sábado, 20 de janeiro de 2024

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro



EM BUSCA DAS ORIGENS – VII


Vou um pouco além na busca do  papel do índio na formação da etnia brasileira, é preciso, tendo como lição o que escreveu João Capistrano de Abreu: “A história não é somente uma questão de fato: ela exige imaginação que penetre o motivo da ação, que sinta a emoção já sentida, que viva o orgulho ou a humilhação já provados. Ser desapaixonado é perder alguma verdade vital do fato; é impedir reviver a emoção e o pensamento dos que lutaram, trabalharam e pensaram”. E sobre a  Colônia: “Não era  conquista só o que interessava: não era só a coisa, era o espírito da coisa

            Impossível me foi mergulhar mais na história do índio brasileiro. E não pouco  foram as razões, elencadas entre elas o fato de eu não ser acadêmico em História, de não dispor de mais material para pesquisas, não tendo disponibilidade econômica para empreender pesquisas alhures, restringindo-me às bibliografias disponíveis – os autores citados neste trabalho. Restam-me na empreitada as emoções e sentimentos com a atenção voltada ao pensamento e ações dos que viveram os tempos inaugurais do nosso Brasil.

João Ribeiro, no livro História do Brasil, mergulhando no continente bravio, inteiramente desconhecido, reproduziu a primeira descrição feita sobre os índios nele encontrados pelo escrivão da armada de Pedro Álvares Cabral, com admirável sensibilidade: “A feição dos índios é serem pardos, à maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes bem feitos”. Uma descrição pictórica que nos traz a imagem  dos nossos índios, belos, sem dúvida.  João Ribeiro registra que um grupo de indígenas esteve à bordo da nave de Cabral, onde não foram entendidos pelos intérpretes, mas  deixaram excelente impressão pela doçura de índole e pela inocência de suas maneiras primitivas.

            Boris Fausto (História do Brasil) vai um pouco além descrevendo o encontro após a descoberta: “Quando chegaram à terra que viria ser o Brasil, encontraram um população ameríndia bastante homogênea em termos culturais e linguísticas distribuídos  ao longo da costa e na beira dos rios Paraná-Paraguai.

            Em pouco o cenário iria se transformar à medida que o português foi ocupando a Colônia e pela presença de piratas, de franceses, espanhóis   e holandeses cobiçando as riquezas da terra descoberta. O novo cenário foi envolvendo os índios em diversos episódios formando alianças com os invasores, rebelando-se contra os colonos, guerreando-se entre eles mesmos – tupis e tapuias, principalmente. Chegou-se à era dos conflitos.


sábado, 13 de janeiro de 2024

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro



EM BUSCA DAS ORIGENS – VI


A relação da população são-franciscana com os índios é nebulosa. São minguadas as informações deles  tendo-se apenas tangentes de alguns autores, como foi relatado anteriormente o primeiro registro escrito sobre a existência de índios em nossa região. Diogo de Vasconcelos fez referência à carta do padre João Aspilcueta anotando que “o descobrimento se deu no trecho entre  Barra do Mangai e Pandeiros”. Antônio Emílio Pereira também referiu-se a essa carta anotando: “Visitamos a barra do Mangai, rio que limita os município de São Francisco e de Januária, até as proximidades do São Francisco (...) “Esta região, com a nova divisão dos municípios, pertence a Maria da Cruz” (Memorial Januária – Terra, Rios e Gente).

Jean Baptiste Debret, em obra já citada,  também fez  um registro da presença de índios em nossa região: “A grande raça dos Tapuias, considerada pelos historiadores a mais antiga do Brasil ocupava toda a costa, desde o Rio Amazonas, até o Prata e, no interior  das terras, desde o Rio São Francisco até o Cabo Frio”(Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil). Ato histórico confirmado, posteriormente, por Diogo de Vasconcelos, dando conta que tapuias estabeleceram ligames de duas aldeias na ilha Guaíbas (São Romão) e Tapiraçaba (Januária). Como moradores primitivos nessas localidades, certamente, legaram influência genética na etnia de januarense e de são-romanense. Quanto a São Francisco,  a presença do índio em nosso território, à falta de registros, enveredamos na senda das hipóteses,  algumas bem viáveis. Primeiro temos como referência a Barreira dos Índios na foz do Rio Acari no Rio São Francisco. Foi registrado por Diogo de Vasconcelos que índios remanescentes dos tapiraçabas, após serem derrotados pelas tropas de Januário Cardoso, a pedido da índia Catarina, filha do cacique e esposa de Manuel Pires Maciel,  deixaram a serra de Brejo do Amparo e foram para a região Acari (Serra das Araras, São Francisco). Não há registro da presença deles senão  referências a guisa de deduções – a famosa vereda Catarina de Serra das Araras e o nome do rio que por perto tem nascente. Acari é  um nome indígena; quanto a vereda, à falta de outra explicação, o seu nome é possível que seu nome teria sido dado em referência da índia Catarina, que facilitou a libertação dos índios que mudaram para o sertão do Acari.

Sem registro em compêndios de história há notícia da presença de  índios na região do território de Serra das Araras, que me foi passada pela dona Jandira de Souza Pinto em entrevista publicada no meu livro Às margens do São Francisco, a cidade. Dos fatos antigos ela conta “que ouviu de seus pais que a vó Honória era índia, e que, quando criança,  fora capturada na região do Urucuia” – há citações de vários autores dando ciência que índios tapuias, escorraçados do Nordeste, estabeleceram-se na região do Rio Urucuia que se sabe banha o território de Serra das Araras. 

sábado, 6 de janeiro de 2024

NOSSA CIDADE: FATOS HISTÓRICOS

 Nota: Esta monografia será dividida em capítulos, 

mais curtos, para uma melhor leitura.


Igrejinha e cruzeirinho de Teodoro



EM BUSCA DAS ORIGENS – V


Estamos nos aproximando de São Francisco, mas ainda carecemos de informações para saber um pouco mais sobre a etnia do são-franciscano, quais foram as influências que sofreu na formação de sua cultura em sentido amplo,  um estudo que não desperta muita atenção, mormente nas escolas. Na sociedade, perde-se  em estéril fisiologismo estigmatizando grupos, distinguindo-os  somente pela cor, em prejuízo da sua grandeza no contexto da formação da sociedade brasileira, que não tem raça distinta; na homogeneidade está sua beleza, nossa riqueza, incomum no concerto das nações considerando que na propriedade hipotética do Universo, o cosmo, considerado como um todo, se apresenta semelhante para todos os observadores, independentemente do lugar que ocupa.

            Em dois capítulos vamos nos ater um pouco sobre o papel do índio, que originariamente era ele o senhor da terra descoberta pelos portugueses. Em princípio, nações deles se espalhavam por terras virginais tendo como notícia primeira a carta do padre João Aspilcueta Navarro, membro da expedição de Francisco Espinosa, que deixou Porto Seguro no ano de 1555 para explorar o interior da Colônia no afã de satisfazer a cobiça da coroa portuguesa pelo ouro e para converter os gentios à fé cristã. Esta  notícia antecede em quase duzentos anos à dispersão dos tapuias do Ceará e Amazonas, conforme anotado por Diogo de Vasconcelos e Jean Batiste Debret. A carta foi reportado por João Capistrano de Abreu in Capítulos de História Colonial (1500-1800). Nela o padre Aspilcueta narra ter deparado com “uns Índios que chamam Tapuyas, que é uma geração de índios bestial e feroz; porque andam pelos bosques, como manada de veados, nus, com os cabelos compridos como mulheres; a sua fala é bárbara e eles mui carniceiros”. Um detalhe que nos interessa mais, na carta: “Daqui fomos dar com uma nação de gentios que se chama Cathiguçu. Dahi partimos e fomos até um rio mui caudal, por nome Pará, que segundo os índios nos informaram é o rio de S. Francisco e é mui largo. Da parte donde estávamos são os índios que deixei; da outra chamara Tamoyos, inimigos deles e por todas as outras partes Tapuyas”.

            Então, em território original de São Francisco, às margens do rio Mangai, existia uma aldeia dos índios tratados pelo Padre Aspilcueta como Cathiguçu e, ainda na região, aldeias de índios Tapuias. Não há outros registros (pelo menos aos que tive acesso) que noticiam a existência de outras aldeias em nosso território, contudo, não há dúvida que por nossas terras ele viveram. Brasiliano Braz em seu livro São Francisco nos caminhos da história, também não fez nenhum registro sobre a presença de índios no território são-franciscano. A única referência encontrada em seu livro, além da notícia sobre a expedição de Espinosa, foi a lenda indígena que fala sobre uma velha quixabeira e e o palácio encantado de uma sereia tendo como palco um palácio encantado incrustado no penedo do cais onde foi erguida a igreja Matriz de São José.