Ainda no mês de agosto, muito cedo para o rio São Francisco se mostrar tão minguado de água. Muito cedo para surgirem os primeiros sinais da cianobactéria. Foi o que registrou o produtor rural José Rodrigues em sua navegação pelo rio em busca de sua propriedade. Alarmado ficou diante da aparência esverdeada e do forte fedor exalado do rio. Já se formam as colônias que descem o rio se multiplicando.
A cianobactéria não tem sido novidade nas águas do rio São Francisco ao longo dos últimos anos. Ano mais, ano menos, mas sempre presente. Apesar do aspecto desagradável e do mau cheiro das águas, os são-franciscanos parecem não mais se incomodarem com o fato, apenas o anunciam. Contudo, a ameaça é muito séria, muito mais do que se pode pensar – e que não pensam porque não aprofundam no assunto. Existem pesquisas muito sérias de organismos internacionais que apontam relações da cianobactéria com doenças muito graves afetando a humanidade.
Estudos científicos revelam que uma cianobactéria é capaz de produzir vários tipos de toxinas que afetam animais vertebrados, inclusive o homem. Um tipo de toxina afeta o fígado, causando hemorragia. Foi percebido na China que alguns casos de câncer no fígado tinham a ver com a presença dessas toxinas na água potável.
As cianobactérias são os organismos mais antigos da Terra, bem adaptadas a qualquer ambiente com um mínimo de água – caso da incidência no São Francisco quando dá baixa vazão. O acúmulo de fósforo, nitrogênio e matéria orgânica em ambientes aquáticos favorece o seu desenvolvimento. Esse crescimento acelerado favorece a liberação de substâncias, cujos efeitos em outros organismos não são plenamente conhecidos. Dessa forma, o trabalho contempla não só toxinas, mas outras substâncias produzidas pelos microrganismos que podem ter impacto na água, nos frutos do mar (rio) e nos peixes. Estudos comprovaram que uma espécie estudada produz toxina com efeito inibidor da colinesterase, inativando a atividade da enzima acetilcolinesterase, uma das mais importantes e necessárias ao pleno funcionamento do sistema nervoso de humanos, de outros vertebrados e de insetos. Trata-se do único composto organofosforado natural conhecido. Testes de laboratório mostraram que o efeito da anatoxina-a(s) é igual ao dos inseticidas sintéticos. Sua ingestão pelo animal aquático ou pelo ser humano pode provocar salivação intensa, parada respiratória e parada cardíaca.
É um caso de muita gravidade que merece mais comentários. Por enquanto fica uma cobrança: o que fazem as autoridades ambientais que monitoram as águas no país? Da parte de São Francisco já se sabe que a presidente do CBHSF9, Alda Maria, vai levar o caso ao Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas a se realizar na semana que vem em Santa Catarina. É um passo, partindo de baixo, de onde se sofre todas as consequências.
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