sábado, 8 de setembro de 2018

CANTINHO DA POESIA


SÉTIMO CANTO

JNM
A sabedoria bebe em muitas fontes.
Em busca do conhecimento da vida,
sentindo o hálito do seu criador,
o homem traça muitas linhas:
tem que perscrutar o universo
no rastro da luz do Grande Arquiteto.
No caminho é possível aprender
que tem as linhas interligadas,
aos fios invisíveis de universos interiores;
primeiro, deve compreendê-los,
para alcançar outros campos.
E ser ungido pela verdade.
Não alcançará o além
se for preso ao egoísmo
e não haverá sabedoria,
se não entender o AMOR.

PEQUENA CRÔNICA

PAÍS SEM HISTÓRIA

Vicente Licínio escreveu: Rio São Francisco, um rio sem história. Consultando o passado de São Francisco constamos o mesmo: São Francisco, uma cidade sem história. São registros esparsos, na maioria de observadores visitantes. E, agora, num salto maior podemos dizer que o Brasil ficou mais pobre em registro de sua história, quando se viu o Museu Nacional ser consumido, totalmente, e em poucas horas, pelas chamas. Uma comoção nacional e repercussão no mundo todo pois, afinal, tratava-se de um acervo de mais de 20 milhões de peças abrangendo um período que nasceu junto com o império no Brasil, há mais de duzentos anos. Salões que abrigaram Dom João VI e, depois os imperadores Dom Pedro I e Dom Pedro II, onde foi assinado o decreto de Independência do Brasil, salões cheios de encanto; galerias com todas as espécies de objeto de arte, oriundos do Egito, da África, do Brasil que nascia; o crânio da mulher mais antiga das América Latina – Luzia -, com 11.200 anos de idade, esqueletos preciosíssimos de dinossauros encontrados no Brasil, apetrechos indígenas, raríssimos. Em poucas horas tudo virou cinza, sem direito a Fênix, senão um meteorito, porque de pedra que, para chegar à terra, enfrentou o gelo do espaço, o  calor extremo na entrada da atmosfera terrestre para cair em solo baiano.
O Museu Nacional abrigava um vasto acervo com mais de 20 milhões de itens, englobando alguns dos mais relevantes registros da memória brasileira no campo das ciências naturais e antropológicas, bem como amplos e diversificados conjuntos de itens provenientes de diversas regiões do planeta, ou produzidos por povos e civilizações antigas. Formado ao longo de mais de dois séculos por meio de coletas, escavações, permutas, aquisições e doações, possuía uma das maiores bibliotecas especializadas em ciências naturais do Brasil, com mais de 470.000 volumes e 2.400 obras raras. A instituição remonta ao Museu Real, fundado por Dom João VI (1816-1826) em 1818, numa iniciativa para estimular o conhecimento científico no Brasil.  Com o casamento do príncipe Dom Pedro I com a princesa Maria Leopoldina de Áustria, vieram para o Brasil importantes naturalistas europeus, como Johann Baptiste von Spix e Carl Friedrich Philipp von Martius, que trabalharam para o museu. Muitos outros pesquisadores europeus, como Auguste de Saint-Hilaire e Georg Heinrich von Langsdorff, contribuíram, ao longo do século XIX, para a coleção de exemplares naturais e etnológicos da instituição, nas respectivas expedições pelo país. Já àquela época, o Museu atraía os olhares do mundo para o Brasil destacando sua exuberância riqueza cultural.
E, agora, atrai mais uma vez os olhares do mundo para atestar a incúria de nossas (des) autoridades que, mesmo sabendo, deixaram que toda e imensa riqueza se transformasse em cinzas. Só resta a lembrança e a imensa tristeza pelo descaso que reservam aos nossos bens culturais.

VOZES DOS CIDADÃOS

SEVERIANO RENDEIRO E OS VAPORES – Final

Viana ganhou muito respeito com seu trabalho, sua postura séria e luta incessante em busca de maiores conhecimentos. Para se ter uma ideia ele formou-se em contabilidade aos 56 anos, um feito e tanto, a considerar que, para isto, teve de se deslocar para Montes Claros. Daí ter sido sempre procurado para compor diretorias de entidades, alternando os cargos de tesoureiro e presidente.
Quando foi fundada a Colônia dos Pescadores de São Francisco, institui-se uma janela junta governativa, tendo como presidente Zezé Generoso e Viana como tesoureiro. Na primeira eleição da entidade, Viana elegeu-se presidente, cargo que exerceu por muitos anos – ainda hoje ele é ligado à Colônia. Antes, foi pescador de carteirinha (amador). Foi também tesoureiro da Legião de Maria, da Conferência São Vicente de Paulo, do Automóvel Clube, do Dínamo Esporte Clube e do partido político Movimento Democrático Brasileiro (MDB).
Viana nasceu em 1919, filho de Francisco Gomes Rendeiro e Maria Ana da Conceição. Casou-se pela primeira vez com Celina Soares Rendeiro (falecida), baiana como ele. Seu padrinho de casamento foi Arsênio Lopes, pai de Raulino Lopes Neves, de quem Viana foi colega de escola, em Sítio do Mato, onde também fez amizade com José Lopes e Massu. Casou-se  pela segunda vez com Terezinha Vieira de Brito Rendeiro, com quem vive até hoje, numa confortável casa que construiu na rua até hoje, numa confortável casa que construiu à rua Cassiano José Vieira, com muitos coqueiros, para lembrar a velha terra.
O interessante, na conversa com Viana, é a maneira saudosa como ele fala dos vapores. É interessante lembrar que, assim como o rio São Francisco, os vapores estão intimamente ligados a muitos capítulos de nossa história – a vida de São Francisco nasceu pelo rio, com a subida dos bandeirantes e, depois, com os chegantes, oriundos da Bahia, Pernambuco, Piaui, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe, todos contando, com indelével saudade, a viagem pelo vapor que os trouxe pela vez primeira à terra.
Assim,  Viana vai trazendo à vida os velhos vapores. Da Viação Baiana do São Francisco: Mata Machado, Cordeiro de Miranda, Djalma Dutra, Saldanha Marinho, Barão de Cotegipe, Fernando da Cunha, Juracy Magalhães e Antônio Muniz – a sede da companhia era em Juazeiro. Da Viação Mineira do São Francisco: Engenheiro Halfed, Raul Soares, Fernão Dias, Wanceslau Braz, Antônio Nascimento, Governador Valadares, Curvelo, e Paracatuzinho – a sede era em Pirapora. Da companhia e Indústria de Pirapora: São Francisco, Benjamim Guimarães e Otávio Carneiro. Havia ainda o Salvador, que era de propriedade do coronel Clemente de Araújo Castro, da Bahia. O Coronel Clemente era um homem muito rico, que gostava de andar sempre muito bem vestido, e cismava que o comandante do seu vapor tinha de ser um seu compadre, o que o levava a constantes atritos com a Capitania. Existiam vapores com três classes: a primeira, com camarotes, e a segunda, sem acomodações, onde os passageiros geralmente armavam redes. O Saldanha Marinho tinha duas pás, nas laterais; os apitos mais apaixonados e que chamavam mais atenção eram do Barão de Cotegipe (duetado), do Halfed e do Antônio Nascimento – quando apitavam, de longe o barranqueiro os reconhecia e se encaminhava para   o porto para recebê-lo.
Além de passageiros, os vapores carregavam muita carga nos porões e alguns ainda rebocavam lanchas. Às vezes, o vapor ficava atracado um dia inteiro no porto, descarregando e carregando carga; outras vezes parava apenas para entregar o correio. Viana lembra que, de quando em quando, o Sr. Oscar Caetano conseguia a liberação de um deles para fazer carregamento exclusivo para a Aliança Comercial Ribeirinha, de São Francisco para Pirapora, transportando mamona – era um dia inteiro de intensa movimentação de carroças levando sacaria para os cais.
Viana tem muitas histórias pitorescas sobre as viagens pelo São Francisco, lembrando, em algumas delas, o destino de passageiros clandestinos que, quando flagrados, às vezes pulavam no rio, dando um trabalho imenso à tripulação para salvá-los.
Severiano Viana Rendeiro, um grande exemplo de vida, mais um baiano que fez história em São Francisco.
Uma correção: o personagem da história da manilha, lembrado no capítulo anterior, não era Roberto e sim o pernambucano Zé Ferreiro.

João Naves de Melo

HORTA DO JOÃO

No lar dos Idosos São Francisco de Assis muitos dos assistidos são de idade avançada e com muitas limitações físicas que dependem de muita assistência material e espiritual. Recebem toda atenção material por parte dos servidores da casa, com muito desvelo e carinho. A parte espiritual é suprida por grupos de Cenáculos e Legionários de Maria através da oração do terço, todos os domingos; comunhão duas vezes por mês e santa missa uma vez por mês. Na parte social/recreativa os momentos são proporcionados pela Associação Comunitária de Homens e Mulheres da Terceira Idade (eventos especiais – São João, Natal, e outros) e Droga Rede (comemoração dos aniversariantes do mês).
Entre os assistidos tem um idoso que se locomove e comunica com maior facilidade, o que lhe permite assistir os demais idosos da casa ajudando as cuidadoras. Quis ele, no entanto, mais atividade. E assim, lembrando de seus tempos de trabalhador rural, manifestou ao Francisco Vieira (Chicão de Noca) e sua esposa Lucilene, que regularmente visitam o lar, inclusive levando a Eucaristia, que gostaria de plantar uma hortinha no lar. Chicão, prestimoso e muito amigo dos idosos da casa, cuidou de fazer um canteiro para ele, levou adubo e providenciou as sementes. Resultado: em pouco tempo a hortinha do João ganhou vida criando um espaço verde no corredor do Lar. Hoje, alegre, ele já colhe todos os dias algumas pimentas para seu almoço e fornece tempero para a cozinha do lar – coentro, cebolinha e salsa.
Mais do que o alimento é a oportunidade que foi dada ao João de se reencontrar com o passado, com a vida que ficou para trás; foi a de dar alegria a  uma pessoa que, de repente, tornou-se reclusa da sociedade. E foi, ainda, sem dúvida, uma satisfação muito grande para Chicão e Lucilene que com um gesto de bondade, cultivaram o amor.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

CANTINHO DA POESIA

URUCUIA

O Urucuia
belo em belo
serenas verdes águas
fingindo dormir

as coroas alvinhas
na paz das águas
galinholagem das garças
tintando a manhã
de copos de leite

mas coça que coça
as costas das águas
no liso das pedras

e rola encantado
por entre mis árvores
levando a saudade
pra longes lugares

Do livro Gaiola Aberta – Fernando Santana Rubinger (poemas 1977) –  Foto: Dirceu Lelis

REMANDO CONTRA A MARÉ

Anos atrás o pesquisador e ambientalista João Botelho Neto disponibilizou um acervo particular, resultado de pesquisas sobre a história e cultura de São Francisco, como embrião para criação da Ong Preservar Núcleo de Pesquisas e Preservação do Patrimônio Cultural de São Francisco, o que se deu no ano de 2001. Com o pequeno, mas muito precioso acervo, Botelho reuniu um grupo de professores, todos muito idealista – e, juntos, consolidaram a ONG. Nos primeiros anos vieram os resultados. Ainda que mal instalado, em um velho prédio da Prefeitura, onde lá pelos anos 30 funcionava uma caldeira gerando energia para a cidade, a ONG começou a receber estudantes e pesquisadores de outras cidades em busca de fatos ligados à história e cultura são-franciscana. Botelho mergulhou nos arquivos do Fórum e resgatou preciosos documentos que estavam condenados ao fogo e, assim, enriqueceu o acerco da ONG que, ao mesmo tempo, foi recebendo contribuições de pessoas que amam São Francisco. Um caso: a professora Juracy Sá doou sua coleção muito antiga da revista O Cruzeiro e a bicicleta que era seu meio de locomoção para alcançar as escolas onde lecionava, uma delas a distante Caio Martins, naquela época. Muitas outras doações chegaram. Coleções dos jornais SF – O Jornal de São Francisco, Nosso Tempo e O Barranqueiro foram dispostos nas estantes, assim como livros diversos, muitos importantes e doados.
O Preservar cresceu. Fazia pesquisa de campo abrangendo questões ambientais e de geografia e história, conduzindo levas de estudantes ao contato com a natureza. Passou-se aos eventos culturais – fantásticos. Sarau da Cultura, sempre realizado no mês de maio como preparação para o grande Festival de Agosto – Raízes São-franciscanas com belíssimas performances envolvendo todas as escolas da cidade e algumas do município em memoráveis desfiles alegóricos. Até este ano foram dezesseis eventos focando folclore, arquitetura histórica, música, bairros, famílias – um retrato de São Francisco.
A procura da Ong cresceu. No humilde e precário cômodo não cabia o acervo reunido e não havia espaço para reuniões e eventos. Com muito arrojo a diretoria da Ong promoveu a reforma e ampliação do cômodo e construiu um espaço para eventos. Recursos? Só Deus sabe. Vendendo livros doados por autores da terra, promovendo rifas e festas. Um trabalho imenso. Um sacrifício inaudito. E a dívida lá em cima. São Francisco ganhou um patrimônio. Estudantes e pesquisadores dele se valem. E só isso. O governo municipal e a sociedade, se não torcem o nariz, pouco se dão quanto ao papel importante da Ong, no contexto histórico e cultural de São Francisco.
Na verdade, é bom que se diga, é um campo de trabalho ingrato, amargo. Bom mesmo são os grandes eventos com bandas famosas, todos eles tão fugazes, que levam tanto dinheiro do município.
A Ong com sua última promoção – diga-se de passagem, uma belíssima festa – ficou no vermelho. Ora bolas, que importa agora! Só o futuro dirá.

MORRE O ARTESÃO MARTIM RODRIGUES

São Francisco perdeu um grande artesão na segunda-feira 27, aos 98 anos de idade: Martim Rodrigues. Ele era um ponto de referência no município, quando o assunto era o artesanato. Dos mais afamados fabricantes de viola, um nome despontando na Taboquinha d Tapera, comunidade próxima do povoado Angical.
A arte de Martim não ficava apenas na fabricação de viola. Ele, segundo João Raposo, afamado folião e artesão, foi um carpinteiro dos melhores, muito famoso na construção de casas currais, engenho,  bolinete para ralar mandioca e carro de boi – com uma peculiaridade: os carros que ele fabricava “cantavam direto, ele fazia um eixo de jeito especial, só ele”, falou João Raposo.
A comunidade Taboquinha e seus foliões ganharam grande repercussão nacional depois do excelente trabalho de pesquisa e edição feito por Joacy Ornelas – Foliões e Tocadores, Taboquinha da Tapera. Martim foi um dos visitados por Joacy.

LEMBRANÇAS DO CERRADO

No caminho de casa, indo e vindo do trabalho, meus olhos alcançam um quadro que simboliza todo encanto, toda beleza do cerrado – um belíssimo e florido pé de ipê na calçada do prédio de Tião Agege. No coração  de São Francisco, um retrato de um dos maiores símbolos do nosso cerrado. Aquela imagem de pétalas de tanto ouro,   um tapete colorido estendido no asfalto, como uma homenagem da natureza, levou-me a um sonho a lugar mais distante. E lá fui pousar na serra das Boicanas, município de Arinos, à procura do “buriti de perdido” de Afonso Arinos, que o buriti  também é uma  expressiva manifestação do cerrado dando vida, cor e música às veredas. E mergulho no que a pena romântica de Arinos escreveu:
“Se algum dia a civilização ganhar essa paragem longíncua, talvez uma grande cidade se levante na campina extensa que te serve de sóco, velho Buriti Perdido!
Então, talvez, uma alma amante das lendas primévas, uma alma que tenhas movido ao amor e à poesia, não permitindo a tua destruição, fará com que figures em larga praça, como um monumento às gerações extintas, uma página sempre aberta de um poema que não foi escrito, mas que referve na mente de cada um dos filhos desta terra!”
Este texto lírico encontra-se gravado no mármore constante na Praça Buriti, em Brasília-DF.
E como isso se deu? Durante a construção de Brasília, a palmeira do buriti foi escolhida como símbolo da cidade. Em 1959, inspirado no poema “Um buriti perdido”, de Afonso Arinos, o engenheiro Israel Pinheiro determinou que fosse plantada uma muda da árvore na frente da futura sede do Governo do Distrito Federal. A muda morreu, mas, em 1969, houve uma segunda tentativa e, desta vez, a palmeira conseguiu se desenvolver. No local, foi inaugurada a Praça do Buriti. E, em 1985, aquela árvore foi tombada.
Então, aqui onde tanto falamos em patrimônio histórico – material e imaterial – evocando, entre tantos bens até mesmo o nosso por-do-sol, por que então não dar um destaque ao Ipê perdido da calçada de Tião Agege. Uma vez por ano ele nos traz o amarelo brasileiro, as cores e alegrias do cerrado. Não tantos mais existem, que servidos foram  – matas inteiras – para as serrarias e até mesmo fornos de carvão. Esse ipê tão garboso é parte de um tempo de nossa história. Ipê, buriti, pequi – a família verde e colorida da vida de um cerrado “pai das águas”, que  homens, gradativamente foram destruindo.
Então, eis o portentoso ipê, flor do Brasil cerrado, bem na frente da casa da minha netinha, Princezinha Sorriso Maria. De muito cedo na vida, os olhinhos dela já alcançam aquele quadro de rara beleza e vai se acostumando com as cores do nosso Brasil.

sábado, 25 de agosto de 2018

PODER ECONÔMICO ACIMA DO POVO

A exploração minerária na Região Metropolitana de Belo Horizonte e os impactos da atividade no abastecimento de água dessa região foram discutidos numa audiência pública realizada quarta-feira 22, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG). A audiência contou com a presença de ambientalistas e moradores de áreas afetadas pelos empreendimentos. Eles questionam o controle e a fiscalização de medidas para frear a degradação do meio ambiente nos Parques Estaduais da Serra do Rola-Moça e da Baleia, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH). No ano passado o PortalVeredas abordou o assunto noticiando os efeitos danosas aos recursos hídrico, pela mineração na serra da Gandarela, na região metropolitana de Belo Horizonte, tratado no Fórum Internacional das Águas, realizado em Belo Horizonte. Agora, a questão volta à tona abrangendo outras importantes áreas hídricas.
Em junho deste ano, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) suspendeu a exploração na área  após o descumprimento de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2017, que previu ações de recuperação da área degradada pelas atividades – no caso é bom lembrar o desastre ambiental de Mariana.
No caso do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, a preocupação é com a possível reativação de duas minas vizinhas à área de preservação. Uma delas está embargada pelo Ministério Público desde 2009, por causa de problemas com o licenciamento ambiental.
É grande, e bem fundamentada,  a preocupação do representante do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que esteve presente na audiência. Ele alertou  que não existe nem mesmo um balanço hídrico dos mananciais de abastecimento nessas regiões, e isso pode comprometer  seriamente o fornecimento de água à população de Belo Horizonte. A situação foi confirmada pela Copasa:
“o uso da água subterrânea dos aquíferos do Quadrilátero Ferrífero, região onde estão concentrados esses empreendimentos, não é bem conhecido”.
Um morador  do Bairro Cidade Jardim Taquaril manifestou-se a respeito dizendo que acredita que os planos de recuperação ambiental das empresas não são colocados em prática. “A legislação é muito permissiva ao abrir brechas como o licenciamento corretivo, artimanha para colocar a mineração goela abaixo da sociedade”.
É, lamentavelmente, um fato comum em nosso país de leis frouxas que só favorecem o poder econômico. Que se dane a natureza, que se dane o povo. Se tudo um dia der errado, os exploradores da situação para se enriquecer podem ir para paraísos fora do Brasil. O cerrado e as centenas de veredas extintas do município de São Francisco atestam os efeitos dessa ganância.
E a situação vai muito além, comprometendo sistemas hídricos importantíssimos.
Assunto para próxima edição.

VOZES DOS CIDADÃOS

SEVERIANO RENDEIRO VIANA – I

Severiano Gomes Rendeiro, ou Viana, como é  mais conhecido, é um exemplo de tenacidade, de luta e de cidadão comprometido. Sua vida em São Francisco iniciou-se nos anos 50, quando a cidade avançava modorrenta, com lentas transformações. Sua capacidade de trabalho chegou ao conhecimento de Oscar Caetano Gomes, quando ele perdeu a gerente de sua casa comercial, a Aliança Ribeirinha.
Por informação, ele tomou conhecimento do trabalho de Viana frente a uma firma na Bahia. Escreveu-lhe uma carta fazendo o convite para vir trabalhar em São Francisco. Viana não se decidiu, pois aguardava um chamado para trabalhar para o governo da Bahia, na Navegação. O tempo passou. Como não vinha resposta do governo, e diante de um telegrama do Sr. Oscar reforçando o convite, ele resolveu aceitar a proposta, mandando antes um telegrama: “Sigo Fernão Dias”.
Aqui foi recebido, no vapor, por Dr. Oscar. Viana ficou espantado, achando o futuro patrão muito novo – engano só desfeito no Hotel Comercial, na época, de Tavares. Assim que o carregador, seu Dito, deixou sua mala na portaria, ele perguntou ao Tavares se era aquele moço o dono da Aliança, ao que ficou sabendo que Dr. Oscar era na verdade filho do Sr. Oscar e promotor de justiça da cidade. Mais tarde, recebeu a visita do próprio Oscar Caetano, que lhe foi dar as boas-vindas, com um sorriso largo, como lhe era peculiar. Acertaram que ele trabalharia por um ano, como experiência.
Iniciada sua vida em São Francisco, chegou a notícia de que sua nomeação para o cargo de agente de navegação, com lotação na capitania de Bom Jesus da Lapa, teria sido publicada em órgão da imprensa oficial da Bahia. Ele desistiu da nomeação e fez o agradecimento em carta “muito bonita”, redigida por Dr. Oscar.
Ao fim desse  tempo, assinaram o contrato de trabalho. Viana voltou à Bahia para buscar a esposa, e retornou embarcado no vapor Otaviano Carneiro, onde passou o carnaval. De volta a São Francisco, foi para o hotel, pois a casa onde deveria morar não ficara pronta. Antes que se alojasse, recebeu a visita de Massuzinho (Maximiano Magalhães, chefe de agência de navegação de São Francisco), baiano como ele e seu amigo, que o levou, com a esposa, para sua casa, onde ficou por uns dias.
Era prefeito da cidade o Sr. Francisco Mendonça. A cidade era pequena. Para cima da escola Coelho Neto, era a manga do Dr. Tarcísio Generoso; onde hoje é o hospital  ficava o curral de matança de gado. Não existia o Fórum; a cidade ia só até na casa de Dudu; e, para  o lado da Caio Martins, era tudo mato.
“Naquele tempo, apareceu um caminhão, dirigido pelo Abné. Havia outro carro – do seu Jove, mas ficava sempre na garagem. De vez em quando, o Joãozinho dava umas voltas nele, até que o quebrou, Seu Jove achou melhor vendê-lo. Depois foi chegando um e outro. O Josué colocou uma jardineira fazendo linha para Montes Claros. Era uma loucura a viagem. A bagagem ficava em cima da jardineira, coberta de lona, que no fim de cada viagem estava tal como uma farra, rasgada pelos paus ao longo da estrada. Era atoleiro que não acabava – no Croá, Jacu, Mirabela. Era um sofrimento. Alguns trechos foram sendo cuidados com o tempo, onde eram colocadas manilhas. Quando consertaram um trecho muito ruim, o fato foi comemorado na cidade. Aqui morava um cidadão pernambucano de nome Roberto, que gabava muito de sua terra. Tudo que se fazia aqui, ele dizia que era mais bem feito em Pernambuco. Então, quando se falou das manilhas, mais do que depressa ele gritou: ‘De manilha? Já viajei lá em Pernambuco’. A vida acontecia na beira do rio…”
João Naves de Melo

CANTINHO DA POESIA


O blog, a partir desta edição, publicará uma série de poesias do grande poeta Fernando Rubinger, muitos deles nascidos em São Francisco, inspirados nas águas do São Francisco e na sua gente barranqueira. Um primor, em cada verso, pintado de emoção.

URUCUIA

O Urucuia
belo em belo
serenas verdes águas
fingindo dormir
as coroas alvinhas
na paz das águas
galinholagem das garças
tintando a manhã
de copos de leite
mas coça que coça
as costas das águas
no liso das pedras
e rola encantado
por entre mis árvores
levando a saudade
pra longes lugares
Do livro Gaiola Aberta – Fernando Santana Rubinger (poemas 1977)

sábado, 18 de agosto de 2018

TENDINHA

Tendinha é uma comunidade interessante e que tem registro na história de São Francisco. Lá encontramos a casa de dona Cristina Maria da Silva, que foi festejada por sua família, com Missa em Ação de graças e encontro na Pousada Peixe-Vivo, no dia 28.7, para comemorar seus bem vividos 80 anos.
          Dona Cristina é mãe de nossa companheira de trabalho na área ambiental do município, Alda Maria, que a toda hora está a falar sobre a Tendinha, lugar que conheci anos atrás em trabalho com associação comunitária a respeito do meio ambiente. Chegar na comunidade foi trabalhoso, pois a estrada não oferecia condições para o tráfego de veículo, mais própria para cavaleiros. Contudo, deve-se anotar que pela beleza da paisagem, no percurso, vale a pena o passeio. É um recanto pouco visitado no município.
E por que Tendinha? Vem a curiosidade? Aí, voltamos aos primórdios do município de São Francisco, quando o transporte de cargas era feito no lombo dos burros  – os famigerados tropeiros que fizeram história. Nas suas jornadas, passando por Pau de Sebo (Lapa do Espírito Santo), pela senda do  interior rumo à Pedra dos Angicos, uma das paradas da dificultosa jornada era na frente da casa de Antônio Damião da Silva casado com Maria Gomes da Silva e pai de Paulo Damião da Silva, marido de dona Cristina. Ali descansavam os tropeiros montando suas tendas. Assim, sempre que acontecia uma jornada, o ponto de descanso dos tropeiros era no terreiro da propriedade de Antônio, onde armavam sua tenda, Uma, duas e tantas outras vezes e, enfim, consolidou-se o nome do local como Tendinha.
Passada a propriedade, mais tarde, para Paulo, ele construiu uma nova casa no local, onde mora, até hoje, com dona Cristina, onde nasceram seus filhos.
Uma morada típica do interior, com cerca de achas de aroeira na frente, um carro-de-boi de lado, uma casinha que serve de depósito para arreatas, cereais e paiol. Ainda no terreiro, na frente, como é tão comum, um vistoso pé de joá. No fundo o talhado que cai para o córrego do gato e do Angical.
Ali, em um ambiente de muita paz e com um certo conforto que já chegou ao sertão, dona Cristina vence os anos, sempre cercado pelo carinho e amor de sua família… e no trabalho diário, pois saúde e disposições ela ainda tem muitas.
Tendinha, é um belo e tão sugestivo nome.

PEQUENA CRÔNICA

ADEUS A ARETHA FRANKLIN


Encantou-se na quinta-feira 16 a  cantora americana, rainha do soul –  Aretha Franklin. Considerando que ela morreu com 76 anos, muitas pessoas da atualidade não a ouviram cantando e encantando. Ainda assim, já passada a sua fase de mocidade, quando sua voz irradiava dos EEUU ganhando o mundo, ela ainda era uma respeitada diva. No governo do presidente Barack Obama, nos tradicionais recitais na Casa Branca, ela emocionou muitos dos presentes, levando, inclusive, o presidente às lágrimas.
Com Aretha vai uma parte da minha juventude, tempo em que eu passava horas e horas numa radiola rodando um disco compacto 45, com a canção I Say Little Player (que guardo até hoje). Não entendia a letra e sequer pensei em tradução porque interessava-me, apenas, quedar-me extasiado a ouvir aquela doçura de voz.
Assim, no choque do encantamento da Aretha, sinto que quando perdemos uma pessoa que nos é muito cara, perdemos, também um pouco de nossa memória.
Ao receber a triste notícia imaginei Aretha fazendo coro com os anjos no céu, deve ser seu lugar, pois na terra ela encantou corações, semeou alegria e rezou muito, pois quem “quem canta reza duas vezes”.

O QUE DELA REGISTRAM ALGUMAS CELEBRIDADES

Paul  McCartney: “Sua grandeza viverá para sempre”.
Hillay Clinton: “Ela mercê não apenas o nosso respeito, mas nossa gratidão por ter aberto nossos olhos e corações”.
O ex-presidente Barack Obama disse que a cantora ajudou a definir a experiência americana. “Em sua voz, nos podíamos sentir nossa história, toda ela em todos os tons — nosso poder ou nossa dor, nossa escuridão ou clareza, nossos questionamento ou redenção e nosso respeito duramente conquistado. Que a rainha do soul descanse em paz”.

CHUVA DE BROTO

Chuva no mês de agosto, chuva de broto, há quantos anos não caia no sertão são-franciscano. Antigamente era comum o mês de agosto com as primeiras precipitações pluviométricas do ano, tão logo batizadas de “chuva de broto”.  Era uma dádiva e um  perigo. Dádiva para aplacar o calor abrasador, o calor de agosto com  “o solo ficava tremendo” sob o efeito do calor. Perigo, porque vinha a brota dos pastos então ressecados. Seco, e quase em falta, ele sustentava o gado (mas havia o risco eminente de faltar). Com a chuva o pasto logo brotava – brotava com verde espalhado como quase que por encanto. Com o capim verde e novo, o gado dispensava o capim fenado, já sem sabor. Comia e comia, mas não se fartava, havia carência de nutrientes. Vinha a diarreia e o gado definhava. Pior, se não continuasse a chuva, logo o pasto morria e o que restava era o capim seco dispensado pelo gado, não tinha mais paladar para ele.
Hoje em dia, a situação é outra. A chuva de broto é bem recebida para trazer o verde novo, o frescor, a vivacidade às árvores do campo cobrindo-se de flores amarelas do ipê, roxas da sucupira-preta e brancas da sambaíba. E o gado? A falta do pasto verde, nessa quadra já não é um problema. O pecuarista são-franciscano aprendeu a lição, seguiu o conselho de João Botelho Neto: se a seca não acaba, o jeito é conviver com ela”. E eles estão convivendo. Além dos pastos, voltaram-se para os silos, plantio de cana e sorgo. E assim, atravessam os momentos críticos da falta de chuva.
Saudemos, como saudaram os são-franciscanos, a chuva mansa na passagem da noite do dia 16 para o dia 17, daquela de molhar a terra, de ficar a água no solo.
Depois, é o campo verde, logo de se ver.

FotoGrafando XXXVIII

Regresso ao meu parto
No afã de ter meu ninho
Deixo o meu rio sereno
Para ter o abraço da amada

Texto: João Naves de Melo / Foto: Guilherme Barbosa

PERIGO À VISTA

Ainda no mês de agosto, muito cedo para o rio São Francisco se mostrar tão minguado de água. Muito cedo para surgirem os primeiros sinais da cianobactéria. Foi o que registrou o produtor rural José Rodrigues em sua navegação pelo rio em busca de sua propriedade. Alarmado ficou diante da aparência esverdeada e do forte fedor exalado do rio. Já se formam as colônias que descem o rio se multiplicando.
A cianobactéria não tem sido novidade nas águas do rio São Francisco ao longo dos últimos anos. Ano mais, ano menos, mas sempre presente. Apesar do aspecto  desagradável e do mau cheiro das águas, os são-franciscanos parecem não mais se incomodarem com o fato, apenas o anunciam. Contudo, a ameaça é muito séria, muito mais do que se pode pensar – e que não pensam porque não aprofundam no assunto. Existem pesquisas muito sérias de organismos internacionais que apontam relações da cianobactéria com doenças muito graves afetando a humanidade.
Estudos científicos revelam que uma cianobactéria é capaz de produzir vários tipos de toxinas que afetam animais vertebrados, inclusive o homem. Um tipo de toxina afeta o fígado, causando hemorragia. Foi percebido na China que alguns casos de câncer no fígado tinham a ver com a presença dessas toxinas na água potável.
As cianobactérias são os organismos mais antigos da Terra, bem adaptadas a qualquer ambiente com um mínimo de água – caso da incidência no São Francisco quando dá baixa vazão. O acúmulo de fósforo, nitrogênio e matéria orgânica em ambientes aquáticos favorece o seu desenvolvimento. Esse crescimento acelerado favorece a liberação de substâncias, cujos efeitos em outros organismos não são plenamente conhecidos. Dessa forma, o trabalho contempla não só toxinas, mas outras substâncias produzidas pelos microrganismos que podem ter impacto na água, nos frutos do mar (rio) e nos peixes. Estudos comprovaram que uma espécie estudada produz toxina com efeito inibidor da colinesterase, inativando a atividade da enzima acetilcolinesterase, uma das mais importantes e necessárias ao pleno funcionamento do sistema nervoso de humanos, de outros vertebrados e de insetos. Trata-se do único composto organofosforado natural conhecido. Testes de laboratório mostraram que o efeito da anatoxina-a(s) é igual ao dos inseticidas sintéticos. Sua ingestão pelo animal aquático ou pelo ser humano pode provocar salivação intensa, parada respiratória e parada cardíaca.
É um caso de muita gravidade que merece mais comentários. Por enquanto fica uma cobrança: o que fazem as autoridades ambientais que monitoram as águas no país? Da parte de São Francisco já se sabe que a presidente do CBHSF9, Alda Maria, vai levar o caso ao Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas a se realizar na semana que vem em Santa Catarina. É um passo, partindo de baixo, de onde se sofre todas as consequências.

CARAIBINHA

A caraibinha branca perfumou a orla por tempo maior de quinze dias. A caminhada entre as floridas árvores, inebriado por seu doce perfume, mais toca as cordas da emoção o que se tem um pouco abaixo: o cenário gracioso do São Francisco deslizando e beijando as barrancas. Aguçados os ouvidos  um toque especial: a canção suave das pequenas ondas desvencilhando-se das ramagens despencadas. E não eram apenas as caraibinhas. Salpicando as margens do rio, como companheiro inseparável, o pajeú deu sinal da Primavera com suas flores verdes. Pajeú e caraibinha são prenúncios da Primavera quando soltam suas flores. Agora, chegada a Primavera não têm, os dois, as viçosas e coloridas flores, nem o perfume. Tanto a caraibinha quanto o pajeú são bordados de flores vermelhas que vão se desprendendo e formando tapetes coloridos no chão. O tempo passa…
Em compensação, em meu quintal, tenho um espetáculo combinado: flora e fauna.  Como era de se esperar, na entrada da Primavera – em alguns casos um pouco antes – chegaram as mimosas flores do umbuzeiro, em cachos. Muitos anos atrás escrevi em uma pequena peça levada pelos meninos da Escola Caio Martins ao centenário de Januária, que o umbuzeiro se vestia de branco como anjo. E não fica só em tão maravilhoso presente da natureza. Tem mais. O meu umbuzeiro, graças ao conluio que tenho com a passarada, fartando-a com doses diárias de farelo e água. Depois, com um variado coral, que vai das 7h às 11h todos os dias, o agradecimento.  O primeiro a cantar é o sofrê. Seu doce e suave canto, ainda antes do raiar do sol, tira meus olhos do REM. Desperto-me como um rei agraciado pelo majestoso pássaro. Mais tarde, fartos os papinhos, vem o festival, verdadeira sinfonia: o bando de Dó Ré Mi repicando seu canto; os canarinhos com os agudos silvos; os acordes mimosos de solitário coleirinha; os atrapalhados pardais que não cantam, mas fazem um barulho desorganizado e repetido; e no fundo, um canto cheio de lamento, que parece invocar saudade – de quê? – das rolinhas, as “galinhazinhas de Nossa Senhora”, como carinhosamente são chamadas pelos antigos, exibindo o seu porte majestoso – e como são belos seus ninhos, que estão em toda parte nos jardins de dona Vilma: uma combinação de duas majestades.
Passando, todos os dias, pela orla do nosso São Francisco, com os olhos estendidos às suas águas que brilham prata; que ainda tão judiado e espremido pelos bancos de areia é tão belo, viajo em sua história. Busco nas narrações a descoberta do Opará e sua lenta ocupação, com índios, bandoleiros, remanescentes de bandeirantes, fazendeiros, gente brava, indômita – uns – e gananciosos – outros – e comungo com Geraldo Rocha – posição que defendo no dia a dia: Rio São Francisco, fator precípuo da existência do Brasil. Ficou orgulhoso diante do meu rio. Depois, no meu quintal, mergulhado no jardim de dona Vilma – dedo verde – com tantos berços de rolinhas; com a portentosa mangueira de sombra abençoada, chego ao meu pé de umbu. Pequi  no cerrado, umbu na mata seca: o sertão consumado.  Respiro a doçura do ar, inebriado pelo canto dos meus amigos passarinhos e digo, no fundo do meu coração: como sou feliz. E que se danem os políticos – de todas as vertentes – que tudo fazem para destruir nosso país. Que se danem. Sem o tanto de dinheiro que os cobrem de desonra, fico com o pouco que me dão o rio e o meu quintal. E estando bem, posso estender minha felicidade àqueles que de mim precisam no dia a dia.
João Naves de Melo

DIA MUNDIAL DO FOLCLORE

22 de agosto, Dia Nacional do Folclore, data oficializada pelo Congresso Nacional Brasileiro em 1965. Em diversas regiões do país o folclore é comemorado durante o mês de agosto, quando são revividos diversos fatos ligados à cultura popular. Em Montes Claros são grandes as festividades que marcam o mês de agosto – religiosas e culturais, uma tradição que vem de longa data e tem repercussão nacional.
Em São Francisco, nos últimos anos, a comemoração tem passado quase que em branco. Tempos idos a Ong Preservar realizava um grande festival complementando uma atividade comemorada no mês de maio – o Sarau da Cultura. Em agosto vinha a grande festa com desfile pelas avenidas da cidade e uma grande concentração na Praça Centenário, quando eram apresentadas diversas manifestações de nossa cultura: boi-de-reis, reis do cacete, danças de roda, ternos de folia e muita cantarolia. A Ong Cultuarte também teve uma brilhante fase na promoção de nossa cultura, em especial no mês de agosto. Mas tudo é coisa do passado, infelizmente.
Para não passar totalmente em branco,  a Ong Preservar está promovendo o XVI Encontro das Raízes São-Franciscanas, no dia 25 de agosto, no Centro Cultural Católico com apresentações culturais.

REVERÊNCIA

Sabemos que uma das maiores riquezas de São Francisco é o seu folclore, que se manifesta nas danças, canto, artesanato, mitos e lendas; no trabalho de curandeiros e parteiras.
Não podemos deixar de lembrar personalidades que ficaram consagradas em sua arte e que levaram o nome de São Francisco a plagas tão distantes: Mestre Minervino e Nego de Venância, artesãos consagrados na fabricação de viola e rabeca; Joaquim Goiabeira, artista na fabricação de caixas para foliões; Das Neves e as poteiras e dançadeiras de roda de Buriti do Meio;  Maria Inês e suas dançadeiras de roda do povoado do Mocambo. Adão Barbeiro, o mestre dos foliões, excelência na dança do lundu e do quatro.
Soma-se a eles gente viva como Messias e seu boi-de-reis; Zé Pincel construtor de barcos; Luz Neto, o artesão das miniaturas; Zinho e suas carrancas;  Irmãos Correia à frente de um belo terno de Folia; Walfrido e sua mulher, com o terno de folia da Aparecida; Gino no Retiro que a cada no, com seu filho, vereador Adão, leva uma carrada de foliões para participar do tradicional festival de violeiros de Brasília-DF.

sábado, 11 de agosto de 2018

INCÓGNITA

A dois meses das eleições e a disputa pela presidência da República ainda é uma incógnita. Pior, não tem causado nenhum interesse, pouco se ouve falar sobre o assunto, dando-se a impressão que a disputa ainda se dará no ano que vem.
Com a proximidade do pleito ainda se vê um quadro embaralhado tendo o nome do ex-presidente Lula influenciando eleitores e, na fila, Bolsonaro – em crescimento – Marina (que só aparece em tempo de eleição), Ciro Gomes, Alkmim e outros com nomes de pouca projeção, a exceção de Álvaro Dias no Sul.
Os analistas políticos e a imprensa, em geral, veem uma disputa entre a Direita e a Esquerda – símbolo do radicalismo, o que pouco interessa ao País, que precisa de paz e tranquilidade para buscar o desenvolvimento. Os discursos de Bolsonaro e Ciro são assustadores pelas posições que tomam e sinalizam como forma de governo, caso eleitos – é tudo que o Brasil não precisa.
No caso do presidenciável Ciro Gomes, que tem a simpatia da esquerda, com Lula fora do páreo, o que pode se esperar é a continuidade de um sistema que levou o Brasil ao caos: avançou numa ponta e se transformou autofágico do outro lado mergulhado na corrupção.
No caso de Bolsonaro, com um discurso super-radical, é de se considerar que seu crescimento se deve à baderna em que vive o País depois da derrocada do PT de Lula e Dilma. Quanto mais cresce a insegurança, alastra a bandidagem, mais cresce o Bolsonaro.
Em Minas o imbróglio está criado e a situação também mostra como vai mal a política nacional. Márcio Lacerda é lançado candidato ao governo do Estado em convenção do PSB, em Minas. Contudo, a direção nacional do partido decidiu apoiar candidato (?) do PT. A decisão vai para o TSE. Então Minas não pode escolher seu candidato?
E tem novidade. Dilma Rousseff tenta uma cadeira no Senado como uma mineiríssima, agora, e está firme no páreo. Coisa de política brasileira.
Ainda sobre o quadro, aconteceu no final da fala do jornalista Carlos Viana a um grupo de são-franciscanos: uma voz se, justificando-se: “não sei da opinião dos outros, mas para mim Lula foi o maior presidente que o Brasil já teve. Qual é a opinião do senhor?”. Sereno o jornalista respondeu: “Concordo e agradeço a sua pergunta. De fato, o ex-presidente Lula seria o maior estadista brasileiro de todos os tempos se não se deixasse envolver com a corrupção”. Aí está a decepção. A estrela de grandeza maior se transformou em uma estrela anã,  em buraco negro que, por sua força centrípeta atrai inocentes asteroides, ainda hoje.

PEQUENA CRÔNICA

EU TENHO UM SONHO

Evocar o ideal do pacifista Martin Luther King é bem apropriado nos atuais tempos vividos em nossa querida nação – “I Have a Dream”.  Mas fica nisso para não chegar ao seu trágico fim, embora, aqui, morramos no dia a dia diante da esbórnia que tomou conta da Pátria em quase todos os setores, até parece que vivemos um pesadelo, personagens de um filme de terror.
Em sua fala o jornalista Carlos, quando de sua passagem por São Francisco, abordou com muita propriedade diversos temas, todos importantes. Tomo um deles para uma reflexão: a segurança.
O crime chegou a um estágio de espantosa banalização no Brasil. É terrivelmente amedrontador conhecer que bandidos estão matando pessoas inocentes por puro prazer, bestialidade, insanidade, por causa de um celular. Tantas famílias desfeitas, quanta dor tomando corações de mães, filhos, esposas ou esposos, quando perdem um ente querido por nada, nadinha mesmo. Alastrou-se a matança no país.
Como reage o governo – os três poderes? Não reagem, vivem distantes da realidade ou contemporizam na falsa ilusão dos direitos humanos que só contemplam os que matam ou comentem crimes contra terceiros, uns, e outros contra  a Pátria. Leis frouxas que mais favorecem os malfeitores que o cidadão honesto. Um absurdo ver um criminoso condenado a 85 anos de prisão ser solto tendo cumprido apenas 6 anos? Para que uma condenação maior se ela jamais será cumprida? A sanção não assusta, não intimida o malfeitores. E não é só pelo crime comum. Tem aqueles que lesam a Pátria, solapam os dinheiro público e estão todos fagueiros em casa, em regime domiciliar, em que não pode sair à noite, viajar, e coisas e tais – mas o fazem. Nem um legislador cuida de uma reforma mais ampla e severa das leis que possam conter tão devastadora ação dos bandidos que tomam conta do país.
Saindo do Legislativo, chegam-se ao judiciário e, aí, despenca-se a esperança, quando se depara com ministros lenientes com criminosos de colarinho branco. Estamos perdidos, sem rumo, sem a quem apelar, mais ainda quando assistimos a estrangeiros “metendo a colher de pau” em assuntos nossos em relação a políticos presos por corrupção e, por incrível que pareça, até religiosos estão a soldo de políticos  bandidos.
Puxa vida! Onde vamos parar? Adeus país do futebol mágico, do vôlei encantador, do automobilismo campeão e tantas outras modalidades esportivas.
Assim, só me resta ter um sonho:  de um dia poder viver no nosso sonhado país, no cantado Brasil, país do futuro – que não chega e cada vez mais se afasta de nós.