sábado, 24 de março de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                          XXXII - Parte

FUTEBOL EM ESMERALDAS
Equipe Juvenil da Escola:
À esquerda o técnico seu Chico,
no centro as rainhas da primavera e à direita professor Manoel Araújo.
Por volta dos anos 50, entrando nos sessenta, uma figura tornou-se lendária no futebol da Escola Caio Martins de Esmeraldas, Fazenda Santa Tereza: sargento Francisco de Assis, o “seu Chico”. Não me lembro da função dele na escola. Lembro mais de sua vida doméstica, com a formidável e querida esposa, dona Targina, uma criatura amada pelos alunos da escola e comunidade geral, que aos domingos recebia em sua casa o capelão José Augusto para almoço especial; e seus filhos – entre eles nossa colega de curso, Inês. Lembro mais, ainda, dele como técnico de futebol do time amador da Escola, o Santa Tereza que era formado por funcionários e fazendeiros da região – vertente da síntese social pregada pelo coronel Almeida. Era, ainda, técnico do futebol juvenil (onde eu me encontrava) e infantil. Duas vezes por semana nos reuníamos no campo de chão batido para ouvir as suas preleções e instruções. Aos domingos os jogos, na maior parte do amador. Era uma festa para nós acompanhar o Santa Tereza enfrentando times da região: Bambus, Boa Vista, Santo Afonso (Betim), Campolina (Esmeraldas). O barranco alto que se estendia em um lado do campo, como arquibancada, ficava tomado pelos torcedores e era uma mistura interessante e muito rica: funcionários e alunos da escola misturados com moradores da região.
Vai longe o tempo, mas alguns nomes guardo com carinho, porque tiveram mais pertos de minha formação na escola: nosso professor de Agricultura Manuel Araújo (Manuel Agrícola), um craque no meio campo, jogando com elegância, um chute muito forte – cada gol que ele marcava arrancava aplausos da meninada. Outro nome: José Nazário, funcionário da escola (carpinteiro) vigoroso zagueiro (numa feita, numa partida que disputei, como zagueiro, pelo Fluminense de Florestal contra o Santo Afonso, time que jogava José Nazário, na época, numa jogada atingi, involuntariamente um adversário com uma cotuvelada na boca – foi sangue com vontade. O time de Santo Afonso partiu para cima de mim, um garoto magricela de apenas 17 anos. Só não apanhei porque Zé Nazário tomou minha frente e fez a minha defesa, explicando quem eu era); Batistinha, fazendeiro da região.
Na torcida, o espetáculo era proporcionado por um torcedor especial, Franklin (nome que era pronunciado sem o assento tônico, Franquilim): ele torcia dando chute de lado acompanhando cada chute dos jogadores em campo. Aí, por pura maldade, a menina colocava pedaços de tijolos na frente de seus pés, quando ele começava a dar chutes. Sem reclamar, ele mandava os pedaços para longe como bola fossem.
Para sua alegria, seu Chico teve um filho que destacou como excelente centro avante: forte, esperto, voluntarioso, chutando e cabeceando muito bem: Carlinhos, que chegou a ser cogitado pelo Clube Atlético Mineiro.
Grande mestre, formador de caráter, o professor Francisco de Assis, o seu Chico.
João Naves de Melo

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