sábado, 12 de outubro de 2024

A ESTRELA DE UMA POETISA

 

Guriazinha ensaiava tocar violão e cantar em inglês. Pouco crescida, era figura constante na biblioteca da escola onde a sua mãe ensinava, separando livros com voraz curiosidade, dizendo à bibliotecária: “quero escrever igual o meu vô”. Com 14 anos foi aprimorar a língua inglesa na Irlanda, com um grupo de alunos do colégio onde estudava. Era apaixonada pela literatura irlandesa. Lá ouviu de uma preceptora do grupo de estudantes adolescente brasileiros: “Você não precisa aprender o que já sabe tão bem” – de fato, ela já dominava bem a língua de Shakespeare. Não satisfeita, pouco tempo depois,  conseguiu um estágio na capital do Maine, EE.UU, ela e a coleguinha Laura na casa de Jorgeane Assunção,  mãe de seu coleguinha David. Até frequentou aulas na High School. Caminhou e graduou-se em Literatura Inglesa pela UFMG.... é o preâmbulo de uma linda história. A história de Marina Naves.
    A sua aventura literária teve início no ano de 2021 com a publicação de dois livros de poesias – Lua Vespertina e Voyager. João Naves no prefácio do livro Lua Vespertina, escreveu: “A poesia de Marina nos conduz a peregrinar pelo céu no fio da vida, tecido a cada passagem da Lua, levando o personagem Azevedo numa fantástica viagem Não se trata de um mero passeio pelos infindáveis etéreos, mas o vivenciar da cada fase da Lua identificada com o trajeto de nossa vida... Lua Vespertina, livro de estreia de Marina, será, sem dúvida, o portal de uma fulgurante jornada literária”. O livro Voyager mereceu de Isadora Urbano uma apresentação especial em que destaca: “Será preciso uma boa lupa para discernir as linhas e entrelinha que costuram os versos de Voyager: tal como uma peça de tapeçaria artística, é nos fios que amarram um poema ao seguintes, e aos seguintes, que encontramos os nós e as filigranas capazes de iluminar a imagem bordada no conjunto dos caminhos”.
Em 2023 Marina lançou o livro Sutura. No prefácio, Sara Begname  escreveu: “Em Sutura vemos a criação de uma persona poderosa, capaz de dominar o eu, e a luta desse eu para reconstruir e dar significado à própria vida, em sua incompletude É belo ver o esforço humano, e especificamente feminino, em livrar-se de qualquer fardo, de qualquer culpa, e em aprender o valor do tempo, que, enquanto nos ligamos ao outro, nos amarra à vida. Afinal `é, sim, isto que nos faz humanos /de ao fim chegar e então voltar ao início`”.

 

Pequena amostra dos  livros

 


 

 Do livro Voyager
MÃE


Seio, gênese e carinho ancestral;
Gaia de muitos galhos faz-se ninho

Berço e barca, um útero é relicário
caixa de Pandora – todos os dons
                de padecer no Paraíso

Ancora nos braços os viajantes
novos nesse mundo que se bifurca

Domingo igreja: o mais belo vitral
é teu rosto gentil, bom como aquelas
              imagens de Santa-Maria
                             Ave-Maria-Mãe-de-Deus.

 

Do livro Voyager

INUNDAÇÕES
(Às margens do São Francisco)

Os meus músculos são barragens frágeis
Que não podem conter as doidas águas
(suco de um corpo feito de saudades
De carinhosas memórias vagas)

Das vagas e das veredas de minha
terra abandonada. Meus chãs Gerais
com cores de Sol na poente linha,
sertão seco sobrevivendo em ais.

Quisera essas lágrimas que me ocorrem
 – e  me molham como estranha chuva –
alimentassem os leitos dos rios,

rios rasos que se arrastam, mal correm,
mas que em suas águas outrora turvas
banhei-me num batismo inundo em risos.

Do livro SUTURA

Esta impossibilidade da fala
da escrita e de toda arte que existe
perante a ausência do membro que cai
e a alma que paira na almofada triste

esta impossibilidade da luz
de penetrar no breu de olhos fartos
que trazem esperança como cruz
relances de riso e sol lhe são partos

como pode, Deus, tudo não ser nada,
se antes, nada era tudo, na palavra?
espetáculo que se encerra abrupto

se tudo que nasce um dia se acaba,
hei de crer, enfim, Naquele que lavra;
vai e viva. Que a vida é um minuto.


Este sucinto comentário é para levar aos amigos de Marina e de todos nós, um pouquinho da sua arte que já resplandece grandiosa. Na próxima edição, mostraremos um trabalho acadêmico de Marina, que em hora auspiciosa chegou às nossas mãos.  Vamos acompanhá-la em um passeio fantástico e surreal para explicar o real. Aguardem!

 

 

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