segunda-feira, 2 de outubro de 2017

HISTÓRIA EM FORMA DE CRÔNICA

                                                                                                        JNM   

DUAS JOAQUINAS

Duas matriarcas fizeram história em Minas Gerais – nas regiões Oeste e Noroeste e, por coincidência, assinavam o mesmo nome: Joaquina.  A confusão é explicável: as duas foram figuras proeminentes, de forte personalidade, influentes e muito ricas: Joaquina do Urucuia e Joaquina de Pompéu.
JOAQUINA DO URUCUIA
A Joaquina mais pobre tinha no sertão urucuiano, no antigo território de São Romão, uma fazenda com mais de 12 mil alqueires de terra. Dominava as margens do rio Conceição, confrontando com a fazenda dos Palmas, na Boa Vista, até nas divisas com o Urucuia, ultrapassando o rio Conceição e beirando a Lagoa das Almas, nas proximidades de Porto de Manga, passando pelas serras do Constantino e Confins – era um sertão de perde de vista, como dizia Guimarães Rosa, “sem fronteiras”.
Nova Capela em construção.

Manoel Ambrósio, fechando o último capítulo de sua novela, vaticinou:  “Ah! Tudo passa neste mundo, como passou a fazenda Conceição” e, indo adiante escreveu  finalizando: “Além, ao fundo, memoroso ribeirão na mata virgem, e nessas ribas silenciosas – ela – somente ela, a triste ermida, abandonada, exalando um doloroso remorso. E um dia, bem talvez, nem sinal dela restará”Dona Joaquina do Urucuia teve uma vida muita agitada, cheia de confronto com a família, política de São Romão e tida como tirana no trato com seus peões e temida pelos boiadeiros que com ela comercializavam. Daí, a obra de Manoel Ambrósio, “A Ermida do Planalto”, que com pinceladas pouco lisonjeiras mostram uma matriarca. Joaquina, nos anos 800 foi senhora absoluta de um império sertanejo. Além do escrito de Manoel Ambrósio restaram as histórias, muitas cercadas de lendas que, sem registro escrito, deixaram dúvidas no ar. Afinal, quem foi Joaquina do Urucuia. A respeito das lendas, marcando os anos em que vivi exatamente no sítio onde ela levantara sua fazenda, passando por trilhas que certamente ela percorrera, até sentindo sua presença, nas ruínas de sua casa, nos esteios carcomidos que sobraram da capela de Nossa Senhora da Conceição, no corredor da pedra da emboscada escrevi o romance Joaquina, uma lenda urucuiana. Nada bibliográfico, apenas narrativa das histórias que ficaram, o que ainda hoje contam os moradores da região.
E não foi assim. O nome Conceição foi resgatado. Foi tirado de uns tempos de horror para marcar uma nova fase daquela fazenda. Contava o Cel Almeida que a missão de instalar um núcleo naquela fazenda fora-lhe passada pelo então governador Juscelino K. Aquelas fazenda – Conceição, São João e Rodeio – com mais de 12 mil alqueires de terras férteis, com muita água, pastagem natural e matas, despertava a cobiça de empresário e políticos. Levantavam-se as mãos para arrancar aquele valioso patrimônio do Estado para servir a interesses particulares. O governador preocupou-se com a situação e com o dilema em que se encontrava: se concedesse as fazendas para empresário decretaria o fim de sua carreira política. Se assim não o fizesse, não teria o apoio deles para a sua vida política. Deus o iluminou, pois procurando o Cel. Almeida, então presidente do Conselho Diretor das Escolas Caio Martins, ele destinaria aquelas terras a um projeto inusitado: a Colonização para atender aos agricultores e as crianças, implantando escolas e mais escolas numa região até então esquecida, completamente, no mapa de Minas. Ninguém poderia ir contra um projeto desta natureza.
Assim, em junho de 1957, doze professores/bandeirantes inauguram o que foi conhecido como Núcleo Colonial Vale do Urucuia, na fazenda Conceição, ao pé da Serra da Conceição, às margens do Ribeirão da Conceição e com as águas do Conceiçãozinho. Com os bandeirantes foi desembarcada uma bela imagem de Nossa Senhora da Conceição, que muito depressa ganhou uma pequena igreja, quase próxima da antiga ermida. Enfim, Conceição e de maneira muito especial: abençoando crianças da região que ganharam escolas. Iniciou-se um novo ciclo. Uma nova vida inaugurada.
De certa forma Joaquina foi alçada do esquecimento. Por causa dela e por ela, aquele sítio fora denominado – em tudo – Conceição, uma homenagem à Virgem Conceição sem dúvida, pois lá construíra, para ela, formosa capela.
A fazenda Conceição, a fazenda de Joaquina rejuvenescida ganhou nova vida, uma formosa Vila, Vila Conceição.

Um comentário:

  1. Interessante demais. Quais as fontes do seu texto? Tenho interesse pois estou fazendo uma pesquisa em relação a obra Ermida do Planalto e o relato que Manoel Ambrósio apresenta

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