Voltando-se ao problema social que afligia a sociedade belo-horizontina na década de 1940 sabe-se que ele teve com origem no desamparo de crianças desvalidas, abandonadas. Naquela ocasião um fato ganhou imensa repercussão suscitando providências: a vida do marginal José Muniz que causava pavor à população da capital. Preso ele prestou depoimento às autoridades e jornalistas revelando o motivo que o levou à marginalidade – quando adolescente tendo a sua mãe prostrada na cama gravemente enferma, desesperado correu a uma farmácia em busca de remédio. Não tinha dinheiro para comprá-lo e farmacêutico negou fornecê-lo. Desesperado ele saiu pela rua e roubou dinheiro para comprar o remédio, mas quando chegou em casa encontrou a mãe morta. Sozinho no mundo, revoltado, ele partiu para a senda dos roubos e crimes sempre alertando a população: “Zé Muniz voltou para vingar a sua mãe”. O governador Milton Campos homem sensível aos problemas sociais de seus coestaduanos, ao ter conhecimento da história do adolescente, preso numa delegacia da capital, fez uma convocação pela imprensa, às entidades constituídas, às empresas, a comércio e, enfim, todos os mineiros para a constituição de uma cruzada de Fé e Coragem para o Amparo à Criança Desvalida. Um alerta à sociedade. Sublimava o problema do menor abandonado.
Outro exemplo igual ou de maior gravidade foi o de Caryl Chessman assassino americano condenado à morte, que deixou uma carta narrando a sua história lida por Manoel Almeida na tribuna da Câmara dos Deputados destacando um trecho: “Dizem que o menino é o pai do homem. Amanhã de manhã, a não ser que haja uma ordem em contrário do Tribunal serei executado. Morrerá o homem, mas que será do menino?”
Manoel Almeida, fundador das Escolas Caio Martins, comenta com sensibilidade: “O menino é realmente o pai do homem, como a semente é a mãe da árvore. Vi muitas crianças consideradas perversas transformarem-se em homens de bens. Não conheci uma criança sobre a qual não se fizesse sentir o esforço racional visando ao seu encaminhamento para o lado útil da vida. Mesmo deficiências psíquicas tratadas com a filosofia do amor, puderam transformar-se em crianças dignas, úteis à sociedade”. Finalizando o discurso disse o deputado: “Caril Chessman, o homem que não teve infância, o menino pobre e atribulado de Grendale, cujo problema pensou a sociedade eliminar eliminando-lhe a vida!”
Pergunta-se: não é o que acontece com milhares de nossas crianças de hoje? A sociedade acusa o final esquecendo-se do princípio. Fecharam-se as portas das Escolas Caio Martins para as crianças em “estado de risco”, o ECA encontrou caminhos no papel; o Ministério Público abraçou-o sem emoção. Tudo muito bem estado, bem escrito e muitas crianças mais abandonadas que nunca. Ora, governantes pensam de maneira diferente: é preferível amenizar com “benefícios” que promover a criança a homem.
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