sábado, 3 de fevereiro de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS

João Naves de Melo
A VIDA DE JOÃO PRÓBIO POR JOÃO CEARENSE
A vida é como se vive. Guimarães Rosa, em Grande Sertão: Veredas, dizia que “viver é perigoso”. Certamente o disse porque retratava a saga de jagunços. Tivesse conhecido e visitado João Próbio, como fizemos, eu e o dr. Elmiro, nesses dias, poderia ter lapidado mais uma frase: A vida é uma alegria. Foi assim que encontramos João Próbio, um ancião que, com seus 94 anos, nos aguardava na varanda da casa de um filho, relendo sua vida em versos – que ele escreveu, com os próprios punhos, em letras grandes e legíveis – ultimamente com as duas mãos – para nos contar.
Lúcido, lendo com facilidade – algumas vezes sem óculos -, ele transformava seus versos em música, com sua voz cantada de nordestino. A sua audição, bem deficiente, exigia a ajuda do filho para nossa conversação por algum tempo (que não vimos passar), tomando café e saboreando deliciosos pães-de-queijo da casa. Foi uma lição. Ali estava um homem quase centenário a falar das coisas da vida, com a maior alegria, dizendo com uma certeza profunda que ainda vai escrever muitos versos no ano 2000 – o que faz nos tempos da política e para jovens estudantes que sempre o procuram.
O que conversamos daria para escrever muitos artigos. Fomos obrigados a resumir, viajando a princípio em seus versos, um achado de pureza, carregado de muita sensibilidade, como se cantasse, docemente, a saudade guardada na alma.
Origem
Eu me chamo João da Penha.
O Próbio era meu paizinho.
Morava em Juazeiro
na terra de meu padrinho
Cícero Romão Batista
que se dizia santinho.
Eu nasci em uma fazenda
por nome de Umbuzeiro
num dia de terça-feira
a vinte e quatro de janeiro,
sendo que daquele casal
eu fui o filho primeiro.
Esse nome de Penha
nasceu de minha madrinha,
pois é nossa Senhora da Penha
que é a madrinha minha,
a padroeira do Crato,
cidade nossa vizinha.

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