sábado, 20 de janeiro de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS

João Naves de Melo
JOÃO FIGUEIREDO – II
Joãozinho Figueiredo foi um aficionado dos esportes – a paixão maior era o futebol, o que adquiriu nas peladinhas com bola de bexiga ou de meia. Mais tarde, ele começou a jogar em campo – e, para se garantir, fundou um time em que era o primeiro jogador a ser escalado. O time, Comercial, fez muito sucesso naquele tempo, chegando a jogar nas cidades vizinhas e a disputar jogos com times de Montes Claros, aqui na cidade. A paixão nunca arrefeceu – passada a fase de jogador, virou dirigente, chegado a ser presidente do Dínamo Esporte Clube por vários mandatos – a sua grande paixão.
Outro esporte preferido era o ciclismo. Naquela época, eram comuns as corridas de bicicletas na cidade, um acontecimento que reunia grande público. Os homens acompanhavam a corrida vestidos de ternos e engravatados, trazendo na cabeça o indefectível chapéu, peça que completava o traje elegante da época. Joãozinho foi campeão várias vezes. Numa competição, foi premiado com uma bicicleta importada da Itália, própria para corrida: aro de madeira, pneu tubular, com armação levíssima. A primeira bicicleta que ele comprou foi trazida por Perfecto Rajium Fortes, comerciante espanhol afamado. Joãozinho conta que, antes de entrar para o ramo do comércio, o Fortes trabalhava como fiscal da prefeitura, sendo muito exigente no cumprimento de sua obrigações. De uma feita, quando autuava um cidadão de nome Serafim, este, irritado, vociferou contra o fiscal: “Vem pra cá, seu espanhol de Portugal”.
As festas. As festas eram agradáveis e muito alegres. São Francisco ainda não contava com um clube e, por isso, elas aconteciam nas casas de uns e outros, alternadamente, animadas pelo “Jazz” da cidade (hoje Banda), geralmente com instrumentos de sopro. São Francisco tinha bons músicos, oriundos das bandas de música de Manoel Clemente, Elísio Horbilon e depois Antônio Vermelho.
Outra diversão era o cinema, no antigo prédio do Matadouro, hoje Câmara Municipal. Joãozinho e Valdemar Ribas eram os encarregados do cinema, que foi conseguindo por Valdemar Santiago, diretor do Campo de Sementes (hoje Caio Martins). Com muita dificuldade, havia sessões uma vez por semana, pois a energia da cidade era gerada por uma caldeira, o que obrigava Joãozinho e Valdemar a pagar algumas pessoas para alimentar com água o tanque da caldeira durante a sessão.
A política em São Francisco era muito definida, com as famílias divididas em partidos. Seu Jovem, pai de Joãozinho, assim que chegou à cidade se identificou com o grupo de Odorico Mesquita, compondo com Dr. Manoel Ferreira, Manoel Clemente, Dr. João Pitanguy, Dr. Oseas e Júlio Marques, o grupo da UDN. A mulher de Júlio Marques, Isabela, é fanática com o partido, o que a levou muitos anos depois a ir ao Rio de Janeiro só para conhecer Carlos Lacerda, um famoso prócer da UDN nos anos 50. No outro grupo, o PSD, com o coronel Oscar Caetano Gomes, Brasiliano Braz  e Francisco Mendonça.
Joãozinho herdou do pai o gosto pelo comércio, atividade que exerceu até se aposentar, sempre inovando e trazendo novidades para São Francisco. Em homenagem a sua mãe, deu ao comércio o nome de fantasia de Casa Dondona. Na política, não avançou. Foi vereador por um mandato e não foi adiante.
Conta ele que o são-franciscano era muito identificado com a política e que existiam pessoas que levavam seu amor ao extremo. Lembra de Zé Pretinho, que morava em frente do Matadouro – um cabo político que só gostava de viver no meio das autoridades. Todas as vezes que soltavam foguete na parte baixa da cidade, ele identificava como uma manifestação política e ia para frente da sua casa, onde descarregava uma carabina, atirando para o alto, respondendo.
Uma novidade da época, ele lembra prazeroso: o carro que se pai comprou – um Ford Bigode, cujo motor era acionado por manivela. Antes, havia só um caminhão, adquirido por Sancho Ribas. Mais para frente, seu pai comprou um conversível e, por fim, um cupê, no qual ele desfilava pela cidade. “Quando o carro passava, o povo saía para as calçadas para vê-lo passar. Era um sucesso”, lembra ele.
  • Publicado no jornal Nosso Tempo, em setembro de 1998.

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