Se o universo surgiu do caos, é possível que possa, também, nascer um novo Brasil depois do caos criado por políticos e empresários desonestos, à espera da intervenção do demiurgo. Para culminar a efervescência, veio a paralisação dos caminhoneiros. Nesse cenário, que ninguém se iluda, ela não foi ato isolado. Por mais que doa, por mais que sofra o povo, passando por diversas privações, com muitos riscos, o movimento ainda encontrou apoio de uma grande parcela popular. É lógico, não se trata de simples apoio, diretamente aos caminhoneiros. O movimento foi como um tsunami, como uma onda avassaladora, que despertou a nação arrancando um grito de revolta ecoando de gargantas entaladas. Ninguém suportava mais tanta corrupção, tantos escândalos e, para o povo, uma pesada carga de impostos e elevação de preços, quase diário, de combustíveis. Parecia brincadeira, pesadelo do qual não se acordava.
Aí, neste cenário desastroso, a revolta do diesel foi o estopim, a motivação. É preciso ficar atento ao fato, pois existe antecedentes históricos, acontecimentos que levaram a humanidade a escrever uma nova história. No caso, em especial, há o registro de um dos maiores eventos da humanidade explodido no século XVIII, um evento que marcou uma nova era na história universal: a Revolução Francesa, quando o povo francês saiu de um estado de escravidão, levantou a bandeira da liberdade, sonhou com a fraternidade e a igualdade, pilares da democracia. Sabe-se que a indignação popular começou com um protesto contra o aumento do preço do pão. Conta-se que a guilhotinada Maria Antonieta, rainha da França, em um passeio pelas ruas de Paris, mirando o povo desgraçado, perguntou ao cocheiro qual era o motivo daquela situação. Ele respondeu que não havia pão para comer. A rainha emendou: “se não tem pão, que comam brioches”.
Quem leu a história da Revolução Francesa sabe bem qual foi o destino do rei Luís XVII, da rainha Maria Antonieta e a queda de toda a nobreza: teve início um novo capítulo na história da humanidade.
É lógico que o caso do diesel não chega a tanto, mas pode ser um estopim para levar a mudanças na história brasileira. Pode ser a longo ou curto prazo dependendo do andar da carruagem – e ela vai se arrastando, muito mal. Certo é que ninguém aguenta mais a situação a que governos submeteram o Brasil com tantos desmandos, em todos os níveis; tanta desigualdade, tanto sufoco.
No geral vai muito mal, mas nas Minas Gerais o que se tem não é nada animador. Um governo chega ao fim e não se contabiliza melhoria alguma, nada que alavancasse o desenvolvimento. Aqui em São Francisco – fora a promessa da ponte – sonho inatingível – nada chegou, pelo contrário, foi tirado.
Enfim, contente-se com o que escreveu Pietro Ubaldi: “a doença é condição de saúde, pois que excita a construção de todas as resistências orgânicas”. Se o Brasil está doente, a indignação popular advém da construção de uma resistência.
E para os políticos corruptos, outra lição de Pietro Ubaldi: “ninguém escapa às conseqüência de suas ações: o bem e o mal que se praticam é para si mesmo que são praticados”. Está, aí, a Lava Jato passando a limpo. Tomará que vá bem a fundo, pois ainda tem muita gente na mira.
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