sábado, 25 de agosto de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS

SEVERIANO RENDEIRO VIANA – I

Severiano Gomes Rendeiro, ou Viana, como é  mais conhecido, é um exemplo de tenacidade, de luta e de cidadão comprometido. Sua vida em São Francisco iniciou-se nos anos 50, quando a cidade avançava modorrenta, com lentas transformações. Sua capacidade de trabalho chegou ao conhecimento de Oscar Caetano Gomes, quando ele perdeu a gerente de sua casa comercial, a Aliança Ribeirinha.
Por informação, ele tomou conhecimento do trabalho de Viana frente a uma firma na Bahia. Escreveu-lhe uma carta fazendo o convite para vir trabalhar em São Francisco. Viana não se decidiu, pois aguardava um chamado para trabalhar para o governo da Bahia, na Navegação. O tempo passou. Como não vinha resposta do governo, e diante de um telegrama do Sr. Oscar reforçando o convite, ele resolveu aceitar a proposta, mandando antes um telegrama: “Sigo Fernão Dias”.
Aqui foi recebido, no vapor, por Dr. Oscar. Viana ficou espantado, achando o futuro patrão muito novo – engano só desfeito no Hotel Comercial, na época, de Tavares. Assim que o carregador, seu Dito, deixou sua mala na portaria, ele perguntou ao Tavares se era aquele moço o dono da Aliança, ao que ficou sabendo que Dr. Oscar era na verdade filho do Sr. Oscar e promotor de justiça da cidade. Mais tarde, recebeu a visita do próprio Oscar Caetano, que lhe foi dar as boas-vindas, com um sorriso largo, como lhe era peculiar. Acertaram que ele trabalharia por um ano, como experiência.
Iniciada sua vida em São Francisco, chegou a notícia de que sua nomeação para o cargo de agente de navegação, com lotação na capitania de Bom Jesus da Lapa, teria sido publicada em órgão da imprensa oficial da Bahia. Ele desistiu da nomeação e fez o agradecimento em carta “muito bonita”, redigida por Dr. Oscar.
Ao fim desse  tempo, assinaram o contrato de trabalho. Viana voltou à Bahia para buscar a esposa, e retornou embarcado no vapor Otaviano Carneiro, onde passou o carnaval. De volta a São Francisco, foi para o hotel, pois a casa onde deveria morar não ficara pronta. Antes que se alojasse, recebeu a visita de Massuzinho (Maximiano Magalhães, chefe de agência de navegação de São Francisco), baiano como ele e seu amigo, que o levou, com a esposa, para sua casa, onde ficou por uns dias.
Era prefeito da cidade o Sr. Francisco Mendonça. A cidade era pequena. Para cima da escola Coelho Neto, era a manga do Dr. Tarcísio Generoso; onde hoje é o hospital  ficava o curral de matança de gado. Não existia o Fórum; a cidade ia só até na casa de Dudu; e, para  o lado da Caio Martins, era tudo mato.
“Naquele tempo, apareceu um caminhão, dirigido pelo Abné. Havia outro carro – do seu Jove, mas ficava sempre na garagem. De vez em quando, o Joãozinho dava umas voltas nele, até que o quebrou, Seu Jove achou melhor vendê-lo. Depois foi chegando um e outro. O Josué colocou uma jardineira fazendo linha para Montes Claros. Era uma loucura a viagem. A bagagem ficava em cima da jardineira, coberta de lona, que no fim de cada viagem estava tal como uma farra, rasgada pelos paus ao longo da estrada. Era atoleiro que não acabava – no Croá, Jacu, Mirabela. Era um sofrimento. Alguns trechos foram sendo cuidados com o tempo, onde eram colocadas manilhas. Quando consertaram um trecho muito ruim, o fato foi comemorado na cidade. Aqui morava um cidadão pernambucano de nome Roberto, que gabava muito de sua terra. Tudo que se fazia aqui, ele dizia que era mais bem feito em Pernambuco. Então, quando se falou das manilhas, mais do que depressa ele gritou: ‘De manilha? Já viajei lá em Pernambuco’. A vida acontecia na beira do rio…”
João Naves de Melo

Nenhum comentário:

Postar um comentário