sábado, 12 de julho de 2025

A VENDA


Não há de se condenar o progresso com tantas maravilhas tecnológicas e facilidades à disposição dos cidadãos, mas a recordação de certas facetas do modo de vida passado suscitam saudades e comparações. Ele nos possibilita compreender as complexidades presentes nos indivíduos, é necessário levar em consideração as experiências vividas durante a infância e a dinâmica das relações estabelecidas nesse período. Os tempos modernos são outras. Grande parte da população são-franciscana não tem nenhuma relação com o passado, não viveu a fase telúrica quando tudo estava preso à terra e aos costumes, e os meios de comunicação não iam além da interlocução verbal, dos recados; quando as pessoas tinham uma vida comum, viviam mais o convívio comunitário. Então, às vezes, bate saudade revivendo cenários bucólicos e um deles – o que muita gente jovem não conheceu – é o do comércio. Não o comércio como hoje é conhecido com mercearias e shoppings com tudo disposto em gândolas às mãos dos compradores. Não, revivo a venda.  

A história das vendas começa com o comércio primitivo, onde a troca de bens e serviços era feita sem o uso de uma moeda. Este sistema de escambo era simples: as pessoas trocavam o que tinham pelo que precisavam. Era uma época em que as vendas dependiam fortemente das relações pessoais e da confiança mútua. Era tão comum em São Francisco lá pelas décadas de idas até 1960 o roceiro trazer no bocapil e balaios certa quantidade de fava, feijão-catador, mamona para trocar por sal, querosene, cibazol. Era o escambo que produziu historietas no anedotário da cidade como bem narrava Zé Pequeno do Angical com seus formidáveis contos. Lembro-me, de pequeno, de uma venda em Patrocínio, onde passei parte da minha infância: era a venda de Antônio Alonso ou Antônio da Marieta, que fica enfrente a casa de minha mãe. Eu admirava encantado o balcão de madeira lisa, com uma moeda pregada (de cem réis) que separava o freguês do dono. Ele tinha diversos compartimentos sempre suprimidos com arroz, feijão, açúcar, café em grão, farinha de milho, macarrão, trigo, fubá e, noutro espaço, o toucinho e o sal. E ainda tinha a groselha, o conhaque e até o biotònico Foutoura.  Uma balança com os pesos de cobre de quilos e gramas, Filizola com duas bandejas grandes para pesar a mercadoria acondicionadas em sacos de papel (não existia o plástico). Ali estava, tudo à vista do freguês, que sempre chegava sem pressa, pricipiando tudo com um bocado de conversa com notícias da cidade, do campo. Que tempo!


Em São Francisco, na década de 1960 ainda encontrei na rua Direita, então forrada de areia e margeada de casas simples, caídas umas e outras com pintura singeleza, dando tudo impressão de contos de fada. Como era alegre, festiva e vibrante aquela rua, com a molecada, todas as tardes jogando futebol com bola de pano. Bem, o assunto hoje é a venda. Então, nela encontramos as vendas tão famosas e ponto de encontros de Seu Santo, Bolivar e Chico Preto – nelas de um pouco a quase tudo do costume da época era encontrado. Dela indo à avenida Olegário Maciel encontrávamos o comércio de Edson Gomes da Mata que tem histórias e mais histórias. Fica para outra crônica.

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