sábado, 25 de janeiro de 2025

SOCIEDADE PARTICIPATIVA

 


Um fato interessante vem ocorrendo em São Francisco,  que deve ser considerado e aproveitado pela Administração Municipal: o ativamento de setores da comunidade no desenvolvimento de ações sociais, culturais e de turismo de forma voluntária. O impulso pode ser, alguns, oriundo de incentivo das leis Paulo Gustavo e Aldir Blanc. A iniciativa, contudo, representa a preocupação dos envolvidos em realizar movimentos em prol da coletividade não almejando benefícios próprios em face do valor concedido.

Grupos, coletivos e ação individual dos envolvidos: 

IDENTIDADE BARRANQUEIRA – conectando raízes e culturas, tem à frente Carla Duarte com o propósito, através da parcela contributiva entre os segmentos privado e público, de melhor aproveitar as potencialidades do município – o rio, a gastronomia, o pôr do sol, a musicalidade, os povos da região com suas artes  e peculiaridades, a fim de promover ofertas turísticas culturais. Está em plena atividade.

COLETIVO SALA DE CINEMAS, CINEMAS DE RUA E ITINERANTES idealizado por Elivelton Ferreira Tomaz. Um passo dado foi a criação da empresa Cine Canoas com uma resposta imediata: a capitação de verba para reforma do prédio do cinema, até então abandonado. A reforma está em andamento.

FAMÍLIA NUNES CAETANO: a iniciativa da reforma da Igreja São Félix uma antiga aspiração dos são-franciscanos ligados à valorização e preservação do patrimônio histórico da cidade. Teve a iniciativa de procurar uma empresa especializada, que elaborou o projeto da recuperação e conseguiu a liberação de recursos através da Plataforma Semente do Ministério Público.  A igrejinha está sendo reformada.

PRESERVAR: está trabalhando junto ao prefeito Miguel Paulo no sentido de criar a Casa da Cultura, misto com museu, em São Francisco. O processo está adiantado, com o prefeito garantido o prédio (antiga cadeia) para a instalação da Casa. Outro passo da ONG é a regulamentação da Lei que dispõe sobre o Perímetro Urbano Histórico da cidade, que é de interesse coletivo.


Iniciativas na área da cultura e da difusão:


PROFESSOR ROBERTO MENDES RAMOS com o documentário “Muitas Memórias, outras Histórias”, buscando no seio da sociedade fatos diversos que narram a história de São Francisco e a sua riqueza cultural. Um registro que se torna histórico de valorização da cultura do município.

FERNANDO ARAÚJO produziu o documentário Legado de Nego de Venança, um tributo ao trabalho de artesãos e foliões do município que já se perdia nas brumas do tempo. Falando-se sobre Nego de Venança, figura que tem repercussão além-fronteiras, o documentário faz o registro de uma era que o tempo vai consumindo.

GLEISSON RODRIGUES  com o PODCAST SÃO XICO TV com seu trabalho difunde fatos que ocorrem na cidade, faz um registro histórico e destaca nossa cultura, um trabalho muito eficiente, que mereceu o comentário abalizado de Dirceu Lelis de Moura, que fez história em São Francisco como redator do Jornal SF, professor, secretário do Lions Club e violonista a respeito de uma entrevista que acompanhou pelo Podcast: “Elogios para o entrevistador, o qual acredito, está ao nível,  dos melhores entrevistadores da TV brasileira”. Sem dúvida.

FRANCISCO D'ÁVILA DE SOUZA SOARES (arquiteto filho do Dr. Francisco e Jandira), que recentemente chegou a São Francisco e tem se entregado, de corpo de alma a atividades comunitárias, em um especial através do Preservar. 

AVENIDA OSCAR CAETANO


 A postagem sobre a avenida Presidente Juscelino suscitou as reminiscências de um antigo, e ainda menino, morador da avenida Oscar Caetano Gomes. De Salvador, onde é professor na Universidade do Estado da Bahia, André Guedes, a respeito daquela postagem na edição anterior do Portal, comentou: “Ótimo texto. Nele me fez lembrar desde a minha infância, o quanto a principal avenida da cidade vem se transformando. Esses dias estava refletindo sobre as transformações de São Francisco e o quanto a avenida Oscar Caetano, antiga avenida João Pinheiro, onde morei com meus pais. Como se transformou, antes era do Asilo até a "nova" Escola Estadual Mestra Hercília, onde estudei, e hoje, já não sei nem mais onde ela termina. Sei que onde tinha muito mato/pasto, está urbanizado. Fato que está se transformando também em uma avenida comercial, creio que a segunda maior depois da Presidente Juscelino”.

De fato, a avenida Oscar Caetano Gomes tem história. Quando antiga avenida João Pinheiro, até 1977, até aos meados do governo Oscar Caetano Júnior, tinha o piso de terra e areia, onde a gurizada jogava animadas peladinhas: Ricardo, Eduardo, Ricardo Soares, Jarbinhas, Valmir, Marcinho e outros. Destacadas famílias residiam no trecho mais central dela: Sebastião Jarbas Soares-Rosalice; João Naves-Vilma; José Bispo de Oliveira; Su Almeida/Calu; Edson Suzart/ Ernestina; José Guedes/Maria; Júlio/Isabela, Vicente Vieira/Percelina; Élcio Gangana Ferraz/Irene; Pedro Mameluque Mota-Glorinha; Rosa Profeta; Lucas Nascimento/Parcelina; Hélvécio Mendes Peron-Letícia (e a padaria); João Florentino; Belarmino; João Botelho Neto/Aurinha, Joaquim Cesário/Zilda; Adálio Cardoso; Valquir Cunha/Zilda; José de Oliveira/Maria; José Aguiar/Cecília.  Destaque comercial: Posto de gasolina Aliança, Serraria Bandeirante de Adão Nascimento (depois de Vicente, acrescentando-se marcenaria), Padaria de Helvécio Mendes, sede da COTESF (Companhia Telefônica de São Francisco). Depois da avenida Dom Pedro de Alcântara era pouca habitada como acentuou André.

Passaram-se os anos. Grandes mudanças depois de 1977 quando ela passou a ser denominada Oscar Caetano Gomes com percurso do prédio do Lar dos Idos São Francisco de Assis, na avenida Odorico Mesquita indo além do Parque de Exposições Vale do São Francisco no bairro São Lucas, ultrapassando o bairro Santo Antônio. A segunda avenida da cidade em extensão, perdendo apenas para a avenida Brasília de Minas com um comércio muito diversificado, três clínicas médicas, duas agências funerárias, uma fisiocultura, uma agência bancária (CEF), dois postos de gasolina, um supermercado, uma gráfica, uma distribuidora de cachaça (Zé da Pinga). Novas e belas residência praticamente em quase toda a sua extensão.

COPASA EM DOIS MOMENTOS



 Os moradores de São Francisco, em eras anteriores à implantação do serviço da Copasa na captação, tratamento e distribuição de água, têm como aquilatar  dois tempos desta empresa no município – o antes e o atual. No antes a captação da água do rio e distribuição para alguns setores da cidade, eram feitas pelo DNOCS. Muito precária, com tubulação ocasionalmente dando problemas, interrompendo a distribuição da água e, o pior, sem tratamento. Na época das cheias do rio, a água que chegava (quando chegava) aos lares era o puro barro. Chegou a Copasa e tudo mudou. Um eficiente trabalho de captação e distribuição de água de qualidade em qualquer tempo. São Francisco tem, no caso, um sistema de ponta na captação, tratamento e distribuição de água em toda a cidade.

Outra prestação de serviço da Copasa está aquém:  a captação e tratamento de esgoto doméstico, com três problemas consideráveis. O primeiro, o valor da taxa de captação, quase equivalente ao valor da água o que dificulta o acesso a ele por pessoas de baixa renda. Segundo: o sistema de tratamento do esgoto, arcaico e inferior ao de cidades vizinhas, caso já debatido exaustivamente na Câmara Municipal sem qualquer resultado. Terceiro: as valetas abertas para ligação de esgoto, o que ocorre, em certas ocasiões, até mesmo em trechos de pavimentação asfáltica recente, fato que suscita comentários da população: “concluido o asfalto, pode esperar que a Copasa chega”. Então, em vias públicas da cidade, onde a Copasa operou, vê-se vestígio de sua atuação: os buracos, recapeamento mal feito do asfalto.

Por fim, dois pontos negativos que requerem urgentes providências – por parte da Copasa e da Prefeitura como agente fiscalizador. Um: a demora de concluir certas intervenções nas redes – de água ou esgoto nas ruas da cidade. Um caso recente se verifica na avenida Brasiliano Braz onde, há mais de um mês, um cavalete com uma observação: “Estamos trabalhando para você”. Tanto tempo decorrido sem concluir o serviço  que já cresce o mato no entulho acumulado. Outro: o escapamento de água de esgoto, também na avenida Brasiliano Braz. Um caso grave que incorre em prejuízo da saúde dos moradores, incômodo do mal cheiro e causa de acidentes como recentemente ocorrido com uma professora, que escorrendo no lodo à entrada de sua residência, caiu e fraturou o braço. Em certos países o fato geraria ação indenizatória. 

No primeiro caso, parabéns para a Copasa e seus eficientes servidores. No segundo, um alerta para a mesma empresa e a Prefeitura: providências devem ser tomadas, estamos no século XXI. 

sábado, 18 de janeiro de 2025

A AVENIDA

 

Tenham um olhar especial para a avenida Presidente Juscelino. Não é ela meramente uma via urbana, ela tem alma, pois nela encontramos o desfile de homens, mulheres e crianças, que teceram a história de São Francisco. Numa volta aos anos de 1960, partindo do bosque de eucaliptos da Escola Caio Martins, no extremo Norte, chegava-se ao recém-inaugurado Mercado Municipal no extremo Sul. Foi no ano que os bloquetes do governo Tomi cobriram o leito de areia dela, uma novidade e tanto e muito bem recebida,  uma existência até o ano passado quando da cobertura asfáltica. Então, em suas abas, via-se lindíssima alameda formada por belas árvores, que na Primavera tinham as copas viridentes cobertas por flores multicoloridas: vermelhas, amarelas, alaranjadas – os belos flamboyants, por onde desfilou em carro aberto uma missa Minas Gerais, cujo retrato o fotógrafo José Aguiar entregou, em mãos, ao Presidente Juscelino, falando-lhe da homenagem que lhe prestara o povo são-franciscano. Não eram tantas as casas, destacando: serraria de José Godoy, no extremo Norte, casas do delegado Orlando Albernaz, “seu” Tó, família Cunha, Floriano Mendonça, Chiquinho Mendonça, família Generoso, rodoviária da jardineira, comércio de Fulô Mendonça, praça Oscar Caetano Gomes com o formoso coreto, cine Canoas, na esquina da avenida com a Silva Jardim, de um lado a Escolinha do Bom Menino e o comércio de Zé Martins; do outro lado o comércio de Sady Maynart e a grande loja de seu Jovem Figueiredo, casa do agente da Navegação, seu Massu e, lá no extremo dela, o Ginásio São Francisco e o Mercado Municipal. Tão bucólica.

Século XXI, a Presidente Juscelino foi literalmente transformada. Quantas e belas casas; pista asfaltada, iluminação pública especial, e uma intensa movimentação, o coração da cidade pulsando intensamente. A nossa bulevar, é claro, no sentido de gostar ou então, como gostava de dizer o padre Germano, nossa Via Ápia, só para recordar como o  padre Germano admirava a língua italiana. Tão bela que chama à contemplação. As belas e copadas árvores por extensão das duas abas, quase se encontrando no ato, deixando apenas uma nesga de espaço à contemplação do céu majestoso e infinito de São Francisco e à entrada dos raios dourados do sol. Guardando-se em momento de contemplação, sente-se a  presença de Deus em suas criações: o homem e a natureza, é de deter em uma oração contrita de agradecimento por termos uma avenida tão formosa. Quão bela é a nossa avenida Presidente Juscelino! 

TENUTO

 

Bem me lembro, quão pequeno eu era, em noites caídas, acompanhando jornadas de foliões cumprido trechos nas poeirentas ruas da velha Patrocínio. Pouco compreendia do aparato, encantado com as roupas do palhaço (no Alto Parnaíba as folias tinham a figura do palhaço), as caixas e violas penduradas nas costas de homens ornados com alvas toalhas pintadas de flores e outras figuras. Ouvia, admirado, o canto de saudação ao Menino Jesus nos presépios de cada casa visitada – presépio que eu tanto apreciava por ter, de igual, um pequeno em minha casa, que de aquisição tinha somente as figuras do Menino Jesus, Maria, José e os Reis Magos – os bois, as ovelhas e os burrinhos eram arte minha e de meus amiguinhos, todos laborado de barro e sabugo de espiga de milho. Que mimoso era: o piso verde em volta da gruta era do musgo dos muros de adobe das ruas, de grande fartura na época das chuvas; as estradinhas e o piso da gruta eram feitos com areia branca buscada na serra, que orla a cidade (do carreado sempre sobrava um pouco que era vendido para a donas de casa arear panelas, dando-nos trocados para balas e picolés). Os foliões eram recebidos com alegria nas moradas. A bandeira de Santos Reis ia à frente passando sobre as cabeças dos moradores, visitando todos quartos e a cozinha. Os foliões, contritos, ajoelhavam-se e beijavam uma fita que vinha dos pés do Menino Jesus. Pediam bênçãos. Depois do leve ruflar das caixas, acordes de violões e de violas, e o choro suave da rabeca, ouvia-se o hino de saudação: “Deus vos salve casa santa/onde Deus fez a morada”... e narrando a história da chegada do Menino Jesus e a visita dos Três Reis Magos. Era tão harmonioso, tão suave e apaixonante. Um folião, talvez o guia, puxava uma estrofe com a narrativa, em coro os outros a repetiam  num belíssimo arranjo de vozes. Aí, o que mais chamava minha atenção, por ser de gosto e emocionante tanto, era o tenuto. Ficou no ouvido, gravou-se no coração.

Recentemente, do nascimento do Menino Jesus à Epifania, quedei-me na escuta de um terno de foliões saudando o Menino Jesus, trazendo a jornada dos Reis Magos, falando sobre a Estrela guia e o canto do Galo. Aí soou o emocionante tenuto em duas ou três vozes sobrepondo-se ao coro com notas acentuadas, continuadas e suavizadas. Menino, de repente, transformei-me e, confesso, chorei de tanta saudade da minha mãe Júlia e do meu pequeno presépio. 

Cresci, dobrei-me no tempo, mas voltei à minha infância no fulgor da adoração à lapinha onde, pulcro em seu berço, resplandece Jesus no eco do tenuto.

SOM AUTOMOTIVO

 Encerrando muitas discussões a respeito de uma polêmica que se arrastava, o prefeito Miguel Paulo sancionou a lei que autoriza a realização de eventos automotivos na cidade. Por anos esta questão vinha se arrastando tendo de um lado os aficionados deste lazer e, do outro, parte da população que não o via com bons olhos diante das consequências deletérias que, às vezes, dele decorriam. No caso, some-se a isto, o evento “Moto Churasco”.

A lei em comento, pôs fim à polêmica. Será permitida a realização do evento Som Automotivo, mas com algumas condicionantes, que serão determinadas pelo Codema quanto à questão ambiental. Não se trata de uma questão muito simples. Diante disto, o presidente do Codema, Giovanni Rene Costa convidou o promotor de Justiça Daniel Poligno Godoy e a Polícia Militar do Meio Ambiente, para tratar da regulamentação implementação da lei em reunião com os conselheiros da entidade. Assim, no dia 16, na sede da ONG, aconteceu a reunião, ocasião em que o promotor Daniel Poligno Godoy prelecionou a respeito de questões ambientais no município e as providências que está agendando no sentido de esclarecer e orientar produtores rurais sobre a convivência com o meio ambiente. Ainda mais, ele inteirando-se do trabalho do Codema, garantiu que estará sempre  atento a respeito de todas questões ambientais dando suporte ao trabalho do órgão. Justificadamente, não compareceu representante da Polícia Ambiental.

Enfim, o Codema, ouvindo representantes  dos interessados pelo Som Automotivo, estabeleceu, em princípio, alguns critérios para a realização dos eventos, o que será definido na semana que vem com uma norma Deliberativa. Contudo, ficou definido, em princípio, que o evento só poderá ocorrer no Parque de Exposições obedecendo o seguinte horário: início às 13h e término às 23 h, nos sábados e domingos. Definiu-se, também, a vedação do encontro moto-churrasco.

O presidente do Codema adiantou que quanto a questão da poluição sonora na cidade oriunda de propaganda ambulante e fixa em calçadas de estabelecimentos comerciais, o que tem sido objeto de muitas reclamações da população, o assunto está em tratativa com o prefeito Miguel Paulo visando estabelecer uma norma Deliberativa a respeito.

Uma nota especial: representantes do evento Automotivo informaram que o encontro vai além do momento de confraternização, pois a pretensão, ainda, é a de recolher fundos para desenvolver atos de solidariedade em benefício de obras sociais.  

sábado, 11 de janeiro de 2025

UM PRESENTE DO CÉU



 Sábado, 11 de janeiro o nível do São Francisco chega aos 7,30m. Um alívio depois de meses vendo-o tão minguado, com suas águas encurraladas por bancos de areia, com a travessia da lancha em uma distância não vista antes. Com suas barrancas ornadas de frondosas e verdejantes árvores, ainda que em grande extensão ela fora derrubada (com receio do rio, que ironia).

O rio está cheio e ainda sobe porque continua a chuva no alto São Francisco e região do Noroeste alimentando o Urucuia e o Paracatu. No cais vê-se, às tardes, muita gente   – homens, mulheres e crianças; jovens fazem peripécias em velozes jet ski com arrojadas manobras arrancando a admiração do público; chalanas e pequenos barcos a motor navegam serenamente apinhados de passageiros; ouve-se os comentários, sempre recordando as enchentes maiores, quando era possível, no cais, ficar com os pés dentro d´água, pescando com alguns garantindo ter tirado dourados das águas vermelhas. Sem dúvida, é uma festa Abençoado seja nosso rio.

Agora, cabe uma reflexão ou pergunta: por que da cheia tão bela? É evidente a resposta de primeira: deve-se à chuva, um presente do criador. Sem ela, como se via até a pouco tempo, nosso São Francisco para ser navegando, até mesmo por pequenas embarcações, preciso era procurar canais. Isto foi comprovado nos passeios da chalana do Dirceu que exigia conhecimento dos raríssimos canais. Então, indo anos atrás, lá pelas décadas de 1950 e 1960, ainda, via-se aportar no cais de São Francisco uma variedade de belos vapores – Benjamim Guimarães, Wenceslau Braz, São Francisco e de grandes batelões. Era pelo rio feito o transporte de passageiros e de cargas; era a ligação com o Nordeste e com Pirapora. Uma vida palpitante. E não dependia tanto da chuva, pois fartos de água eram o Das Velhas, Paracatu, Urucuia e Acari e, ainda, a montante, dezenas de pequenos cursos Guariba, Pajeú, Mocambo e Prata, no município de São Francisco. Atualmente, padecem de águas na seca o Urucuia e o Paracatu que, anos poucos atrás, era atravessado a pé; e o Acari que mal despeja em gotas, no São Francisco. Os outros, nem se fala, só correm água quando da temporada das chuvas, e muita. 

Pelas mãos dos homens, sem dúvida e comprovado, o rio padece, é de temporada.  Ele depende, então, exclusivamente, da graça do Criador. Quando será que nós homens faremos a nossa parte? Por enquanto, as notícias que chegam, com poucas exceções (barragens subterrâneas) são as piores e assustadoras sinalizando o fim...

Salve São Francisco, São Francisco!.




FESTA DE FORMATURA

 Joaquim Meira, criador do Grupo de Poetas de São Francisco, sempre atento 

aos acontecimentos em São Francisco, enviou ao Portal Veredas o relato 

da Festa de formatura da Jovem enfermeira Juliane Barbosa.



No dia 27 de dezembro de 2024, às 21 h, no Espaço Veloso, foi realizada uma belíssima festa de formatura do curso de enfermagem da jovem Juliane Barbosa, que estava esfuziante com brilho nos olhos de tanta felicidade por ter alcançada uma grande vitória. Foram cinco anos de estudos e muita dedicação na faculdade Funorte e estágio no Hospital das Clínicas Dr. Mário Ribeiro, Montes Claros.

Retornando a São Francisco, cidade de sua origem, recebeu muitas homenagens e uma brilhante festa  oferecida por seus familiares com a presença de muitos convidados   – parentes e amigos. Juliane agradeceu e  destacou o apoio de sua mãe Maria de Fátima e, em memória, seu saudoso pai João Domingo Barbosa, que a fez acreditar na força espiritual, na fé através  de seus ensinamentos.

Juliane Barbosa traz muito orgulho para sua família e conterrâneos, colocando-se na linha de frente pela saúde declarando que a realização do seu sonho de enfermeira não foi fácil em vista de sua condição financeira. Na oportunidade, ela agradeceu a Deus, depois a sua família pelo amor e dedicação. Estendeu agradecimentos às cozinheiras da festa e os condutores dos veículos que fizeram o transporte dos convidados para que a festa acontecesse. Destacou a presença de suas irmãs que vieram de longe – de outras cidades, estados e até mesmo dos EEUU.

Meira conclui: os convidados foram recebidos com chuva num clima agradável e um vento brando soprando no telhado. Tudo com as graças do alto.

Para encerrar o encontro, um animado baile.

A equipe do Portal Veredas cumprimenta Juliane e formula-lhe votos de muito sucesso na sua sagrada missão.

REFLEXÃO

 Os homens todos não são mais que a terra e cinzas.  – Eclesiástico


Colhendo, daqui e dali, impressões de amigos ou pelo que se vê na internet (veículo imediato de inundável de informações), o que se tem deixa-nos perplexos diante da velocidade dos acontecimentos, renovados a cada hora. Uma célere  evolução revolucionando costumes e ideias surpreendentemente. 

O mundo todo regurgita-se com constantes e surpreendentes transformações – umas aceitáveis e entendidas dada a evolução, outras de arrepiar os cabelos pela ousadia e despropósito.  No Brasil, o que vivemos mais de perto, as transformações são assustadoras levando de roldão princípios morais, sagrados, éticos e civismo numa onda devastadora, capitaneadas por áreas sociais e veículos de comunicação. E tudo, num piscar de olhos torna-se natural. Digladiam-se grupos na defesa de seus comportamentos e ideias, mas o viés é sempre para o pior graças ao poder dos veículos de comunicação, que se pauteiam no lucro financeiro em primeiro lugar. Com o campo minado, surgem falsos messias que encontram respaldo de poder pelo servilismo repetindo-se tristes capítulos da história da humanidade, quando tão poucos, no uso da força, dominavam sociedades inteiras – é o mal maior, pois tem o poder da força impositiva. Calam os Giordanos da atualidade em defesa de uma verdade própria, ainda que falsa. É de se lembrar, no entanto, o que Giordano falou à hora de sua execução na fogueira: “Aguardo a vossa sentença com menos receio que tendes ao pronunciá-la. Dia virá que todos hão de ver o que eu vejo”. Emenda-se com uma lição de Goethe apropriada para a ocasião: “Contra os excessivos predicados de uma criatura só há um meio: o amor; assim, contra as bactérias só há uma defesa: as bactérias”. É de se pensar a respeito como vislumbre de esperança quanto o desmoronamento da torre ou Bastilha que se impõe. 

São tantas as lições que se extrai da história da humanidade, estigmatizada por ações deletérias em prejuízo do povo, que levam à reflexão, que podem servir como um alerta à disposição de levantar bandeiras como tantas vezes o povo, na sua maioria das classes mais baixas, o fez... e venceu. São lições que tomadas podem servir como barreira à vitória do solipsismo tomado por alguns na atualidade. 

Para aqueles que locupletam da situação atual fica uma lição de Kardec: “É preciso ver o fim, pois pagarão bem caro essa felicidade passageira que não merecem, porque quanto mais tenham recebido, mais terão que retribuir”. Este dia chegará, é uma ação irreversível. 


sábado, 4 de janeiro de 2025

POR QUÊ PERDER TANTA ÁGUA?



 O regime das precipitações pluviométricas no município de São Francisco aponta para uma grande deficiência. Tempos idos a média era regular, ainda que muito baixa, por volta de 900mm/ano, atualmente não passa de 700mm. O que se observa nos últimos anos tem sido  que as precipitações estão sendo cada vez mais baixas e, o que é pior, de forma irregular, ou seja, chove-se muito em curto espaço de tempo e depois vem a estiagem, que se prolonga. Os efeitos são observados em todo o município: dezenas de veredas, córregos e riachos encontram-se  em fase de extinção. Houve, anos atrás, um trabalho bem ordenado pela Prefeitura Municipal através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, com o apoio do Codema e do Projeto João Botelho Neto focado nas questões hídricas do município. Foi uma fase interessante na recuperação de nascentes, construção de barraginhas e tanques, e proteção de veredas. Uma pena que este esforço tenha sido interrompido com enormes prejuízos para o município. Agora, algumas iniciativas sinalizam uma mudança deste cenário, com a volta da preocupação com o sistema hídrico. Uma prova são as construções de barraginhas subterrâneas através de recursos repassados pela Plataforma Semente do Ministério Público e por iniciativas da Caritas e do pároco Nery Segala na construção de pequenas e pontuais barraginhas no distrito de Santa Izabel de Minas. Anuncia-se que o prefeito Miguel Paulo fará  desdobramento das secretarias municipais, com a criação da secretaria de Recursos e Hídricos e Ações Comunitárias. É um bom sinal, pois através dela será possível retornar ao primitivo projeto Plantando Água. Com tal iniciativa é possível reter as águas pluviais para o uso imediato e para a reposição do lençol freático. Um caso, apenas como exemplo, é registrado nas fotografias desta edição: com  poucas horas de chuva na cidade formam-se torrentes de água escoando pelas ruas como um riacho, que se perde por não ter sido retido. E as inundações tão comuns na região da rua Silva Jardim, que transformam áreas do centro da cidade em verdadeiros lagos causando grandes prejuízos. São águas factíveis de serem represadas. É um pouco, mas some-se isto com os anos repetidos.   

POSSE COM MUITA EMOÇÃO

 


No dia primeiro do ano de 2025 o majestoso espaço da sede da OAB de São Francisco foi palco da cerimônia de posse do prefeito Miguel Paulo, vice-prefeito Raul Pereira e de 15 vereadores eleitos na recém eleição. Foi uma cerimônia marcante sob vários aspectos. Primeiro – há muito não se via uma concentração popular tão expressiva à uma solenidade posse e autoridades dos poderes executivo e legislativo. O enorme salão da sede da OAB estava literalmente lotado e, ainda, um expressivo público noutro espaço da mesma sede sob a cobertura de enorme tenda e com tela para reprodução do evento. Uma festa.

Inicialmente foram empossados os vereadores. A seguir, foram eleitos os membros da Mesa Diretora da Câmara, por aclamação, posto ter sido apresentada apenas uma chapa, que assim ficou constituída: Daniel Rocha, presidente reeleito; Ramiro, vice-presidente, Érica, secretária, em seu segundo mandato e José Adelson (Galã), segundo secretário (de volta à Casa).

Seguiu-se a posse de Miguel Paulo e Raul Pereira, muito aplaudidos.

O pastor Paulo Ely Chagas, presidente das Igrejas Assembleia de Deus  Missão Ministério de São Francisco e o dirigente de culto Elpídio da Fonseca Neto, invocaram a Providência Divina para conduzir os eleitos em sua missão em favor do povo de São Francisco.

Muitos foram os discursos. Primeiro o do presidente da Câmara, Daniel Rocha; depois o vice-prefeito Raul Pereira e por fim o prefeito Miguel Paulo, que foi vivamente aplaudido, inclusive por uma caravana da comunidade do Quebra, distrito do Morro. Miguel Paulo estava visivelmente emocionado expressando sua gratidão pela confiança nele depositado pelos eleitores, 79%  do colégio eleitoral. E não ficou apenas nisto. Miguel recebeu homenagens carinhosas de sua filha e Vitória Stéfane  e Silene, à frente de um grupo de moradores da comunidade do Quebra, que ofereceram-lhe buquês de flores. Um fala especial foi a do presidente da subseção da OAB, Révio Humberto Figueiredo Ribeiro que agradeceu, em nome de todos os advogados de São Francisco, aos vereadores e prefeito, pela doação do terreno onde foi construída a sede da entidade.

Por fim, em rápidas palavras, manifestaram todos os vereadores empossados sob aplausos do público. Os reeleitos: Chartier Fraga Nascimento, Daniel Fonseca Rocha, Géssica Braga de Almeida,  José Odilei Oliveira Ferreira, Ranulfo Ribeiro dos Santos Júnior, Rodrigo André Sá Teles da Silva e Walderiz Vieira Leitão. E estreantes na Casa: Antônio Fábio Vieira de Moura, Antônio Marcos Ferreira de Souza, Arlen Aparecido Durães de Aquino, Geraldo Silva Santos, Ivan Pereira dos Reis, José Adelson Ferreira Neves, José Adilson Ferreira da Silva e Ramiro Ferreira Lima. 

CULTURA EM EVIDÊNCIA

 


O professor Roberto Ramos Mendes apresentou, na segunda-feira 30, no auditório da EE Brasiliano Braz o documentário “Muitas memórias, outras histórias: a cultura e a história local” que os livros didáticos não contam, um projeto beneficiado pela Lei Paulo Gustavo. Sem dúvida, uma maneira muito auspiciosa para encerrar o ano de 2024 trazendo à tona vários aspectos da cultura são-franciscana através de depoimentos de pessoas que viveram vários momentos de sua história. Os convidados para o evento, o que certamente será levado ao público brevemente, tiveram a oportunidade de rever, e se ver, em  várias passagens do cotidiano são-franciscano, a partir da década de 1950: a aportagem de vapores no cais da cidade, encantando a população e fazendo a festa para meninada e feirantes na oferta de produtos da terra aos passageiros dos vapores: frutas, doces (especialmente de buriti e umbu), beiju, rapadura, queijo e até artesanato de pano e madeira. Depoimentos saudosos revivendo a beleza da procissão de Nossa Senhora dos Navegantes, com os mínimos detalhes e, falando-se em religião, foi evocada a beleza e riqueza interior da matriz de São José, então com três naves, com atenção maior para o belo altar que, acreditam ter sido vendido para um colecionador estrangeiro. Recordado como foi espantosa a enchente de 1979 com reminiscência a outras enchentes, porém menores. História contada, no documentário, por pessoas que viveram aqueles dias de intensa preocupação assistindo às águas do rio invadindo suas casas. Um cenário incomum, deslumbrante, mas, por outro lado aterrorizante. E teve, por vivência ativa, a lembrança das pastorinhas, com dona Gerinha cantando a música do terno por ocasião do Natal. Até as rodoviárias (ponto de embarque e desembarque das jardineiras que se arriscavam pelas estradas poeirentas e esburacadas para Montes Claros – a primeira na praça então Oscar Caetano Gomes (hoje Centenário) e a outra na avenida Presidente Juscelino no local onde tem o comércio Agroruas. Dona Lia (Maria Urânia) até mesmo descreveu como eram embarcadas as malas dos passageiros – no teto da jardineira cobertas com uma lona. Saudade brotada e tão lamentada, foi a história do coreto, local de retretas, escorregador da criançada e, principalmente, púlpito nas celebrações da procissão do Encontro (Jesus e Maria) – tantos depoimentos lamentando o absurdo que foi a destruição dele, que guardava tantas histórias. E dizer que São Francisco teve uma bela fonte luminosa na praça do Peixe-Vivo, hoje Heráclito Cunha Ortiga com história contadas das estripulias de crianças, com o Braz Parrela lembrando do dia que uma de suas filhas, ainda de tenra idade, caiu no pequeno lago.

Foram tantas histórias, tantas vidas, um rosário de fatos resgatando a São Francisco de antanho na construção de uma comunidade e o envolvimento das famílias na construção de um grande tesouro: a sua cultura. Foi muito valiosa a percepção e a iniciativa do professor Roberto no registro da uma história, de um tempo, que já escorria para as brumas do tempo. Ainda bem. Que venham outras iniciativas buscando valorizar o grande  tesouro que é a nossa cultura.


SANTOS REIS

 “Deus vos salve, Casa santa/ Onde Deus fez a morada”


Desde o dia 25 de dezembro ternos de foliões percorrem os caminhos da roça e ruas da cidade visitando lapinhas para saudar o Menino Jesus, lembrando a adoração dos três Reis Magos.  Affonso M. Furtado da Silva, no livro Reis Magos – História – Arte – Tradições, traz à memória: “Há cerca de dois milênios, o Evangelho de Mateus consagra, no relato do Capítulo 2, a jornada dos Magos do Oriente. Partiram de suas terras e, guiados pela luz de uma estrela resplandecente, chegaram à gruta, em Belém, na Judéia, para adorar o filho de Deus que havia nascido, ofertando-lhe régios  presentes: ouro, incenso e mirra Esse episódio, tempos depois, veio a se constituir na essência da celebração da Epifania a primeira manifestação de Cristo aos gentios.

Séculos e séculos passados repete-se a história, ainda brilha a estrela do Oriente. A cada ano, ternos de foliões visitam lapinhas saudando o menino Jesus. Saem à noite, pois é preciso para seguir o brilho da Estrela Guia e, nas casas visitadas encontram o presépio uma lembrança do cenário onde se deu o nascimento do Menino Deus, representados neles as figuras do Menino Jesus, Maria e José, seus pais, os pastores com suas ovelhas e os três Reis Magos, que chegam no dia 6. Os foliões levando os instrumentos, muitos fabricados por eles mesmos, que imbuídos de muita devoção, reverenciam o nascimento do Menino Jesus com hinos e danças.

Uma lembrança; o primeiro  presépio foi uma inspiração de São Francisco de Assis 1223, construído no meio de uma floresta. 

Neste período, à chegada da Epifania, quando nossos foliões avançam noites adentro saudando as lapinhas, vêm os nomes de alguns foliões de São Francisco: Adão Barbeiro,  Adão Serafim, Locha, Vicente Quiabo, Marciano, Abraãozinho, Dino do Retiro, Irmãos Corrêa, Olegário, João Raposo, Joaquim Figueiredo, Henrique Quente, Minervino, João Pomba Triste, Marciano, Nego de Venança entre tantos. Levam, com seus instrumentos musicais e vozes, nossas saudações ao Menino Jesus, lembrando, com fervor, a passagem dos Reis Magos cuja festa se comemora, em São Francisco, na igreja Santos Reis.