de carvão no município de São Francisco: “é preferível dar de comer ao homem que proteger o pequizeiro”. Dizimaram o cerrado. Hoje  o homem do campo não tem o emprego (carvoaria) nem o pequi para alimentar sua família. Sobrou para São Francisco: extensas áreas do cerrado  arrasadas. E a ameaça persiste.

MARINA ESCRITORA

 Os olhos são as janelas da alma, as portas para o infinito, para as veredas por 

onde Maria descobriu nosso sertão; a língua proporciona conhecer o sabor, 

por onde Marina passeou nos caminhos barranqueiros. O assunto deste 

capítulo são as narinas, importante para sentir e absorver o perfume da vida.


Narinas


Crescendo retorcido com seus bracinhos para o céu, o umbuzeiro busca as nuvens carregadas de chuva que correm, escorregadias, para longe dele. Ela pensou, tantas vezes, no tear de sua infância pequenina:

— Por que chove tão pouco aqui? 

Suas narinas me contaram que nada no mundo a encantava mais do que o cheiro de terra molhada em dezembro. Mesmo que a casa se enchesse de insetos que vinham com a chuva, a bênção da água era maior do que tudo. A seiva que fecunda tudo, o sangue das nuvens que desce transparente como lágrima de gente. O cheiro da terra molhada era como o cheiro de um mundo que se restaura.

Mas também o cheiro das folhas do umbuzeiro quando mordidas lhe encantava. Azedinhas e de aroma igualmente azedo, traziam o frescor do sertão mesmo se a chuva resolvesse se esconder por meses. Mesmo que os galhos retorcidos das árvores da mata seca, bioma-transição norte-mineiro, não conseguissem alcançar as nuvens e roubar-lhes a água. Roubava então o umbuzeiro as águas do fundo do chão com suas raízes, artérias-veias, cisterna profunda.

E ela pensou sobre isso:  

pelas raízes-aortas

encontra o poço fundo

onde o chão é todo lodo e manto

cobrindo gentil o sonho que dorme

nos confins do

átrio ventrículo


Tentando também achar a seiva das nuvens n'algum lugar, mas com algum ideal romântico por trás, a flor da caraibinha crescia vigorosa na beira do rio São Francisco. Seu perfume singelo entrava pelas narinas dela e a fazia pensar sobre o amor, sobre a vida e sobre a família. Via seu avô levar buquês da florzinha para cada uma das filhas, e netas, e para a esposa, e pensou sobre a vida e sobre a eternidade das pessoas em suas ações e nas memórias umas das outras.

O cheiro do mundo é como o aroma de um perfume que marca a nostalgia de se saber no mundo. Ela sabe seu lugar no mundo pelo perfume do cerrado, do sertão da mata seca, bioma-transição norte-mineiro. E eu sei disso porque as suas narinas me contaram quando nela, minha hospedeira, comecei a crescer sorrateiro e intruso.





segunda-feira, 4 de novembro de 2024

O CERRADO – V

 Canarim preso na gaiola, que tristeza não será.
Canarim panhô solto, que alegria não será (Locha) 
   

O cerrado tem uma rica fauna. É verdade que já foi muito mais exuberante, porém depauperada  pela ambição dos homens ao longo dos anos, agredindo e modificando o seu habitat ela vai sendo extinta. Rui Mendonça e seu amigo Leão nas suas incursões pelo cerrado nas caçadas (quando era permitido) de veados passavam dias e noites embrenhados no cerrado, dependurados  em pés de caraíba e pequi (a flores atraiam os veados), ou metidos em locas, à espera da boa caça, deram valiosas informações  para o livro Do cerrado às margens do Rio São Francisco, uma extensa relação de pequenos e grandes animais, que conheceram, muitos deles já extintos, outros em fase de extinção. Os nomes são os conhecidos popularmente, de como os identificam o geraizeiro.
    MAMÍFEROS: anta, cachorrinho-do-mato, capivara, coelho, gambá, gato pardo e pintado, gato mourisco, jaguatirica, lobo guará, luís-cacheiro, melete (da família do tamanduá), mico, onça pintada e parda, paca, quati, raposa, saruê, tamanduá, tatus: bola, bolinha, canastra ( o maior deles podendo pesar até 80 kg), galinha, peba (tem o pequeno, vermelho, papa-defunto e o grande que não come, pesa até 10 kg), veados: campeiro, galheiro, catingueiro, catingueiro churé (pequeno do saco grande), suaçuapara vive no pântano, só sai para pastar).
    AVES: acuã, anu-branco e preto, arara – azul, amarela e vermelha, ariri, beija-flor, canaro, chorró, codorna, coruja-de-cupim, curió, ema, galinha d´água, garça vaqueira, garricha, gavião (pinhem, carcará, penacho), inhambu, jacu-pemba (pequeno), jandaia; João-Congo, João-de-Barro, juriti, mãe-da-lua (urutau); Martim-Pescador, mergulhão. papagaio,
pássaro-preto, pato preto, pêga (ave grande e agourenta), perdiz, periquito, pica-pau (cabeça-vermelha e bico torto), pomba-verdadeira (trocal), preangu, rolinhas parda e pedrez, sangue-de-boi, seriema, socó, tico-tico, tucano, urubu. (Nos anos de 1940 havia o comércio de penas de aves em São Francisco para exportação)
    RÉPTEIS: jacaré-preto, teiu.
OFÍDIOS: caninana, cascavel-da-chapada, cobra-cipó, cobra verde, coral, jararaca-da-campina e de cupim, jararacussu, quatro-presas e sucuri
    BATRÁQUIOS: jia, rã, sapo
ABELHAS; borá – mansa e brava (pau), capinheira (capim), chien (casa em galhos de árvores), europa (pau), jataí (pau), lambe-lambe (pau), mandassaia (chão), tataira (pau)
tubi (pau), uruçaí (pau e chão).
    PEIXES: bagre, gongó, piaba, pintadinho,  traira, dourado, surubim, curimatã, etc.
    A exceção da pesca nos rios Acari,  Pardo e lagoas, a  pesca é pouca, pois o acesso aos poços, no meio das veredas é muito difícil. É comum o campineiro abrir buracos em alguns pontos para pegar os peixes.

MARINA ESCRITORA

 Os lábios da sabedoria estão fechados, exceto para os ouvidos para o entendimento – O Caibalion

 


 

Mariana Naves na introdução do seu trabalho mergulhou nos campos físico/biológico e  da metafísica  ao falar de  um Caroço. Uma dualidade poder-se-ia dizer, mas que perder a razão abstrativa, pode transformar- se em um conceito.
    Nesta edição são apresentados dois títulos: Os Olhos e a Língua.  No caso dos Olhos  Marina passeia por paisagens da cidade revivendo a sua infância reencontrando bucólicos espaços com lirismo e paixão. No outro, a Língua ela passeia pelo universo/cerrado e paisagens da cidade trazendo  aos nossos olhos e alma uma natureza exuberante naquilo que oferece, como uma dádiva, aos homens.

1. OLHOS

sou fruto de uma terra árida, mas úmida
de lágrimas que regam minhas veias
e as veias da Quixabeira e as veias das ruas
de paralelepípedos que foram trocadas pelo concreto
como o quartzo foi pelo rubi

Vi pelo que rememoram seus olhinhos que em sua infância conheceu uma velha árvore em sua cidade ribeirinha. E essa árvore velha existia há muitos e muitos séculos e era anciã há muitos e muitos anos. Sobrevivia a árvore-avó-de-todas-as-outras pela seiva do choro de muitas mulheres. Mulheres que perderam seus amados para a terrível Iara, sereia que levava os homens às profundezas do rio São Francisco e lá os fazia adormecer pela eternidade.
Perguntou um dia ao seu avô o nome daquela árvore enrugada, que ficava na esquina da última rua que ainda não fora tomada pelo progresso, pelo concreto do asfalto que arrancara os paralelepípedos de todas as outras da cidade.
— A Quixabeira. Ele respondeu, certeiro.
E todas as vezes desde então ela se perguntou se quando chorasse por alguém a árvore-avó-de-todas-as-outras se tornaria mais forte e mais anciã por causa da seiva de suas glândulas lacrimais. Quem sabe, então, eu me pergunto por que sei que ela se perguntou, não é centenária a enrugada árvore pois todas as mulheres um dia choraram por alguém naquela cidade ribeirinha?
Chorar quem sabe seja uma forma de regar a terra seca do sertão. O sal é adubo, o suor é adubo, o esforço de existir é também adubo. Isso tudo pensou a menina quando olhava a quixabeira centenária no dia que chorou por alguém. E eu sei disso porque os seus olhos me contaram quando nela, minha hospedeira, comecei a crescer sorrateiro e intruso.

2. LÍNGUA

    As papilas gustativas que residem em sua língua me contaram da joia do cerrado, dourada e carnuda, de cheiro esquisito e chamativo. Em seu quadro da memória, esse que tive acesso pela narrativa de todo o seu corpo fofoqueiro, o pequi, joia do cerrado, tem um lugar especial.
    O alimento de ouro fedido que tinge o arroz e acompanha o frango cozido encheu sua barriga tantas vezes, e foi certeiro em tantos dias quentes numa terra de calor escaldante! Seu paladar me disse que se atiçava na estrada ao ver os ambulantes nas entradas das cidades vendendo os mais diversos estandartes de aromas: o pequi — joia do cerrado — a mexerica e o araticum.
    A língua também se lembrou da secura nos anos de pouca chuva, quando o calor era retado, e o sol brilhava mais do que nunca, a pino, pendurado no topo do céu. Tudo era tão seco, o nariz sangrava, e a sede fazia sua morada na boca, e seu gosto era sentido nas papilas gustativas. Odiava-se o pequi, então, pois dele vinha a maldição da seca, como já dizia o seu avô:
— Ano que dá muito pequi chove pouco!
    Alimentar-se dá sede e lembrar, lembrar demais do que já foi nos dá dor de cabeça e faz tristeza na mente. A fartura do pequi é prelúdio de seca e mal agouro, mesmo quando nos enche a barriga de boa comilança. Há de se lembrar o sertanejo que debaixo da carne da joia do cerrado, fruto dourado e fedido, tem espinho. Se rói feito ratinho não machuca, mas se morde se engasga. E eu sei disso porque a sua língua me contou quando nela, minha hospedeira, comecei a crescer sorrateiro e intruso.

I – A ÁGUA

 

A população que habita às margens do rio São Francisco, especialmente na cidade, que tem o rio São Francisco como provedor imediato e direto de suas necessidades de consumo, contando com o eficiente sistema de tratamento e distribuição de água da Copasa, não avalia o que representa o sofrimento e causa de atraso para a população rural, que não tem acesso à água, com raras exceções, como da vila Santana de São Francisco. Vive-se com minguadas latas de água distribuídas por caminhão-pipa. Quem tem água encanada e tratada em casa, com abundância, não é capaz de imaginar o drama de moradores do meio rural, das donas de casa que dependem de água para múltiplas funções e não a tem. E não fica apenas nisto, o que já é muito grave. Como incrementar as atividades agrícolas – criação de animais, irrigação essencial ao desenvolvimento de capineiras, plantio de feijão, hortaliças? Sem água não há vida, não há desenvolvimento. A vida se arrasta sempre não esperança da chegada das chuvas que se sabe, na região tornam-se raridades.
    Em recente publicação do vice-prefeito Raul Pereira, foi dado conhecimento a sua entrevista com o  ministro Wellington Dias (Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social). O fruto do encontro, muito importante por sinal, pela iniciativa do vice-prefeito, não vai alterar em absolutamente nada a situação hídrica do município A construção de cisternas nas casas para retenção de água da chuva é solução individualizada não se estendendo à comunidade. Pior é a distribuição de caixa d´água e canos, quando o que falta é água.
    O ideal, e necessário, é o governo municipal retomar o projeto plantando água que tanto resultado foi colhido no município anos atrás. Construção de tanques, barraginhas,  proteção de nascentes, terraceamentos, todo tipo de obra que possa reter a minguada precipitação pluviométrica conhecida do município. Indo mais longe, com vista a um projeto mais amplo que pode beneficiar um número muito maior de pessoas do meio rural, até mais de mil: a construção de barragens. Um exemplo está aí: as barragens de Jiboia e do Traçadal, que modificaram o meio assistindo e promovendo a população. Então, por que não investir na construção de barragens? Como fator político imediato parece não ser um bom negócio.   Este projeto é tão significativo e importante que levou técnicos do Norte de Minas ao estado do Ceará para conhecer o projeto de armazenamento de água da chuva com barragens. Foram tão longe enquanto sabemos que  aqui, no município de São Francisco, em escala menor, a experiência tem anos de passagem. Numa análise crua, pela incúria de nossos governantes, repete-se: tem anos, mas ficou no tempo, pois foi desativado o projeto Plantando Água dos programas do PJBN, Codema e Preservar. Fica a pergunta: por quê? Sem resposta, e ninguém deu a mínima e a situação de penúria perdura.

SÃO FRANCISCO 147 ANOS

 


 A cidade de São Francisco completa, neste dia 5, 147 anos. Uma epopeia para chegar a esta efeméride considerando os atropelos anteriores  às décadas de 1930/1945. Quantos embates, acirradas disputas políticas levando a tantas tragédias. Entraves  envolvendo políticos, magistrados,  polícia e bandoleiros. Coronéis que tinham o poder de manipulação dos destinos da cidade conduzindo a população como marionete. A saga de Antônio Dó. O Barulho – jagunços impedindo a concretização de um ato eleitoral legítimo. Felizmente tudo foi vencido e a pequena cidade foi se desenvolvendo como sede do município originado de São Romão. Um belo mercado recebendo a rica produção rural carreada por dezenas de carros de boi, situado no Largo Santo Antônio (praça Centenário) onde, depois das jornadas, os bois, deitados, descasavam ruminando. Na barranca do rio, o mercadinho (biblioteca pública) que recebia as mercadorias oriundas do outro lado do rio, transportadas em canoas. Cavaleiros do meio rural desfilando belos cavalos, muitas vezes trazendo as madamas nas garupas, para os ofícios religiosos ou para fazer compras no “comércio”; alguns ricamente ajaezados como o esquipador de Joaquim Figueiredo. Carros de boi chegavam carregados de mamona para os depósitos de Oscar Caetano, Sady Maynart, Floriano Mendonça e algodão para Sancho Ribas. Cidade que mergulhava em  viagens fantásticas no universo dos mistérios das crendices, lendas e mitos (de riqueza incomensurável no destaque de tipos imorredouros). Da fé religiosa  na busca do divino fazendo preces em piedosas procissões pedindo chuva. Do canto das incelências para encomendar as almas de entes queridos. Das procissões com multidão de fieis  percorrendo ruas revivendo o encontro de Jesus e Maria, conduzindo o Senhor Morto e nos festivos cortejos da festa do Divino Espírito Santo, e pelas água do São Francisco conduzindo Nossa Senhora dos Navegantes. Palpitantes manifestações: as  típicas danças, algumas voluptuosas, outras onomatopaicas ou caricatas; os autos do Natal,  folguedo como o festivo boi-de-reis, o histórico Rei dos Temerosos e a reverencial dança do São Gonçalo. As belas e famosas festa de São João da Escola Caio Martins. Ternos de violeiros em jornadas noturnas para saudar o Menino Jesus e em outras ocasiões para pagar promessas a São Pedro, Bom Jesus da Lapa, São Sebastião. O  Quebra, ruela bucólica com casebres  enfileirados  nas barrancas do rio; o Matadouro onde Hercílio Assobiador escreveu sua história no ofício de abater reses; os sobrados Regalito e Renascença; a rua Direita de tanta história; rua do Sossego, palco de uma tragédia (a morte do juiz Antero Simões). A construção da matriz de São José com homens e mulheres, aos domingos, depois da Missa, carregando pedras para erguê-la; a pequena igreja São Félix da idade de São Francisco; rua Montes Claros  a via de saída terrestre,  perpendicular ao  rio, via fluvial; os vapores  trazendo, para a cidade que se projetava, ilustres famílias. Viajando para o leste e oeste tropeiros levavam a produção do município e traziam mercadorias para abastecer os armazéns. Na Quiçaça o campo de pouso dos teco-tecos que transportavam peixes para Belo Horizonte. O sopro de búzios na chegada de pescadores ao porto, no raiar do dia, com canoas repletas de peixes de variedades tantas.
    São Francisco foi crescendo, crescendo e se modernizando com ares de cidade grande, tão bela, tão aprazível, tão privilegiada com as bênçãos de São Francisco, o santo. São Francisco de um povo generoso, hospitaleiro. No resumo, apesar dos percalços históricos,  o que se tem, nesses 147 anos, é uma história de AMOR. Lembrando o santo que lhe deu nome, São Francisco,  desejamos-lhe Paz e Bem!