sábado, 1 de fevereiro de 2025

A QUIXABEIRA

 


São Francisco tem um monumento histórico que passa desapercebido aos olhos da população, que é de se lamentar pela falta de interesse em conhecer a história do município, de seus bens culturais, materiais e imateriais. Trata-se, neste caso, da centenária Quixabeira localizada na região do cais, em um espaço ao lado da Biblioteca Pública Geraldo Ribas. As quixabeiras encontradas na beira do rio foram objetos de descrição do cientista viajante inglês Richard Burton, que por aqui passou em 1867. São Francisco era, ainda, Vila de São José das Pedras dos Angicos (Viagem de canoa de Sabará ao oceano Atlântico): “Na margem do rio e na povoação, veem-se várias quixabeiras, belas árvores, muito copadas, cujas flores aromáticas e cuja sombra perfumada atraem multidão de abelhas”. A quixabeira remanescente, por milagre salvou-se da extinção quando da construção do dique, pois das outras noticiadas por Richard Burton nem sinal restou. Ligada ao folclore, a quixabeira,  talvez esta mesma, é cenário de uma bela lenda indígena relatada no livro de Brasiliano Braz, São Francisco no Caminho da História. Muito bonita e apaixonante história que reúne figuras de índios, índias, a bela Iara e um surubim de cabelo. Faz parte do acervo cultural são-franciscano.

Em São Francisco o patrimônio histórico não é valorizado podendo, no caso, relacionar a demolição da histórica sede da União Operária, de dois sobradões famosos, do coreto; a falta de registro da “Estrada Baianeira” e tantos outros itens. Para que não se digam que são coisas de somenos importância, o que aliás é comum no trato do assunto, registra-se a iniciativa, muita oportuna e inteligente, de um prefeito da Chapada Gaúcha, que tirou proveito da história de Antônio Dó (mais que São Francisco, palco maior de sua saga) mandando construir um túmulo com a inscrição: “Aqui jaz o famoso bandoleiro Antônio Dó”. Notícia colhida pelo jornal O Barranqueiro, anos atrás, dá conta da visita da poetisa Adélia Prado passando por São Francisco, acompanhando um escritor peruano, pedindo informações de como chegar-se ao monumento de Antônio Dó. Tem repercussão sim, além-fronteiras. 

Homenageando nossa centenária e ainda tão bela Quixabeira, publicamos um belo poema da  poetisa, barranqueira de coração, Marina Naves, cantando o nosso rio e dando uma dica romântica do motivo da longevidade da nossa Quixabeira.


O RIO


As lágrimas regam a quixabeira

que ainda resiste chã, centenária,

c'oas raízes fincadas na ribanceira

de uma terra outrora viva, lendária.


O rio, ao seu lado, chora a secura

 que quando pequena fui julguei ser

 impossível, sonho ruim, loucura!

Chora o rio, eu rio longe — esquecer!


Como esquecer? Essas águas fizeram,

moldaram a minha alma. Sou seus flancos,

seus bancos de areia que fundos geram

mistérios, dores, trancos&barrancos.


Como não me lembrar da mansa luz

que o sol jorra sobre suas correntes?

Um reflexo de sonho que reluz

naquelas águas — espelhos — valentes?


Com suas cores dóceis aprendi

a amar o mundo. Seu encontro co'aurora

me ensinou, co'a força da sucuri,

a amar a vida de hoje, ontem — de outrora.


Ai! Se eu pudesse, meu sangue eu daria,

para regar teu leito fraco e triste!

O que me resta apenas, em agonia,

é chorar por ti, como quem ainda persiste

(em manter sempre viva a quixabeira).

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