Contemplando o cerrado, hoje, depois de tantas jornadas e campanhas a favor de sua preservação, volto à lição do chefe Seatle escrevendo ao presidente dos Estados Unidos em 1854: “Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível vendê-los? Essa ideia me parece estranha. Somos parte da terra e ela é parte de nós. Os picos rochosos, os sulcos úmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem – todos pertencem à mesma família. Tudo o que acontecer com a terra acontecerá com os filhos da terra. Se os homens cospem no solo, estão cuspindo em si mesmos. Isso sabemos: a terra não pertence ao homem; o homem pertence à terra”.
O velho e sábio índio lançava as mais profundas lições ecológicas. O homem “civilizado” já dava sinais de que o progresso marchava em direção contrária à sua relação com a Terra, que teria de ser revolvida para mostrar a cara do ouro, outros metais e pedras preciosas; que as matas deveriam ser tombadas para darem espaço aos vastos campos de pastagens e sua madeira se transformar em energia. O homem já mostrava que, de fato, assumia o papel de deus absoluto, o dono da terra, dos animais, dos rios, da flora, do ar...
O homem assumiu essa postura sem se cuidar que ele e “a terra são a mesma matéria...” e, agora, de repente, começa a perceber – na pele, no ar, nos campos, nos rios, em casa – que foi longe demais. Aí, a lição do sábio índio explode como uma verdadeira bomba em nossas vidas. Infelizmente, aqueles que ainda julgam ser os donos da Terra não foram tocados pela lição, pois seus interesses planam acima da realidade – vivem seu sonho.
A ciência diz que nossa espécie apareceu há milênios. No relógio da vida, nos últimos segundos, ou nas últimas décadas, depois da Revolução Industrial e, mais acentuadamente depois da Segunda Guerra Mundial, abriram-se as porteiras da destruição, guardando a falsa crença – ou conveniência - que a terra resolve todos os problemas que lhe acarretam o homem – tudo se renova. Não é verdade, os sinais estão chegando e de maneira um tanto grave, desde as alterações do clima – efeito estufa, destruição da camada de ozônio, tudo com um selo: a destruição da natureza de maneira avassaladora. Aqui, aos nossos olhos, as centenas de veredas hoje secas, ribeirões extintos e o rio São Francisco em estado lastimável, são o triste testemunho da ação deletéria do homem, exclusivamente do homem. Há sinais claros, insofismáveis, que a água começa escassear-se.
Tempos atrás, após a alvorada da mineração, esgotando-se os veios auríferos, o homem vislumbrou fabricar o ferro, que exigia a industrialização. Fornos e mais fornos alimentados pelo carvão. Assim, teve início o avanço sobre o cerrado. Árvores arrancadas na sanha dos correntões não deixando, sequer, uma raiz para a rebrota. Irônico: a tradicional e rica vegetação do cerrado foi substituída pelo eucalipto, que não combina com a flora nativa e muito menos com a fauna. Resultado: um deserto verde.
Nosso cerrado vai sendo extinguido lentamente aos nossos olhos e o pior ainda está por acontecer.
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