sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

CAIO MARTINS, RETRATO DE UM BRASIL DE HOJE

                                                                                                           XXIV - Parte

APRENDER FAZENDO
O processo de aprendizagem  desenvolvido no Centro Integrado de Esmeraldas, como nas demais unidades da Fundação, era muito eficiente, prático, o que era internalizado espontaneamente pelos alunos. Era o “aprender fazendo”.
O CI tinha um número muito reduzido de servidores e, com isso, os alunos assumiam, praticamente, todas as ações produtivas, principalmente nas áreas agrícolas. O processo se estendia, também, às oficinas, que contavam com mestres instrutores, mas o trabalho produtivo era feito pelos alunos. Assim, passando por diversas áreas, os alunos iam acumulando conhecimentos e noções. Não se transformavam em um mestre, mas ao fim de algum tempo, tinham noção de como desempenhar certas funções. Estando à frente dos projetos, todas as decisões eram tomadas pelos alunos. Na área agrícola, por exemplo, cabia ao grupo desenvolver o projeto, da escolha da área, ao plantio e colheita, incluído, nesse trabalho, todos os cuidados na condução das plantações. Surgindo problemas, a solução deveria ser buscado pela equipe podendo contar, em casos extremos, com a orientação de um professor de área teórica.
Um setor que exigia muito do aluno era o da pecuária – projetos de avicultura de corte e postura; cunicultura, suinocultura, bovinocultura, onde eram constantes os problemas relativos à incidência de doenças e ao desenvolvimento dos animais. Era um situação peculiar, muito própria da Escola que trabalhava com o mínimo de recursos financeiros. Assim, todos os insumos empregados nos projetos era garantidos pela produção e pelo resultado de cada projeto. Do Estado não vinha socorro algum. Entre vários casos anotados, os problemas enfrentados e soluções buscadas pelos alunos em seus projetos, guardamos um ocorrido na avicultura de corte. Certo dia o coordenador do projeto, José Naides, buscou a direção da Centro narrando que fora observado um problema com as aves de posturas: os ovos de má formação – alguns sem completar cobertura (casca), outros muito pequenos. Além disso, observava-se o surgimento de problemas com as aves – na formação de suas pernas, com curvaturas exageradas. José Naides foi orientado a buscar socorro em uma instituição de pesquisas, pois no CI não havia respostas para o problema. Ele passou a mão em uma galinha, meteu-a debaixo do braço e viajou para Belo Horizonte recorrendo-se à Escola de Veterinária da UFMG. Diz ele que foi recebido por um professor muito atencioso, simpático e já bem velhinho. Exposto o caso, o professor tomou a galinha e quebrou sua perna, como um graveto, sem qualquer resistência. Perguntou, então, ao José Naides qual era a alimentação que estava ministrando ao plantel. Ele narrou que era uma ração preparada no próprio projeto:  uma mistura de fubá com um composto rico em cálcio (este adquirido). Acrescentou que, por descuido, faltou o composto e que a ração foi servida apenas com o milho. Aí, ele recebeu uma bela aula sobre a estrutura orgânica e as necessidades alimentares de uma galinha poedeira. Ela precisa muito de cálcio para a produção de ovos (casca) e, não o tendo, retira-o do próprio organismo e, daí, a razão dos ovos deformados e das pernas fracas. Por fim o professor orientou: comprar um saco de farinha de ostra e faça uma nova mistura para administrar às poedeiras e, muito em breve, seu plantel estará salvo.
E assim foi, também, com ocorrências em outros setores dos animais – os alunos buscavam, pesquisavam e resolviam todos as ocorrências.
Aprender fazendo, era a ordem.
Texto e foto: João Naves de Melo
(Recuperação de Slides – Jonas Silva)

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