terça-feira, 4 de setembro de 2018

REMANDO CONTRA A MARÉ

Anos atrás o pesquisador e ambientalista João Botelho Neto disponibilizou um acervo particular, resultado de pesquisas sobre a história e cultura de São Francisco, como embrião para criação da Ong Preservar Núcleo de Pesquisas e Preservação do Patrimônio Cultural de São Francisco, o que se deu no ano de 2001. Com o pequeno, mas muito precioso acervo, Botelho reuniu um grupo de professores, todos muito idealista – e, juntos, consolidaram a ONG. Nos primeiros anos vieram os resultados. Ainda que mal instalado, em um velho prédio da Prefeitura, onde lá pelos anos 30 funcionava uma caldeira gerando energia para a cidade, a ONG começou a receber estudantes e pesquisadores de outras cidades em busca de fatos ligados à história e cultura são-franciscana. Botelho mergulhou nos arquivos do Fórum e resgatou preciosos documentos que estavam condenados ao fogo e, assim, enriqueceu o acerco da ONG que, ao mesmo tempo, foi recebendo contribuições de pessoas que amam São Francisco. Um caso: a professora Juracy Sá doou sua coleção muito antiga da revista O Cruzeiro e a bicicleta que era seu meio de locomoção para alcançar as escolas onde lecionava, uma delas a distante Caio Martins, naquela época. Muitas outras doações chegaram. Coleções dos jornais SF – O Jornal de São Francisco, Nosso Tempo e O Barranqueiro foram dispostos nas estantes, assim como livros diversos, muitos importantes e doados.
O Preservar cresceu. Fazia pesquisa de campo abrangendo questões ambientais e de geografia e história, conduzindo levas de estudantes ao contato com a natureza. Passou-se aos eventos culturais – fantásticos. Sarau da Cultura, sempre realizado no mês de maio como preparação para o grande Festival de Agosto – Raízes São-franciscanas com belíssimas performances envolvendo todas as escolas da cidade e algumas do município em memoráveis desfiles alegóricos. Até este ano foram dezesseis eventos focando folclore, arquitetura histórica, música, bairros, famílias – um retrato de São Francisco.
A procura da Ong cresceu. No humilde e precário cômodo não cabia o acervo reunido e não havia espaço para reuniões e eventos. Com muito arrojo a diretoria da Ong promoveu a reforma e ampliação do cômodo e construiu um espaço para eventos. Recursos? Só Deus sabe. Vendendo livros doados por autores da terra, promovendo rifas e festas. Um trabalho imenso. Um sacrifício inaudito. E a dívida lá em cima. São Francisco ganhou um patrimônio. Estudantes e pesquisadores dele se valem. E só isso. O governo municipal e a sociedade, se não torcem o nariz, pouco se dão quanto ao papel importante da Ong, no contexto histórico e cultural de São Francisco.
Na verdade, é bom que se diga, é um campo de trabalho ingrato, amargo. Bom mesmo são os grandes eventos com bandas famosas, todos eles tão fugazes, que levam tanto dinheiro do município.
A Ong com sua última promoção – diga-se de passagem, uma belíssima festa – ficou no vermelho. Ora bolas, que importa agora! Só o futuro dirá.

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