sábado, 27 de janeiro de 2018

PEQUENA CRÔNICA

O REGALITO
“O colunista foi informado de que estão demolindo o Regalito, o histórico palco, para não dizer histórico palácio. Não sabemos bem quais os motivos que levaram o proprietário do prédio, símbolo de uma geração, que soube se impor e se inscrever nas páginas de nossa história, a demoli-lo; talvez mesmo o próprio casarão já estivesse cedendo a inexorável ação do tempo e a ruir-se.
O que subsiste, todavia, é um instintivo e natural sentimento de mágoa por ver a mão do homem aliar-se à mão do tempo a fim de destruir o que, para muitos, constitui fruto de recordação, respeito e carinhos, enfim, daquilo que, para muitos, representa uma relíquia, mas que não vale para os que estão alheios às coisas do passado da terra.
É de se perguntar se não haveria um meio de evitar a demolição do Regalito e, ao contrário, tentar conservá-lo e de o tratar, como realmente é uma das nossas preciosidades históricas.
Será que antes de lançar mão ao machado, não poderia estudar ou tentar a possibilidade de conservação. A verdade é que se, por um exemplo, no Rio, que comemora agora os seus quatrocentos anos, pensassem como aqui, o que teriam para testemunhar a sua história? E nós se continuarmos pensando apenas no interesse material e desprezarmos tudo aquilo que se vincula à nossa terra, de ontem e de hoje, que teremos como testemunho da história, quando festejarmos o centenário da cidade?
Em tempo: a conservação do Regalito, cuja preservação bem poderia ter sido objeto de preocupação da municipalidade ou de qualquer entidade que se interesse pelo zelo das coisas ligadas à história são-franciscana”.
Este artigo foi publicado na edição nº 176 do “SF” – O Jornal de São Francisco de 17 de janeiro de 1965 na coluna UMAS E OUTRAS que, infelizmente, não tem o nome do autor.
COMENTAMOS, AGORA
Além do Regalito, muitos prédios históricos da cidade foram demolidos, como o belíssimo sobrado na Granja Aliança em terras que o Cel. Oscar Caetano Gomes comprara de uma herança dividida do finado João Maynart, com Dr. Manoel Ferreira e Silvino erguido no outeiro que dominava a cidade e que tinha uma bela visão do rio São Francisco. Na lista pode ser relacionado o Mercado Municipal, belíssimo prédio que foi demolido dando lugar à construção do Cine Canoas que, hoje, nada representa. E mais: o interior da Igreja Matriz, com suas três naves e belíssimo altar talhado em madeira. A casa sede do Campo de Sementes da Secretaria de Agricultura, passado à Escola Caio Martins, também demolido – era um prédio com tanta história, cantada e contada pela mocidade de São Francisco em antológicas festas promovidas por João Pitanguy e dona Yolanda.
Para arrematar, bem no centro da cidade, um monumento que era do agrado de todos, sem mais ou menos (ou por perseguição política) foi demolido: o coreto.
Este retalho da história que pinçamos nos arquivos do “SF”, legado de Leonides Dourado, é parte de uma bela coleção que registra uma época. Tem mais, muito mais: fatos, gentes, conquistas, decepções, tudo que passou enquanto durou o SF. Até isso São Francisco perdeu, pois já estamos um ano sem a circulação de um jornal na cidade e que, lamentavelmente, ninguém reclama.



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