sábado, 17 de agosto de 2024

AS CASAS – V

 



 São Francisco tem dois prédios cuja história  remonta aos anos primeiros da cidade,  ao florescer de uma nova civilização nas barrancas do São Francisco. Tem um o símbolo da cristandade, resultado de um ato de fé: a igrejinha São Félix, construída em 1877 (no ano da  criação da cidade de São Francisco) por João José Loredo, vereador suplente do  município recém implantado. Diz a história que ele se encontrando muito enfermo, à beira da morte apelou pelo santo de sua devoção, São Félix prometendo-lhe a construção de uma igreja caso recuperasse a sua saúde. Foi atendido e assim construiu a pequena igreja da qual foi zelador até a morte, missão que foi passada, depois, a Floriano Cunha Lima. Com a morte deste a igrejinha ficou abandonada e já estava entrando em ruínas  quando uma comissão de senhoras da sociedade são-franciscana levou a efeito a sua reconstrução. Eram elas:  Alice Mendonça,  Casilda Dulce dos Santos  e  Palmira Cunha Ortiga, que depois  passaram o zelo aos cuidados dos vicentinos.

A atual situação da pequena igreja leva ao tempo pós morte de Floriano Cunha – encontra-se à beira da ruína. É lamentável, incompreensível que isto aconteça, sabendo-se da possibilidade (e necessidade) de protegê-la como patrimônio religioso, histórico e cultural.

Outro prédio é a conhecida Casa dos Cassi. Não existem dados completos da  construção desta casa das mais antigas de São Francisco. Registra Brasiliano Braz, em seu livro São Francisco no caminho da História, que em 1900 foi provisionado vigário de São Francisco o  padre Modesto Pedro de Araújo, que conseguiu formar um largo círculo de amigos. Ele tornou-se fazendeiro, proprietário da fazenda  da Lontra, que  permutou, mais tarde com João Francisco Horbilon, pai do maestro Elísio Horbilon, pela casa que ele havia construído. Mais tarde esta casa foi adquirida pela família Cassiano Vieira encontrando-se fechada há muitos anos, porém bem conservada com o porte imponente das antigas construções. A família Cassi ofereceu esta casa à municipalidade com o fim de instalar nela um museu. A ONG Preservar mandou elaborar um projeto para adaptá-la como museu e  levou a ideia ao conhecimento do chefe do executivo municipal de antanho. A resposta foi desanimadora: “museu é coisa de velho”. Uma ideia velha, retrógrada, na verdade, rejeitando o empreendimento. Contudo, a proposta da família ficou de pé... e tem ficado nisto. São Francisco não dá muita importância às coisas relativas à sua história e  sua cultura.

Diante deste quadro fica uma pergunta: por que a administração municipal – a atual e as passadas – não se interessou pelo tombamento destes dois prédios? Além do respeito que se deve à preservação de um patrimônio histórico/cultural, há a vantagem de auferir  repasses financeiros através do ICMS cultural. Não se dá valor à sua própria história e dispensa-se o repasse de recursos financeiros. Imagine-se: São Francisco, uma cidade com 146 anos, que com tantos prédios e ruas históricas tem como bem tombados apenas a imagem de São Félix e o Cruzeiro da Matriz de São José.

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