sábado, 23 de dezembro de 2017

VOZES DOS CIDADÃOS

JANDIRA DE SOUZA PINTO – III
João Naves de Melo*
A praça, lembra dona Jandira, era quase desabitada. Tinha poucas casas e não tinha tanto comércio como hoje. Lembra com destaque do coreto, das casas do cel Oscar Caetano, Ribas, Coutinho, Odilon Barbosa, Francisco Amorim; o bar Trianon, pensão de dona Amanda. Lembra, ainda que havia, lá no fundo, o prédio do mercado onde via chegar todo dia carros-de-bois com cargas de rapadura e outras mercadorias..
Como era o divertimento, as festas,  naquela época? Rindo, dona Jandira falou: “quieta! Festa boa só naquele tempo. Os bailes na Associação ou nas casas, o Carnaval tão animado, as festas de São João, tudo tão bonito, com a participação do povo e das moças e mulheres como Maria Eunice, Branca, Irene, Toniquinha, Preta, Daide, Cylita, Alda, Conceição e tantas outras…”
Dona Jandira conta que, anos, muitos anos passados, ela voltou a lembrar dos “Revoltosos”. Tudo aconteceu na fazenda Salobo, quando trabalhadores da fazenda preparavam um terreno para plantar roça. Abrindo covas para plantar cana o trabalhador de nome Zé Preto bateu a  ferramenta num metal. Estranhou o tinir e, com cuidado foi tirando a terra com as mãos até que encontrou um objeto amarelo – era um medalhão de ouro, com inscrições e desenhos que lembram ícones da Igreja. Cadinho negociou com Zé Preto e tem guardado aquele objeto, que até hoje desperta curiosidades. Conta-se que os “revoltosos” agradavam as mulheres, dando-lhes joias. Outros que deles muitos era devotos e gostavam de ter a proteção dos santos e, no caso a medalha poderia ser de um deles, o que procede pois foi encontrada num local onde eles estiveram acampados na fazenda Salobo, segundo contam os mais antigos e chegou ver dona Jandira.
Ainda sobre os “revoltosos” ela lembra que eles não gostavam que as pessoas fugissem deles. Chegavam até atirar neles, como aconteceu com Marinho Coelho – ele não morreu, mas ficou ferido. Os pobres não corriam, pois não tinham nada para perder e, por isso, ganhavam muitas coisas deles, coisas que eles tiravam dos ricos, até jóias. A velha Tiburça ganhou muitos presentes deles. Teve um caso gozado, conta dona Jandira: “eles pegaram um cavalo velho e amarraram ele na cama Antonino de Souza, filho de Domingas, irmão de Ricardo, e foram embora. Quando o dono voltou para casa só encontrou a carniça na sua cama”.
Ao contrário do que diziam a respeito do recrutamento, na região aconteceu um fato diferente: o revoltoso de nome Ramiro gostou tanto do Salobo que ficou lá, não acompanhando a tropa, casando-se com Carolina do Junco.
Dona Jandira muitos anos viveu com José Pinto e com ele constituiu uma grande família, homens e mulheres que destacam na vida são-franciscana como educadores, administradores, políticos (o filho Josedir foi prefeito do município), fazendeiros e servidores públicos. As filhas Lia, Walkyria e Berlamínia fundaram e mantém um Colégio na cidade, o Pentágono, da rede Pitágoras, conceituado estabelecimento de ensino.
A descendência de dona Jandira e José Pinto: Jandir, Maria do Socorro, Walkyria, Josedir, Solange, Antônio Ricardo, Belarmínia, Consuelo, Fátima Regina e Jandira das Graças.
(Do livro Crônica da História de São francisco, no prelo)*

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