sábado, 26 de maio de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

XXXIX – Parte
OS EX-ALUNOS
Na primeira parte do pequeno histórico que fiz sobre as Escolas Caio Martins, ative-me a fatos relacionados à minha vivência como aluno e, depois, diretor de unidades delas, podendo até mesmo classificá-los como memórias de um caiomartiniano. Posso dizer, sem qualquer margem de dúvida, que tal relato encontra ressonância, e tem a mesma acolhida, por parte de milhares de ex-alunos das Escolas Caio Martins. Gostaria de relacionar tantos deles cujas notícias chegam-me constantemente dando ciência de seu sucesso na vida e o amor à escola. Vamos encontrá-los em diversos campos de atuação na sociedade: professores, diretores de escolas, superintendentes de ensino, advogados, médicos, engenheiros, militares, empresários, contadores, agrônomos, técnicos em agropecuária, enfermeiros, técnicos ambientais, servidores públicos, músicos, tipógrafos, vereadores, prefeitos, padres, pastores, mecânicos, motoristas, e até mesmo uma pré-candidata à presidência da República (a indígena Sonia Bone Guajajara que estudou no CI de Esmeraldas). Todas notícias que recebemos, com raríssimas exceções, nos dão conta de que são cidadãos cônscios de seus deveres para com a pátria e a sociedade, com famílias bem constituídas, gente de bem.
Muitos desses alunos tiveram o privilégio de estudar em Esmeraldas – curso Técnico em Agropecuária e Magistério – e, com isso, encontrando mais facilidades na vida. Porém, no mesmo caminho, encontramos meninos e meninas que passaram pelos Centros de Treinamentos de Líderes Rurais de São Francisco e Januária, numa primeira fase, estudando até o quarto ano primário e, noutra até ao 8º ano, e se saíram muito bem na vida como professores rurais, profissionais liberais, mecânicos, motoristas, pedreiros, marceneiros, costureiros e alfaiates. Mais que isso, se fizeram agentes transformadores do meio, como ensinava o fundador das Escolas, Coronel Almeida – transformar o campo através da criança. Há um exemplo muito singular que atesta tal transformação, no campo dos costumes, da saúde, que nos foi repassado pelo padre Francisco, pároco de São Francisco na década de 60. Disse ele que em viagem pelo interior do município, nas desobrigas, chegando a uma casa ele ficava sabendo da existência de morador que estudara na Escola Caio Martins, quando via mesas forradas com toalhas bordadas, potes com tampa e os copos de alumínio areados e cobertos – dois copos: um para retirar a água e outro para beber. Outro sinal, vinha da música: ele tinha instalado no jipe Vemaguet um aparelho de som para tocar músicas nas celebrações das missas e, no transcurso da viagem, ele tocava as músicas do coral da Escola.
Poder-se-ia dizer que ex-alunos de outras escolas do país também galgaram boas posições na vida. É certo, mas não há paralelo com o sistema Caio Martins, considerando o seu público/aluno. Em primeiro plano (caso de Esmeraldas e Buritizeiro), parte deles era formada por crianças em estado de risco, com famílias desestruturadas. Noutro plano estão os alunos oriundos de regiões que não ofereciam cursos profissionalizantes.
No terceiro plano estão os alunos dos Centros de Treinamentos e, em parte, dos Núcleos de Carinhanha e Urucuia. Até à década de 70, nesses municípios, não haviam  escolas no meio rural com o antigo primário completo, ministrava-se apenas os dois primeiros anos – eram escolas alfabetizadoras. Para os pais conseguirem uma vaga nas escolas nessas Caio Martins equivalia conseguir uma vaga em uma universidade nos tempos atuais, era concorrida a prova de seleção.
Eram, então, essas escolas o único meio de promoção do homem do campo através da criança.
Quando, como e por quê as Escolas Caio Martins praticamente fecharam as suas portas?
O que justifica a atual situação das dessas escolas um fantástico patrimônio educacional, social e humano, quase à bancarrota?
Teria os governantes, e a sociedade, uma resposta?
João Naves de Melo

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