IV - Parte
Nesta edição vamos fazer uma abordagem do Centro de Treinamento de Jovens Líderes Rurais de São Francisco – hoje Centro Educacional da FUCAM – no período de 1960 a 1978.
No mês de março de 1960 eu deixei, muito contrariado, o Núcleo do Urucuia, onde coordenava o setor agrícola e, de acordo com a necessidade, servia como motorista do jipe e do caminhão da escola, pois nenhum motorista profissional suportou manter moradia naquele sertão inóspito, com sua família. Tinha mais, de quando em quando eu cumpria missão cadastrando os colonos da imensa fazenda entregue aos cuidados do Núcleo pelo Estado, mais de 12 mil alqueires. Depois dessa atividade continuei viajando pelo sertão de São Romão que, à época, fazia divisa com Goiás, começando pelas barrancas do rio São Francisco. Burros, mulas e cavalos, formavam o plantel que usei na jornada de cavaleiro pelo sertão, às vezes acompanhado por um guia, às vezes escoteiro. Tomei gosto pelo sertão urucuiano: de vereda a vereda, dos gerais aos vãos, córregos e rios; cachoeiras e boqueirões. Que mundo fantástico.
Por decisão, intransigente, do cel. Almeida, tive que deixar o Urucuia para substituir o cel. Oscar Caetano Gomes na direção do CTJLR de São Francisco. Morri saudades.
Em São Francisco, sem termo de volta, abracei a missão de jovens diretor com apenas 20 anos, tendo alunos mais velhos que eu. Cel. Almeida era mesmo visionário, enxergava longe, acreditava em seus meninos. Organizada a escola aos moldes do que aprendera em Esmeraldas e no Urucuia – com Audálio e João Pitanguy e, em especial, com os urucuianos com sua sabedoria empírica, comecei o trabalho. Foquei primeiramente os funcionários e alunos. O Centro tinha um corpo de funcionários muito especial e dedicado: João Calonge (serralheiro, motorista, mecânico) e Dona Helena (costureira) como chefe de lar; João Rego (sapateiro e regente do coral que criei) e dona Helena, como chefe de lar; seu Zé Francisco (pedreiro), chefe de lar; Nadir, secretária (servidora da Secretaria de Estado da Agricultura; Zé Domingos, encarregado do corpo de 12 servidores da Secretaria de Estado da Agricultura – do antigo Campo de Sementes. Na área da educação, duas salas – escola combinada, em princípio, com Juracy Sá e Silvano Rodrigues Pereira e, no ano seguinte, mais duas salas com Maria Vilma (com quem me casaria em 61) e Dirceu Lelis de Moura. Para as oficinas chegaram João Canaro, marcenaria, e Raimundo Buzo, construções rurais. Na parte artística, João Canaro cuidava da parte musical (violão) nos grêmios, logo com dois companheiros – Dirceu e Silvano. Na parte agrícola, teve papel destacado o professor Silvano, cuidando da horta e da pomicultura, no que eu ajudava com os enxertos – formamos um grande pomar. A Escola produzia hortaliça em abundância – atendia ao consumo interno, venda na praça, fornecimento para o hospital e lar dos idosos. Da serralheria saíam encomendas e mais encomendas de basculantes e portas – muitas casas da cidade têm sua marca, inclusive o Seminário. Igualmente era a produção da olaria – tijolos e telhas francesas em grande quantidade. Do setor de costura e bordados, anualmente era realizada uma feira para vender os produtos dos trabalhos das alunas – lindas peças. Os trabalhos delas eram bonitos, bem feitos, chamavam a atenção e isso foi atestado pelo padre Francisco, então pároco da Paróquia de São José: em suas viagens de desobrigas pelo meio rural, ele ligava o alto-falante de seu DKV Vemaguete Candango tocando músicas do coral de nossos alunos. Visitando as casas ele dizia saber onde tinha alunas que estudaram na Caio Martins – as mesas e potes forrados com lindas toalhas e guardanapos e tudo muito asseado.
A filosofia de Caio Martins se aplicava: “transformar o meio através da criança”.
Texto e Fotos: João Naves de Melo
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