sábado, 30 de junho de 2018

ADÃO BARBEIRO

28 de junho de 2003 com a viola em punho, ensaiando os primeiros acordes, deixou nosso mundo Adão Barbeiro. Preparava-se para sair com seu terno de foliões para homenagear o santo do qual era devoto: São Pedro.
Adão Fernandes de Souza, mais conhecido como Adão Barbeiro, é uma figura ímpar em nossa comunidade. Com o seu amigo de profissão, Gino (Higino Antônio), ele dividia o ofício de barbeiro com uma grande paixão: o rio São Francisco, onde sempre  foi considerado grande pescador.
Desde 1959, ele estabeleceu seu ponto à rua Silva Jardim, nº 534, um salão modesto, cercado de espelhos, tralha de pescador e instrumental folclórico: cacetes, violão, caixas, pandeiros e reco-recos. Ali, entre uma tesourada e outra, ele ia contando histórias – rolando a vida de São Francisco, passagens interessantes de pescarias e a sua última e grande paixão: o folclore.
De menino, Adão já gostava de folia-de-reis – foi lá pras bandas do Bom Jardim, seguindo o imperador – seu Elias. Aprendeu os repiques da viola – isto pelas eras de 58. Até hoje é folião-mor, mestre do lundu – a famosa dança da garrafa –  dançar o lundu, equilibrando uma garrafa de pinga na cabeça, lundu do facão – uma verdadeira arte de brandir o instrumento no ar e no chão, tirando chispa de fogo, passando-o entre as pernas, enquanto  sapateava. Por fim, para ir mais além, pois sempre quer ver o povo alegre e se divertindo, fundou um grupo para mostrar nossa cultura, tendo como expressão maior o Rei dos Cacetes.
E foi com o Rei dos Cacetes e suas danças que Adão se apresentou na 31ª Semana do Folclore, em Belo Horizonte, em 1995, onde ganhou uma medalha de honra ao mérito.
Adão levou seu grupo a rodas por várias cidades de Minas, sempre se apresentando com muito sucesso: Montes Claros, Pirapora, Buritis, Chapada Gaúcha e Belo Horizonte; em Goiás – Chapada dos Veadeiros e Brasília-DF. Foi alvo de vários artigos em revistas de circulação nacional, citado em livros e participando de vários especiais para a televisão. Tornou-se uma celebridade nacional, procurado por pesquisadores e escritores da cultura popular e por estudantes.
Ele recebeu, em solenidade realizada em Pirapora, a Estrela Guia e faixa de Folião, conferidas pela Comissão de Foliões Fluminense do Rio de Janeiro.
Adão Barbeiro, com sua arte, com seu trabalho e amor à nossa cultura, precisa ser sempre lembrado  como exemplo para todos no sentido de se preservar nossas tradições, pois assim seremos um povo mais unido e forte no avançar dos tempos.
João Naves de Melo

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