sábado, 3 de maio de 2025

ABL OU ABP


A Academia Brasileira de Letras já viveu tempos áureos, quando chamava atenção e provocava admiração à vista dos ocupantes das 40 cadeiras a partir da sua fundação em 1879. Começando por Machado de Assis, senhor de uma obra fantástica, às cadeiras ocupadas por príncipes da nossa literatura: Olavo Bilac, José de Alencar, Gonçalves Dias, Basílio Gama, Castro Alves, Aluízio Azevedo, Casimiro de Abreu, Alberto de Oliveira, Joaquim Nabuco, Fagundes Varela entre outros notáveis literatos. Mais recente, um pouco atrás da era atual, luzem as figuras fantásticas de João Guimarães Rosa, Mário Palmério, Rachel de Queiroz, Nélida  Fagundes Telles, Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro. Numa escapulida, não literária, as portas da Academia foram abertas ao mundo político: Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso – uma escorregadela. Indo à frente foi à seara do mundo artístico abrindo as portas para Gilberto Gil e Fernanda Monte. 

Sabe-se que a ABL, na sua fundação, seria dedicada ao cultivo da língua e da literatura nacional brasileira, promovendo a cultura e a preservação da língua portuguesa e da literatura brasileira. Isto inclui a promoção de obras literárias de relevância, a realização de conferências e a edição do “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”. Seria um ambiente de trocas intelectuais, responsável por promover conferências e publicações voltadas ao âmbito das Letras.

É triste, mas o que se assiste atualmente no Brasil, é a transmutação de entidades de caráter edificante para mero trampolim de promoções pessoais. É o que acontece com muitos órgãos da República, que já não merecem mais a admiração e o respeito da população. E isto é muito ruim, pois implica na formação negativa das futuras gerações que não terão pontos de referência.

Voltando à ABL, um espanto: a eleição da jornalista Míriam Leitão que de literatura nada representa. Contudo, para o presidente da entidade “ela tem todas as qualificações para estar na ABL e vai ser útil para nós porque é muito ativa nas suas ações e tem um espectro muito amplo de interesses – causa indígena, dos negros, e aqui estamos na mesma sintonia”. E emendou: “Além disso, é feminina e feminista. Estamos precisando aumentar nossa representação feminina e Miriam vem em boa hora”, O fundamento da ABL, agora, é outro, é com viés do olhar social. No caso, Míriam  Leitão, se encaixa. Era só o que faltava à ABL para se se situar, em verdade, como ABP.

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