sábado, 17 de agosto de 2024

TRÊS REZADEIRAS – II

 

No capítulo anterior focalizamos a veneranda senhora ANA ALVES DE JESUS LOPES, que trouxe a lume alguns aspectos interessantes de sua vida relatando um pouco da história e costumes de São Francisco de tempos idos. A sua narrativa leva a uma viagem no tempo, quando São Francisco pulsava mais no campo que na cidade, com as mulheres participando das atividades da família no lar e no campo; quando, na cidade, o relacionamento das famílias era mais estreito no convívio diário, especialmente nos ofícios religiosos: as rezas nas casas em diversas ocasiões – novenas, dias de santos e nos folguedos, como a dança do São Gonçalo, levantamento de mastros e tantas outras festas. Foi neste clima que viveu

 

LEODINA DOS SANTOS SILVA – DONA LIÓ

 

 


 

Numa manhã agradável, na companhia de José dos Passos (Secretaria de Cultura) e Adalgisa Botelho de Mendonça, (presidente do Preservar),  chegamos à casa de dona Lió, que nos recebeu numa arejada varanda, comodamente assentada. Um ambiente muito agradável e, aí, ouvimos um pouco de sua história tão bonita.

Nascida no Mangaí, então município de Januária, 86 anos, casada com Brasilino Antônio da Silva (falecido), 4 filhos vivos. Depois ela veio para São Francisco indo morar na comunidade de Tapera, onde labutava no campo cultivando milho, mandioca, feijão – “puxava enxada no eito, nos mutirões, e comia nas gamelas com os companheiros, comida farta com muito toucinho”, contou sorrindo, com orgulho. Trabalhava na oficina de farinha – ralando mandioca e fabricando a farinha.  O entrosamento na comunidade acontecia através dos folguedos e ofícios religiosos. Dona Lió, como tantas outras rezadeiras, participava ativamente dos ofícios da Semana Santa rezando de casa em casa e, na Sexta-Feira Santa, o ofício era rezado  na casa da avó Ana Maria; rezava também o Ofício de Nossa Senhora e as incelências nos velórios.  Durante a Semana Santa sua mãe servia iguarias para o rezadores: pamonha, bolo e milho verde. Os folguedos eram animados, diz ela. Com 13 anos de idade já dançava o São Gonçalo no terno de Albino e João Pomba Triste cumprindo promessas; que a mãe dela dançava  suça e o carneiro levantando poeira no terreiro (nos dias de hoje não se vê mais rodas e terreiradas como estas danças tão voluptuosas). Bons tempos, dona Lió, com a vantagem, hoje, de ter o que contar.

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