sábado, 28 de junho de 2025

OUTRA VEZ A HIDROVIA EM PAUTA

     


    O Governo Federal anunciou a nova hidrovia do Rio São Francisco com a extensão de 1.371 quilômetros navegáveis interligando Pirapora a Juazeiro, Bahia (BA), e Petrolina, Pernambuco (PE). O propósito desta hidrovia é o de permitir o transporte de cargas do Centro-Sul ao Nordeste de forma mais econômica e sustentável. Interessante é a projeção de que já no primeiro ano será retomada a navegação comercial, a movimentação de cargas pelo Rio São Francisco alcance 5 milhões de toneladas.

  “A Nova Hidrovia do São Francisco representa mais um avanço para a logística nacional, integrando regiões e promovendo um transporte mais limpo, eficiente e competitivo”, destacou o secretário Nacional de Hidrovias e Navegação do Ministério de Portos e Aeroportos (MPor). 

O barranqueiro contempla o projeto olhando o passado – primeiro, historicamente, promovendo a integração nacional, NORTE-SUL; depois a implantação de fazendas levando-se à criação de vilas e cidade. Canoas, depois barcaças singravam suas águas estabelecendo-se o comércio norte-sul, quando as águas do São Francisco eram singradas por vapores e rebocadores promovendo o transporte de passageiros e cargas. O tempo foi passando, as águas do cerrado minguando, afluentes secando e o rio, gradativamente, tomado por aluviões de arenitos, os enormes bancos de areia.

Vem, agora, o projeto da hidrovia. Importante e necessário sobre vários aspectos aliviando-se o transporte rodoviário, que é caro e exige constantes obras de conservação de rodovias. Fica, porém, uma pergunta, com os olhos no lençol d´água que se espelha aos olhos do ribeirinho, com a visão dos enormes bancos de areia (veja-se na foto acima  como foi a dificuldade de abrir um estreito canal para passagem da lancha de travessia do rio aqui em São Francisco, À medida que a draga retirava areia as águas do rio a repunha lenta em continuamente. Imagine-se isso numa extensão de 648 km, referente à terceira etapa da obra conectando Bom Jesus da Lapa e Cariacá a Pirapora)

Outro fator preocupante que não foi ventilado no anúncio, pelo menos por enquanto: como fica a reposição das águas no São Francisco se todos os seus afluentes (pelo menos no Alto Médio São Francisco) estão comprometido em sua maioria. Nenhuma ação foi anunciada para recuperar as nascentes e proteger os afluentes. Sem eles não haverá o rio e, consequentemente, a hidrovia.

Em tempo: em São Francisco há uma batalha para recuperar veredas com construções de barragens subterrâneas que envolve projeto de Ongs e recursos da plataforma Semente do Ministério Público. Na extensão do problema é um quase nada, seria como o beija-flor tentando apagar um incêndio na mata. Fez a parte dele. E o governo, como fica no caso?


DETALHE NESTA SEMANA: Uma lancha da travessia do rio encalhada no canal tendo que ser rebocada. E acontece ainda no mês de junho.


AUDIÊNCIA PÚBLICA

 


A Secretaria Municipal de Cultura promoveu na sexta-feira, 27, no auditório da Ong Preservar audiência pública para a construção do Plano de Aplicação de Recursos da Política Nacional Aldir Blanc – PNAB –, com a presença do secretário João Hebber, tendo como mediador o procurador jurídico do município Carlos Júnior Pereira de Carvalho. Compondo a mesa diretora com a presença do presidente do Conselho Municipal de Cultura, Tone Raposo, Luiz Fernando representando dos segmentos culturais do município e das coordenadoras de departamentos da secretaria Dany e Cibele Brizola.

A audiência teve como pauta: esclarecimento sobre a Lei Aldir Blanc; apresentação de propostas para a construção do Plano de Aplicação dos Recursos da PNAB; escuta da comunidade e do setor cultural e registro das contribuições para futura publicação dos editais. Esta pauta foi seguida em todos os itens iniciando-se pela exposição coordenadora Dany complementada pela técnica e Cibele detalhando procedimentos atinentes à aplicação dos recursos, neste ano na ordem de 800.283 mil.

Tone Raposo fez uma retrospectiva sobre a aplicação dos recursos do PNAB no ano passado salientando a contribuição do Conselho Municipal de Cultura e, alinhavando sugestões para o trabalho deste ano. Luiz Fernando apresentou sugestões quanto à distribuição dos recursos sugerindo a sua melhor aplicação não se restringindo apenas às premiações, mas à promoção de programas do interesse comunitário. Da assembleia forma ouvidos diversos pronunciamentos, cada um por área cultural. Foram sugestões interessantes contribuindo no sentido de buscar a melhor aplicação do recurso quanto ao resultado em prol da cultura do município.


COMENTANDO


O trabalho da equipe da Secretaria de Cultura foi muito eficiente na organização e realização da Audiência Pública sobre o PNAB faltando, para ter maior alcance, a maior presença de agentes culturais do município. Na discussão aberta, os pronunciamentos, diversos, de participantes, foram além da questão do apoio financeiro. Nas falas diversas foram relatados aspectos da cultura de São Francisco, como se desenvolve, o seu valor histórico, o trabalho que vem sendo realizado e o que ainda pode ser feito. Depoimentos ricos e valiosos que deverão ser tratados pelas equipes da Secretaria para que seja dado um tratamento especial e direcionado à cultura no município que é tão expressiva.


FESTAS JUNINAS

 

QUADRILHAS: Comum e famosas eram as quadrilhas na cidade. Com o tempo o folguedo foi perdendo espaço ou o atrativo. A mais famosa e frequentada era a da Escola Caio Martins, su­cedendo a tradição da festa do Campo de Sementes. Depois vinham as festas nas escolas também com animadas e diverti­das quadrilhas. Os bairros tinham igualmente seus grupos famo­sos. Quando da promoção do São João na Praça chegou-se a realizar um festival de quadrilhas com acirrada competição de diversos grupos. Ultimamente o festival vem sendo realizado no Parque de Exposições com a participação até mesmo de grupos de cidades vizinhas. Um espetáculo de rara beleza que, neste ano, por circunstâncias deveras enfrentadas pelo governo municipal não foi realizado.


SÃO JOÃO: LEVANTAMENTO DE MASTRO


Era trivial, nas comunidades do Angical e Tabocal o levantamento do mastro de São João, festa que reúne moradores dos povoados e arredores. Assim corria no Angical: no início da noite é chamado o Terno de Folia: José Carlos, sanfona; Antônio Carlos, pandeiro; Marinho, za­bumba; Juarez, triângulo; Geraldo e Tavim, violões; e, na frente, todo cerimonioso, levantando e girando a bandeira de São João, Manoel (Dete). A folia puxa os versos, Dete mos­tra altaneiro a bandeira, com os braços erguidos, rodopiando o corpo:


“São João se bem soubesse

que hoje era o seu dia

descia do céu à terra

com prazer e alegria”. 


Atrás, o coro formado por mulheres repe­tia: 


“Descia do céu à terra

com prazer e alegria

somente dando louvores

nos festejos do seu dia”.

 


São João Batista – além da própria Virgem Maria – é o único santo cujo nascimento (24 de junho) se comemora na Liturgia Católica. O ícone que o representa mostra a imagem de uma criança segurando um cordeiro e uma cruz com uma flâmula. Significa o martírio e o anúncio de Jesus como Salvador. Na flâmula, a inscrição: “Ecce Agnus Dei” (Eis o Cordeiro de Deus).

ESCOLA CAIO MARTINS NO CARINHANHA - I

 


Em 1952 as Escolas Caio Martins chegaram a Pirapora (Vila Buritizeiro),  ponta de lança no Vale do São Francisco o que se decorreu de circunstâncias que se repetiriam, com Carinhanha, Urucuia, São Francisco e Januária.

A história: existia na Vila Buritizeiro, distrito de Pirapora, em um prédio da Marinha Mercante, uma escola de aprendizes dessa instituição. Essa escola foi desativada e o prédio passado para o governo do Estado. O então governador, Milton Campos, ali instalou um curso de Agricultura, que por injunções políticas foi fechado. A decisão teve uma repercussão muito negativa, deixando o governo em situação incômoda com jornais estampado manchetes como “O Governo fecha escola”. Diante do fato o Coronel Almeida foi chamado ao Palácio do governo, que  relatou a ele a sua preocupação arrematando que via com entusiasmo o seu trabalho na Caio Martins de Esmeraldas, com aquelas crianças, e propôs: “vamos pensar juntos... E se nós aproveitássemos o velho hospital da Marinha em Pirapora, que foi fechado como Escola de Agricultura da Secretaria de Agricultura e levássemos para aquele local menores abandonados para mais uma Escola Caio Martins?”  O coronel Almeida aceitou o desafio e formou a primeira Bandeira Caiomartiniana (grupo de alunos com alguma profissão, preparado para estender a obra a outras regiões), a de Pirapora, com alunos da Escola de Esmeraldas, fundada três anos antes.

Assim, as Escolas Caio Martins foram implantadas em Pirapora (vila de Buritizeiro) desenhando um belo e importante capítulo da instituição no vale do Rio São Francisco em socorro ao governador do Estado.

O Núcleo de Buritizeiro, além da sede, tinha as fazendas São Félix, Quatis e Varginha, que foram adquiridas pelo Estado e transferidas às Escolas Caio Martins para o desenvolvimento de projetos agrícolas. Nelas eram produzidos pelos alunos cereais e frutas, que sustentavam a escola e até mesmo enviados para outras unidades da Fucam, principalmente feijão, cultivado com sucesso na fazenda Varginha.

Eram muitas as atividades desenvolvidas no Núcleo atendendo à comunidade de Buritizeiro, tais como: eventos esportivos, literários, grêmio estudantil, escotismo, desfiles cívicos e a prática de esportes com modalidades masculina e feminina.

Um dia o governo chamou Caio Martins e, no presente, por circunstâncias outras, o governo de Minas desativa as Escolas Caio Martins. Há tempo para tudo.


sábado, 21 de junho de 2025

HOMENAGEM AO CORONEL ORTIGA

 


Na comemoração dos 250 anos de existência, neste mês, da Polícia Militar de Minas Gerais em solenidade realizada na Praça da Liberdade, com a presença do governador Zema e de altas autoridades militares, o coronel José Ortiga recebeu a comenda especial Alferes Tiradentes, como o mais longevo comandante geral da corporação, cargo que ocupou no período de 1968/1971. Neste mês ele completa 104 anos de vida – uma vida plena de realizações e de serviços prestados ao Estado.
O coronel José Ortiga é são-franciscano, filho de José Ortiga (januarense) e Alzira Cunha Ortiga de tradicional família de São Francisco. Como aluno ele inaugurou o Grupo Escolar Coelho Neto. Depois, ganhou o mundo passando por Montes Claros e, por fim, ingressou-se nas fileiras da PMMG construindo uma carreira brilhante chegando-se ao mais alto posto da corporação. Ele sempre esteve ligado a São Francisco marcando presença mais efetiva na construção da Vila Militar e apoio à Escola Caio Martins.
São Francisco prestou uma singela homenagem ao coronel José Ortiga dando o seu nome a um Instituto Educacional, uma homenagem muito merecida.
A PMMG conta, atualmente, com o efetivo de cerca de 40 mil militares, entre homens e mulheres, além de 4,5 mil servidores civis, implantada em 19 regiões e 853 município do Estado. Ela é considerada uma das mais respeitada instituição militar do Brasil com papel relevante em sua história. 


O FOLCLORE NAS FESTAS JUNINAS

 

ATO DE FÉ (MUITA FÉ): Lá se vão os anos quando o são-franciscano vivia mais as festas juninas, especialmente o São João com dezenas de fogueiras iluminando as ruas arenosas da cidade. Vencida a noite, ao amanhecer, com o fogo da fogueira esmaecido, restando a a cinza quente e algumas brasas, tinha lugar um ritual especial: atravessar, descalço, o braseiro da fo­gueira. E tinha gente que cumpria o ritual com calma impres­sionante e nunca foi registrado caso de alguém ter queimada a sola dos pés. E o melhor vinha depois, era tempo de madrugadores as­sarem batata-doce na cinza. Que sabor!

Toda a Europa conheceu a tradição de acender foguei­ras nos lugares altos e mesmo nas planícies, as danças ao re­dor do fogo, os saltos sobre as chamas, todas as alegrias do convívio e dos anúncios dos meses abundantes. O mesmo se dava na África e Ásia. Os indígenas brasileiros também comemoravam o São João em torno da fogueira, inclusive saltando-a. De acordo com a tradição católica, a fogueira queimou, nas montanhas da Judéia, para anunciar o nascimento de João, no dia 24 de junho. Foi a forma que sua mãe Isabel encontrou para comunicar a chegada do filho a Maria, sua prima, que também estava grávida e seis meses depois daria à luz Jesus.

O nascimento de São João coincide com o solstício do ve­rão (inverno em nosso hemisfério) quando as populações do campo festejavam a proximidade das colheitas e faziam sacri­fícios para afastar os demônios da esterilidade, as pestes dos cereais e as estiagens.

PROFECIA: No meio rural, São João ajuda o agricultor com in­formações da meteorologia. Ainda nestes tempos, é comum os agricultores buscarem as informações da Profecia de São João para se basearem e se prevenirem para o plantio – é preciso saber quando vem a chuva. 

CÂMARA MUNICIPAL RESGATA VULTOS

  A Câmara Municipal aprovou dois projetos de lei dando denominação à orla do Rio São Francisco Aristomil Gonçalves Mendonça) e à avenida Perimetral (Oscar Caetano Júnior) de autoria do vereador Daniel Rocha, presidente da Casa. A iniciativa vai além de uma mera providência administrativa no plano urbano, ela faz jus a duas figuras que tiveram uma grande importância na história de São Francisco, como cidadãos, profissionais e, sobretudo, administradores públicos.  


ORLA ARISTOMIL GONÇALVES DE MENDONÇA

Aristomil Gonçalves de Mendonça como cidadão são-franciscano prestou relevantes benefícios ao município como Escrivão da 2ª Vara desta Comarca, vereador e prefeito municipal. São relevantes as obras por ele realizadas no município, entre elas, a construção do Mercado Municipal, calçamento da avenida Presidente Juscelino, a instalação de biblioteca pública, construção de pontes sendo a mais importante no ribeirão de Areia ligando o município de São Francisco ao município de Arinos e, de lá a Brasília-DF. Construção da Fonte luminosa na praça do Peixe-vivo; criou e implementou os Bairros Bandeirante e Aparecida;  instalou a Escola Normal; teve participação na construção da Vila Militar; participou, em parceria com o Lions Clube, da construção do Lar dos Idosos; instalou a primeira torre de transmissão de sinal de televisão no município. Aristomil e sua esposa, dona Gercina Botelho de Mendonça, tinham profunda ligação com o rio São Francisco, com o costume de ir ao cais, desde seu casamento, todas tardes, para assistir ao pôr do sol. Outro registro, quanto ao rio, foi a construção de uma gruta, no cais, onde introduziu uma imagem de Nossa Senhora, que era venerada pelos fiéis. E mais, em relação ao rio, ele e sua esposa, resgataram a tradicional Procissão dos Navegantes realizada anualmente durante o seu mandato. Constatadas ligação de Aristomil e sua esposa com o rio São Francisco e  as grandes realizações de seu governo faz-se merecida esta homenagem posto que, até então, ele não merecera qualquer reconhecimento do povo são-franciscano. 

AVENIDA PERIMETRAL OSCAR CAETANO JÚNIOR

A avenida Perimetral é uma via muito importante no plano urbano da cidade, considerada a maior de todas, ultrapassando diversos bairros, entre eles São Lucas, Lapinha, Santo Antônio, Aparecida, Eldorado, João Aguiar, Geraldo Magela,  Funcionários, Morada do Sol E Sagrada Família. O que ela significa em termos urbanos está à altura da homenagem a tão ilustre cidadão. Dr. Oscar Caetano Júnior, são-franciscano, malgrado a sua extensa folha de serviços prestados ao município, não mereceu, até então, qualquer reconhecimento da comunidade. Ele teve uma vida voltada para São Francisco, como advogado, promotor público, diretor do Ginásio Municipal e como prefeito municipal em dois mandatos 1959-1962 e 1973-1976, além de exercer relevante papel de liderança política. Foram suas principais obras e realizações: instalação da agência do Banco do Brasil no município, modernização do serviço de travessia do rio São Francisco com o batelão motorizado Serrana e mais tarde a Urucuiana; construção da agência fluvial de passageiros e bar Peixe-Vivo;  criação da Escolinha do Bom Menino; criação do Plano Diretor da Cidade; reforma da praça Oscar Caetano Gomes com pavimentação dos passeios; expansão da rede de distribuição de água através da COMAG e instalação de nova rede de iluminação pública na cidade, substituindo os postes de madeira; eletrificação rural, reconstrução da rodovia São Francisco – Urucuia através da Ruralminas; criação do Departamento de Instrução e Serviço Social (DISAS) e da Fundação Municipal Alice Mendonça, de assistência social. ´
Na sessão de votação do projeto de Aristomil Mendonça marcaram presenças representantes de sua família e amigos, todos manifestando júbilo pela iniciativa.  Diversos vereadores se manifestaram sobre a importância da homenagem aos dois ínclitos cidadãos.
Aprovados, os dois projetos foram encaminhados à apreciação do prefeito Miguel Paulo sancionando-os se acorde com a decisão da Câmara Municipal.





CAIO MARTINS: TIRO DE MISERICÓRDIA – II

 ESCOLA CAIO MARTINS DE BURITIZEIRO



Em 1952 as Escolas Caio Martins chegaram a Pirapora (Vila Buritizeiro),  ponta de lança no Vale do São Francisco o que se decorreu de circunstâncias que se repetiriam, com Carinhanha, Urucuia, São Francisco e Januária.

A história: existia na Vila Buritizeiro, distrito de Pirapora, em um prédio da Marinha Mercante, uma escola de aprendizes dessa instituição. Essa escola foi desativada e o prédio passado para o governo do Estado. O então governador, Milton Campos, ali instalou um curso de Agricultura, que por injunções políticas foi fechado. A decisão teve uma repercussão muito negativa, deixando o governo em situação incômoda com jornais estampado manchetes como “O Governo fecha escola”. Diante do fato o Coronel Almeida foi chamado ao Palácio do governo, que  relatou a ele a sua preocupação arrematando que via com entusiasmo o seu trabalho na Caio Martins de Esmeraldas, com aquelas crianças, e propôs: “vamos pensar juntos... E se nós aproveitássemos o velho hospital da Marinha em Pirapora, que foi fechado como Escola de Agricultura da Secretaria de Agricultura e levássemos para aquele local menores abandonados para mais uma Escola Caio Martins?”  O coronel Almeida aceitou o desafio e formou a primeira Bandeira Caiomartiniana (grupo de alunos com alguma profissão, preparado para estender a obra a outras regiões), a de Pirapora, com alunos da Escola de Esmeraldas, fundada três anos antes.

Assim, as Escolas Caio Martins foram implantadas em Pirapora (vila de Buritizeiro) desenhando um belo e importante capítulo da instituição no vale do Rio São Francisco em socorro ao governador do Estado.

O Núcleo de Buritizeiro, além da sede, tinha as fazendas São Félix, Quatis e Varginha, que foram adquiridas pelo Estado e transferidas às Escolas Caio Martins para o desenvolvimento de projetos agrícolas. Nelas eram produzidos pelos alunos cereais e frutas, que sustentavam a escola e até mesmo enviados para outras unidades da Fucam, principalmente feijão, cultivado com sucesso na fazenda Varginha.

Eram muitas as atividades desenvolvidas no Núcleo atendendo à comunidade de Buritizeiro, tais como: eventos esportivos, literários, grêmio estudantil, escotismo, desfiles cívicos e a prática de esportes com modalidades masculina e feminina.

Um dia o governo chamou Caio Martins e, no presente, por circunstâncias outras, o governo de Minas desativa as Escolas Caio Martins. Há tempo para tudo.

sábado, 14 de junho de 2025

Festas Juninas: ANTO ANTÔNIO E SÃO JOÃO


  São Francisco para no mês de junho. São treze dias dedicados a Santo Antônio com  trezena, novenas, missas, barraquinhas e shows artísticos no bairro do mesmo nome. Ao mesmo tempo, acompanha-se a saída de romeiros para a festa de Santo Antônio de Serra das Araras, tradicional. Depois de Santo Antônio vem São João, a festa mais tradicional de São Francisco. Não adianta insistir, no dia 24 de junho a cidade fica deserta. Um dia antes, o povo vai para as roças ou se recolhe em suas casas para comemorar o santo à moda antiga – fogueira, canjica, quentão, quitandas e danças debaixo de toldo de bandeirolas coloridas. Não é feriado decretado, mas a cidade para por completo, funcionando apenas alguns estabelecimentos oficiais e, assim mesmo, em meio turno. 

São João é festejado com muita alegria, danças, músicas e farta guloseimas. São João dorme no dia que lhe é dedi­cado. Se ele estiver acordado, vendo o clarão da fogueira em sua honra ele não resistirá e descerá do céu à terra. Para acompanhar a oblação, e o mundo acabará em fogo.

Se São João soubesse/ Quando era o seu dia/ Descia do céu à terra/ Com prazer e alegria./ Minha mãe, quando é meu dia?/ - Meu filho, já se passou./ - Numa festa tão bonita/ Minha mãe não me acordou!/ Acorda, João!/ Acorda, João!/ João está dormindo,/ Não acorda não.

A festa de São João, em tempos idos, quando São Francisco as famílias se reuniam no passar da noite de 23 para 24 de junho. Fogueiras iluminavam suas ruas poeirentas – eram tantas e tantas que pareciam um imenso luzeiro. No abrandar da fogueira, vinham as cerimônias tão afetivas e que tanto respeito guardavam: batizados e compadrios. Os compadres, ou comadres, davam as mãos, um de cada lado da fogueira. Depois, de mãos dadas, saltavam a fogueira rezando:  “São João dormiu/ São Pedro acordou/ Vamos fazer compadres/ Foi São João que mandou”. E eram compadres para sempre, com todo respeito e dig­nidade. 

A cerimônia para se fazer afilhado tinha o mesmo ritual. A oração diferia, no entanto: o padrinho tomava a mão do afi­lhado e, com ele dava três voltas em redor da fogueira, repe­tindo a oração: “Eu juro, por Santo Antônio, São Pedro e São João que fulano é meu afilhado”. O afilhado repetia: “Eu juro, por Santo Antônio, São Pedro e São João que fulano é meu padrinho”. Terminada a cerimônia, o afilhado beijava a mão do padri­nho e pedia a bênção, atitude que seria repetida pela vida afora, com todo respeito e devoção.

CONCEIÇÃO, UMA REALIDADE

 


Na manhã do dia 8 de junho de 1957 começava uma nova história para o vale do Urucuia: era celebrada a Santa Missa por dom José de Almeida Batista, bispo de Diamantina, inaugurando o Núcleo Colonial do Vale do Urucuia (NCVU) das Escolas Caio Martins plantado nas ruínas da fazenda da matriarca Joaquina Pereira Mota. 

No sopé da serra da Conceição no vão do ribeirão Conceição, uma extensa planície que se estende até Poleiro de Patos, uma pista para pouso de aviões, um rancho grande para abrigar os 12 bandeirantes, o diretor do Núcleo, os primeiros meninos internos, o escritório e salas de aulas; três outros ranchos do vaqueiro Zé Branco e dos colonos Vicente Barbosa, Bezerra; outro rancho para instalar o almoxarifado e garagem para as máquinas do Núcleo. Era o tinha, mais nada. Solidão! Os doze professores, depois da festa, estavam sós, mas prontos e alertas e decididos a dar uma vida nova àquela terra, que tomaram como sagrada em sonhos, muito antes sonhados, em Esmeraldas, refletindo o seu ideal.

Passaram-se 68 anos, nem foram tantos assim para o confronto com a atual realidade do Núcleo. Alcançados foram os propósitos designados à Bandeira e realizados os ideais dos jovens professores/bandeirantes, é o que se vislumbra contemplando o que hoje ali se vê e tem. Na antiga “mal-assombrada”, fazenda das taperas encontradas (capela, casa sede e currais) tudo transformado em ruínas e abandono, erguida foi uma comunidade palpitante, um centro catalizador social e educacional, ponto de referência e apoio para moradores da região. Vida palpitante no coração do Urucuia, com uma gente feliz, tão fraterna, uma grande família. Floresce uma bela vila com ruas e praças bem traçadas, com todos confortos de uma cidade: luz elétrica, água encanada, torres de transmissão de sinais de TV e celulares, bem equipada escola do ensino fundamental ao médio com atividades integradas voltadas para o campo, com atividades esportivas e a bela igreja consagrada à Nossa Senhora da Conceição palco dos atos de fé, que une a comunidade.

Sessenta e oito anos, um nada no tempo que se conta, mas um marco histórico de uma grande conquista de uma gente brava, solidária, fraterna comungando com a natureza que preserva com um olhar voltado para o amanhã preparando os seus jovens.

Núcleo Colonial Vale do Urucuia/Conceição uma vitória das Escolas Caio Martins. Uma vitória de um povo que se fixa feliz no sertão urucuiano, à sombra da serra e regrada pelo rio Conceição – tudo Conceição.

Salve os sessenta anos vitoriosos do Núcleo Vale do Urucuia, da graciosa Vila Conceição, terra de um povo feliz!

CAIO MARTINS: A PREOCUPAÇÃO DO GOVERNADOR

 


Voltando-se ao problema social que afligia a sociedade belo-horizontina na década de 1940 sabe-se que ele teve com origem no desamparo de crianças desvalidas, abandonadas. Naquela ocasião um fato ganhou imensa repercussão suscitando providências: a vida do marginal José Muniz que causava pavor à população da capital. Preso ele prestou depoimento às autoridades e jornalistas revelando o motivo que o levou à marginalidade – quando adolescente tendo a sua mãe prostrada na cama gravemente enferma, desesperado correu a uma farmácia em busca de remédio. Não tinha dinheiro para comprá-lo e farmacêutico negou fornecê-lo. Desesperado ele saiu pela rua e roubou  dinheiro para comprar o remédio, mas quando chegou em casa encontrou a mãe morta.  Sozinho no mundo, revoltado, ele partiu para a senda dos roubos e crimes sempre alertando a população: “Zé Muniz voltou para vingar a sua mãe”. O governador Milton Campos homem sensível aos problemas sociais de seus coestaduanos, ao ter conhecimento da história do adolescente, preso numa delegacia da capital, fez uma convocação pela imprensa, às entidades constituídas, às empresas, a comércio e, enfim,  todos os mineiros para a constituição de uma cruzada de Fé e Coragem para o Amparo à Criança Desvalida. Um alerta à sociedade. Sublimava o problema do menor abandonado.

Outro exemplo igual ou de maior gravidade foi o de Caryl Chessman assassino americano condenado à morte, que deixou uma carta narrando a sua história lida por Manoel Almeida na tribuna da Câmara dos Deputados destacando um trecho: “Dizem que o menino é o pai do homem. Amanhã de manhã, a não ser que haja uma ordem em contrário do Tribunal serei executado. Morrerá o homem, mas que será do menino?”

Manoel Almeida, fundador das Escolas Caio Martins, comenta com sensibilidade: “O menino é realmente o pai do homem, como a semente é a mãe da árvore. Vi muitas crianças consideradas perversas transformarem-se em homens de bens. Não conheci uma criança sobre a qual não se fizesse sentir o esforço racional visando ao seu encaminhamento para o lado útil da vida. Mesmo deficiências psíquicas tratadas com a filosofia do amor, puderam transformar-se em crianças dignas, úteis à sociedade”. Finalizando o discurso disse o deputado: “Caril Chessman, o homem que não teve infância, o menino pobre e atribulado de Grendale, cujo problema pensou a sociedade eliminar eliminando-lhe a vida!”

Pergunta-se: não é o que acontece com milhares de nossas crianças de hoje? A sociedade acusa o final esquecendo-se do princípio. Fecharam-se as portas das Escolas Caio Martins para as crianças em “estado de risco”, o ECA encontrou caminhos no papel; o Ministério Público abraçou-o sem emoção. Tudo muito bem estado, bem escrito e muitas crianças mais abandonadas que nunca. Ora, governantes pensam de maneira diferente: é preferível amenizar com “benefícios” que promover a criança a homem.

CAIO MARTINS: TIRO DE MISERICÓRDIA – I

 Há tempo de nascer, e tempo de morrer; tempo de plantar, 

e tempo de arrancar o que se plantou - Eclesiastes 3:2




O governador Zema encontra-se diante de uma situação crítica: a enorme dívida do Estado com a União, rolada desde 1988, coisa de R$ 165 bi, o que o levou a encaminhar projeto de lei à Assembleia Legislativa pedindo autorização para transferir bens imóveis à União ou os leiloar. No caso estão relacionados equipamentos públicos como Cidade Administrativa, hospital Risoleta Neves, Palácio das Artes, escolas, fóruns, unidades da CEASA e outros. No rol, constam prédios e fazendas da Fundação Educacional Caio Martins. Uma análise à parte é oportuna quanto às Escolas Caio Martins ressaltando o grande serviço que ela prestou ao Estado e à Nação, e pelo imenso universo de caiomartinianos em todo o País, resumindo o histórico delas que teve a sua existência em face de chamados do Estado. É preciso fazer um registro, ainda, pois elas estão a um passo de passar à História em face do estado em que se encontram atualmente.

As Escolas Caio Martins nasceram em circunstância especial para atender a situações sociais e econômicas do Estado, o que será focalizado em capítulos abordando cada unidade delas atendendo, em todas as ocasiões ao chamado do governo do Estado e prestando grandes serviços às comunidades onde foram implantadas.

A criação da Escola Caio Martins foi em decorrência de sérios problemas sociais em todo o Estado de Minas Gerais. Tão grave era a situação que o governador Milton Campos chegou a cogitar a constituição de uma Cruzada de Fé e Coragem para amparar às crianças desvalidas, cogitando-se a construção de escolas-creches em Belo Horizonte para assisti-las e aos menos afortunados. O governador chegou a convocar celebridades no campo da educação e serviço social para encontrar uma solução que atendesse à sua preocupação. Ao mesmo tempo ocorria um fato no âmbito da Polícia Militar: desativar um campo de remonta (criação de cavalos) no município de Esmeraldas. O então major Manoel José de Almeida foi enviado pelo comandante geral da PMMG, Cel. José Vargas para inspecionar aquele campo e sugerir outro meio de seu aproveitamento. Iluminado, Manoel Almeida, vislumbrou que naquele campo poderia ser resolvido o problema social que afligia o governador e, assim, levou ao coronel Vargas, a proposta de implantar uma escola nele para acolher crianças desvalidas da Capital. Entusiasmado com a ideia o comandante a levou ao Secretário de Estado, Pedro Aleixo, que a aprovou e encaminhou ao governador. A proposta foi acolhida de imediato solicitando ao major Manoel Almeida a apresentação de um plano para resolver a questão visando abrigar crianças desvalidas. Não foi fácil ao major Manoel Almeida elaborá-lo. Inspirado ele aceitou a missão e elaborou o plano em tempo recorde apresentando-o ao governador, que o aprovou e assim, em 16 de janeiro de 1948, foi criada a Granja Escola Caio Martins, que logo se estenderia ao Norte de Minas

Foi, literalmente, resolvido o problema social que enfrentava o Governador Milton Campos. Foi o primeiro passo.

SÃO-FRANCISCANA BRILHA EM ALAGOAS

 

A barranqueira de São Francisco, Roanne Andrade, brilhou em um projeto cultural realizado no estado de Alagoas conquistando o primeiro lugar na seleção da Política Nacional Aldir Blanc com o projeto Cartas ao Velho Chico, concorrendo com mais de três mil propostas.

Idealizado, produzido e executado por Roanne, o projeto nasceu de um profundo afeto pelas águas do São Francisco e da convicção de que o rio não é apenas paisagem, mas personagem central da memória, da identidade e da luta de muitos povos. Roanne, que carrega no olhar sensível as barrancas mineiras, soube transformar sua vivência e pertencimento em potência criativa e instrumento de transformação cultural.

Com execução prevista para o período de 10 a 13 deste ano, na cidade histórica de Penedo (AL), o projeto mobilizará estudantes da rede pública, artistas locais e educadores em torno de uma série de atividades formativas, como oficinas de fotografia, escrita criativa e vivências sensoriais com o território. O ponto alto da iniciativa será a produção de cartas escritas ao rio pelos próprios alunos, que resultarão em uma  exposição aberta ao público prevista para o dia 12 de julho do mesmo ano, na Vila Dão Pedu, espaço gastronômico às margens do rio, e no galpão Zuteta, maior espaço multicultural do Baixo São Francisco.  As cartas e fotografias também serão publicadas em formato de livro digital (e-book), perpetuando as vozes das juventudes ribeirinhas em linguagem poética e comprometida com o território.

Com uma trajetória marcada pela sensibilidade, visão estratégica e compromisso com o desenvolvimento humano, Roanne Andrade vem se consolidando como uma das principais referências da produção cultural em Alagoas. Mesmo fora de seu estado natal, mantém viva a ligação com suas raízes, como declara: "Ser barranqueira é carregar o rio por dentro. Essa conquista é também de São Francisco e de todas as vozes que ecoam pelas margens do Velho Chico."

Cartas ao Velho Chico é mais do que um projeto premiado: é um gesto de devolução simbólica ao rio que dá vida, sustento e identidade a tantas cidades do Brasil profundo. E Roanne, com sua entrega e talento, reafirma o poder da cultura como elo entre passado, presente e futuro. Nossa escola, nosso planeta.

Roanne é filha de Roseanne Andrade, neta de Pompilio de Andrade e Iracy Gomes de Andrade, sobrinha do talentoso compositor Tom Andrade – ela tem, portanto raízes artísticas.

sexta-feira, 6 de junho de 2025

NOSSA ESCOLA, NOSSO PLANETA

 



A E.E. Adão Vieira situada na Vila Travessão de Minas promoveu, na sexta-feira 6, a culminância do projeto Nossa Escola, Nosso Planeta, Cuidar é nosso Lema coordenado pela professora de Ciências da Natureza, Marleide Alves. Participaram do evento alunos, professores, pessoas da comunidade, secretário do Meio Ambiente, Conceir Damião, bióloga, Luciana Mendes, equipe Estratégia Saúde da Família e agentes de endemias.

Como parte do evento foram distribuídas mudas frutíferas e ornamentais na comunidade.

Outras atividades – artísticas, peça de teatro e orientações a respeito do combate à dengue e aferições de pressão e glicemia.

Sem dúvidas, trata-se de um projeto de suma importância cultural e social.


ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore


A LENDA DE SANTO ANTÔNIO DE SERRA DAS ARARAS – A Grande Romaria – II


No sertão urucuiano, universo dos personagens de Guimarães Rosa e do famigerado jagunço Antônio Dó que assombrou o Norte de Minas nas primeiras décadas do século XX, a misteriosa aparição de um santinho, acabou se transformando na maior romaria religiosa do Norte de Minas: Santo Antônio de Serra das Araras, hoje município de Chapada Gaúcha, que reúne, a cada ano, na semana da festa – 13 de junho – mais de 50 mil romeiros. Contam, o que ainda hoje é passado de pai para filho, à moda antiga de contar história criando tradições, que na virada do século XIX ou já entrado no século XX, que homens, zanzando pelo mundo perdido, num lugar desprovido de gentes e coisas, só de cerrado e areia branca, encontraram uma imagem de um santo incrustada numa loca, meio a pedras pontudas, espetadas na terra vermelha, cavada pela chuva em lugar de pouca vegetação, na ponta de um platô que veio ser chamado de Serra das Araras – porque, de verdade, era cheio de ninhos delas, as araras. Homens, cheios de fé e encantamento, com zelo, envolveram a pequena imagem em farrapos das próprias camisas e desceram a serra. No mísero e quase insignificante aglomerado, de pouco se ver e de quase nada de ranchos, uma velha chamaram e entregaram com devoção a pequena imagem. Ela, trêmula, ergueu-a aos céus e declarou com seus ofícios de beata: “Deus salve Santo Antônio!”

Era o santo casamenteiro que logo ganhou um humilde altar num não menos humilde rancho de palha de buriti, a sagrada palmeira do sertão. Um berço humilde, assim como fora o do Menino Jesus.

Acontece, no seguimento dos “poréns” tão comuns aos homens, que logo eles se esqueceram da história de Jesus e, as velhas rezadeiras, mais apegadas à tradição da Igreja, de tempos mais recentes, acharam que seria humilhação deixar o santinho naquele ranchinho tão sem propósitos, feio e triste. Decidiram, e logo mandaram alguns cavaleiros levá-lo  para as Pedras (hoje a formosa cidade de São Francisco), a vila que já existia, com uma pequena igreja tão bonita, debruçada sobre o rio Grande (São Francisco). Contada a história, achou por bem o padre, nela acreditando e ciente da importância da crença do povo, reservar ao santo um belo altar, quentinho, perfumado e destacado na igreja da Vila. Ali ficou e todos admiravam, rezavam e faziam novenas. Um dia... o susto e a gritaria geral – “Santo Antônio sumiu”. Imaginaram que fora obra de algum maluco, ou devoto exagerado ou de gente que não gostava da igreja. A Vila ficou em polvorosa. O mistério logo foi desfeito: um cavaleiro  encontra o santinho na estrada, caminhando ligeiro, suado, sem olhar para os lados. A notícia causou comoção geral: “Santo Antônio sumiu! Ele Voltou para Serra”. Milagre. Uma caravana se organizou logo, uns a cavalo, outros a pé e outros seguindo comboio de carro de boi, para a Serra das Araras. Começou assim a grande romaria de Santo Antônio de Serra das Araras que se repete, religiosamente, a cada ano. No dia 13, missas, dezenas de casamentos, procissão, rezas, batizados, pagamento de promessas (cada romeiro que chega à Vila, tem que dar três voltas em torno da igreja, soltando foguetes).

A festa profana hoje se iguala à religiosa para o desencanto dos mais antigos e é intenso o comércio na semana da romaria. Ainda assim ela não perde o encanto, a atração e mantém a tradição, o que se registrou numa música que ganhou o domínio público: “Adeus Serra das Araras,/ Adeus linda urucuiana / Adeus, está chegando a hora, /Adeus, Alice, já vou embora (...) “Já fiz prece/ fiz promessa,/ para o ano eu pretendo voltar! Adeus!”.

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO - V

 Murilo Saraiva Queiroz


A Criatura das Profundezas


"O dourado é o maior peixe de escamas do rio," interrompeu Seu Antônio, sua voz carregando a autoridade de uma vida inteira passada em barcos de pesca. "Escamas douradas que brilham como moedas ao sol. Eles podem crescer até mais de trinta quilos, com mandíbulas fortes o suficiente para quebrar o pulso de um homem."

"Conte a ele o que os antigos dizem que aconteceu com o bebê," insistiu Pedro.

Seu Joaquim assentiu lentamente. "Dizem que um dourado enorme-o rei de todos os dourados-pegou a criança antes que ela pudesse se afogar. Não para comê-la, mas para salvá-la. O peixe carregou o bebê para o fundo das cavernas subaquáticas que se entrelaçam na margem do rio, para um lugar onde água encontra ar em vastas câmaras que nenhum humano jamais viu."

"Exceto um," corrigiu Seu Antônio. "Padre Heinrich seguiu Maria até o rio naquela noite. Tarde demais para salvá-la, mas ele viu algo na água-um lampejo dourado, um pequeno membro pálido, e então... nada. Ele passou o ano seguinte em estado febril, desenhando símbolos estranhos e murmurando sobre 'a criança das profundezas'."

Seu Joaquim continuou, "Duas décadas se passaram. As antigas famílias tentaram esquecer o escândalo. Então veio a seca de 1928. O rio recuou mais do que qualquer um tinha visto, revelando entradas de cavernas ao longo das margens que estiveram submersas por gerações."

"Um grupo de jovens, incluindo meu pai, explorou uma dessas cavernas perto da base de São Félix. Eles encontraram uma câmara subterrânea com paredes que pareciam ter sido esculpidas-não pela natureza, mas por mãos. E no centro, um pequeno altar com uma estátua de Nossa Senhora, a mesma que uma vez esteve no local de oração de Maria à beira do rio."

"Mas não foi tudo que eles encontraram," sussurrou Pedro. "Conte a ele sobre as pegadas."

O rosto de Seu Joaquim ficou grave. "Não eram pegadas como você as conhece, garoto. Um lado mostrava a marca do que poderia ter sido um pé humano-embora grande demais para qualquer homem. O outro... o outro era a impressão espalhada de algo como uma barbatana de peixe, mas articulada, como se pudesse suportar peso."

"E as escamas," acrescentou Seu Antônio. "As escamas douradas espalhadas pelo chão de pedra úmida."

"Padre Heinrich já era um homem velho então," continuou Seu Joaquim. "Quando lhe contaram o que haviam encontrado, ele não pareceu surpreso. Em vez disso, reuniu os anciãos da cidade e entregou um aviso: 'O que dorme abaixo deve permanecer intocado. A criança se tornou algo diferente-nem humano nem peixe, mas algo antigo que o rio despertou.'"

"O padre afirmou que o sistema de cavernas se estendia sob a própria igreja-que os construtores sabiam disso e construíram São Félix diretamente acima da maior câmara para conter o que quer que habitasse abaixo. Ele ordenou que a entrada da caverna fosse selada e construiu uma pequena capela sobre ela, incorporando a estátua de Nossa Senhora que havia sido encontrada lá embaixo."

RIO SÃO FRANCISCO EM TELA

 


O Campus da Unimontes de São Francisco promoveu na sexta-feira 6 a 1ª Plenária Cerpopular com o tema: Sobrevivência no Rio São Francisco: um grito de socorro?

Muito oportuna e importante a iniciativa realizada na semana que marca o Dia Nacional em Defesa do Rio São Francisco (3) e Dia Mundial do Meio Ambiente (5) e, ainda o Dia Municipal do Rio São Francisco (3) com objetivo de “discutir e deliberar a respeito de pautas urgentes que atravessam nosso compromisso com a justiça ambiental colocando em pauta a diversidade de experiências que envolvem a relação da população são-franciscana com o Velho Chico, que é lugar de subsistência e afeto, mas que tem sido modificado e explorado”. Neste sentido foi convidada a comunidade para participar do evento e representantes do poder público para debater o tema e buscar soluções efetivas para proteger nosso rio e nossa história.

Um propósito anunciado: “Neste anos retomamos e cobramos a efetivação de 10 medidas, entre elas: 1. Criação de viveiros de mudas e de bancos de sementes em todos os municípios banhados pelo rio São Francisco. 2. Incentivar a construção de barragens subterrâneas.3. cercamento e arborização de nascentes. 4. Reflorestamento e ampliação de áreas de conservação de matas ciliares. 5. Rever critérios para perfuração de poços tubulares”.

Diversas foram as falas no evento através de representantes do poder público e da sociedade relacionados às questões ambientais, com relatos de experiências, trabalhos realizados em prol do rio São Francisco e de causas ambientais num apanhado que rememora trabalhos realizados no município na área ambiental. Contou-se, em resumo geral, uma grande preocupação quanto à situação do rio São Francisco e do cerrado apontando-se sérios problemas, que vêm ocorrendo ao longo de muitos anos dependendo muito das ações governamentais e envolvimento da sociedade.

Alunos do Campus da Unimontes e da EE Dr. Tarcísio Generoso participaram do evento com demonstração de muito interesse.


CASA DA CULTURA/MUSEU

 


O prefeito Miguel Paulo reuniu-se com os secretários João Hebber – Cultura e Turismo;  Conceir Damião – Meio Ambiente e Diovani Rene Costa – presidente do Codema, na quinta-feira 6, em seu gabinete, para tratar de assuntos relativos às áreas da cultura e do meio ambiente.

Com a relação à cultura, o prefeito Miguel Paulo assinou contrato de comodato com a ONG Preservar cedendo o prédio da antiga cadeia (Instituto Técnico Cel. José Ortiga) para a criação da Casa da Cultura/Museu e espaço para instalação de estandes de exposição do trabalho de artesãos do município.

Com relação ao turismo o prefeito tomou conhecimento do projeto elaborado pela Secretaria de Turismo/Codema visando incrementar a orla do rio São Francisco, no trecho entre a Praça dos Pescadores (Quebra) à rua Hermano Diamantino (saída para São Romão). A arquiteta Daniel Spina, do departamento de Turismo da Secretaria Municipal de Turismo, fez a apresentação do projeto que elaborou transformando a orla em um local de atração turística e de lazer para a população são-franciscana, que teve pronta acolhida do chefe do executivo. O projeto será levado à apreciação de autoridades competentes quanto à questão ambiental e, depois, tendo aprovação, levado ao conhecimento da população.

Em relação ao Codema tratou-se da reestruturação do órgão visando à retomada das atividades voltadas para as questões hídricas no município:  recuperação de nascentes, construção de barraginhas e tanques; e para a fiscalização da poluição sonora. 


GALERIA DA RUA SILVA JARDIM

 


O prefeito Miguel Paulo deu início a obra que é da maior importância para uma área nobre da cidade: a construção da galeria da rua Silva Jardim. Essa área tem enfrentado seríssimos problemas na estação chuvosa com inundações de grande porte decorrendo do crescimento da cidade na parte alta, região do Eldorado, com remoção de vegetação e pavimentação de ruas. Assim, a cada ano, maior fica o problema. A solução não parecia ser fácil, pois como se sabe trata-se de uma obra sem visibilidade aos olhos da população, pois chama mais a atenção a pavimentação de vias públicas ou obras expostas. 

No governo de Josedir de Souza Pinto (1989-1922) foi iniciada a construção da galeria no trecho entre as avenidas Presidente Juscelino e Oscar Caetano Gomes. De lá para cá sucederam-lhe sete governos e a obra não teve continuidade. Caso fosse construída, a cada governo, um trecho relativo a um quarteirão, a galeria já estaria concluída. A proposta do prefeito Miguel Paulo, nesta etapa, é estender a construção até a altura da avenida Euclides Liberato, um trecho bem extenso, que poderá diminuir bastante o fluxo das enxurradas na região central da cidade.

Além desta galeria foi concluída outra no bairro Santo Antônio e, de igual importância, está sendo construída no bairro Sagrada Família, numa área muita crítica, assolada por grandes inundações.

sábado, 31 de maio de 2025

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO - IV

 Murilo Saraiva Queiroz


O Segredo da Moça


A voz de Seu Joaquim baixou ainda mais, nos forçando a nos inclinar para frente.

"Era 1908. Maria Eulália era filha de uma das famílias mais respeitadas da cidade. Moça bonita com olhos da cor do rio ao amanhecer. Ela foi prometida ao filho de outra família rica, uma fusão de terras e gado mais do que um casamento."

Seus dedos nodosos traçavam padrões na areia enquanto falava.

"Mas Maria tinha um segredo. Ela escapava para o rio ao entardecer, alegando rezar no pequeno santuário de Nossa Senhora perto da beira da água. O santuário havia sido colocado lá pelo Padre Heinrich, um dos missionários alemães que permaneceu depois que a igreja foi construída."

Seu Joaquim fez uma pausa para tomar um gole de cachaça de uma caneca de metal desgastada.

"Ela não estava rezando. Estava se encontrando com alguém-um jovem que não era seu prometido. Alguns dizem que ele era um simples pescador; outros sussurram que era um dos padres. Qualquer que seja a verdade, quando chegou o inverno, ela não podia mais esconder sua condição."

Os olhos do velho se nublaram com algo entre tristeza e medo.

"Sua família a expulsou. Naqueles dias, tal vergonha poderia destruir linhagens inteiras. Ela viveu em uma pequena cabana à beira do rio, sozinha exceto pela caridade ocasional de mulheres que desafiavam seus maridos para levar-lhe comida. Quando chegou sua hora, ela deu à luz sozinha, na noite mais fria de julho."

A fogueira crepitava, enviando faíscas para o céu noturno.

"O que aconteceu em seguida depende de quem conta a história. Alguns dizem que a loucura a tomou; outros acreditam que foi o desespero. Ela entrou no rio com seu recém-nascido, sussurrando orações ou maldições-ninguém sabe. Ela deixou a criança cair na parte mais profunda do canal e então tirou sua própria vida."

Eu tremi apesar do ar quente da noite.

"Mas o rio não simplesmente leva, garoto," disse Seu Joaquim, de repente se dirigindo diretamente a mim. "Às vezes ele transforma."

O CODEMA E A PONTE

 

Um imbróglio esteve prestes a interromper as obras da construção da ponte sobre o rio São Francisco na cidade, envolvendo o IBAMA e DRE-MG. A situação foi criada em face da remoção de material depositado no rio pelas enchentes e pela população fazendo o bota-fora em uma pequena lagoa às margens do rio. Ocorre que nesta lagoa existe uma espécie de pequenos peixes monitorada por organismo ambiental.  Pelo fato o IBAMA denunciaria a ocorrência o que levou ao conhecimento do Codema, pois a lagoa encontra-se em área urbana na qual tem competência o Codema. O DRE a par da ocorrência, embargou a obra e, com isso, a construção foi paralisada. Ciente do fato o Diovani Rene Costa, presidente do Codema, incontinentemente reuniu-se com representante do DRE e IEF buscando uma alternativa, que foi alcançada. Numa diligência rápida, que contou com o concurso do técnico Marcos Moreira Soares do Codema, foi emitido um parecer favorável ao bota-fora em outra área preservando-se a lagoa. O diretor do IEF também assinou o parecer.

Diligência eficiente e rápida do Codema com o aval do IEF na elaboração do parecer técnico permitiu a continuidade da obra da ponte.


O PEIXE EM QUESTÃO



Trata-se do peixe das nuvens, um tipo de peixe anual, da família rivulidae, que vive em ambientes temporários, como poças de água que secam durante a estação seca. São conhecidos por essa denominação popular devido ao fato de aparecerem do nada, como se tivessem caído do céu, após as chuvas.

Em São Francisco jáa foram encontradas pelo menos duas espécies de rivulideos, Hypsolebias hellneri e Cynolebias cf perforatus, ambas ameaçadas de extinção.

Os rivulideos tem como maior risco, as obras de infraestrutura, que por falta de conhecimento aterram as poças em que habitam.

Devido ao alto grau de ameaças que essas espécies sofrem, elas foram inseridas no Plano de Ação Nacional para a Conservação dos Peixes Rivulídeos Ameaçados de Extinção – PAN Rivulídeos – Coordenado pelo ICMBio. O objetivo do Plano é estabelecer mecanismos de proteção aos rivulídeos deste PAN e anular a perda de hábitat das espécies.


LAJEADO: UM ENCANTO

 


Um recanto escondido que se mostra por encanto ao deixar uma trilha amaciada por areia dourada: Lajeado, na região do rio Acari. Paisagem deslumbrante, amena, muito agradável aos olhos e à alma como refrigério de vida em tempos tão atribulados. Tanto verde da mata que se esbarra em uma linha comprida ornando uma vazante com árvores esparsas, pequeno lago suscitando a lembrança do livro Vale Aprazível de Louis Bromfield. É de se sentir, em um frêmito de emoção, a presença de Deus na criação de tão fantástico cromo. Naquele pequeno éden corriam serelepes cabras, vacas pontilhadas ruminando (uma gostosa sesta) e equinos pachorrentos pastando sem pressa, que capim há com fartura.

Em um extremo da várzea encontra-se a capela da Sagrada Família do Acari onde a comunidade se reúne aos domingos para o culto. Tão simples, mas confortável e acolhedora. Atualmente os fiéis são poucos, muitos já foram antes de acelerado êxodo rural. Tão poucos, porém pelo ato de fé persistido leva-se aos primeiros tempos do cristianismo  – eram poucos os discípulos de Jesus, mas firmes na fé multiplicaram-se em milhões vencendo no tempo. Participaram do culto em companhia de Francisco e Jandira: Rosalice, João Naves, Vilma, Beatriz e Marina.

Na mesma várzea, um pouco de lado da capela encontram-se a moradia de Afonso  Soares da Silva e Erotides Alves da Silva, um amável casal, que desafia o tempo, transformando o que poderia ser uma solidão em uma aprazível vida com tudo que se faz necessário para ser feliz e em verdadeira integração com a natureza. Moram em uma casa com 5 quartos de casal  para cada um de seus cinco filhos que, por circunstâncias da vida moderna, deixaram aquele paraíso em busca de trabalho em outras paragens.

A vida cumpre o seu ciclo. O casal tem sua vida como uma dádiva de Deus no seu espírito religioso, interage-se com o meio fazendo do seu quintal um admirável jardim forrado de flores, plantas medicinais, fruteiras e, fantástico, um pé de buriti que Afonso 

plantou ao lado de uma cisterna garantindo-lhe a umidade necessária para o seu desenvolvimento, posto ser ele de natureza alagada. Vai além. O casal plantou uma fantástica horta, muito bem planejada. Todos os dias o casal tem verdura fresca nas refeições, serviço de Tide desempenhado com alegria. A produção da horta não é pouca, réstias de cebola, alho e muita verdura que o casal reparte com os vizinhos, lembrando a primitiva vida dos cristãos que tinham tudo em comum. 

Afonso e Erotides um casal abençoado, feliz, integrado à natureza numa vida plenamente natural tão rica.

O reencontro de Erotides comigo, Vilma e Beatriz levou-nos ao passado lembrando que eu e Vilma éramos padrinhos dela de “Fogueira de São João”, um ato muito respeitado e sagrado, bastando dizer que ela nos pediu a bênção. E mais,  lembrou de Beatriz quando menina de sete anos na Escola Caio Martins, onde ela estudou. E disse que queria colocar o nome de Beatriz em uma filha. Contudo só teve filhos, mas remediou a situação pedindo a uma nora, que tivera uma filha, que lhe desse o nome de Beatriz. E assim foi feito.

LAJEADO DO PARAÍSO: UM PARAÍSO

 


No final de um corredor, cortando o cerrado, uma porteira branca, depois um pátio forrado de miúdas flores e gramíneas verdinhas e, dalí, depara-se com o frontispício de uma casa singela de fantasia parecer. Ao avançar na entrada, vencendo o alpendre florido uma recepção abençoada: imagens de Nossa Senhora e São Francisco. Passando-se pelo interior da casa, com uma divisão muito prática das dependências chega-se a uma enorme área externa. Aí estampa-se com um mundo maravilhoso, enchessem-se os olhos de cores múltiplas de flores de todas as espécies, espalhadas em motivos ornamentais com aproveitamento de tocos, galhos, troncos das árvores e canteiros (tantas flores servem como um manjar melífluo para as abelhas). Quanta criação para ocupar cada espaço com um motivo floral. Portentosas mangueiras e pitombas sombreando a imensa área, num convite ao deleite em sete redes de buriti nelas penduradas. No aproveitamento de descartes de imóveis, duas camas balançantes convidando para o repouso em tarde quente. No outro passar, duas copas e a cozinha, tudo muito convidativo, muito rural e agradável. Depois da cozinha, outra área arborizada sobressaindo-se os citros – um pé de tangerina com galhos escorados de tanta fruta produzida. E tem plantas medicinais meio ao imenso jardim botânico.


UM MOMENTO EMOCIONANTE

Lá nos encontrando em um fim de semana (uma comitiva de amigos), presenciamos um sarau que extrapolou o entretenimento atingindo fortemente a emoção. Com a comitiva à beira da fogueira, de repente, pessoas amigas do casal foram se aconchegando, inclusive com um violeiro. Músicas comuns ao repertório da região, o que foi muito bom e conversa descontraída. Em certo momento, a anfitriã Jandira começou a falar dirigindo-se a um casal que com eles trabalhou na fazenda vários anos e que, por contingências da vida, se despedia. Com a voz embargada, resvalando-se a doce choro, ela contagiou a todos emocionando-os. Como é sublime a gratidão, o que ela expressou ao casal pelo tempo que ele trabalhou na fazenda com toda zelo, dedicação e amizade. A gratidão é abençoada como um ensinamento de Jesus. Ficou mais iluminado o Acari do Lajeado.   


O ACARI

Depois, por uma trilha meio às portentosas árvores chega-se às barrancas do rio Acari. Ah! O Acari de tantas histórias. Já foi piscoso de surubim e dourado, de farta água e até faisqueiro em épocas remotas nele encontradas pedras de diamante. Agora ele divide o leito com enormes bancos de areia de cor púrpura. Pode ser uma ironia dizer que eles são belos contornando o espremendo a corrente que desliza ornada por fechada e viridente mata ciliar. Acari é um nome indígena o que remete à presença de índios na região, os remanescentes de índios tapiraçaba (Januária) deslocados para o território do Acari por Manuel Pires Maciel Domingos. É até plausível que deixando o sertão árido, eles foram de acomodar às margens do rio São Francisco, no local que recebeu o nome de Barreira dos Índios.

Lajeado do Acari é a fazenda do médico Francisco Soares e sua esposa Jandira. Não é só uma fazenda, é um lar acolhedor, um verdadeiro paraíso, razão pela qual mais tempo eles passam lá (quanto possível) que na cidade. Ora, têm todo o conforto que uma residência urbana pode oferecer, porém com muito mais: a exuberante natureza. Além de tanto verde e flores, o despertar matutino é com acordes sonoros da sabiá, com a estridência de sexéus, o canto estridente da seriema e o lamento triste da rolinha.

Não há como descrever o que registram os olhos e sente o coração diante de tanta beleza e paz.

VIAGEM NA LEITURA

 


A EE Dr. Tarcísio Generoso promoveu um momento literário levando um grupo de alunos dos ensinos fundamental e médio para conversar com os escritores João Naves de Melo e Marina Naves de Melo Queiroz. Tratou-se do Projeto Viagem na Leitura com propostas direcionadas aos alunos: Ler abre caminhos: a leitura regular contribuiu para p desenvolvimento intelectual e racional; desenvolve a criatividade e estimula a imaginação; fortalece a capacidade de concentração; ler é muito mais do que decodificar palavras – é construir sentidos, refletir, questionar e crescer, cada página lida contribui para a formação de uma mente mais aberta e criativa. Com esta proposta três alunas estabeleceram um diálogo com os dois escritores buscando conhecer sobre seu processo de criação, a importância da leitura e outros aspectos inerentes ao trabalho do escritor. 

Na oportunidade foi montado um painel com obras dos escritores e banners ilustrativos.

  Leitura, poesia, romance, um mundo fantástico desvendado tendo ao fundo a música proporcionada pela excelente cantora Ailly, aluna do 3º ano do ensino médio da escola e apreciadíssima cantora de eventos na cidade e região. Sem dúvida, ela se apresentou com uma belíssima performance da MPB e um excelente acompanhamento ao violão. Outra contribuição musical foi a do professor Anderson.

sexta-feira, 23 de maio de 2025

O GUARDIÃO DAS PROFUNDEZAS: SEGREDOS DO SÃO FRANCISCO - III

 Murilo Saraiva Queiroz


A IGREJA ALEMÃ


A Igreja de São Félix não era a igreja principal de nossa cidade. Essa honra pertencia à Igreja de São José, construída em 1890, com suas torres brilhantes que capturavam o pôr do sol. São Félix era menor, mais antiga-construída em pedra bruta por missionários alemães que chegaram ao Brasil no final do século XIX.

"Os alemães vieram para construir estradas," explicou Seu Antônio, retomando a história. "Mariano Procópio Ferreira Lage precisava de trabalhadores qualificados para sua Companhia União e Indústria. Eles trouxeram sua religião com eles."

Diferente de muitas das colônias alemãs que se estabeleceram no sul do Brasil, as que vieram para Minas Gerais eram esparsas, sua presença sutil mas duradoura. Os frades franciscanos que construíram São Félix não estavam buscando criar um enclave alemão, mas espalhar sua fé ao longo do rio.

"Floriano da Cunha Lima construiu aquela igreja há 116 anos," disse Seu Joaquim. "Ele encomendou as estátuas de São Félix e Santo Antônio de Portugal. Elas ainda estão lá, observando."

O que Seu Joaquim não  disse – o que todos sabiam – era que a igreja havia sido construída para um propósito muito específico: selar algo.

16ª FEVASF


  No dia 22, quinta-feira, foi aberta a 16ª Feira do Agronegócio e da Agricultura Familiar do Vale do São Francisco promovida pelo Sindicato dos Produtores Rurais de São Francisco realizada no Parque de Leilões União do Vale do São Francisco do próprio sindicato. Foi muita expressiva a presença de autoridades ao evento: o secretário de Estado da Agricultura, secretário de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; Antônio Pitangui Filho Silva, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais; prefeito municipal Miguel Paulo; Ramiro da Colônia, vice-presidente da Câmara Municipal; Ten-Cel Wilson Fabiano, comandante da 13ª Cia Independente da PMMG de São Francisco  e outras autoridades ligadas à agricultura.

A abertura do evento foi feita pelo presidente do Sindicato, José Botelho Neto saudando as autoridades, aos produtores rurais e público presente, destacando a importância do evento. Importantes falas foram as do secretário Thales e do presidente FAEMG Antônio Pitangui prestando informações de alta relevância a respeito da agricultura no país e, sobretudo em Minas Gerais, com um crescimento notável nas exportações chegando a superar a exportação de minério. Destacaram dados sobre a pujança do setor agrícola no Estado com excelentes resultados. Uma informação muito aplaudida: o município de São Francisco tem o maior rebanho bovino do Norte de Minas com mais de 150 mil cabeças e, ainda, a segunda maior bacia leiteira da região.

O prefeito Miguel Paulo ressaltou a importância do Sindicato no município. O gerente do Banco do Nordeste levou ao conhecimento dos produtores a abertura de várias modalidades de financiamentos de projetos agrícolas e para a economia informal.

A feira deste ano  tem uma extensa e muito interessante programação com diversas palestras indo do dia 22 ao dia 25, encerramento com Grande leilão carga fechada. E mais: palestras, informações e, todas as noites,  a realização de shows.

Um destaque: a quantidade de estandes que ocuparam a imensa área do parque, superior à dos anos passados, o que demonstra a pujança crescente do setor agropecuário no município e o trabalho do Sindicato. Impressionante a quantidade de máquinas agrícolas expostas – grandes e pequenas e para atender vários trabalhos no campo. Tudo reunido compôs um cenário grandioso, chamando a atenção dos visitantes.


COMENTANDO


O secretário Thales abordou o potencial do Norte de Minas na área da agropecuária, alertando que para explorá-lo é mister que parte da população saia da coleira do populismo. Discorreu sobre os efeitos deletérios da bolsa família e auxílios disso e daquilo, que têm levado uma grande faixa da população à dependência do governo. Foi enfático dizendo não ser contra os benefícios ressaltando, contudo,  que o importante é o trabalho, cujo resultado é benéfico para todos: governo e população. Quem tem emprego e renda, tem dignidade, pode comprar seus bens. Muitas pessoas que não querem trabalhar, não querem assinar carteira de trabalho para não perder benefícios do governo perdem a dignidade, transformando-se em parasitas.

As duas palestras deveriam ser impressas em uma cartilha para ser distribuídas aos produtores rurais e até mesmo nas escolas, onde se vislumbra o amanhã.