Repetindo Guimarães Rosa – porque propício – “Pão ou Pães é questão de Opiniães” sobre o caso da limpeza na orla do rio São Francisco entre o bar Recanto das Pedras e Praça dos Pescadores o que gerou uma multa ambiental para a Prefeitura.
Passando pelo local ouvi dois pescadores falando sobre o trabalho empreendido pela Prefeitura visando a limpeza da área com a preocupação voltada para três fatores preocupantes: o local tem servido como “moca” de viciados em drogas, encontros amorosos de menores e despejo de lixo.
Os dois pescadores falam o que veem, pois têm passagem diária pelo local indo para o seu trabalho. Presenciam o que falam e, mais, que têm medo quando chegam da pescaria à noite, pois as moitas servem de esconderijo para malfeitores. A iluminação da rua não penetra na área. Completam o que pensam: com a limpeza a orla ficou muito mais bonita, mais limpa e serve para as pessoas passearem. Um deles até sugeriu a colocação de bancos e quiosques para que as pessoas apreciem o rio e o por do sol. Na opinião deles a Prefeitura acertou com a medida, não aprovando a ação da Polícia Ambiental.
Logo depois passa um ciclista que depara com um carroceiro recolhendo a madeira seca cortada na orla. Sem mais nem menos, emitiu sua opinião: a polícia está certa, tem que multar mesmo. “Se fosse eu dobrava”. Alertado sobre a ocupação de “maconheiros” nas moitas, ele retrucou: “os maconheiros tão fumando é nas ruas da cidade…” E com ele não teve mais argumento, pois saiu pedalando e resmungando.
É uma questão para ser refletida, pois há questionamentos. Nelson Rodrigues escreveu que “Toda unanimidade é burra”. É verdade, mas isso não impede que as questões devam ser “medidas e pesadas” buscando, através do bom senso, o que é mais importante para sociedade. Sim, a sociedade, pois aqui somos seres urbanizados. Não fora assim a orla da cidade de Pirapora não poderia ser como é, ou seja, do Hotel Canoeiros até o quartel da Marinha não há nenhuma proteção vegetal da orla, apenas bares, calçadas e campos de lazer. Mas lá é lá; em São Francisco tudo é tão diferente, há uma vigilância ferrenha e um progresso entravado. Fazer o que?
Pelas fotografias inseridas nesta crônica demonstra-se dois fatos: um – a supressão de vegetais não alterou o conjunto, atingiu mais árvores secas, pequenos arbustos e capim. Dois – o estado de antes, trecho em que não foi feita a limpeza.
Percebe-se em algumas fotos a existência de uma trilha – precária, mas que vinha sendo usado por caminheiros demonstrando o interesse do público por uma área de lazer naquela área.
No mais, fica o registro, lembrando que a orla vai continuar abandonada, sem quaisquer melhorias e como depósito de lixo.
Em tempo: a ONG Preservar já está movimentando, com estudantes de algumas escolas, mais uma campanha “cata lixo” na orla. Uma vergonha para uma cidade que deveria ser civilizada. Isso ninguém denuncia e, sem dúvida, também é uma bruta agressão ao meio ambiente, ao rio.
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