sábado, 10 de agosto de 2024

AS CASAS – III

     

     Uma casa da cidade foi palco de episódios ocorridos nas décadas de 1913 e 1920, com  uma  história marcada pela violência – é o  prédio da Cadeia Pública (hoje abrigando o Colégio Técnico Cel. José Ortiga  redimindo o passado). Ela foi palco de dois notáveis episódios – ambos por abuso de autoridade de delegados. O dia 1913 resultou na rebeldia de Antônio Dó, levando-o à clandestinidade à frente de um bando de jagunços provocando  pânico na cidade e região. O outro já narrado no capítulo anterior envolveu o tenente Alcides do Amaral e Andalécio Gonçalves Pereira. Brasiliano Braz narra em seu livro São Francisco no caminho da História, a origem do conflito: “O tenente mandou prender Andalécio, homem de maus antecedentes (...). Na prisão ele foi submetido, dias seguidos, às mais cruéis torturas. Rasparam-lhe a cabeça; arrancaram-lhe o bigode, fio por fio, com o mais revoltante sadismo.” A segunda parte do episódio foi contada por Sancho Ribas: “E o Indalécio (grafia do nome diferente do anotado pelo Braz) saindo da prisão foi para o município de Januária dar queixa das violências do tenente Alcides a um fazendeiro que ele sabia ter gente e armamentos suficientes para ajudá-lo na desforra. Arranjado e arrumado o pessoal e armas, rumou para São Francisco, prometendo aos jagunços que depois do serviço seriam bem pagos com o saque na cidade. Animados com essa promessa os jagunços em número de 35, com Indalécio à frente, entraram em São Francisco, às 5 horas da tarde e tomaram  de assalto os quartéis, dispersaram os soldados do destacamento e apoderam de suas armas (...) Sobreveio violento tiroteio, enquanto o tenente  ganhou fuga esbaforido. Por volta das 2 ou 3 horas o tiroteio cessou-se reinando silêncio;  dois rapazes que estavam em minha casa saíram para ver o que acontecia voltando logo depois para dizer que não viram nenhum jagunço, nem polícia; que foram até o quartel onde viram 2 mortos e outros dois no meio da praça e mais nada. Os jagunços, suponho,  viram os companheiros mortos sem saber de onde partiram as balas que os vitimaram, perderam a confiança no ataque e debandaram com medo de serem atingidos. Um simples soldado do destacamento de São Francisco, salvou a cidade  do saque e das depredações que com certeza viriam a fazer se fossem vitoriosos os malfeitores, O soldado de nome Timóteo fez um trabalho astuto e inteligente, colocando-se  de espreita e bem municiado na casa do tenente Alcides, esperou pacientemente a passagem pela praça de um ou dois jagunços, a sós, para atirar.  Não atirava quando passavam em grupos, afim de que não descobrissem  o local em que se achava e fossem atacá-lo. Os jagunços que viram a saída do Alcides supunham que a casa estivesse vazia”.
    O desdobramento deste episódio é dramático revelando como era perigoso viver em São Francisco naquela época. No próximo capítulo, o desfecho.

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