sábado, 2 de dezembro de 2017

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XVIII - Parte

OS DOZE BANDEIRANTES
Da crônica de Florence Bernard à realidade.
Chegamos ao local onde seria implantado o Núcleo Colonial do Urucuianos primeiros dias do mês de junho. Nada mais havia do que dois ranchos de palha e uma casinha – do vaqueiro Zé Branco – nas imediações, do vaqueiro Zé Branco. No mais só mata e, ao fundo a bela serra da Conceição. No embalo do sonho e das belas descrições do Coronel Almeida, aquilo não nos assustou. Pelo contrário deu-nos a sensação de desafio. Ocupamos o grande rancho de palha, a nossa oca, onde se abrigaram, também, os primeiros alunos. Além dos nossos dormitórios, do quarto do diretor Audálio, uma sala foi reservada para a farmácia do Chico, outra para o escritório e uma para a primeira sala de aula. No rancho maior, que sei lá porque, era chamado de hangar, foi destinado ao almoxarifado e à garagem do trator e caminhão.
Entramos em atividades. Aquele anúncio feito em nossa formatura e copilado pela Florence Bernard, ficou na fantasia, no aceno. Logo a realidade mostrou-se outra. e foi assim: o Pedro foi tomar conta do almoxarifado, o enérgico sô Pedim, como o chamava o velho Bezerra pedindo uns “mercadinho”; o Jonas foi tomar conta do escritório e mais tarde lecionar para os primeiros alunos; eu, de certa forma, em princípio, encarapitei no trator Ford e fui cuidar das terras; o Ivo, seguindo sua vocação, foi cuidar do gado, com Zé Branco; Francisco se fez o doutor Chico cuidando da farmácia e dos doentes do Núcleo e região; Emílio não teve padaria – com a esposa Terezinha, foi cuidar da fazenda Cabo Verde, 5 léguas distante do Núcleo; Geraldo Saldanha, que seria o animador do grupo e o motorista, foi, também cuidar de uma fazenda, a do Brejo Verde, igualmente a 5 léguas do Núcleo, nos gerais – uma fazenda repleta de lobeiras  e uma terra terrivelmente árida; Geraldo Moreira que seria companheiro do Francisco na farmácia, também foi para o Brejo Verde; Flávio também foi lecionar; Raimundo e Holmes, em princípio não tiveram funções definidas. Em pouco tempo nos deixaram o Holmes e Ivo, contestando um ato do Conselho Diretor das Escolas, o que causou profunda decepção no grupo todo, mas foi absorvido porque o amor pela causa era maior. O fato foi o seguinte: todos bandeirantes deveriam receber os vencimentos equivalentes aos de um professor primário, pois nenhum deles ainda fora nomeado. Quando chegou o primeiro pagamento, quase um ano depois, constatou-se que o valor fora decotado, descontando-se a alimentação e roupas compradas para a partida da bandeira, sem opção de loja e moda. Foi o maior erro do Conselho Diretor. Sem explicação. Cobrou-se pela alimentação que era servida aos bandeirantes com os alunos, mas não houve compensação pelas horas extras trabalhadas por eles, ou seja, o regime de trabalho de 24 horas. Holmes e Ivo foram os únicos a reclamar com veemência e chegando à acirrada discussão, o coronel, em momento infeliz, reverberou, quando eles ameaçaram deixar o Núcleo, “sua alma sua palma”. Holmes, o Benjamim do grupo alteou a voz e respondeu “assim será”, deixou a roda de conversa que se dava perto do curral. Em poucos minutos, ele e o Ivo passaram ao largo com as malas nas costas sem dizer adeus. Nunca mais voltaram ao Núcleo.
Jonas, à época, não escreveu a história dos bandeirantes, contudo foi fazer companhia a mime Raimundo no teatro com as peças que levamos ao Brejo Verde e Capão Redondo, hoje Santa Fé de Minas.
Seguindo ou não o caminho delineado na preparação da bandeira, certo é que os bandeirantes cumpriram sua missão. Hoje, o Núcleo transformou-se numa bela vila sede do distrito Caio Martins do município de Riachinho.
Texto e foto: João Naves de Melo

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