Foto: Hannah Klara Emmerich
Sem nada especial anunciado, a cidade de São Francisco completa 140 anos no domingo 5. A sua história está ligada às missões de Januário Cardoso no combate aos índios e bandoleiros saqueadores de embarcações que navegavam pelo rio São Francisco fazendo a ligação do Norte com as minas de Ouro Preto e região. Vencidas as aldeias dos guaribas, assentados em uma enorme ilha defronte ao local onde foi levantada a cidade de São Romão, e tapiraçaba no Salgado que deu origem a Januária, passando por Brejo do Amparo. Membro do troço militar de Januário Cardoso, Domingos do Prado Oliveira recebeu como compensação as terras situadas na região do penedo que recebeu o nome de Pedras de Cima, onde estabeleceu a sede de sua fazenda. Tudo isso, sem data certa fixada, deve ter ocorrido por volta de 1702. O tempo passou. Domingos do Prado se envolveu na fracassada rebelião de São Romão, insurgindo-se contra a coroa. O movimento foi debelado e Domingos do Prado, um dos envolvidos, para se livrar da prisão e deportação, homiziou-se no interior da Bahia, onde tinha grandes propriedades e protetores. Caiu no esquecimento, conquanto importante homem fosse à época.
O tempo passou. A fazenda foi sendo ocupado por posseiros e, como tempo transformou-se num povoado. Primeiro Pedras de Cima. Depois Pedras dos Angicos, porque estava situado na cais de pedras coberto de angicos.
Em 1867 acontece o primeiro relato escrito dando conta da existência do povoado – foi feito pelo explorador botânico inglês Richard Burton, que escreveu No dia 22 de setembro: “na margem direita do rio e na povoação veem-se várias quixabeiras, belas árvores, muito copadas, cujas flores aromáticas e cuja sombra perfumada atraem milhões de abelhas. A capelinha de São José, padroeiro da localidade, fica acerca de três metros acima do nível das cheias e ainda conta com alicerce de pedra. (…) Na rua do rio, cujas casas eram superiores a de São Romão, aparecem três vendas com homens sentados fora do balcão ou se utilizando dele como mesa de jogo de cartas. Dois sapateiros e uma loja de secos parecem estar fazendo bons negócios.(…). Cavalos e mulas descansavam depois de terem sido transportados através do rio e uma pequena tropa apareceu na margem oposta.  Isso explicou imediatamente a prosperidade e a civilidade do lugar”. Burton finalizou anotando: “Pedras dos Angicos tem, atualmente, noventa e cinco casas e uma população de quinhentas almas. Saímos de lá convencidos de que lhe está assegurado um próspero futuro”.
O futuro começou a chegar quando em 6 de novembro de 1866, pela Lei nº 1.367 foi criada a Paróquia de São José e, com isso, Pedras dos Angicos passou à categoria de vila – Vila São José de Pedras dos Angicos
A cidade cresceu muito, enquanto São Romão definhava. Com isso, o poder legislativo que tinha sede em São Romão, foi transferido para Vila de São José de Pedras dos Angicos.
Enfim, no dia 5 de novembro de 1877, através da Lei Provincial nº 2.416 a  Vila  São José de Pedras dos Angicos passou a ser denominada São Francisco. A data é o marco da criação da cidade e não a emancipação do município como querem alguns, o que merece estudo e melhor explicação pela complexidade da criação do município que não foi por fusão, desmembramento, mas pela simples transferência da sede do município de São Romão que, a partir desse fato, foi transformado em distrito de São Francisco.
São Francisco se desenvolveu. Perdeu grande parte do seu território que era de 8.119 km², reduzidos, atualmente em 3.309 km², ainda assim, o quarto da município da região em extensão territorial e, quarto em população com quase 60 mil habitantes.
Passou por vários processos de produção: extrativismo (madeira), mamona algodão e, atualmente, a sua força se concentra na agropecuária de corte e leiteira e na Agricultura Familiar.
A cidade cresceu muito, com bom planejamento urbano – largas belas e avenidas, ruas e praças. Muitas construções modernas dividem espaço com construções antigas que constituem um verdadeiro tesouro histórico cultural.
Tem um povo alegre, hospitaleiro e com uma rica cultura popular diversificada.
São Francisco tem muito. Tem o rio que lhe deu nome, ainda que judiado, mas sem grande e belo patrimônio.
São-franciscanos, vamos repetir e parodiar o poeta Olavo Bilac: “são-franciscano, ama com fé e orgulho a terra que nasceste… e acolheste.”

POR DO SOL EM SÃO FRANCISCO

O nosso maior tesouro, que embeleza e chama atenção para a nossa São Francisco, é o seu por do sol. Por isso, em homenagem ao aniversário de nossa cidade, a brindamos com o
                                               Foto: Guilherme Barbosa
                                                Giovani
Sem pressa, cai morosamente a tarde
No cais da minha São Francisco.
Deslizando vão as águas do São Francisco,
Sem canção, quase dormindo.
Incandescente, ainda, deixa o zênit o Sol
E descreve a suave curva rumo ao ocaso.
Dia todo teve para navegar a céu aberto
No vasto universo de profundo azul.
O dia se despede…
É de modo preguiçoso o cair do astro rei.
Já não é mais a imensa bola incandescente.
Pondo os olhos na linha do horizonte,
Deixou pelo caminho plúmbeas nuvens,
Um quadro que desperta saudades,
Um chamado para a oração ao Criador.
Um leito púrpuro forra o horizonte.
É nele que se escondeu o Sol,
No vermelho suave da dignidade real.
Logo se mostra buscando o alto,
Como despedida última das luzes,
O faial de raios, entrelinhas harmoniosas.
Haveria de se ter o cromo no lado oposto
Um pouco mais alto do ocaso,
Uma cortina de nuvens, painel violeta,
A brandura e brilho suave da ametista.
Enquanto isso desliza o rio
E se faz em espelho naquela linha,
Onde suave raio de luz risca suas águas,
O espelho que reflete as mutações das cores,
Que registra, a cada dia, o deitar do sol.
Cores que vão se esbatendo em ritmo suave,
Súditas do rei que se despediu.
Deus foi tão generoso com a terra de José,
O patrono da cidade.
Com a terra de Francisco, o santinho.
Terra dos nossos amores.