sábado, 10 de agosto de 2024

TRÊS REZADEIRAS

     Não que o fervor tenham se arrefecido em São Francisco, onde a participação dos fiéis ainda é muito intensa nos templos católicos e evangélicos. Contudo, algumas manifestações de devoção já não são as mesmas, os fiéis estão mais acomodados com a facilidade de orações transmitidas pela televisão com intensa penetração com a emissora católica Canção Nova. Não muito longe, porém perdendo-se na brumas do tempo, eram comuns as rezas nas casas do terço, ofício de Nossa Senhora, Ladainha (em latim) e a “incelências” nos velórios. E ainda o comprimento de promessas com apresentações do auto São Gonçalo e ternos de folias de Reis. Tempo ido.
    Nesta semana, sugerido e acompanhado por José dos Passos e Adalgisa, do Conselho Municipal de Cultura e do Preservar, visitei três senhoras que, emocionada, relataram parte de sua vida nas participações de ofícios religiosos. Maria, Maria e Maria, nos receberam com muita simpatia, solicitude e alegria, proporcionando-nos momento de “uma volta ao passado” carrega de emoção.
 

   Dona ANA ALVES DE JESUS LOPES


 

    Numa tarde de clima ameno ela nos recebeu confortavelmente instalada na sala de visita da sua casa, um ambiente muito acolhedor, localizada no bairro Santo Antônio. Muito simpática e expansiva narrou-nos detalhes de sua existência somada 85 anos, viúva e Geraldo Pereira Lopes, oriundo de Luislândia (certamente das famílias que chegaram a São Francisco pelo caminho do sertão). Ela nasceu  na Prateada, onde viveu bons tempos até se transferir para Novo Horizonte. Tanto numa quanto noutra comunidade, dedicou-se intensamente à atividades agrícola plantando milho, feijão arroz. E exercia outras atividades como auxiliar na serração de toras de madeira para vender as tábuas (o antigo processo de serrar madeira com serrotão em estrado). Ajudava encangar os bois no carro e, depois, seguia na guia em viagens empreendidas. Nos festejos, lembra que seu pai Zacarias Pereira era folião e rezador. Fabricava peneira de tabocas e gamelas de madeira para o uso de casa e para vender. No entretenimento, dançava s suça (lundu) e o Carneiro. Na quaresma rezava novenas nas casas de famílias. Outra devoção era a reza e procissão pedindo chuva – corria um percurso levando garrafas, pedras e litros de água na cabeça que depositavam nos pés de cruzeiros e repetiu, com voz limpa, um verso:  “Atendei Maria, Atendei agora/ atendei, Maria/ Atendei, agora/ Valei-me Senhor/ Chuva do céu/ Vós manda agora”.



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