sábado, 9 de dezembro de 2017

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XIX - Parte

A CAPELA
Coral da igreja Santa Tereza na década de 80
Não estou seguindo uma linha progressiva em minhas reminiscências caiomartinianas. Conforme me leva a lembrança, escrevo.
Nesta semana me veio uma doce recordação: a capela de Santa Tereza, símbolo de fé e união de alunos e servidores da Escola Caio Martins de Esmeraldas e moradores da região. Vejo, como hoje fosse, o capelão José Augusto, do alto da escadaria da igreja erguida em um topo que dominava toda a paisagem da Escola. Brandia o sino e gritava os nomes, um por um dos que chegavam – “vamos seus dorminhocos, está na hora de conversar com Deus!” E de todos lados afluíam os fiéis. De estradinha rurais, vinham fazendeiros e sitiantes, uns em charretes, outros a cavalo, muitos a pé. Vinha a família toda, vestida como em dia de festa – homens, mulheres e crianças. Lembro-me muito bem da família Batista – pai, mãe e um linda menina, Tita, que todos nós chamávamos por Pintinha, porque tinha uma bela pintinha no rosto. Mais tarde ouvi do coronel Almeida o que significava aquela bela reunião da família caiomartiniana (professores, chefes de lares, funcionários e moradores da região: uma síntese social.
A celebração da Missa era muito especial. O capelão José Augusto era vibrante, alegre, muito comunicativo e transmitia as mensagens religiosas, sobretudo as práticas comentando os Evangelhos, de modo peculiar e de fácil entendimento. Gostava de dizer, lembro-me bem, referindo à missa de cada domingo: “nesta dominga!” – ainda não encontrei explicação para o termo.
De especial tínhamos o prazer de participar do coroorfeão que, a moda antiga, ficava no alto, no fundo da igreja, de onde tinha-se uma visão de todos os fiéis espalhados nos bancos abaixo. O harmônio, sempre com dona Márcia (esposa do coronel Almeida) na execução e um grupo de alunos formando o coro: eu, Jonas, Chico, Raimundo, Durval, Inês, Virgínia, os mais assíduos. Não entendia muita coisa, mas gostava das músicas em latim. Guardo, no fundo da memória, às vezes confundindo as letras, as belas canções da consagração: “Bendito seja, o Santuário/ Em que encontrei consolação./ Meu bom Jesus, meu sacrário/ A paz me trouxe ao coração…” Ou…. No final da celebração em que as canções finais, variavam, mas todas tão belas e inspiradas, sempre dedicadas à Nossa Senhora: “Eu vos saúdo, Imaculada. Amável soberana, Imaculada. Cuja beleza, inebria os imortais…” E, em especial, – “Formosa és, ó Mãe Imaculada. Divina flor que despontou no céu. Se fores tu, dos homens olvidadas, não penses não que a olvide também eu”.
O som do harmônio esbatia com suavidade de parede a parede até alcançar o altar e nós, cheios de encantamento, cantando com prazer inusitado. A! adolescência!.
O harmônio de dona Márcia inspirou nosso colega Durval, que se fez músico e tomou conta do teclado do harmônio da igreja para nos acompanhar no hino de despedida de nossa formatura, uma belíssima adaptação feita por dona Márcia da música Träumerei (A sonhar) de Robert Schumann.  Difícil, muito difícil foram os ensaios, pois sempre o canto era interrompido pelas lágrimas dos formandos quando repetiam: “Adeus Escola tão querida…”
REFRÃO:
Bendito seja o santuário,
Em que achei consolação!
Meu bom Jesus, o teu sacrário
A paz me trouxe ao coração.
Ai! Jesus, que infeliz hei sido!
Quanto penei longe de Ti!
Mas, quando a Ti hei recorrido,
Minha aflição já não senti.
Minha aflição já não senti.
Oh! que dor, que pesar sofria
Longe de Ti, meu bom Pastor!
Mas já me deu pura alegria
Teu Sacramento de amor.
Teu Sacramento de amor.
Só em Ti há felicidade,
No Sacramento do altar,
Porque contens a divindade.
Que só nos pode saciar.
Que só nos pode saciar.
Ó Jesus, a minha esperança
É nesta vida assim te amar
E lá no céu, com segurança,
Te possuir e te gozar.
Te possuir e te gozar.
Texto e foto: João Naves de Melo

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