segunda-feira, 19 de março de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XXXI - Parte

OS ESTÁGIOS II
Hoje campus da UFV
Falamos do cuidado que o Coronel Almeida tinha com a preparação dos jovens bandeirantes do Urucuia para a missão que lhes era reservada, uma preparação de mais de 3 anos seguidos, com reuniões especiais todos os domingos. Falei do meu estágio na Ford, em São Paulo. Era preciso entender tudo sobre a mecânica do trator Ford que fazia parte da nossa frota mecanizada do Núcleo do Urucuia. Foi um mês de estudo aprendendo tudo, mas tudo mesmo sobre a máquina. Foi bom, ainda, o período para que eu conhecesse e desfrutasse da bela São Paulo, três anos depois da comemoração de seus quatrocentos anos. Visitei-a o quanto pude, sempre a pé, com outro mineiro, de Tupaciguara: Congonhas (que enfrentamos em jornada a pé partindo da estação da luz passando pelo Parque Ibirapuera), estádio Pacaembu, assistindo a jogos do Corinthians x Santos (Pelé batia bola no intervalo, como reserva, eu nem podia imaginar que  assistia à apresentação do futuro rei do futebol); Praça da República, Avenida São João, Vale do Anhangabaú, estações da Luz e Sorocabana (éramos recomendados não visitá-la em hora adiantada, depois das 22 horas, naquele tempo), represa Santo Amaro. Terminado o estágio, com o dinheiro economizado, retornei a Belo Horizonte passando pelo Rio de Janeiro, onde morava uma prima em Copacabana – e vi, extasiado, o mar (se coloquei o dedo na água para provar se era salgada? Ora, sou mineiro).
Dois outros estágios me eram reservados. Um no Instituto Agronômico, em Belo Horizonte, na área da fruticultura. Para mim foi de grande utilidade na aprendizagem de fazer enxertos de citros e outras fruteiras.
Outro estágio foi na Escola Agrícola de Florestal, um estabelecimento agrícola muito respeitado, cujos cursos recebiam alunos de vários pontos do Estado e do País. Fui estagiar na área de cultivo de arroz  e milho. Dei sorte, pois tive como instrutor um professor que acabara de chegar dos EUA onde fora se especializar no ramo da rizicultura.
Ivo Villefort foi meu companheiro de estagio, ele na área da pecuária, pois seria, no Urucuia, encarregado do setor dos animais. Divertimos muito, os dois, depois das aulas, indo passear na pequena vila de Florestal, município de Pará de Minas, hoje sede de município emancipado. Como eu fazia parte da equipe de futebol juvenil da Escola Caio Martins, logo entrosei-me no time da vila, o Fluminense, disputando algumas partidas amistosas. Caí no agrado da moçada, em especial das meninas, o que me facilitou namorar um delas. Sem jogar bola, o Ivo também conseguiu uma namorada – lourinha dos olhos negros que ele carinhosamente chamava por Quelé.
Os estágios foram valiosos para nós que, no curso Normal ministrado em Esmeraldas não aprofundava nessas áreas, limitando-se à horticultura. No Urucuia teríamos que lidar – como lidamos – com as culturas de arroz, milho e feijão e no tato dos rebanhos bovinos e equinos. Não podíamos fazer feio diante dos colonos, homens acostumados à lide do campo. E não fizemos. O Ivo levou menos tempo do que eu, pois diante de uma desavença com o Coronel ele e o Holmes cedo nos deixaram.
João Naves de Melo

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