sábado, 31 de maio de 2025

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO - IV

 Murilo Saraiva Queiroz


O Segredo da Moça


A voz de Seu Joaquim baixou ainda mais, nos forçando a nos inclinar para frente.

"Era 1908. Maria Eulália era filha de uma das famílias mais respeitadas da cidade. Moça bonita com olhos da cor do rio ao amanhecer. Ela foi prometida ao filho de outra família rica, uma fusão de terras e gado mais do que um casamento."

Seus dedos nodosos traçavam padrões na areia enquanto falava.

"Mas Maria tinha um segredo. Ela escapava para o rio ao entardecer, alegando rezar no pequeno santuário de Nossa Senhora perto da beira da água. O santuário havia sido colocado lá pelo Padre Heinrich, um dos missionários alemães que permaneceu depois que a igreja foi construída."

Seu Joaquim fez uma pausa para tomar um gole de cachaça de uma caneca de metal desgastada.

"Ela não estava rezando. Estava se encontrando com alguém-um jovem que não era seu prometido. Alguns dizem que ele era um simples pescador; outros sussurram que era um dos padres. Qualquer que seja a verdade, quando chegou o inverno, ela não podia mais esconder sua condição."

Os olhos do velho se nublaram com algo entre tristeza e medo.

"Sua família a expulsou. Naqueles dias, tal vergonha poderia destruir linhagens inteiras. Ela viveu em uma pequena cabana à beira do rio, sozinha exceto pela caridade ocasional de mulheres que desafiavam seus maridos para levar-lhe comida. Quando chegou sua hora, ela deu à luz sozinha, na noite mais fria de julho."

A fogueira crepitava, enviando faíscas para o céu noturno.

"O que aconteceu em seguida depende de quem conta a história. Alguns dizem que a loucura a tomou; outros acreditam que foi o desespero. Ela entrou no rio com seu recém-nascido, sussurrando orações ou maldições-ninguém sabe. Ela deixou a criança cair na parte mais profunda do canal e então tirou sua própria vida."

Eu tremi apesar do ar quente da noite.

"Mas o rio não simplesmente leva, garoto," disse Seu Joaquim, de repente se dirigindo diretamente a mim. "Às vezes ele transforma."

O CODEMA E A PONTE

 

Um imbróglio esteve prestes a interromper as obras da construção da ponte sobre o rio São Francisco na cidade, envolvendo o IBAMA e DRE-MG. A situação foi criada em face da remoção de material depositado no rio pelas enchentes e pela população fazendo o bota-fora em uma pequena lagoa às margens do rio. Ocorre que nesta lagoa existe uma espécie de pequenos peixes monitorada por organismo ambiental.  Pelo fato o IBAMA denunciaria a ocorrência o que levou ao conhecimento do Codema, pois a lagoa encontra-se em área urbana na qual tem competência o Codema. O DRE a par da ocorrência, embargou a obra e, com isso, a construção foi paralisada. Ciente do fato o Diovani Rene Costa, presidente do Codema, incontinentemente reuniu-se com representante do DRE e IEF buscando uma alternativa, que foi alcançada. Numa diligência rápida, que contou com o concurso do técnico Marcos Moreira Soares do Codema, foi emitido um parecer favorável ao bota-fora em outra área preservando-se a lagoa. O diretor do IEF também assinou o parecer.

Diligência eficiente e rápida do Codema com o aval do IEF na elaboração do parecer técnico permitiu a continuidade da obra da ponte.


O PEIXE EM QUESTÃO



Trata-se do peixe das nuvens, um tipo de peixe anual, da família rivulidae, que vive em ambientes temporários, como poças de água que secam durante a estação seca. São conhecidos por essa denominação popular devido ao fato de aparecerem do nada, como se tivessem caído do céu, após as chuvas.

Em São Francisco jáa foram encontradas pelo menos duas espécies de rivulideos, Hypsolebias hellneri e Cynolebias cf perforatus, ambas ameaçadas de extinção.

Os rivulideos tem como maior risco, as obras de infraestrutura, que por falta de conhecimento aterram as poças em que habitam.

Devido ao alto grau de ameaças que essas espécies sofrem, elas foram inseridas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes Rivulídeos Ameaçados de Extinção – PAN Rivulídeos – Coordenado pelo ICMBio. O objetivo do Plano é estabelecer mecanismos de proteção aos rivulídeos deste PAN e anular a perda de hábitat das espécies.


LAJEADO: UM ENCANTO

 


Um recanto escondido que se mostra por encanto ao deixar uma trilha amaciada por areia dourada: Lajeado, na região do rio Acari. Paisagem deslumbrante, amena, muito agradável aos olhos e à alma como refrigério de vida em tempos tão atribulados. Tanto verde da mata que se esbarra em uma linha comprida ornando uma vazante com árvores esparsas, pequeno lago suscitando a lembrança do livro Vale Aprazível de Louis Bromfield. É de se sentir, em um frêmito de emoção, a presença de Deus na criação de tão fantástico cromo. Naquele pequeno éden corriam serelepes cabras, vacas pontilhadas ruminando (uma gostosa sesta) e equinos pachorrentos pastando sem pressa, que capim há com fartura.

Em um extremo da várzea encontra-se a capela da Sagrada Família do Acari onde a comunidade se reúne aos domingos para o culto. Tão simples, mas confortável e acolhedora. Atualmente os fiéis são poucos, muitos já foram antes de acelerado êxodo rural. Tão poucos, porém pelo ato de fé persistido leva-se aos primeiros tempos do cristianismo  – eram poucos os discípulos de Jesus, mas firmes na fé multiplicaram-se em milhões vencendo no tempo. Participaram do culto em companhia de Francisco e Jandira: Rosalice, João Naves, Vilma, Beatriz e Marina.

Na mesma várzea, um pouco de lado da capela encontram-se a moradia de Afonso  Soares da Silva e Erotides Alves da Silva, um amável casal, que desafia o tempo, transformando o que poderia ser uma solidão em uma aprazível vida com tudo que se faz necessário para ser feliz e em verdadeira integração com a natureza. Moram em uma casa com 5 quartos de casal  para cada um de seus cinco filhos que, por circunstâncias da vida moderna, deixaram aquele paraíso em busca de trabalho em outras paragens.

A vida cumpre o seu ciclo. O casal tem sua vida como uma dádiva de Deus no seu espírito religioso, interage-se com o meio fazendo do seu quintal um admirável jardim forrado de flores, plantas medicinais, fruteiras e, fantástico, um pé de buriti que Afonso 

plantou ao lado de uma cisterna garantindo-lhe a umidade necessária para o seu desenvolvimento, posto ser ele de natureza alagada. Vai além. O casal plantou uma fantástica horta, muito bem planejada. Todos os dias o casal tem verdura fresca nas refeições, serviço de Tide desempenhado com alegria. A produção da horta não é pouca, réstias de cebola, alho e muita verdura que o casal reparte com os vizinhos, lembrando a primitiva vida dos cristãos que tinham tudo em comum. 

Afonso e Erotides um casal abençoado, feliz, integrado à natureza numa vida plenamente natural tão rica.

O reencontro de Erotides comigo, Vilma e Beatriz levou-nos ao passado lembrando que eu e Vilma éramos padrinhos dela de “Fogueira de São João”, um ato muito respeitado e sagrado, bastando dizer que ela nos pediu a bênção. E mais,  lembrou de Beatriz quando menina de sete anos na Escola Caio Martins, onde ela estudou. E disse que queria colocar o nome de Beatriz em uma filha. Contudo só teve filhos, mas remediou a situação pedindo a uma nora, que tivera uma filha, que lhe desse o nome de Beatriz. E assim foi feito.

LAJEADO DO PARAÍSO: UM PARAÍSO

 


No final de um corredor, cortando o cerrado, uma porteira branca, depois um pátio forrado de miúdas flores e gramíneas verdinhas e, dalí, depara-se com o frontispício de uma casa singela de fantasia parecer. Ao avançar na entrada, vencendo o alpendre florido uma recepção abençoada: imagens de Nossa Senhora e São Francisco. Passando-se pelo interior da casa, com uma divisão muito prática das dependências chega-se a uma enorme área externa. Aí estampa-se com um mundo maravilhoso, enchessem-se os olhos de cores múltiplas de flores de todas as espécies, espalhadas em motivos ornamentais com aproveitamento de tocos, galhos, troncos das árvores e canteiros (tantas flores servem como um manjar melífluo para as abelhas). Quanta criação para ocupar cada espaço com um motivo floral. Portentosas mangueiras e pitombas sombreando a imensa área, num convite ao deleite em sete redes de buriti nelas penduradas. No aproveitamento de descartes de imóveis, duas camas balançantes convidando para o repouso em tarde quente. No outro passar, duas copas e a cozinha, tudo muito convidativo, muito rural e agradável. Depois da cozinha, outra área arborizada sobressaindo-se os citros – um pé de tangerina com galhos escorados de tanta fruta produzida. E tem plantas medicinais meio ao imenso jardim botânico.


UM MOMENTO EMOCIONANTE

Lá nos encontrando em um fim de semana (uma comitiva de amigos), presenciamos um sarau que extrapolou o entretenimento atingindo fortemente a emoção. Com a comitiva à beira da fogueira, de repente, pessoas amigas do casal foram se aconchegando, inclusive com um violeiro. Músicas comuns ao repertório da região, o que foi muito bom e conversa descontraída. Em certo momento, a anfitriã Jandira começou a falar dirigindo-se a um casal que com eles trabalhou na fazenda vários anos e que, por contingências da vida, se despedia. Com a voz embargada, resvalando-se a doce choro, ela contagiou a todos emocionando-os. Como é sublime a gratidão, o que ela expressou ao casal pelo tempo que ele trabalhou na fazenda com toda zelo, dedicação e amizade. A gratidão é abençoada como um ensinamento de Jesus. Ficou mais iluminado o Acari do Lajeado.   


O ACARI

Depois, por uma trilha meio às portentosas árvores chega-se às barrancas do rio Acari. Ah! O Acari de tantas histórias. Já foi piscoso de surubim e dourado, de farta água e até faisqueiro em épocas remotas nele encontradas pedras de diamante. Agora ele divide o leito com enormes bancos de areia de cor púrpura. Pode ser uma ironia dizer que eles são belos contornando o espremendo a corrente que desliza ornada por fechada e viridente mata ciliar. Acari é um nome indígena o que remete à presença de índios na região, os remanescentes de índios tapiraçaba (Januária) deslocados para o território do Acari por Manuel Pires Maciel Domingos. É até plausível que deixando o sertão árido, eles foram de acomodar às margens do rio São Francisco, no local que recebeu o nome de Barreira dos Índios.

Lajeado do Acari é a fazenda do médico Francisco Soares e sua esposa Jandira. Não é só uma fazenda, é um lar acolhedor, um verdadeiro paraíso, razão pela qual mais tempo eles passam lá (quanto possível) que na cidade. Ora, têm todo o conforto que uma residência urbana pode oferecer, porém com muito mais: a exuberante natureza. Além de tanto verde e flores, o despertar matutino é com acordes sonoros da sabiá, com a estridência de sexéus, o canto estridente da seriema e o lamento triste da rolinha.

Não há como descrever o que registram os olhos e sente o coração diante de tanta beleza e paz.

VIAGEM NA LEITURA

 


A EE Dr. Tarcísio Generoso promoveu um momento literário levando um grupo de alunos dos ensinos fundamental e médio para conversar com os escritores João Naves de Melo e Marina Naves de Melo Queiroz. Tratou-se do Projeto Viagem na Leitura com propostas direcionadas aos alunos: Ler abre caminhos: a leitura regular contribuiu para p desenvolvimento intelectual e racional; desenvolve a criatividade e estimula a imaginação; fortalece a capacidade de concentração; ler é muito mais do que decodificar palavras – é construir sentidos, refletir, questionar e crescer, cada página lida contribui para a formação de uma mente mais aberta e criativa. Com esta proposta três alunas estabeleceram um diálogo com os dois escritores buscando conhecer sobre seu processo de criação, a importância da leitura e outros aspectos inerentes ao trabalho do escritor. 

Na oportunidade foi montado um painel com obras dos escritores e banners ilustrativos.

  Leitura, poesia, romance, um mundo fantástico desvendado tendo ao fundo a música proporcionada pela excelente cantora Ailly, aluna do 3º ano do ensino médio da escola e apreciadíssima cantora de eventos na cidade e região. Sem dúvida, ela se apresentou com uma belíssima performance da MPB e um excelente acompanhamento ao violão. Outra contribuição musical foi a do professor Anderson.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO - III

 Murilo Saraiva Queiroz


A IGREJA ALEMÃ


A Igreja de São Félix não era a igreja principal de nossa cidade. Essa honra pertencia à Igreja de São José, construída em 1890, com suas torres brilhantes que capturavam o pôr do sol. São Félix era menor, mais antiga-construída em pedra bruta por missionários alemães que chegaram ao Brasil no final do século XIX.

"Os alemães vieram para construir estradas," explicou Seu Antônio, retomando a história. "Mariano Procópio Ferreira Lage precisava de trabalhadores qualificados para sua Companhia União e Indústria. Eles trouxeram sua religião com eles."

Diferente de muitas das colônias alemãs que se estabeleceram no sul do Brasil, as que vieram para Minas Gerais eram esparsas, sua presença sutil mas duradoura. Os frades franciscanos que construíram São Félix não estavam buscando criar um enclave alemão, mas espalhar sua fé ao longo do rio.

"Floriano da Cunha Lima construiu aquela igreja há 116 anos," disse Seu Joaquim. "Ele encomendou as estátuas de São Félix e Santo Antônio de Portugal. Elas ainda estão lá, observando."

O que Seu Joaquim não  disse – o que todos sabiam – era que a igreja havia sido construída para um propósito muito específico: selar algo.

16ª FEVASF


  No dia 22, quinta-feira, foi aberta a 16ª Feira do Agronegócio e da Agricultura Familiar do Vale do São Francisco promovida pelo Sindicato dos Produtores Rurais de São Francisco realizada no Parque de Leilões União do Vale do São Francisco do próprio sindicato. Foi muita expressiva a presença de autoridades ao evento: o secretário de Estado da Agricultura, secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Antônio Pitangui Filho Silva, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais; prefeito municipal Miguel Paulo; Ramiro da Colônia, vice-presidente da Câmara Municipal; Ten-Cel Wilson Fabiano, comandante da 13ª Cia Independente da PMMG de São Francisco  e outras autoridades ligadas à agricultura.

A abertura do evento foi feita pelo presidente do Sindicato, José Botelho Neto saudando as autoridades, aos produtores rurais e público presente, destacando a importância do evento. Importantes falas foram as do secretário Thales e do presidente FAEMG Antônio Pitangui prestando informações de alta relevância a respeito da agricultura no país e, sobretudo em Minas Gerais, com um crescimento notável nas exportações chegando a superar a exportação de minério. Destacaram dados sobre a pujança do setor agrícola no Estado com excelentes resultados. Uma informação muito aplaudida: o município de São Francisco tem o maior rebanho bovino do Norte de Minas com mais de 150 mil cabeças e, ainda, a segunda maior bacia leiteira da região.

O prefeito Miguel Paulo ressaltou a importância do Sindicato no município. O gerente do Banco do Nordeste levou ao conhecimento dos produtores a abertura de várias modalidades de financiamentos de projetos agrícolas e para a economia informal.

A feira deste ano  tem uma extensa e muito interessante programação com diversas palestras indo do dia 22 ao dia 25, encerramento com Grande leilão carga fechada. E mais: palestras, informações e, todas as noites,  a realização de shows.

Um destaque: a quantidade de estandes que ocuparam a imensa área do parque, superior à dos anos passados, o que demonstra a pujança crescente do setor agropecuário no município e o trabalho do Sindicato. Impressionante a quantidade de máquinas agrícolas expostas – grandes e pequenas e para atender vários trabalhos no campo. Tudo reunido compôs um cenário grandioso, chamando a atenção dos visitantes.


COMENTANDO


O secretário Thales abordou o potencial do Norte de Minas na área da agropecuária, alertando que para explorá-lo é mister que parte da população saia da coleira do populismo. Discorreu sobre os efeitos deletérios da bolsa família e auxílios disso e daquilo, que têm levado uma grande faixa da população à dependência do governo. Foi enfático dizendo não ser contra os benefícios ressaltando, contudo,  que o importante é o trabalho, cujo resultado é benéfico para todos: governo e população. Quem tem emprego e renda, tem dignidade, pode comprar seus bens. Muitas pessoas que não querem trabalhar, não querem assinar carteira de trabalho para não perder benefícios do governo perdem a dignidade, transformando-se em parasitas.

As duas palestras deveriam ser impressas em uma cartilha para ser distribuídas aos produtores rurais e até mesmo nas escolas, onde se vislumbra o amanhã.



CODEMA E MINISTÉRIO PÚBLICO

 

O presidente de Codema, Diovanni Rene Costa, e os conselheiros João Naves e Alda Maria reuniram-se, nesta semana, com o promotor Gabriel Pereira Ramos Ferreira para dar-lhe boas-vindas ao município onde chegou recentemente para ocupar a  Promotoria da 1ª Vara da Comarca. O encontro teve também como propósito levar ao conhecimento dele as atividades desenvolvidas pelo Codema no município, que sempre tiveram como suporte o Ministério Público. 

Outros assuntos ventilados relacionaram-se à retomada da fiscalização sonora no município com a elaboração de uma norma deliberativa e a realização da audiência pública para debatê-la considerando que foi de suma importância a presença do Ministério Público na composição do grupo que examinou a questão, em duas reuniões. Em pauta, ainda, várias situações envolvendo o meio ambiente no município em que a ação do Mistério Público é muito relevante.

ESTRANGULANDO AS ÁRVORES

 


A cidade de São Francisco com seu moderno traçado urbano ganha muita beleza com a arborização de suas avenida, ruas e praças. Há de se louvar o cuidado de alguns prefeitos, mas sobretudo da população que tem por cuidado plantar árvores na frente de suas casas e fruteiras no quintal, de especial a mangueira que, além de fornecer frutas amaina o calor que é bravo em São Francisco. 

Sibipirunas, oitis e palmeiras (mais ornamental) ornamentam as vias públicas, oferecem uma visão bonita e um ar muito agradável. Em determinadas áreas, dado o crescimento delas, faz-se necessária a poda para  proteger a fiação da rede de energia elétrica evitando-se danos ou acidentes. Quanto a isto não se discute. O problema é que as equipes da Cemig que fazem a poda não têm nenhuma orientação, sequer consultam os órgãos do município pedindo autorização e orientação. Com isso fazem podas prejudiciais às árvores criando-se, ao mesmo tempo, um cenário medonho deixando-as mutiladas, com aleijões. 

Tal falta de zelo, para não dizer insensibilidade estética, deve ser corrigida pelas autoridades municipais que cuidam da área urbana. Ficar como está é imperdoável descuido quanto ao zelo pela arborização (tão bonita) da cidade. 

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo -  Membro da Comissão Mineira de Folclore


A LENDA DE SANTO ANTÔNIO DE SERRA DAS ARARAS – A Grande Romaria – I


Estamos quase no limiar do mês de junho que, para os são-franciscanos e populações da região, é muito especial, tempo de uma semi-parada na azáfama diária voltando-se para os festejos. E tudo começa bem cedo com a romaria de Santo Antônio de Serra das Araras com as jornadas de romeiros semanas antes do dia 13 consagrado ao santo. A estrada ara a Serra é tomada por peregrinos com todo fervor ou levados pelo gosto da grande caminhada, que leva alguns dias com divertidos pousos pelo caminho.

Caminhada e festa à parte, temos a lenda. No sertão urucuiano, universo dos personagens de Guimarães Rosa e do famigerado jagunço Antônio Dó, que assombrou o Norte de Minas nas primeiras décadas do século XX, a misteriosa aparição de um santinho, acabou se transformando na maior romaria religiosa do Norte de Minas: Santo Antônio de Serra das Araras, hoje município de Chapada Gaúcha, que reúne, a cada ano, na semana da festa – 13 de junho – mais de 50 mil romeiros. Não há registro do início da romaria. Há, contudo, uma referência histórica registrada pelo naturalista inglês George Gardner em seu livro Viagem ao interior do Brasil entre 1836 e 1841 quando se encontrava acampado na fazenda Rio Claro, nome de um pequeno rio que por ali passa e desagua no rio Urucuia a montante de Arinos: “Enquanto almoçávamos, apareceu do outro lado do rio uma velha branca com um filho, os quais atravessando a corrente, ficaram em nosso acampamento nas horas da tarde. Vimos que não obstante a sua idade, era mulher vivaz e ativa (...) Contou-me que ia a um lugar distante cinco dias de viagem cumprir promessa a santo Antônio, feita pouco antes quanto estivera doente”. Era junho de 1840. Dia 12 ele deixou as margens do rio Claro e poucos dias viajado e fez um novo registro: “Felizmente, quando estávamos para partir, passaram por ali a mesma velha e o filho que encontráramos na fazenda Rio Claro, já de volta do cumprimento da promessa...”

O registro de Gardner dando notícia da romaria de Santo Antônio aconteceu 37 anos antes da criação da cidade de São Francisco, concluindo-se que esta romaria tem mais de 185 anos.

Nos próximos capítulos falaremos sobre a romaria e, especialmente sobre a lenda de Santo Antônio, que é muito interessante.

sábado, 17 de maio de 2025

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO - II

 Murilo Saraiva Queiroz


I. A Cidade à Beira do Rio


Os velhos se reuniam em banquinhos de madeira à beira do Rio São Francisco enquanto a escuridão se assentava sobre nossa pequena cidade. A correnteza rápida capturava os últimos raios de luz do dia, transformando a superfície da água em fitas de ouro e sombra. Esses anciãos-pescadores envelhecidos com mãos calejadas e rostos marcados pelo sol – eram os guardiões dos segredos mais sombrios de nossa cidade.

"O rio sabe," sussurrou o velho Pedro Gomes, socando tabaco em seu cachimbo. "Velho Chico se lembra de tudo."

Eu tinha apenas doze anos naquele verão de 1989, mas ainda me recordo de como os mosquitos zumbiam enquanto o homem mais velho entre eles, Seu Joaquim, começava a falar de coisas que a geração mais jovem era proibida de discutir-histórias sobre o que se escondia sob nossa sonolenta cidade ribeirinha de São Francisco.

São Francisco nem sempre foi o nome de nossa cidade. Os anciãos ainda a chamavam pelo seu nome original: Pedras dos Angicos. Fundada em 1877 onde o bandeirante Domingos do Prado e Oliveira uma vez estabeleceu sua fazenda, nossa cidade cresceu ao redor do rio poderoso que servia tanto como nossa força vital quanto, às vezes, nossa maldição.

"Esta cidade tem camadas de segredos," disse Seu Joaquim, com sua voz mal audível acima do barulho da água contra a margem. "Alguns enterrados no tempo, outros no próprio rio."

O quarto maior rio do Brasil fluía diante de nossas portas-uma serpente massiva de água que os locais respeitosamente chamavam de "Velho Chico". Mas o respeito não era apenas afeição; era tingido com medo[1].

"O rio dorme à meia-noite," continuou Seu Joaquim, seus olhos remelosos refletindo a luz das estrelas. "Quando o Velho Chico descansa, as almas dos que se afogaram sobem para as estrelas, e criaturas emergem das profundezas. É quando a Mãe D'água sai para secar seu cabelo, quando os peixes param no fundo, e até as cobras perdem seu veneno."

Meu tio Miguel zombou. "Velhas histórias para assustar crianças."

Seu Joaquim fixou nele um olhar que deixava até homens adultos desconfortáveis. "Então explique o que aconteceu na Igreja Velha, Miguel. Explique o que seu próprio avô viu."

O grupo caiu em silêncio. Até os pássaros noturnos pareciam pausar seus cantos.

MAIS UMA VEZ MARIA CUTIA


  O Grupo Maria Cutia voltou a São Francisco apresentando, na sexta-feira 16, a Turnê Roda Mundos – um espetáculo de teatro e música para todas as infâncias na Praça Centenário. É como se apresenta: “Uma viagem musical pelo mapa mundi guiada por canções da infância dos cinco continentes – os atores cantam e brincam com canções populares de 7 países, numa atmosfera de sonho e poesia”. Adultos e muitas crianças ocuparam uma parte da praça na entrada da noite num clima ameno, muito agradável, muito à vontade e descontraído para assistir a um lindo e muito divertido espetáculo. Três atores e uma atriz e uma equipe de apoio musical envolveram o público na magia do teatro levando-o a passear pelo mundo com muita graça e leveza. O desenvolvimento do enredo foi todo ele musical, pouquíssimas falas, o que deu um tom especial ao desenrolar de cada ato (viagem). Um destaque muito especial ficou por conta da performance do arranjo vocal do quarteto – muito harmônico, afinado, agradável, chegando-se, em determinadas passagens, à polifonia, com destaque para o baixo e a soprano.


Muito interessante e democrático o trabalho do Grupo Maria Cutia revivendo o antigo teatro Mambembe proporcionando espetáculos a públicos de cidades que não têm teatros, é o conhecido teatro de rua, que vem de longe em que seus atores e atrizes carregavam os cenários das peças, seus figurinos (as roupas usadas) e maquiagem. Ainda é assim, pois o Grupo Maria  Cutia empreende turnê de cidade a cidade levando em caminhão todo o aparato necessário às suas apresentações na rua.

O espetáculo tem o patrocínio do governo do Estado e em São Francisco, terra especial para a atriz Mariana, um destaque do quarteto, o espetáculo contou com o apoio da Secretaria Municipal de Cultura.




POLUIÇÃO SONORA: AUDIÊNCIA PÚBLICA

 


Na quarta-feira, 15, realizou-se no plenário da Câmara Municipal audiência pública para tratar da poluição sonora no município de São Francisco promovida pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e CODEMA. O evento resultou-se das discussões de um grupo constituído pelos secretários municipais do Meio Ambiente. Infraestrutura, procurador jurídico do município, presidente de Codema, Polícias Militar e Civil, Conselho Tutelar e representantes de promotores de eventos festivos no município. 

Um público considerável compareceu à audiência na maioria constituído de profissionais ligados a eventos de promoções festivos e propaganda sonora volante. A audiência foi presidida pelo Secretário Municipal do Meio Ambiente, Conceir Damião, compondo a mesa de direção dos trabalhos Daniel Rocha, presidente da Câmara Municipal; Diovani Rene Costa, presidente do Codema; Júnior Marruaz, secretário de Infraestrutura e o Ten-Cel. Wilson Fabiano, comandante da 13ª Cia Independente da PMMG de São Francisco; Carlos Pereira Jr., procurador jurídico do município; João Hebber Gomes, secretário da Cultura e Turismo; militares e conselheiros do Codema. A mediação foi conduzida pelo conselheiro Petrônio Braz Neto.

Após a exposição da Norma Deliberativa a palavra foi concedida aos inscritos. Representantes de diversas áreas de atividade sonora no município manifestaram suas opiniões, ofereceram sugestões e, de modo geral, todos se mostraram acordes com a necessidade da regulamentação da atividade. Foram quatorze representantes, um número expressivo abrangendo todas as áreas de atividade. Falaram, ainda, o Ten-Cel, Wilson, prestando esclarecimentos a respeito da norma e ao trabalho da PMMG no que concerne à suas atribuições específicas quanto a poluição no trânsito; o presidente da Câmara, Daniel Rocha, abordando questões relativas ao controle da poluição sonora. O tenente PM Dener teceu comentários a respeito da atuação da Polícia Militar nos eventos festivos.

A audiência foi considerada muito positiva pela presidente do Codema, Diovani Rene Costa que, no final informou quais seriam as providências posteriores para a implantação da Norma, entre elas a realização de uma reunião com os participantes da audiência que manifestaram suas opiniões para se chegar a um consenso, respeitando-se o que dispõe as legislações Federal, Estadual e Municipal.


COMENTANDO


A perspectiva sobre a audiência, em princípio, poderia ensejar a possibilidade da ocorrência de sérios conflitos, manifestações de desagrado e até mesmo rejeição, posto   tratar de um assunto com interesses difusos: a preservação do meio ambiente, a defesa do consumidor e a segurança pública. Em certo momento na colocação de diversos interesses quanto a conflitantes situações, chegou-se a imaginar que não se chegaria ao consenso. De fato, houve caso de ponto de atrito relativo a uma casa de eventos e um morador da vizinhança dela.  Outro ponto, que seria o calcanhar de Aquiles, é a liberação do evento Som Automotivo com opiniões controversas e, ainda, o roteiro e o horário de funcionamento da propaganda ambulante. Pode parecer simples, se se ater puramente ao que prescreve a lei. Contudo existem interesses que devem ser examinados exatamente para que a lei seja perfeita, pelo menos, para que ela seja harmônica – no caso, a lei municipal já que na órbita do município não podem ser modificadas as legislações federais e estaduais.


MOBILIZAÇÃO DO PROJETO OPARÁ

 


Na última quinta-feira, 15 de maio, a ONG Preservar recebeu a Escola Municipal Bom Menino para uma importante ação de educação ambiental promovida pelo Projeto Opará: Observatório Cidadão da qualidade ambiental do médio São Francisco. A iniciativa atendeu 127 alunos do ensino fundamental e teve como objetivo sensibilizar as crianças sobre a importância da conservação do meio ambiente e o papel de cada um na preservação das espécies do Rio São Francisco. 

A iniciativa foi muito bem recebida pela comunidade escolar. Professores, coordenadores e alunos demonstraram grande interesse e engajamento nas atividades. No local, os alunos puderam ver de perto algumas das espécies bioindicadoras encontradas no rio e entender um pouco mais sobre sua importância. 

A ação faz parte de um projeto maior que busca envolver a população local como "observadores" da qualidade do Velho Chico, fortalecendo a relação entre conhecimento científico, cidadania e responsabilidade socioambiental.

DELIBERAÇÃO NORMATIVA EM DEBATE

  Art. 1º - As licenças ambientais quanto a eventos festivos a se realizarem no município de São Francisco serão concedidas mediante as seguintes condições:

I - Nos Parques de Exposições Zezé Botelho e dos Produtores Rurais serão concedidas mediante as seguintes condicionantes:

a) Emissão sonora até 2 (duas) horas, no máximo;

b) Os aparelhos sonoros instalados no Parque de Exposições Zezé Botelho devem ser direcionados para o Leste (Montes Claros).

Art. 2º - Nos eventos religiosos a sonorização poderá se estender até 2 (duas) horas.

Artº 3º - Nos eventos rurais que constam do calendário municipal pode funcionar até 2 (duas) horas, estendendo-se o horário caso haja consenso na comunidade.

Art. 4º - As festas do Carnaval e de São João podem prolongar-se até 3 (três) horas.

I – O Réveillon (31/01) e Festa do Aniversário da cidade, (4/5 de novembro) podem prolongar-se até 6h. acrescido pela Lei nº 334 de 30 de dezembro de 2021

Artº 5º - Licenças ambientais para utilização de som em estabelecimentos urbanos (bares) e particulares serão concedidas obedecendo os seguintes horários: de segunda-feira a sábado até 1 (uma) hora; domingo até 0 (zero) hora.

Artº 6º - Na licença sonora para propagandas ambulantes deverão constar os horários, roteiros e parâmetro de emissão sonora, que deve ser medida por técnicos da Secretaria Municipal do Meio Ambiente ou Codema. Os veículos licenciados deverão ser cadastrados por número a ser nele fixado como identificação.

Artº 7º - Licenças para eventos festivos do calendário oficial e os não oficiais devem ser requeridas com antecedência de 30 (trinta dias) devendo cópias ser enviadas às Polícia Militar, Civil e Conselho Tutelar.

Artº 8º - Os veículos equipados com aparelhos sonoros para deleite, sem fins comerciais, ficam sujeitos ao que dispõe a Resolução nº 624 do Conselho Estadual de Trânsito – COTRAN – leis estadual e municipal quanto ao cometimento de infrações ambientais.

Artº  9º - A fiscalização sonora de veículos automotores (automóveis, caminhões e motocicletas) será feita  conforme o que dispõe o COTRAN e Lei Estadual quanto à Lei do Silêncio.

Artº 10 – A instalação de aparelhos de sons para propaganda ou outros fins, na área exterior de estabelecimentos ou residências, depende de licença especial da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.

Artº 11 – A aplicação do disposto nesta deliberação normativa, quanto aos atos de fiscalização e autuação, será feita por técnicos da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, CODEMA e Polícia Militar.

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore


ARTESANTO: Tingui, sabão caseiro


O tinguizeiro não tem propósito de beleza, de especial tem o seu fruto de cor amarronzada, do sertanejo dizer de "burro-fugido", mas no sertão ele é de muito serventia para fabricar sabão. Os frutos recolhidos são levados para o rancho onde são quebrados, geralmente com malhos, sobre uma pedra apurando-se os bagos e, depois levados a uma vasilha d´água onde passa a noite. No outro dia é retirada a sobrepeliz da semente, descobrindo totalmente a gema que é levada ao caldeirão, no fogo fervida por um ou dois dias, o suficiente até a água secar, restando apenas o óleo (gordura) da semente, envolvendo a massa. O modo a seguir, ainda com o caldeirão no fogo, é adicionada dicuada que, quanto mais forte é melhor – ela é usada para eliminar o óleo deixando apenas a massa da semente, fazendo o mesmo efeito da soda cáustica na fabricação do sabão. Depois é ir mexendo e mexendo sem parar. Quando não restar sinal de óleo, está pronto o sabão – é deixar esfriar e cortar os tabletes ou então fazer os bolos que são enrolados em palha de milho para serem guardados.

Há de se ter muito cuidado e ciência com a dicuada – ela é que vai determinar a qualidade do sabão. O seu preparo começa com a escolha da madeira para preparar a cinza: tem que ser verde. Faz-se, com ela, uma fogueira e a deixa arder até consumir o último taco de pau, restando o monte de cinza que, depois de esfriada, é umedecida e apertada suavemente com as mãos, como se preparasse uma massa de pão-de-queijo. Com carrascas de buriti (ou achas) prepara-se o “destilador” –  uma espécie de vaso, em forma de cone onde, no fundo, é colocado um pedaço de pano ou um pouco de capim para segurar a cinza umedecida que vai sendo colocada em pequenas camadas que são levemente socadas com a mão-de-pilão. Depois de cheio o destilador adiciona-se água, moderadamente, até perceber que o vaso está bem encharcado. Não demora muito e a dicuada escorre, pingo por pingo, para cair numa lata colocada debaixo da ponta do cone. A dicuada tem um cheiro forte e desagradável, e é, por si, extremamente perigosa, não podendo estar em contato com a pele e, de maneira alguma ser ingerida.

O sabão do tingui tem um perfume agradável e por isso melhor serve às mulheres que apreciam o sabão de dicuada para lavar os cabelos – é o xampu do sertão. Até mesmo as da cidade o encomendam sempre, declarando sua excelência. Tem mais: a utilidade medicinal – não tem igual para curar a cafubira (sarna) e todo tipo de coceira do corpo. 

Nota: O sabão dicuada já teve seu tempo, pois atualmente até mesmo no sertão ele é pouco usado graças à facilidade de acesso ao sabão industrializado.

sábado, 10 de maio de 2025

DIA DAS MÃES

 Por mais que o homem seja um ser mesquinho,/enquanto a Mãe cantar junto 

a um bercinho/cantará a esperança para o mundo! Giuseppe Ghiaroni



Há de se contar quantas coisas na face da Terra podem guardar a sublimidade, o encanto, a infinitude do amor, o mistério e a graça do Criador como a figura da MÃE! Encontramos nela a manifestação angelical, a mensagem de Deus: “Ave Maria cheia de graça, o Senhor esteja convosco”. Não há de se indagar, apenas refletir sobre o fato de Deus ter enviado o Seu filho unigênito, Jesus Cristo, ao mundo para o bem da humanidade. Quis o Pai que Ele fosse gerado e não caído do céu encantado; quis que fosse gerado por uma mulher no seio de uma família. Nem precisava mais para colocar no altar da nossa admiração à figura da Mãe, a que traz a vida.

Como é tão sublime e sagrado o amor que a mãe devota ao filho desde os dias iniciais, que o traz preso ao peito, dando-lhe mais de sua vida até no passar dos anos, sempre presente, com abnegação, às vezes resignação; com alegria ou dor, mas sempre  amorável ao extremo. Barbosa Filho em momento de inspiração nos diz “Ser mãe é assumir de Deus o dom da criação, da doação e do amor incondicional. Ser mãe é encarnar a divindade na Terra”.

Como é belo, sublime, enternecedor e sagrado, o quadro de uma criança amparada no colo da mãe, com segurança, a vigilância, a ternura no olhar, o tépido abraço na doçura da acolhida no regaço

  Resumindo tal encanto com um ditado judaico: “Deus não pode estar em todo lugar e por isso fez as mães”.


        O sorriso silencioso de uma mãe

Derramando sobre o seu rebento

Revela a divindade de Maria

Na paz amorável eternizada

A lágrima derramada dos olhos

De uma mãe por seu filho

Revela no altar da vida

A infinitude do amor de Deus

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO

 


Murilo Saraiva Queiroz, são-franciscano filho de Altamiro Ribeiro Queiroz e Lucila Saraiva Queiroz, talentoso cientista da computação,  tendo trabalhando  na França residindo atualmente em Belo Horizonte, revela outra faceta do seu talento: o literário. Ele levantou uma pesquisa, motivada pelo conhecimento adquirido como jovem nas barrancas do São Francisco, e, com ela, elaborou uma interessante história estendida usando a inteligência artificial Perplexity AI abordando fatos de São Francisco de modo diferente, mas de energia crepitante à mansuetude do barranqueiro.

Ele nos apresenta o seu propósito: Esta história expandida incorpora elementos autênticos da história de São Francisco e do rico folclore do Rio São Francisco. A presença missionária alemã é baseada na imigração histórica alemã para Minas Gerais. As descrições do Caboclo D'Água e crenças associadas se baseiam diretamente no folclore documentado. A história da cidade faz referência à fundação real e nomeação de São Francisco (anteriormente Pedras dos Angicos). O peixe dourado é retratado com precisão com base em informações biológicas. Detalhes religiosos e arquitetônicos das igrejas locais.

É por onde o leitor trilhará a aventura e a satisfação de conhecer um pouco mais “da formosa cidade de São Francisco – que é que o Rio olha com melhor amor” (Guimarães Rosa). Para facilitar a leitura, o Portal dividiu a crônica em cinco capítulos, que serão publicados semanalmente no Face e no blog joaonavesdemelo. Vale a pena conferir, pois trata-se de uma crônica de leitura muito agradável, uma narrativa perpassando pelo real e o irreal como é comum no cotidiano barranqueiro onde não se sabe até onde vai o fato acontecido e começa a lenda ou vice-versa. É sem dúvida, um mundo fantástico que flui da alma do pescador, do vazanteiro e do barranqueiro em geral que têm, no rio São Francisco o umbigo preso (Geraldo Ribas) ou alma, como escreveu Saul Martins. Há, ainda, uma relação muito interessante com o papel desempenhado pela igreja com os missionários alemães – os nomes são fictícios, mas são-franciscanos guardam com carinho o nome de cada padre alemão, que se dedicou com tantos trabalhos ao município, em alguns casos até mesmo aos não católicos, com ações caridosas como no caso do padre Vicente. 

A leitura desta crônica leva a um giro pela história e cultura de São Francisco, suscitando fatos interessantes, que se não são todos reais estão incrustrados na vida do são-franciscano.

Uma história de Murilo Queiroz a partir da próxima edição.

HABEMUS PAPAM: LEÃO XIV

 


Num clima de imensa emoção com fieis levados a variados meios de manifestações, de risos às lágrimas; de palmas e a gritos, foi anunciado ao mundo a proclamação de novo papa. No final do dia 8 a Praça São Pedro, Vaticano, foi tomada por fieis de várias partes do mundo, agitando bandeiras e cartazes. Aguardava-se o sinal vindo da chaminé que, antes, por três vezes soltou a fumaça preta, criando mais ainda emoção. Por fim, às 18h, de Roma, a chaminé liberou, com grande profusão, a fumaça branca e a multidão explodiu de alegria e com largos aplausos. Depois, em quase duas horas, pulsando os corações aguardava-se o anúncio: quem seria, de onde seria, o novo papa? Eram tantas as apostas e as preferências à vista dos cardeais papáveis. E, então, veio a notícia da sacada do Vaticano: Habemus Papam e foi apresentado o cardeal Robert Francis Prevost, norte-americano. E o nome? Seria Francisco II, João Paulo III?

LEÃO XIV foi anunciado o nome do novo papa, agostiniano. Da América, novamente, um representante teria assento no trono de Pedro. Logo foram suscitados os questionamentos a respeito de qual seria a linha, a orientação do novo papa. Seguiria a linha do papa Francisco? Uma resposta, em princípio, pode ser encontrada na escolha do nome: por que Leão XIV? No caso, deve-se buscar conhecer a história dos papas Leão Magno e Leão XIII e, ainda, somar que Leão XIV é da ordem agostiniana. É um princípio para conhecer um pouco dele. E que seja abençoado e guiado pela luz do Divino Espírito Santo.

III ENCONTRO DE BATUQUES E OUTRAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS

 


No dia 26 de abril, na comunidade de Santa Helena, Território Quilombola de Bom Jardim da Prata, realizou-se o III Encontro de Batuques e Outras Manifestações Culturais. Segundo José dos Passos, vice-presidente da Associação Quilombola de Santa Helena – Território Quilombola de Bom Jardim da Prata, promotora do evento, o encontro teve como propósito fortalecer a rede de batuques do Rio São Francisco, promovendo a salvaguarda dessa rica expressão cultural. Além disso, buscamos estreitar os laços entre os grupos, reafirmando suas identidades e promovendo o empoderamento dessas tradições que atravessam gerações. Só Gratidão a cada um daqueles que participaram conosco, vivenciar essa cultura vibrante e fortalecer essa herança ancestral.

O evento reuniu grupos de batuque representando diversas comunidades envolvidas no projeto, reforçando a conexão entre os quilombolas do Alto e Médio São Francisco: São Francisco – Quilombo Benedito Costa, Pau d´Oleo, Quilombo de Caraíbas II , Veredinha, Caldeirões, Angico Branco e Retiro; Ubaí, Bonfinópolis (Gerais Velho), Varzelândia, Uruguai, Chapada Gaúcha, Januária (Rio do Peixe) e São João da Ponte. 

Pela participação de tantos grupos, de vários municípios, é possível ver a dimensão cultural desse evento que fortalece os vínculos entre eles e mantém viva uma tradição que é parte da história do povo brasileiro.

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore



A lenda ou décima do Rio Abaixo – II


Os homens que também não caiam no encanto ouviam a música, mas não viam a canoa, no muito, segundo contam, o som vinha de um caco de cuia descendo rio abaixo. Contudo, sabendo da força da música, queriam aprender a tocá-la para também seduzir as mulheres, nascendo daí a afinação ainda hoje muito conhecida e apreciada – a do Rio Abaixo. Toca-se com a afinação, mas não mais executam a décima por dois motivos: um – quem a executa entrega a alma ao demônio; dois – pode suceder de morrer mais cedo. Muitos casos já foram registrados na região. Por isso ela ainda é, até hoje, maldita e pouco difundida.

Assim é contada a lenda do rio abaixo, com algumas e pequenas variações, mas o tema central é sempre o mesmo: o rio, o caboclo bom tocador de viola, a viúva e o menino; aquele que fascina, a personagem que se desmancha em encantos e um mais real que, por sua inocência, tem a proteção do Anjo da Guarda e quebra o encanto.

A execução da lenda ou décima, de tão incomum, rara e difícil, é possível de se conseguir, apenas com dois instrumentos: a viola e a caixa – quanto menos gente envolvida melhor e mais seguro, acreditam. O som da viola, como de comum, nas folias, é triste, melancólico, cheio de saudades e o da caixa guarda o mistério nas chamadas e repiques que marcam e dão movimento ao lundu. 

Conta-se história em São Francisco que um tradicional imperador de folia de São João trabalhou muitos meses na roça de um violeiro famoso em troca de aprender a tocar a Décima do Rio Abaixo. Aprendeu e quando foi executá-la apareceu-lhe, à noite, na beira da estrada, em forma de um cupim, o “coisa ruim” perguntando-lhe: “o que é que ocê qué de mim?”  Assombrado ele jogou a viola nas costas, embrenhou-se pelo mato e, chegando em casa, colocou o instrumento em um baú e enfiou-se debaixo das cobertas. Passado o assombramento, fez uma promessa a São João, tornar-se imperador ad aeternum de sua festa tomando-o como advogado para entrar no céu.

sábado, 3 de maio de 2025

ENQUANTO ISSO....

 


Um grupo de voluntários são-franciscanos criou uma associação com objetivo de oferecer conforto aos idosos em estado de risco substituindo a antiga instituição que era denominada asilo. Criou-se a Associação de Proteção e Assistência aos Idosos São Francisco de Assis e, com isto, denominou o asilo como Lar São Francisco de Assis. Exatamente, um lar para que o idoso acolhido se sentisse em um ambiente familiar não guardando a tristeza de se ver obrigado, por circunstâncias diversas, retirado do seu convício social. Os idosos acolhidos, em sua maioria, proveem de famílias que não dispunham de meios para melhor assisti-los. Casos há, também, de família que não tinha meios de prover uma melhor assistência ao idoso com conforto, boa alimentação e cuidados médicos. Assim, o Lar dos Idosos supre a carência e dá, aos idosos recebidos uma assistência que não poderia receber em seus lares, ou seja: uma alimentação balanceada, assistência médica, acompanhamento de cuidadores e enfermeiros, quartos individualizados com ventilação, salão de festa onde se realizam encontros sociais, ofícios religiosos (celebração mensal da Santa Missa, oração do terço), refeitório coletivo. Conta o lar com uma lavanderia profissional para atender as necessidades diárias dos idosos com roupas higienizadas. Complementando a assistência, o Lar promove interação com a sociedade o que permite ao idosos sentir-se acolhido, acompanhado e a gozar de um bom convívio social.

E como todo este aparato é realizado? Qual é o suporte financeiros? A Prefeitura disponibiliza parte de servidores e as demais despesas com alimentação, parte dos servidores, remédios, energia elétrica, manutenção física do prédio e outros gastos, tudo é suportado com parte dos benefícios do INSS recebidos pelo idoso, tudo com acompanhamento da Conselho Municipal do Idoso, CREAS, Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Ministério Público.

Esta exposição, até mesmo desnecessária, por ser público e notório o trabalho da Associação, com seus voluntários, é para demonstrar que com muito pouco se faz muito pelo bem-estar e felicidade de velhinhos. Em contrapartida fica a pergunta: o quanto poderia ser feito por todos os idosos em estado de risco do país aplicando-se em obras sociais o imenso recurso surrupiado do INSS?

Coisas do Brasil. 

ABL OU ABP


A Academia Brasileira de Letras já viveu tempos áureos, quando chamava atenção e provocava admiração à vista dos ocupantes das 40 cadeiras a partir da sua fundação em 1879. Começando por Machado de Assis, senhor de uma obra fantástica, às cadeiras ocupadas por príncipes da nossa literatura: Olavo Bilac, José de Alencar, Gonçalves Dias, Basílio Gama, Castro Alves, Aluízio Azevedo, Casimiro de Abreu, Alberto de Oliveira, Joaquim Nabuco, Fagundes Varela entre outros notáveis literatos. Mais recente, um pouco atrás da era atual, luzem as figuras fantásticas de João Guimarães Rosa, Mário Palmério, Rachel de Queiroz, Nélida  Fagundes Telles, Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro. Numa escapulida, não literária, as portas da Academia foram abertas ao mundo político: Getúlio Vargas, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso – uma escorregadela. Indo à frente foi à seara do mundo artístico abrindo as portas para Gilberto Gil e Fernanda Monte. 

Sabe-se que a ABL, na sua fundação, seria dedicada ao cultivo da língua e da literatura nacional brasileira, promovendo a cultura e a preservação da língua portuguesa e da literatura brasileira. Isto inclui a promoção de obras literárias de relevância, a realização de conferências e a edição do “Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa”. Seria um ambiente de trocas intelectuais, responsável por promover conferências e publicações voltadas ao âmbito das Letras.

É triste, mas o que se assiste atualmente no Brasil, é a transmutação de entidades de caráter edificante para mero trampolim de promoções pessoais. É o que acontece com muitos órgãos da República, que já não merecem mais a admiração e o respeito da população. E isto é muito ruim, pois implica na formação negativa das futuras gerações que não terão pontos de referência.

Voltando à ABL, um espanto: a eleição da jornalista Míriam Leitão que de literatura nada representa. Contudo, para o presidente da entidade “ela tem todas as qualificações para estar na ABL e vai ser útil para nós porque é muito ativa nas suas ações e tem um espectro muito amplo de interesses – causa indígena, dos negros, e aqui estamos na mesma sintonia”. E emendou: “Além disso, é feminina e feminista. Estamos precisando aumentar nossa representação feminina e Miriam vem em boa hora”, O fundamento da ABL, agora, é outro, é com viés do olhar social. No caso, Míriam  Leitão, se encaixa. Era só o que faltava à ABL para se se situar, em verdade, como ABP.

DR. LUIZ CARLOS RECEBE MEDALHA DA INCONFIDÊNCIA

 


No dia 21 do mês passado pousou em Ouro Preto, antiga capital de Minas Gerais, o desembargador Luiz Carlos Gomes da Mata, em companhia do procurador-geral do Estado, Paulo de Tarso Morais Filho, em helicóptero da PMMG. A finalidade da viagem do desembargador Luiz Carlos a Ouro Preto foi para participar da solenidade de entrega da Medalhas da Inconfidência, conferida, anualmente, a personalidades que contribuíram para o prestígio e a projeção mineira – ele recebeu a Medalha de Honra.

O desembargador Luiz Carlos Gomes da Mata é filho do casal Edson Gomes da Mata e Nadir Silva Gomes de tradicionais famílias são-franciscanas. Ele comerciante e respeitado cidadão voltado para o desenvolvimento do município sempre presente às reuniões da Câmara Municipal dando, em diversas ocasiões, sugestões a respeito de procedimentos atinentes ao desenrolar dos trabalhos da Casa, especialmente as sessões plenárias. Nadir era secretária do Campo de Sementes do Estado de Minas Gerais e, depois, extinto esse campo, continuou seu trabalho como secretária e professora de bordados do Centro de Treinamento da Escola Caio Martins; era acolhida na comunidade com todo carinho e admiração pelo seu excelente trabalho; destacou-se, ainda, nas ações religiosas na paróquia de São José.

Luiz Carlos graduou-se como advogado na Faculdade Milton Campos, Belo Horizonte, no ano de 1985, destacando-se como orador da turma. Trabalhava, enquanto estudava, na Companhia Belgo Mineira no setor de contabilidade o que deixou assim que formado porque não teve como exercer um cargo jurídico na empresa. Destarte veio para São Francisco e deu início à sua vida como advogado. Em 1988 começou nova fase profissional como procurador geral do município e advogado do Sindicato dos Produtores Rurais. Em 1990 vocacionou-se pela magistratura, logrou aprovação e teve Lagoa da Prata como primeira comarca onde permaneceu durante 3 anos. Por dois anos e meio atuou como juiz da comarca de João Pinheiro, o maior município de Minas Gerais em extensão. A etapa seguinte ele cumpriu em Governador Valadares, grande município do Vale do Rio Doce, onde permaneceu por três anos e meio. Chegou a Belo Horizonte, ocupando 29ª Vara Civil durante onze anos. Por fim, em 2008 o grande salto, foi promovido ao cargo de desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na 13ª Câmara Cívil e, ainda, exerce a presidência da Comissão Salarial e toma parte do Núcleo 4.0 – que atua na cooperação com as Câmaras atrasadas.

Neste estreito currículo, retratando um pouco da jornada de 36 anos de trabalho do desembargador Luiz Carlos em prol da justiça mineira, como advogado, juiz de direito e desembargador, prestamos um tributo a ele que é motivo de orgulho de sua terra certamente levando o nome dela além fronteiras pela dignidade e reconhecido trabalho. E mais: um bom exemplo de cidadania para nossa juventude. 



ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore


A lenda ou décima do Rio Abaixo - I


Assim como a lenda do Famaliá, do Caboclo d´Água, do Romãozinho, algumas ligadas às maquinações do demo para conquistar a alma do homem, tudo lhe dando em vida para arrastar a sua alma, depois, para as trevas, envolta de profundo mistério, antiga, mas pouco conhecida e envolvente, corre nas barrancas do rio São Francisco, guardada nos profundos recônditos da alma de amedrontados violeiros, a lenda ou décima do Rio Abaixo. Violeiros  antigos e bons ponteadores conhecem o toque, mas não se atrevem executá-lo. Há sempre uma pronta e seca recusa.

A décima recolhida no município de São Francisco – MG, é cantada em dezesseis estrofes. Ela conta a história de um violeiro misterioso, executando uma música envolvente que seduzia mulheres. Uma canoa deslizando no São Francisco sem canoeiro de se ver – às vezes, melhor olhando, possível seria divisar um sinal de chapéu de abas bem largas. O remo não era visto e a canoa descia como abandonada. Dela propagava um som melodioso de viola, alcançando as barrancas, onde se postavam mulheres no afazer de lavar roupa e vasilhame – somente elas, em especial. Encantadas elas pediam para o remeiro-tocador encostar a canoa no barranco, de onde era convidado para ir até ao rancho tomar café, abrindo caminho para outras coisas que ele queria, sempre tocando e tocando. O terceiro personagem da lenda é um menino que jamais era envolvido pela magia e, assim, sempre quebrava o encanto revelando o mistério: o pé do violeiro era redondo. Antes de se sucumbir ao encanto e entregar sua alma ao tinhoso, salva pela criança, a mulher punha-se a se  benzer e começava as rezas do Credo de trás para frente, do Pai-Nosso e tantas outras, das mais fortes. Acuado o tinhoso corria para a canoa gritando: “S´imbora, Gaspar” e tocava a canoa rio abaixo: “Descendo o rio abaixo/ ê, numa canoa furada/  ê, descendo o rio abaixo/  (...)  arriscano a minha vida/ ê, numa coisinha de nada..”

Curioso é o registro feito na décima, na parte declamada: o violeiro não fala qualquer palavra relacionada a Deus ou santos. Um diálogo estranho ocorria: - Bom dia, seu moço!. O siô foi Deus qui mandô – dizia a mulher. Não, dona, eu vim porque quis – replicava o violeiro. A viúva continuava sem perceber a aversão do violeiro ao nome da divindade: Nossa Senhora! O siô toca muito bonito. Ao que ele cortava seco: Senhora, eu toco. Ela continuava em seu encantamento: Esse homem é do céu. E ele, seco e direto: Não, eu sou de casa mesmo.