sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

BUMBA-MEU-BOI

Em São Francisco não se tem notícias de como aqui chegou o folguedo Bumba-Meu-Boi, que encanta a população e arrasta a meninada pelas ruas da cidade. É uma das mais tradicionais tradições do folclore nordestino, especialmente nos estados do Maranhão e Piaui.  Segundo Câmara Cascudo esse folguedo teve origem no ciclo econômico do gado, sendo produto tríplice de miscigenação, com influência indígena, do negro escravo e do português. Uma série de variantes apresenta o enredo. Uma delas é narrada como fato acontecido: Catirina, mulher do escravo Pai Francisco pede-lhe que traga uma língua de boi para satisfazer seus desejos de mulher grávida. Pai Francisco mata um boi do seu patrão e logo que inicia a matança é descoberto. Sendo o boi de estimação do patrão toda a fazenda se reúne para ressuscitá-lo. Entram em cena o Pai Francisco, o Pajé, vaqueiros, doutor, a Catirina (que deu nas catirinas que acompanham o bumba-meu-boi) e outras figuras ligadas ao folclore regional: mulinha de ouro, bicho tamanduá, a onça.
O folguedo, assim, revive o drama do Pai Francisco,história que vem sendo passada de gerações a gerações. História que chegou a São Francisco, certamente, pelo rio que, em verdade, deu origem à cidade.
É fato que danças, folguedos e outras manifestações, com o passar dos anos, e as mudanças de região, tomem novos nomes e sofram alterações. Contudo, para que não se perca a origem, o que importa à tradição, é preciso que a narrativa principal seja mantida, assim como os adereços, quando se tratam de uniformização de grupos. No caso do bumba-meu-boi originalmente tem-se o processo volitivo que parte da tríplice miscigenação e do ambiente em que se passou – o sertão nordestino no ciclo do gado, ciclo que teve imensa influência na criação da cidade de São Francisco. Diz Câmara Cascudo que “as danças, de modo geral, nunca desaparecem, mudam de nome, há uma corrente de interdependência de trocas de elementos rítmicos, de posições, e nesse aculturamento o velho batismo perde presença e ganha apelido. A permanência rítmica é  é um dos mais assombrosos  fenômenos de persistência na coreografia popular”.
Caliu Felipe de Souza em trabalho publicado no boletim da Comissão Maranhense de Folclore“Apropriações e tradições: o Bumba meu Boi do Litoral do Piauí”, observa que “a brincadeira de Boi em Parnaíba, não tem o caráter estático pregado por alguns tradicionalistas”. Anota, ainda, como resultado de sua pesquisa,que “ficou evidente, também, o impacto que a estética carnavalesca do bairro São José tem provocado nos Bois, não sódo seu bairro…”
Tais observações são no sentido de refletir sobre as alterações que vêm sendo feitas nos celeiros de boi de São Francisco – algumas aceitáveis, outras pouco recomendáveis por não guardar nenhuma relação com o folguedo e sua origem. No caso podem ser citadas as seguintes: a introdução da figura do dragão (não faz parte da cultura brasileira); vaqueiros mascarados como figurantes do halloween, festa tradicional norte-americana, e letras de músicas de sucesso da cantora Xuxa.
Detalhes esses devem ser colhidos pela secretaria Municipal de Cultura e Turismo que promoveu, com muito louvor, o evento para que oriente os celeiros no sentido de resguardar, na medida do possível, a tradição, ou não exagerar nas introduções de fatos novos no folguedo tão rico do folclore são-franciscano.

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