sexta-feira, 27 de abril de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS



JOSÉ ALVES ALMEIDA

Abril 2001
A região de Mocambo, Vargem de Casa e Lagoa do Pintado, tem muito da história dos Almeida. A raiz do tronco que registramos foi Plácido Alves de Oliveira e Joana Francisca de Almeida, na fazenda Vargem de Casa, onde nasceu, em 23 de novembro de 1925, José Alves de Almeida, o Zeca de Plácido.
Tempos atrás, chegou a esta região o casal Manoel Alves de Oliveira e Maria Francisca das Neves. Veio do Gorutuba, como muitos outros, em levas de retirantes de uma grande seca que assolou aquela região, levando todos moradores à desesperadora fome.  Vieram em busca de água, nas proximidades do grande rio, o São Francisco, Não se assentaram nas barrancas, como observa o pesquisador são-franciscano, João Botelho Neto, em razão da sezão – foram se distribuindo pela região adjacente: Tinguis, Brejo dos Angicos, Buriti de Meio, Mocambo e depois foram se espalhando, à medida que constituíam novas famílias. Foi o caso de Plácido que deixou a grande fazenda do pai, no Mocambo, indo se instalar na Vargem Grande. Ali nasceu José Alves de Almeida que, ainda menino, fazia o caminho para São Francisco, na frente de um carro-de-bois, como guia. A viagem levava um dia e meio: saiam da fazenda Vargem de Casa numa madrugada e só chegavam ao mercado, em São Francisco, ao meio dia, do outro dia. Ali descarregavam suas mercadorias: mamona, algodão, rapadura ou milho, conforme a ocasião. Antes disso ele já conhecera São Francisco viajando com o pai, na garupa de cavalo. E lembra dessa época e anos mais adiantados: “São Francisco era uma corrutela. A cidade ficava no trecho entre a casa do Brazinho (avenida Montes Claros), passando pelo barranco do rio, subia no comércio de Cavalo Velho (rua Silva Jardim) e acabava na manga onde hoje é a praça de esportes (avenida Brasiliano Braz). Eram um punhado de casinhas, falhadas”.
Crescendo veio a conhecer o Cel. Oscar Caetano que foi prefeito da cidade no tempo da ditadura de Getúlio. Outro nome falado era o do Brazinho. Não fez mais contatos com os antigos, lembrando muito do “dr. Geraldo Ribas, um homem muito inteligente”. Dessa época também recorda do reboliço que causava o caminhão de Cândido, de Brasília de Minas, o primeiro que viu. “Ele levava uma semana para ir a Montes Claros e outra para voltar. O Cândido tinha que levar uns homens com foice, machado e enxadão para ir abrindo estrada. Tinha também a perua de Abner e o calhambeque do dr. Ferreira, um Fordinho. O pesado do transporte era feito nos vapores e barcaças, pelo rio ou pelas tropas de mulas. Era bonito ver a mula madrinha toda enfeitada, levando mais de cinco guizos, fazendo barulho na frente da tropa”.
Zeca de Plácido foi dos poucos são-franciscanos que estiveram às portas da Segunda Guerra Mundial. Convocado, ele partiu cheio de angústia, no vapor Curvelo, para Pirapora e de lá para Montes Claros, onde se submeteu aos exames médicos. Com ele foram Sady Maynart, Dário da Mata, Aldair e Nezinho Vieira, mas só ele e os dois últimos seguiram para Belo Horizonte, indo se alojar no 10º Regimento de Infantaria – Sady e Dário se livraram do risco do combate. Zeca, então, começou o treinamento puxado para o combate. A rendição da Alemanha o salvou. Bendita paz! Contudo, ele não pôde voltar logo para casa – ficou uns tempos mais no exército, pois havia um certo receio do recrudescimento da guerra, até mesmo em relação a atitudes belicosas da Argentina, à época a maior potência da América Latina e simpatizante do nazismo. Por fim, em 1946 ele foi incorporado como reservista de primeira classe e deu baixa, antes tendo feito um curso de cabo, não sendo aproveitado em razão do término da guerra.
Voltou para São Francisco. Não foi recebido com festas, nem teve homenagens. De volta à fazenda Vargem de Casa casou-se com Ana Vieira de Almeida e foi morar em sua própria fazenda, na Lagoa do Pintado.
Aquela região, diz ele, “era de muita riqueza. Terra muito boa, cheia de pântanos, brotando água e córregos fortes, escorrendo água o ano todo. Produzia-se de tudo: mamona, feijão, milho, algodão e principalmente cana-de-açúcar. Na época da construção de Brasília cansei de trazer o carro-de-bois cheio de rapaduras para mandar para lá, enchendo os caminhões aqui na cidade”.
Completou com tristeza: “hoje está muito diferente. Não se vê mais água correndo nos córregos e, neste ano, os pântanos estão secos de rachar o barro. Água só de poço”.
Do casamento com dona Ana, vieram os filhos José Carlos Almeida – cirurgião dentista e prefeito municipal de São Francisco, e José Aroldo Almeida.  José Carlos é casado com a cirurgiã-dentista Antonieta Yamamoto tendo o casal as filhas Luciana e Lana Key. Aroldo, empresário,é casado com  a contadora Vanusa, tendo o casal as filhas Mariana, Maria Elisa e Iara.

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