João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore
A LENDA DE SANTO ANTÔNIO DE SERRA DAS ARARAS – A Grande Romaria – I
Estamos quase no limiar do mês de junho que, para os são-franciscanos e populações da região, é muito especial, tempo de uma semi-parada na azáfama diária voltando-se para os festejos. E tudo começa bem cedo com a romaria de Santo Antônio de Serra das Araras com as jornadas de romeiros semanas antes do dia 13 consagrado ao santo. A estrada ara a Serra é tomada por peregrinos com todo fervor ou levados pelo gosto da grande caminhada, que leva alguns dias com divertidos pousos pelo caminho.
Caminhada e festa à parte, temos a lenda. No sertão urucuiano, universo dos personagens de Guimarães Rosa e do famigerado jagunço Antônio Dó, que assombrou o Norte de Minas nas primeiras décadas do século XX, a misteriosa aparição de um santinho, acabou se transformando na maior romaria religiosa do Norte de Minas: Santo Antônio de Serra das Araras, hoje município de Chapada Gaúcha, que reúne, a cada ano, na semana da festa – 13 de junho – mais de 50 mil romeiros. Não há registro do início da romaria. Há, contudo, uma referência histórica registrada pelo naturalista inglês George Gardner em seu livro Viagem ao interior do Brasil entre 1836 e 1841 quando se encontrava acampado na fazenda Rio Claro, nome de um pequeno rio que por ali passa e desagua no rio Urucuia a montante de Arinos: “Enquanto almoçávamos, apareceu do outro lado do rio uma velha branca com um filho, os quais atravessando a corrente, ficaram em nosso acampamento nas horas da tarde. Vimos que não obstante a sua idade, era mulher vivaz e ativa (...) Contou-me que ia a um lugar distante cinco dias de viagem cumprir promessa a santo Antônio, feita pouco antes quanto estivera doente”. Era junho de 1840. Dia 12 ele deixou as margens do rio Claro e poucos dias viajado e fez um novo registro: “Felizmente, quando estávamos para partir, passaram por ali a mesma velha e o filho que encontráramos na fazenda Rio Claro, já de volta do cumprimento da promessa...”
O registro de Gardner dando notícia da romaria de Santo Antônio aconteceu 37 anos antes da criação da cidade de São Francisco, concluindo-se que esta romaria tem mais de 185 anos.
Nos próximos capítulos falaremos sobre a romaria e, especialmente sobre a lenda de Santo Antônio, que é muito interessante.
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