sábado, 5 de maio de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS



OS PEDREIROS – JUCA PEBA

 José Alves de Lima – filho de Antônio José Alves Aranha, baiano do Morro do Pará, e da gorutubana Ana Corsina Lima. Quando o pai dele chegou a São Francisco foi trabalhar com Chico Peba, passando, por isso, a ser conhecido como Juca Peba, apelido que passou para a família. Seu avô materno, gorutubano, lidava com tropas, o que levava a empreender viagens por toda a região. Quando ele chegou a São Francisco, gostou e aqui se estabeleceu.
Juca Peba teve sua iniciação na arte de pedreiro por volta de 1946, como servente, quebrando pedra em frente da Matriz, para a construção do cais. Era uma atividade arriscada, que os marreteiros executavam com graça e atenção, improvisando versos onomatopaicos para dar ritmo ao trabalho. A broca de aço era apontada na pedra; um oficial a empunhava com uma proteção de pano; outro ia jogando água. Em volta, quatro marreteiros iam dando as pancadas, enquanto o cavouqueiro girava a broca, com a música marcando o ritmo e a hora de cada pancada:
“Marreteiro, ô!
Cavouqueiro novo (pancada);
Se não te quebra a perna (pancada);
Ou te quebra o braço (pancada).”
Com o tempo, o mestre Berto o elevou a pedreiro. Os empreiteiros da obra eram Dr. Vicente e Aleto Pitanga, nortistas que dividiam o tempo entre São Francisco e Januária, fiscalizando as obras.
São Francisco era uma coisinha – diz Juca Peba. “Assim, cada construção levantada era uma novidade e a gente via a cidade crescendo aos poucos. Lembro bem da construção de uma casa que fiz para o padre Guerino, um sítio que fica hoje na Caio Martins (o local ainda é conhecido como Sítio). O padre Guerino era muito trabalhador, ele tocava uma roça no local. Carregava madeira, fazia cercas e tinha uma força danada. A gente penava para carregar as toras com ele. Depois do cais, fui trabalhar na construção do hospital. Mestre Bento era o encarregado. Depois fui trabalhar uns tempos em São Paulo. Voltando para São Francisco, fiz mais umas obras: as casas de Dr. Raimundo, Floriano Mendonça, Igreja Nossa Senhora do Carmo, Centro Cultural e muitas outras. Trabalhei na reforma da Matriz. Um dia eu estava no alto, preparando a base para receber a armação de novo telhado (estrutura metálica); eu ficava em pé, orientando o corte na parede, que tinha uma grossura de setenta centímetros. O padre Vicente viu aquilo e ficou bravo comigo. Não queria saber daquelas estripulias. Daí pra frente tive que trabalhar com todo cuidado.”
Juca Peba sofreu um acidente, quebrando a perna. Foi se cuidar em Montes Claros. No hospital, viu um quadro na parede descrevendo o trabalho dos vicentinos. “Aqueles dizeres me inspiraram. Quando voltei para São Francisco, já curado, entrei para a confraria e até hoje me dedico aos serviços da Sociedade São Vicente de Paulo com muita alegria”.
Encerrando a profissão de pedreiro, Juca Peba instalou uma bodega na rua Sancho Ribas, depois se mudou para a Presidente Juscelino, no ponto onde atualmente funciona o bar de Zé Rodolfo e lugar em que morava antes o Juquinha Padre (não era  padre, mas se vestia e agia como tal, porque pertencia a uma irmandade que Juca não sabe dizer qual). No dia 21 de abril de 1960, mudou-se para a casa onde mora até hoje e tem seu comércio – Presidente Juscelino com Odorico Mesquita. Era última casa da avenida Presidente Juscelino. Depois, só mato.
Juca Peba casou-se com Zilda Alves Ferreira (falecida), com quem teve seis filhos – cinco professoras e um motorista, todos muito bem de vida. Tem dezoito netos.
André e Juca Peba representam aqui as figuras dos aprendizes e mestres pedreiros, que vêm de milênios e que são tomadas como paradigmas para embasamentos filosóficos e religiosos, através de sua atividade. As grandes obras, como as pirâmides do Egito, os palácios, como Taj Mahal, a Muralha da China, o templo de Salomão, tantas obras que se transformaram em maravilhas não seriam possíveis sem o compasso, o prumo, o nível e a aplicação dos mestres e o trabalho dos aprendizes. Como também nas simples moradias, onde encontramos a proteção e o conforto, que, além do bem-estar proporcionado, dá ao homem a segurança e auto-afirmação – aí está o trabalho do mestre e do aprendiz.
Mais digno ainda é que na dura lida, sob sol inclemente, se expondo a riscos constantes, sem esmorecimento, eles fizeram desse trabalho, com muita honradez, o seu ganha pão, construindo ao mesmo tempo a sua maior obra: a família. São exemplos para todos, especialmente para a nossa juventude.
João Naves de Melo

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