sexta-feira, 27 de abril de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

XXXVII – Parte
OS EDUCADORES – FINAL

Fecho nossas lembranças sobre os educadores da Escola Caio Martins de Esmeraldas, na primeira fase, ou seja, no período em que lá estudei (1953/1956), pessoas simples, como disse, mas grandes educadores por natureza. Era nessa amálgama de educadores com as famílias da região, todas integradas ao sistema educacional através de atividades religiosas e culturais, que acontecia a Síntese Social pregada por Manoel Almeida.
Agora, faço o registro de duas personalidades ímpares: MARIA CÉLIA DOS SANTOS e MANOEL ALMEIDA, dois grandes educadores, humanistas e de uma visão além do seus tempo.
Começo focalizando Manoel Almeida o idealizador e fundador das Escolas Caio Martins (Esmeraldas, Pirapora/Buritizeiro, Urucuia, Carinhanha, São Francisco e Januária)
Cel Manoel Almeida,Coronel simplesmente como o chamávamos, passava todos fins de semana na escola, com sua família. Seu programa era muito rico. Nos sábados, geralmente, ele se fazia cercar por nós, ora no bosque, ora na Casa dos Escoteiros ou na Rádio (edifício que se transformou em sala de sessões de cinema, teatro e reuniões sociais), quando nos passava lições de vida, temperando nosso caráter. Então, de pequeno, através de suas preleções, fomos mergulhando no mundo dos filósofos e educadores – Sócrates, Platão, Aristóteles, Pestalozzi, Rousseau e Dewey. E de quando em quando estávamos de frente de Helena Antipoff, Amaral Fontoura, Malba Tahan e Anísio Teixeira, ouvindo suas falas. Muitas vezes sem nada entender, de imediato. Com o tempo passado, quando brotavam de nossos espíritos, de acordo com as ocasiões, entendemos que suas mensagens nos foram, pacientemente, implantadas.  O Coronel tinha uma maneira muito peculiar de se comunicar conosco. Falava por horas a fio, prendendo nossa atenção o tempo todo, porque ele passava as mensagens contando histórias, era um mestre das parábolas. Durante quatro anos a primeira turma do Curso Normal tinha encontros semanais com ele, Sutilmente ele começou a preparação da Bandeira do Urucuia. Falava sobre uma região ressaltando seus aspectos paradisíacos, com veredas tropicais, e atiçando nosso elã de mocidade com a existência, lá, de morenas dos olhos verdes. Tanto fala sobre do Urucuia, região que sequer havíamos, antes, ouvido falar, que a partir do terceiro ano do curso só pensávamos no grande momento da partida. Urucuia entrou em nossa alma e o nosso espírito ficou impregnado do Urucuia. Que pedagogo era o Coronel. Ele nos preparou para a grande missão, passo a passo, e assim, já no final do curso, dos 15 formandos – à exceção das mulheres -, ele recebera a adesão de 12 – não fizeram parte da Bandeira o Geraldo Almeida, que já era professor rural na região, Adilson, o caçula da turma, que tinha outras pretensões em Esmeraldas, onde vivia sua família de reconhecida proeminência – Campolina, e Durval, que tinha sonho de ser médico – o que conseguiu. O nosso compromisso com o Urucuia – que dizíamos ser a força do ideal ou ideal em marcha – era tanto que no dia da nossa formatura um fato muito especial me envolvendo, aconteceu. Eu fui o orador da turma. Foi um discurso emocionante, que narrava a saga caiomartiniana e nosso compromisso com a bandeira do Urucuia. Ele foi escrito, de forma magistral, o que lhe era peculiar, por dona Maria Célia, eu fui o intérprete e o fiz com tanto emoção, chegando às lágrimas, no que fui acompanhado pelos bandeirantes à medida que eu os conclamava a responder o chamado, por muitos dos presentes à cerimônia e, pasme-se, pelo paraninfo da turma, governador Bias Fortes. Encerrada a sessão fui procurado por um senador – Francisco Naves. Disse ele que eu era parente dele e que gostaria custear um curso superior para mim – o que escolhesse. Agradeci de coração, mas declinei da oferta dizendo que eu tinha um compromisso com o Urucuia. Ele, então, retrucou dizendo que quando eu tivesse cumprido minha missão, o compromisso dele estaria de pé.  Três anos depois, cheio de pesar, eu deixei o Urucuia para dirigir a Escola Caio Martins de São Francisco. Deixei o Urucuia, de corpo, mas o Urucuia nunca deixou minha alma.
O Coronel soube tão bem semear.
Na história das Escolas Caio Martins – todos os núcleos plantados pelo idealismo de Manoel Almeida, por sua visão, deslumbrando o futuro novo para regiões abandonadas, desassistidas, o seu nome sempre será reverenciado. Depois, no campo da educação e da assistência social, o seu olhar e atenção muito especial voltados para a criança e para o homem do campo, provando grandes transformações, ele deve ser lembrando pelo serviço prestado à nação brasileira. Um exemplo que deveria ser seguido por nossos governantes e políticos, que infelizmente não falam com a linguagem do coração, do idealismo.
João Naves de Melo

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