sábado, 5 de abril de 2025

ASPECTOS CULTURAIS DO MUNICÍPIO DE SÃO FRANCISCO

 João Naves de Melo - Membro da Comissão Mineira de Folclore


Sétima parte


DANÇAS DO SÃO FRANCISCO

CARNEIRO

Domingos Diniz registrou na revista da Comissão Mineira de Folclore que o Carneiro é uma variação da umbigada. Mário de Andrade, em seu Dicionário Musical Brasileiro registra o verbete “carneirada” como provável dança das margens do São Francisco. As Danças sofreram muitas mutações durante os séculos, fruto de miscigenação, influência de costumes locais, aculturamento e até mesmo por um fato comum: migração - alguém, ao deixar suas paragens leva as notícias de sua vida e a sua arte, que noutra localidade, por simbiose, é imitada ganhando outro apelido como disse Câmara Cascudo, pois o homem simples gosta de dar nome a tudo e sempre o faz a seu modo, criando palavras por não ter entendido bem a original.

Na formação das famílias são-franciscanas destaca-se a origem nordestina e, assim é possível deduzir que o Carneiro possa ser originado das danças da umbigada, como aceita Diniz, ou Baiano e o Batuque, entre outras, por causa da coreografia, nordestina.

A dança: as caixas rasgam o ar com batidas fortes, frenéticas, incitando à dança alucinante. Um caboclo salta para dentro da roda, girando e forçando o peso do corpo numa perna enquanto faz a marcação ritmada acompanhando as caixas – olê, lê carneiro dê; olá, lá, carneiro dá. Uma mulher o rodeia dengosamente. Encontram-se no meio do terreiro, rodopiam; o homem ergue uma perna, empina o corpo para frente, arma um golpe e, no bater forte da caixa, desfere a terrível marrada, batendo nas costas da mulher. Não chegam a se tocar. A simulação, com a batida forte do pé no terreiro, o repique da caixa e a cadência dos versos, dá a impressão que estouram os ossos numa arremetida violenta que lembra a cabeçada de dois carneiros em ferrenha luta.

Tendo-o como uma variação da umbigada, conta-se que o Carneiro foi criado para fugir às restrições impostas pela Igreja e pela sociedade escandalizadas, que reprovavam as umbigadas entre homem e mulher.

É importante salientar alguns aspectos interessantes no Carneiro: tanto na dança, como na música. O onomatopaico: no final dos versos, correspondendo à batida dos pés destaca-se, na música, a sílaba final: olê, lê, carneiro dê! Olá, lá, carneiro, dá!. O o lúdico: na refrega, o caboclo exercita o corpo, uma recreação depois de uma jornada de trabalho, ele encontra no prazer da dança, no contato corporal, com o chão e no sapateado o relaxamento espiritual. O telúrico: ele abre a alma à brincadeira, à glosa, às coisas que o prende à terra: bichos, plantas, histórias e paixões.

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