segunda-feira, 19 de março de 2018

VOZES DOS CIDADÃOS

João Naves de Melo
JOSÉ AGUIAR – II
É a história de José Aguiar Júnior Filho de José Aguiar – Ieié e Cecília Santos Aguiar. Ieié nasceu em Brasília de Minas, filho de Ciríaco Pereira oriundo do Gorutuba. Ieié foi tropeiro, boiadeiro, fazendeiro e um dos primeiros caminhoneiros da região. Dona Cecília também era de Brasília de Minas, com ascendência em Gorutuba. O casal teve uma rica prole: Natalino, Erotides, João, Jandira, José Aguiar, Maria Rosália, Maria José, Maria, Bernadete, Marina, Maria Consuelo, Sebastião, Geraldo, Antônio, Paulo, Ciríaco e Maria Geralda.
Ieié e dona Cecília casaram-se na Vila do Morro em 10.12.31. Eles tiveram várias propriedades no município de São Francisco: fazenda Rancharia, Poções, Lagoinha, Vereda d’Anta. Em Brasília de Minas, a fazenda Buritis.
José Aguiar nasceu na fazenda Rancharia, distrito do Morro, no dia 9 de outubro de 1934. Morou em Brasília de Minas onde fez o curso primário e, aos 17 anos, veio para São Francisco, indo morar na fazenda Poções.
José Aguiar Júnior viveu 17 anos em Luislândia, quando era simplesmente Jacu. Veio para São Francisco com sua família e, aqui, tentou os estudos. Fez o admissão com o professor Arnaldo em apenas um mês, pois tinha muita facilidade para os estudos. Teve como colegas Aureliana (Lourinha de Salvador) e Maria Risonha. A necessidade, contudo, o levou ao trabalho duro, muito cedo. Sua primeira atividade foi a de boiadeiro, o que aprendera com o pai (será objeto de um capítulo, dedicado ao Ieié). Pegou 25 garrotes com Zezé Botelho e ganhou o mundo para vendê-los. Fez bons negócios e obteve bons lucros. Nessas viagens passou por um comerciozinho que o povo chamava de Salão – era um conjunto de cinco casas perto de uma venda, de Antônio Chagas, e um salão de aula. José Aguiar prestou atenção no movimento do lugar, um comércio muito bom, controlado pelo Antônio Chagas, uma pessoa muita inteligente que até aplicava injeção no povo. Ficou ali observando. Vinha gente de todo lado; cavaleiros exibiam suas montarias, equipando nos largos, fazendo levantar rolos de poeira.
José Aguiar viu que aquele aglomerado tinha futuro, pois estava no centro de uma região com muitas fazendas e uma produção muito boa de milho, algodão mamona, feijão e porco. Gostou tanto que comprou um lote na mão de Santo Francisco da Silva ( seu Santinho), o morador mais antigo do lugar e dono de quase todo o terreno. Feito isso pediu a ajuda de seu pai, Ieié, que era uma homem de muitos expedientes e entregou para ele a construção da casa.
O aglomerado, conhecido como Salão, recebeu, depois outro nome: Jibóia, que ainda o identifica, apesar do nome atual de Santana de São Francisco. O nome, é interessante registrar, está ligado a uma lenda muito comum em tempos passados, tendo como motivo, uma cobra da família dos boídeos. Dizem os antigos – história contado por um filho de Santinho, o morador mais antigo do lugar, “havia uma vaca parida que sempre chegava ao curral com úbere só uma muxiba e o bezerro muito magro. Num certo dia, acompanhando-a no pasto, descobriram numa grota uma enorme jibóia mamando nela. Sem perda de tempo mataram a enorme cobra e, dela,  espalhou leite para todo lado. A grota ficou conhecida, desde então, como grota da Jibóia, e como ela ficava próxima do povoadinho o lugar, com o tempo tomou o mesmo nome”.
Naquele tempo para ir de São Francisco a Jibóia  só mesmo de carro-de-boi. A rodovia de acesso ao povoado partia do Jacu (Luislândia), passando pelo Logradouro, indo até a fazenda Cumbuca, de José Souto. Por isso José Aguiar mandou o material para construir a casa em carro-de-boi. Enquanto o pai levantava a casa ele foi cuidar de outras providências. Foi para Montes Claros fazer contato com os comerciantes. Com  Francisco Leopoldo Neto, representante de várias firmas comerciais que, antes já o havia tentado para montar um comércio em São Francisco ou região, fez um bom pedido de mercadoria, tudo facilitado. Depois foi à Casa Turmalina, muito famosa naquela época e, com uma carta do pai para a viúva de Deraldo Calixto de Carvalho, o antigo proprietário, foi atendido pelo gerente, dr. Alcides filho do falecido que, diante da carta, o atendeu na hora, sem mais nada perguntar. Comprou o que quis. Por fim, foi ao comércio de Corbyniano Aquino, o fabricante do famoso licor de Pequi Corby e, com ele fez o resto da compra.  Encheu um caminhão, do Edson Susart que fez o transporte até ao povoado da Jibóia, onde o pai já aprontara a casa – hoje onde funciona o bar de Jacó.
No final do ano de 1958, Zé Aguiar abriu a loja. Foi um sucesso: o povo parecia que estava ganhando mercadoria, tanto era a procura. Vendia de tudo: secos e molhados e comprava de tudo: porco gordo, galinha, milho, algodão, mamona, rapadura – o comércio, muitas vezes era na base do escambo. De quando em quando, vendia uma carga de porco gordo – um grande comprador foi o Sílvio Rodrigues (Silvão).  Zé, tinha mais expediente, vendia remédios e até aplicava injeções, o que o deixa, hoje, a pensar como isso era possível, sabendo, agora, dos cuidados que são exigidos quanto à aplicação de penicilina, tão comum naquela época. “Bondade de Deus não ter acontecido nada… e precisão”, pensa ele.

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