sábado, 10 de fevereiro de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS

João Naves de Melo
JOÃO PRÓBIO II
João Próbio viveu bom tempo em Juazeiro, onde estudou até o 4º ano, recebendo lições de sua mãe, que era professora, pois escola só existia o Seminário de Crato – só para quem quisesse ser padre. Não era a vocação do Próbio, que a respeito versejou:
“A vida de padre é boa
Pra se ganhar a salvação,
Mas também é muito fácil
De fazer perdição.
Afastar de uma mulher bonita
Não é fácil não”.
E, depois, ele completa:
“Eu tenho em minha pessoa
uma grande vocação:
pra tudo estou pronto
menos para sujeição,
mesmo por este motivo
eu nunca tive patrão”.
João Próbio ganhou o mundo. Viajou todo o Nordeste, mas em momento algum esqueceu sua terra e sobre isto dá uma grande lição:
A zona do Cariri,
que é meu berço natal,
a terra que me viu nascer,
o meu sublime ideal.
A Pátria chorapor nós,
o direito e natural.
O filho que fala mal da Pátria
que o viu nascer,
pouco liga se distante
um dia dela morrer.
Nascer e não ser patriota
não vale a pena viver.
São Francisco
João Próbio girou mundo e um dia chegou a São Francisco. É uma maravilha a imagem poética do encontro, chega dar inveja:
Chegou o nosso vapor,
saltei pra comprar cigarro
e a minha vista se alegrou:
parece que aquela terra
a minha alma cativou.
Ali na beira do rio
eu vi uma coisa boa:
era cinco da manhã,
quando chegavam as canoas,
três pescadores tocavam búzio
e outros cantavam loas.
Os pescadores cantavam versos
que desde menino eu conheci.
Minha mãe cantava muito
aquela mesma melodia.
Com o cantar dos pescadores
a minha alma sorria.
Meu pensamento virou.
De tudo quanto eu pensava
Ficou só naquela terra
que há pouco tempo eu chegava
e logo eu percebi
que os meus olhos choravam.
Quando o vapor apitou,
na hora de viajar,
minha consciência pesou,
mas eu não podia parar.
Fui obrigado a seguir,
era impossível ficar.
O vapor seguiu comigo,
mas eu não ia no vapor
porque cá no São Francisco
meu espírito ficou,
ouvindo aquela musiquinha
da canção do pescador.
Isto já faz muito tempo,
mas não há nada que me esqueça.
É difícil de se acreditar,
mas por incrível que pareça
eu fui embora levando
o São Francisco na cabeça.

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