Comumente, o tamboril começa vestir-se de verde no final de agosto, quando muito no início de setembro, anunciando a Primavera – com chuva ou sem chuva. Contudo, com o agravamento da seca na região, que se arrasta por seis anos – em cada ano pior – até o tamboril mudou sem regime de cobertura de folhas. O mês de setembro já avançou em 23 dias, dois terços, pois, e nada, as copas dos pés de tamboril da orla do rio, sempre tão belos nesta quadra do ano, continuam ressequidas, apenas apinhadas de sementes.
De igual sorte encontra-se o pajeú, que também não floriu como sempre e mais cedo. Pouco tempo para suas flores verdes, que já se cobrem de vermelho, sinal de passagem e consequência da falta de chuva.
No cenário seco, tão seco da orla do rio, onde o verde desapareceu de vez, estando o bosque ressequido, um fato chama a atenção: o nível das águas do rio. Coroas apontam daqui e dacolá; praias e mais praias vão se formando como um cordão avançando no leito do rio. A visão é tétrica, de assustar. Contudo, consultando a funcionária encarregada da medição diária do nível das águas do rio e a precipitação pluviométrica, ela diz: “chuva nem notícia, não há o que medir. Mas o rio, mantem o nível acima de um metro com regularidade, ainda agora, quase no fim de setembro está com 1,38m”.
Dos mananciais acima de Pirapora é que não vem o reforço, pois as imagens postas em rede social mostram um quadro desolador no ponto das corredeiras – só tem pedra e poeira. Então deve ser do rio das Velhas, tão poluído, Paracatu e Urucuia. /diz a funcionária que ouviu de um pescador, nesses dias, que “ele percebeu que o Urucuia aumentava volume de água sem ter chovido”. E aí vem a pergunta: se não tem notícia de chuva no Noroeste e pelas bandas da nascente do Urucuia, como explica o fato? Seria o aquífero o Urucuia, interligado por veios subterrâneos com as bacias do Tocatins e Araguaia? Caso seja, é preciso ficar muito alerta – alerta mesmo – antes que os homens, por ganância de pastos e áreas de cultura, não destruam as áreas de reposição dos lençóis freáticos que vão alimentar o aquífero. Infelizmente tudo é possível por graça do imediatismo, do pensar apenas no presente.
O Cerrado é reconhecido pelo Ministério do Meio Ambiente como a savana mais rica do mundo em biodiversidade. Ele contribui com 94% da produção hídrica da bacia do São Francisco. O desmatamento do cerrado tem provocado a degradação de rios importantíssimos como São Francisco, Araguaia e Tocantins. Há um processo de assoreamento do leito dos mananciais, redução do volume de águas e da quantidade de peixes, além da redução das espécies terrestres, animais e plantas.
Vê-se, então, que a falta de água não está afeta apenas à falta de chuvas, pode ser o fator mais importante, mas não é o único. O homem (e aqui também o governo, é claro), precisa fazer sua parte. Só a título de exemplo pode-se citar que os Estados Unidos pagam, como arrendamento, para que o produtor rural preserve e recupere as áreas importantes para a proteção ambiental. A prefeitura de Nova York paga os produtores rurais para preservarem as nascentes de água que abastecem a cidade.
No Brasil, até então, o processo tem sido inverso. E conclui-se: desmatamento no cerrado pode fazer faltar água no Brasil todo!. É sério, mas pouca gente importa.
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