“Meu caro Embaixador, reporto-me à sua passagem, com a inesquecível “Barca da Cultura” por São Francisco e nossos entendimentos, então. Estamos firmes no propósito da construção da Casa da Cultura, um centro sociocultural para a mocidade despertada e para o espírito e a inteligência de todos, velhos e moços.(Descreve-se o projeto). O ilustre amigo, com sua cultura e vivência, poderá reexaminá-lo, reformulá-lo, podá-lo ou ampliá-lo dentro do contexto que se segue: a cidade tem 8.000 habitantes, (apenas a metade participa economicamente), 2.800 escolas, está em expansão (7.000 em 1970), o meio é pobre, o município tem 8.141 km2, 62.000 habitantes. A mão de obra disponível é barata, porém inferior, o material grosso é barato, mas o de acabamento é difícil e importado.
Desnecessário dizer sobre o êxito da “BARCA DA CULTURA”. Você viu? Foram momentos de encantamento e o meu povo estava à altura. Lembra-se? Será um fenômeno fisiológico (?): o povo não entendia aquela música divina de Villa Lobos e nem o balet maravilhoso que lhe ofereceu Décio Otero, mas naquela arte por ser intrinsicamente bela e autenticamente boa penetrava na alma e no corpo de cada assistente e ele podia sentir e deleitar-se.
Neste desconhecido, pobre e distante município, nada, até então, merecera unanimidade. O povo é, por natureza e contingência histórica, desconfiado, polêmico e conflitante. A BARCA DA CULTURA venceu todas as barreiras: econômicas, políticas, históricas, sociais, étnicas e conquistou todo mundo e desmoralizou o axioma muito respeitado por aqui: o que é de graça, não presta. Foi de graça (e engraçado também, em certos momentos) e foi JOIA, como amanheceram dizendo as crianças no dia após”.
DETALHE HISTÓRICO: Lendo a carta do prefeito OCJ, em determinados aspectos, é possível estabelecer uma comparação do município de São Francisco de 1974 com o atual. Os índices são outros: população, crescimento e melhoramento urbano, saúde, etc. etc., mas na cultura ainda engatinha-se, conquanto tenha um imenso potencial, uma mina a ser explorada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário