terça-feira, 4 de setembro de 2018

LEMBRANÇAS DO CERRADO

No caminho de casa, indo e vindo do trabalho, meus olhos alcançam um quadro que simboliza todo encanto, toda beleza do cerrado – um belíssimo e florido pé de ipê na calçada do prédio de Tião Agege. No coração  de São Francisco, um retrato de um dos maiores símbolos do nosso cerrado. Aquela imagem de pétalas de tanto ouro,   um tapete colorido estendido no asfalto, como uma homenagem da natureza, levou-me a um sonho a lugar mais distante. E lá fui pousar na serra das Boicanas, município de Arinos, à procura do “buriti de perdido” de Afonso Arinos, que o buriti  também é uma  expressiva manifestação do cerrado dando vida, cor e música às veredas. E mergulho no que a pena romântica de Arinos escreveu:
“Se algum dia a civilização ganhar essa paragem longíncua, talvez uma grande cidade se levante na campina extensa que te serve de sóco, velho Buriti Perdido!
Então, talvez, uma alma amante das lendas primévas, uma alma que tenhas movido ao amor e à poesia, não permitindo a tua destruição, fará com que figures em larga praça, como um monumento às gerações extintas, uma página sempre aberta de um poema que não foi escrito, mas que referve na mente de cada um dos filhos desta terra!”
Este texto lírico encontra-se gravado no mármore constante na Praça Buriti, em Brasília-DF.
E como isso se deu? Durante a construção de Brasília, a palmeira do buriti foi escolhida como símbolo da cidade. Em 1959, inspirado no poema “Um buriti perdido”, de Afonso Arinos, o engenheiro Israel Pinheiro determinou que fosse plantada uma muda da árvore na frente da futura sede do Governo do Distrito Federal. A muda morreu, mas, em 1969, houve uma segunda tentativa e, desta vez, a palmeira conseguiu se desenvolver. No local, foi inaugurada a Praça do Buriti. E, em 1985, aquela árvore foi tombada.
Então, aqui onde tanto falamos em patrimônio histórico – material e imaterial – evocando, entre tantos bens até mesmo o nosso por-do-sol, por que então não dar um destaque ao Ipê perdido da calçada de Tião Agege. Uma vez por ano ele nos traz o amarelo brasileiro, as cores e alegrias do cerrado. Não tantos mais existem, que servidos foram  – matas inteiras – para as serrarias e até mesmo fornos de carvão. Esse ipê tão garboso é parte de um tempo de nossa história. Ipê, buriti, pequi – a família verde e colorida da vida de um cerrado “pai das águas”, que  homens, gradativamente foram destruindo.
Então, eis o portentoso ipê, flor do Brasil cerrado, bem na frente da casa da minha netinha, Princezinha Sorriso Maria. De muito cedo na vida, os olhinhos dela já alcançam aquele quadro de rara beleza e vai se acostumando com as cores do nosso Brasil.

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