sábado, 19 de maio de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

XXXVIII – Parte
OS EDUCADORES – FINAL (Continuação)


Encerrando a primeira parte de meus apontamentos sobre as Escolas Caio Martins – apontamentos para a construção de um livro já em elaboração – publico uma carta que guardo como um verdadeiro tesouro. Tesouro para demonstrar, mais uma vez, como funcionava o sistema educacional das Escolas Caio Martins – a filosofia do amor. Éramos, os alunos, tratados como filhos pela grande família de servidores/educadores, em todos os núcleos. Uma carta especial porque foi para cumprimentar-me por meu aniversário – carta de dona Maria Célia que, no mês anterior também aniversariara, razão pela qual eu a escrevi festejando. Não é uma simples carta. É uma página de amor de mãe estendendo um olhar e uma atenção especial ao filho, querendo-o feliz na vida. A atenção continuou e, em meu coração continua até hoje, embora ela tenha se encantado – encantada mais sempre presente em nosso coração.
Um exemplo para estes tempos de tantos desencantos, sobretudo no campo da educação e de políticos e empresários corruptos solapando as riquezas da Pátria.
“Belo Horizonte, 19 de maio de 1975
Meu caro João Naves,
São quanto, mesmo, os motivos que me colocam agora diante de uma folha de papel, resolvida a escrever-lhe? São muitos e variados: motivos antigos, motivos de vinte anos, motivos eternos, motivos recentes… Fiquemos com estes: o primeiro deles – responder à bela carta que me enviou por ocasião de meu aniversário.
Você nem pode avaliar o quanto me senti feliz ao ler aquelas duas páginas maravilhosas.
Que Deus o abençoe, meu filho, pela generosidade imensa de seu coração, pela bondade ilimitada, pela fé grandiosa, pelas obras magníficas a que se entrega com tanto amor. Estou encantada e orgulhosa de você, embora sabendo que é muito generoso de sua parte afirmar que sua vida é “um roteiro copiado” do que mostrei com meu ensinamento. A verdade, filho, é que você está fazendo muito mais, muito mais mesmo do que eu pude fazer em nosso tempo de Escola. Você tem sido extraordinário. Quem me dera poder assistir suas aulas de religião aí no normal.
O outro motivo desta carta – a passagem de seu aniversário no princípio deste mês. Não vou dizer-lhe que “neste dia eu rezei por você” porque isto eu o faço diariamente: em minha prece de cada anoitecer seu nome é mencionado infalivelmente, porque quero sabê-lo sempre feliz e é a Deus que tenho de rogar sua proteção. Também eu penso como Exupery – jamais olvidamos aqueles que um dia nos cativaram.
Em nosso Curso Normal, se tive oportunidade de dar muito de mim, tive também a alegria de ver retribuída a estima que eu dava a vocês.
Lembro-me sempre: você, chegando à janela de meu quarto, lá naquele alpendre de nosso casarão, com uma florinha azul que colhera no bosque, estendendo-a para mim, com um sorriso: “É um presente de homem do campo…” Que bom que estes momentos grandiosos possam ficar para sempre com a gente, não é? Este foi um momento bom, que guardei para mim, que ninguém vai tomar-me, é meu, está sempre comigo. Graças a você, filho. E quantos são os momentos bons, cuja lembrança constitui o meu tesouro, bem guardado no fundo do coração?
Agora, manda-me você esta carta maravilhosa que eu leio e releio, vejo que estou colocada mais alto do que mereço, mas fico feliz, por tudo.
Continuarei sempre a pensar em você e a repetir seu nome nos meus momentos de prece. E Deus há de me ouvir e há de sempre iluminar seu caminho, dando-lhe muita felicidade ao lado da Vilma e de seus filhinhos. Abrace todos por mim. Para você, aqui fica meu abraço amigo e uma benção, de coração.
Maria Célia”.
João Naves de Melo

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