NO CAMINHO DA SERRA

GEORGE GARDNER, naturalista inglês, em viagem empreendida pelo interior do Brasil no período de 1836 a 1841, narra em seu livro Viagem ao Interior do Brasil ter encontrado uma “velha branca com um filho, os quais atravessando a corrente” (rio Claro, afluente do rio Urucuia), “ficaram em nosso acampamento nas horas da tarde (…). Contou-me que ia a um lugar distante cinco dias de viagem, cumprir uma promessa a Santo Antônio”.Narra George, que depois do dia 12 de junho (1840) ele voltaria a se encontrar com a mulher, “já de volta do cumprimento da promessa”. Estava perdido e ela o indicou o caminho certo, de volta ao Espigão que o levaria ao Ribeirão de Areia (proximidades de Serra das Araras).
Cento e setenta e oito anos passaram-se depois daquele encontro, um marco para registrar que a romaria de Santo Antônio de Serra das Araras deve estar beirando o bicentenário. Se àquela época peregrinos já cortavam as desertas trilhas do sertão, muitas vezes a pé, pouco mudou no século XXI, quanto à demonstração de fé. Um exemplo é o de Dona Maria Pereira que repete a jornada de 3 dias de caminhada há mais de 26 anos, com a tradicional Missa celebrada às margens da Vereda D´Anta. Outros grupos também repetem, a cada ano, a jornada – muitos nem tanto no rigor religioso, mas mesclado com um tanto de divertimento.
Quanto à religiosidade, tem-se em conta o fervor dos fiéis que chegando à igreja de Santo Antônio, hoje Santuário, repetem o rito secular de dar três voltas em torno dela antes se postar diante do santo e render suas homenagens, rogando sua proteção. Não se perdeu a demonstração fervorosa. Contudo, a participação profana ganhou maior proporção com as melhorias empreendidas pelos administradores na Vila, oferecendo mais conforto aos romeiros. É festa e mais festa, grandes shows, vibrante comércio.
SÃO FRANCISCO perdeu uma grande oportunidade de incrementar o turismo no município, quando a vila de Serra das Araras pertencia ao município. Seria uma oportunidade, ao lado da manifestação religiosa, para explorar o turismo. A viagem à Serra seria, por si, um bom motivo: as trilhas, as veredas, as noites estreladas, as fogueiras, as modas de viola. Tudo foi perdido. Podia, e podem ainda, ter criado “O caminho de Serra das Araras”, revivendo a antiga trilha que partia do rio São Francisco e varava o sertão, atravessando belas veredas, em estradas de areia macia, um cenário com beleza especial. São Francisco não fez (e ainda não faz). Sagarana, município de Arinos, o faz a cada ano – O Caminho do Sertão: pelas Veredas de Guimarães Rosa, de Arinos ao Grande Sertão Veredas, Chapada Gaúcha, MG, passando por Serra das Araras. A 1ª jornada foi em 2014, quando registramos (jornal O BARRANQUEIRO) a participação da são-franciscana Mariana Cabral, fotógrafa e designer gráfico; ano passado (4ª jornada), registramos no Portal Veredas a participação deoutro são-franciscano – Vilmar Arruda!
O nosso problema e não ousar.