sábado, 16 de dezembro de 2017

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XX - Parte

UMA EXPERIÊNCIA INOVADORA – I
Uma situação incômoda relativa à saúde das crianças do Centro Integrado de Esmeraldas nos levou a criar um projeto que, com o passar dos anos, seria um avanço educacional do maior significado e expressão: Projeto de Saúde e Educação.
Começou assim: havia uma incidência muito representativa de doenças de pele nos pequeninos (a famosa pereba), acrescida de problemas crônicos de acidez gástrica (azia) e o famigerado piolho. O combate com remédios era caro e surtia pouco efeito. Debati a questão com o médico que atendia o CI, Dr. Joel, de Esmeraldas.  Ele sugeriu, então, que fossem tomadas medidas profiláticas: banhos dos pequeninos acompanhados, com uso de muito sabão e cuidado especial com a limpeza das feridas e combate sistemático ao piolho (catar) e às lêndeas (controle). A idéia foi posta e, de nosso lado, pensamos como colocá-la em prática se não contávamos com funcionários suficientes. Mal um casal tomando conta de cada lar com 25 alunos. Foi aí que veio a idéia de criar um projeto de saúde, contando com a participação de alunos do curso de magistério – 2º e 3º anos. A idéia foi apresentada aos alunos que a receberam com satisfação. Levada aos professores do curso de magistério chegaram contribuições: transformar o projeto em Projeto de Educação e Saúde. O que seria? Os alunos do 2º ano que estudavam à tarde, cuidariam dos menores na parte da manhã, e os do 3º ano em horário inverso. E o que fariam? Receber os pequenos em seus lares  conduzindo-os em atividades de campo: inicialmente um passeio pelos  jardins e outros recantos da escola, todos muito bucólicos. Primeiro uma oração, depois um pouco de música. Nas caminhadas fazendo-os sentir a natureza dando explicações sobre a razão da vida de maneira simples levando-os a sentir e a perguntar. De volta ao lar, os pequeninos eram levados ao banho, acompanhados pelos monitores. E não ficava aí: os pequeninos eram levados ao refeitório e, na refeição, eram acompanhados por alunos do projeto. Um grupo acompanhava a confecção dos alimentos, elaborados, na maneira do possível, o cardápio recomendados para evitar a acidez gástrica e outros problemas estomacais. O mesmo método era aplicado aos alunos do 3º ano na parte vespertina. À noite, revezando-se, os monitores do projeto acompanharam a hora de estudo dos pequeninos.
Todos procedimentos relativos à saúde eram acompanhados pelo médico com toda atenção e desvelo, apaixonado pelo programa.
Os procedimentos educacionais tinham o acompanhamento dos professores das disciplinas correlatas: psicologia, pedagogia, religião.
A avaliação dos trabalhos semanais era feita aos sábados, no que contávamos com a participação dos professores Estanislau, Maria Lúcia, Maria Augusta, Rosalice, Dinorá que, prazerosamente e de maneira voluntária, se deslocavam de suas cidades (Betim e Belo Horizonte) até ao Centro Integrado para avaliar o trabalho e reunir-se com os alunos do projeto.
Os alunos, de cada turno, eram divididos em grupos, tendo, cada um, um coordenador que ficava encarregado de apresentar o relatório das atividades desenvolvidas na semana. Os relatórios eram um primor, ilustrados, com letras desenhadas, com um português correto e com belíssimas capas. Era quase uma competição entre os grupos. A mim cabia analisar cada relatório e emitir, por escrito, comentários, estimulando, destacando a excelência de sua elaboração e a realização dos trabalhos. O comentário não podia faltar, e se isso acontece, por um motivo ou outro, havia protesto.
Resultado: a cabo de poucos meses, Dr. Joel anunciou a queda nas consultas e gastos com remédios: nada de feridas, de azia e piolhos.

Texto e fotos: João Naves de Melo
(Recuperação de Slides – Jonas Silva)

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