João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore
Terceira parte
Têm destaque na cultura são-franciscana os autos, folguedos e atos devocionais que marcaram época e são revividos em tempos atuais.
REI-DOS-TEIMEROSOS OU REIS DOS CACETES – um grupo de homens, geralmente em número de 12, podendo ser mais, vestidos de marinheiros, dançam no salão ou terreiro, portando cacetes (bastões de madeira com um metro de cumprimento) que são batidos no chão ou uns contra os outros, no ritmo da música, enquanto cantam. O folguedo remete-se à luta de cristão contra mouros nas praias nordestina. Os cacetes sugerem o uso das espadas. Foi introduzido em São Francisco pelo folião Adão Barbeiro. O seu grupo, após sua morte, ainda se mantém atuante. O desenvolvimento do folguedo se dá em quatro partes: o canto de entrada; segundo canto uma glosa divertida; o terceiro canto de roda e o quarto canto de saída. Um verso do canto de entrada: “Nós, pastores/ Boas novas viemos dar/ Que Jesus recém-nascido; Que Jesus recém-nascido/ Veio ao mundo nos salvar”.
SÃO GONÇALO – terno que pode ser apresentado em qualquer época, geralmente pagando promessas. Dança-se em terreiros em frente a um pequeno altar onde é colocada a imagem de São Gonçalo. São duas alas formadas só de mulheres, vestidas de branco, tendo à frente três homens: dois guias e o mestre. As mulheres, todas de branca empunham arcos enfeitados, de duas a duas com os quais fazem belíssimas coreografias. Famoso foi o grupo de João Pomba Triste e Badé. A festa de São Gonçalo veio para o Brasil, vindo de Portugal através dos fiéis do santo de Amarante.
CARNEIRO – é uma vibrante dança de terreiro, originada do batuque. O ritmo da dança é marcado por caixas. No terreiro dançam homens e mulheres, que, rodopiando, tocam costas contra costas imitando a pancada do carneiro quando briga. Tempos atrás a dança era conhecida como umbigada, que foi proibida por padres considerando-a sensual: os pares, no ritmo das caixas, encontravam-se na roda dando umbigadas, isto é, batendo barriga contra barriga. Então, os dançadores, no lugar da umbigada, passaram dar o toque, homem na mulher, com as costas.
FOLIA DE REIS – um folguedo de cunho devocional da maior importância. De dia 1º a 6 de janeiro, um grupo de homens (foliões) empunhando violas, violões, rabecas, caixas, reco-reco, balainho e outros instrumentos, saem, durante à noite, visitando casa por casa saudando o Deus-Menino no presépio. Depois da saudação, para agradecer as dádivas (esmola ou comida) dançam o quatro e lundu.
Os ternos ainda homenageiam São Sebastião, São João, Bom Jesus da Lapa, Senhora da Aparecida. Em São Francisco existem mais de cem ternos de foliões. Destaca-se a memória de Adão Barbeiro, que foi reconhecido além, fronteiras constando de diversas pesquisas folclóricas – televisão, jornais e livros.
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